Contracultura e
psicodelia no Brasil
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Mutantes
(1968-1969), Novos Baianos (1972-74),
Macalé-Wally Sailormoon (Salomão) (1972-74),
Jorge Mautner (1974) e o guitarrista Lanny
Gordin em gravações de C. Veloso e G. Gil são
boas expressões do clima q também havia por
aqui, quando Arembepe tornou-se o símbolo de
desbunde (o termo é daqueles anos).
Tropicália, of course – contracultura
brasileira: de Oswald de Andrade e a
antropofagia a Vicente Celestino -, nela
incluindo Teatro Oficina de São Paulo (diretor
José Celso Martinez Correia), Glauber Rocha e
Hélio Oiticica (artes plásticas), entre outros
produtores de várias áreas.
Consta que Caetano Veloso
não gostava do termo tropicalismo, por implicar
com ismos. Tropicália foi nome dado por Nelson
Motta numa matéria do Jornal do Brasil sobre o
que estava rolando e que tem a repercussão que
se imagina porque batizou o movimento, que em
verdade não era movimento de nada: havia de fato
uma patota de altíssimo gabarito – Caetano, Gil,
Mutantes, Tomzé, Torquato Neto, José Carlos
Capinan, Gal Costa - com ela passou com muita
força Jards Macalé e o jovem Waly Sailormoon
(Salomão), saudado por Gal em Meu nome é Gal
(Roberto Carlos-Erasmo Carlos) em 1969 ou Barra
69 - e por extensão Rogério Duprat, Júlio
Medaglia e Damiano Cozzella (arranjadores,
jovens maestros da área de música de concerto) e
Lanny Gordin, guitarrista, filho de um inglês de
Hong Kong. A de Lanny parece estória de pirata.
Como ele conta, sua lenda parece ter terminado
num banho de ácido lisérgico (LSD).
Rogério Duarte também foi citado como entre um
lado e outro da linha mas sua piração pode ter
sido paranoia por dura de prisão Barra 69, era
dos milicos.
Na sequência de tantos momentos épicos na
cultura brasileira no século XX – poetas e
escritores muito bons, da dimensão de Graciliano
Ramos e Rosa, as linhas de Niemeyer, Bandeira,
João Cabral, hélas! Villa Lobos, Pixinguinha,
Brasília, Bossa Nova... a Tropicália acabou por
ser – até Caetano Veloso gravar Odara, em 1976,
em plena ditadura, dedurado pela oposição ao
regime, a esquerda br, no que foi então chamado
patrulhamento ideológico – a expressão
brasileira do desbunde da contracultura. Eles
influenciaram muita gente. Não era só música,
canção; era postura / visão além na vida e na
cultura. Como manifesto de pretensões:
Tropicália ou Panis et circenses – o latinório
errado.
Lá a guerra do Vietnã, aqui ditadura. Tropicália
visão crítica bem-humorada (festiva? Sim, nesse
plano o mundo era a um tempo muito trágico - a
primeira grande matança africana, a guerra do
Biafra, Bangla Desh - e festivo, muita, muita
novidade, o homem aluna - e no Brasil. NO Brasil
a Tropicália é postura up to date / nova /
inovadora / atualizada / sintonizada / antenada
com o mundo em matéria de sons e imagens físicas
e poéticas.
Dá para vê-la como Versão atualizada do
modernismo, iconoclasta e autocrítica.
Uma práxis radical. Tudo somado, porque muito
bem tocada o resultado é de longuíssima duração:
entre Lanny Gordin e Mutantes eles produziram
pop de alto padrão.
Discoteca básica da
Tropicália
? (do vinil!)
https://www.youtube.com/watch?v=ORNtKbL43X4&index=90&list=PLUM3_pzf3aWqpjrJ4fOCaWO3afEHPIJ--
https://www.youtube.com/watch?v=HVeBmoH7Xxw
com lanny gordin e algum macalé
https://www.youtube.com/watch?v=_bPunT88nlI&list=PLrt7VbxNS8rffynh3f-XDiJ33Ml3zbeVr
https://www.youtube.com/watch?v=8WlId3fzFvs&list=PLsYFv2PLHYDw1xBARpWxmK0Wkox_CJyhU

https://www.youtube.com/watch?v=-J5gTpiI3KU&list=PLsYFv2PLHYDwM9z9ZLZr-aoGuhizXz4BD
Encarte de Rogério Duarte de
LP Gilberto Gil - 1969
?
https://www.youtube.com/watch?v=INA4Tc0qVcE&list=OLAK5uy_nf1fc9w4ku-LAgLbz5V9uuH-OSWTsllBw
?
https://www.youtube.com/watch?v=1Z1qNsm-NUk&list=PLVnkoLiLMTm6RIArBGspMGPN7rCvnMlhm

/
Com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Beat
Boys, Tomzé, Mutantes e Nara Leão - 1968:
?
https://www.youtube.com/watch?v=KIiwbHqtb7w
O
TURBILHÃO
versão brasileira com tradução
simultânea dos bons (e maus) humores de lá de
fora e daqui ”do lado de dentro“ (dos muros)
como dizia Torquato Neto, que andou
frequentando o hospício D. Pedro II, no
Engenho de Dentro, Rio de Janeiro.
Contemporânea de fenômenos
revolucionários (conquista espacial, satélites
de comunicação, desenvolvimento tecnológico –
Lunik 9 e Cérebro Eletrônico, de G. Gil –,
mal-estar pelo estado de abundância e muita
carência, guerra e crescente tecnocracia), no
plano interno era reflexo e refletia movimento
análogo em outras áreas e artes, no Brasil com
a Tropicália uma minoria da juventude gerou
uma explosão de alto impacto que se
manifestava também em outros campos
artísticos, refletindo-se e refletindo as
propostas revolucionárias (evolucionárias) de
cada uma delas, artes plásticas - ver, para
sentir o clima Hélio Oiticica:
http://revoluciomnibus.com/HO.htm
cinema (Glauber
Rocha e uma plêiade de superoitos
superoiteiros e longas que cuspiam e
escarravam na narrativa linear, do chamado
underground ou undigrudi ou udigrudi – nomes
da época - e Teatro Oficina (O Rei da Vela, de
Oswald de Andrade). Onda de vanguarda em plena
ditadura, contribuiu para o seu imediato
recrudescimento (a entrada no período mais
duro) com o AI-5 em dezembro de 1968.
Esse mesmo tipo de abordagem da
realidade e leitura da vida era feito no
pop-rock e vertentes musicais populares em
todos os quadrantes. Zappa faz relato
detalhado, etapa após etapa, é o cronista
sardônico tipo Crumb e Shelton do pesadelo do
sonho americano. Toda a canção da época, do
hemisfério norte ao sul, foi crônica daqueles
dias – nego metia o bedelho em tudo, relatava,
alertava, comentava e opinava. O curioso é que
em nenhum outro lugar houve ao mesmo tempo
tantos postulados teóricos, políticos (e de
costumes) e existenciais, em música, em
catadupa, aplicados à vestimenta e à
vestimenta musical: as guitarras distorcidas e
estridentes de Sérgio Batista (Mutantes) e
Lanny Gordin, ins-pirados nos ases nascentes
da guitarra, de Clapton a Hendrix, seus
mestres, quase assumiam dimensão política.
Gilberto Gil, que segundo Caetano Veloso
(Verdade Tropical, 1997), ao tomar contato com
Jimi Hendrix se rende incondicionalmente ao
brinquedo, participou numa passeata contra a
guitarra elétrica um ano antes de a adotar
para sempre. Primavam, como os congêneres do
Hemisfério Norte, pelo fora do comum e pela
informalidade.
Há de início recados políticos
explícitos, como Soy loco por ti, América e
críticas ao estilo de vida moderno (Ele falava
nisso todo dia, Gilberto Gil). Nas vésperas do
AI-5, vestido de roupas hipermodernas,
plastificadas, injuriado com a eliminação de um
festival de concurso de Questão de
Ordem, apresentada por G.
Gil com os Mutantes, à frente do mesmo trio
Caetano Veloso usou a apresentação de uma
criação sua inspirada em pichação do Maio de
68 em Paris (É proibido
proibir) para botar discurso
inflamado contra o quadradismo, a caretice
estética e o gosto padrão, fosse qual fosse,
dado, orientado, imposto, estatuído,
estabelecido - crítica de cultura e da
civilização e grito pela abertura da mente a
outras esferas de visão e raciocínio. Como lá
fora.
O laboratório experimental de ideias e
de sons, colhidos das ou sugeridos pelas mais
variadas fontes – Gil chegou a exibir seu
instrumental de sacadas dos anos em que
trabalhou no departamento de publicidade e
marketing de uma multinacional de produtos de
higiene corporal – expunha permanentemente
questões de ordem estética, reflexões sobre o
gosto padrão dominante no Brasil (brega:
Coração Materno, de Vicente Celestino e outros
momentos como Mamãe não chore,
Caetano-Torquato Neto) ou o descompasso entre
o tempo das sofisticadas dissonâncias da bossa
nova e o das estridências da guitarra – porque
”as notas dissonantes se integraram ao som dos
imbecis“, “chega de saudade” (Saudosismo, C.
Veloso) e desfecha guitarrada a fechar.
Desbunde e deboche: em Objeto
Semi-Identificado, de G. Gil e Rogério Duarte
com o maestro R. Duprat: “eu gosto mesmo é de
comer com coentro uma moqueca, uma salada,
cultura, feijoada, lucidez, loucura” (...) “a
cultura, a civilização só me interessam
enquanto sirvam de alimento, enquanto sarro,
prato suculento (...), informação”.
O modernismo atacou da mesma forma
iconoclasta o beletrismo e uma visão limitada
e opressora / colonizada da identidade
nacional.
TROPICÁLIA
MODERNITY, ALLEGORY, AND COUNTERCULTURE ...
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The tension between these two impulses produced a
curious and potent mix of melancholy and joy that
defined tropicalist music.
Brazilian Modernity and the ...
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http://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/visoes-estrangeiras/tropicalia-modernidade-alegoria-e-contracultura
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http://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/visoes-estrangeiras/tropicalia-modernidade-alegoria-e-contracultura
http://tropicalia.com.br/ruidos-pulsativos/avant-garde-na-bahia
que também tem aqui:
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http://revoluciomnibus.com/DeuseoDiaboGlauberRocha.html
http://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/visoes-estrangeiras/tropicalia-modernidade-alegoria-e-contracultura
A
Tropicália e a contracultura no Brasil | Gazeta
Digital
www.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/62/materia/232423
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06/02/2010 - Dunn busca entender as
especificidades da cultura brasileira em
Brutalidade Jardim: a Tropicália e o Surgimento da
Contracultura Brasileira.
Sábado, 06 de fevereiro de 2010, 03h00
Pra ler
?
http://www.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/62/materia/232423

A Tropicália e a
contracultura no Brasil
Luiz
Fernando Vieira / Da Redação
O Tropicalismo representou uma revolução na
música popular brasileira que sacudiu o país no
final da década de 1960 e ecoou inclusive fora do
país. Ao ponto de muita gente no exterior passar a
abrir os olhos para a produção desse coletivo
formado por alguns dos mais importantes nomes da
MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa,
Tom Zé, Os Mutantes, entre outros. É o caso do
pesquisador norte-americano Christopher Dunn, cujo
livro é lançado no Brasil pela Editora Unesp.
Dunn busca entender as especificidades da cultura
brasileira em Brutalidade Jardim: a Tropicália e o
Surgimento da Contracultura Brasileira. Trata-se
de uma análise diferenciada, não só das obras
produzidas pelos tropicalistas, mas do momento
histórico em que o movimento tomou corpo.
Foi em 1985, cerca de quinze anos após o
encerramento formal do movimento tropicalista, que
Dunn escutou pela primeira vez os sons e
ambiguidades do disco Tropicália. Foi o suficiente
para despertar seu fascínio pela diversidade dessa
nova cultura, reconhecendo sua importância por
ampliar as possibilidades de expressão artística,
numa mistura de releitura da tradição e de
experimentação de vanguarda ou, como o autor
classifica o movimento, um caso exemplar de
hibridismo cultural.
Dunn faz questão de trazer, quase didaticamente,
uma abordagem completa da Tropicália, buscando já
nas expressões artísticas modernistas de 1920
traços que o movimento retomaria quase 40 anos
depois, passando pelo nacionalismo da Era Vargas
com a bossa-nova até, finalmente, os conturbados
anos da ditadura militar, quando o movimento se
inicia. Ao focar nos artistas e suas obras,
analisa trechos de músicas como a própria
Tropicália, de Caetano Veloso, e Geléia Geral, de
Gilberto Gil, da qual empresta um trecho para dar
título ao livro. O autor estende sua análise até a
anistia concedida aos tropicalistas em 1979.
A obra é um forte exemplo da força da Tropicália
dentro e fora do Brasil, força que buscava quebrar
paradigmas e dualidades da cultura brasileira,
mesclando elite e povo, tradição e modernidade,
nacional e internacional. (Com assessoria)
OS
MUTANTES E A CONTRACULTURA: UM CONTRAPONTO |
Bay
periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/3355
- Semelhante
Este artigo pretende elucidar alguns aspectos do
movimento conhecido comoTropicalismo e sua relação
com a contracultura, tomando por
enfoque a ...
?
http://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/3355/2933
Escute esta canção
Ou qualquer bobagem
Ouça o coração,
que mais? Sei lá...
“Qualquer bobagem” - Rita Lee/ Tom Zé
Muito embora a associação entre o Tropicalismo e
a contracultura não seja comumente realizada nos
textos voltados ao assunto, percebo que aquele
pode ser considerado um movimento contracultural,
e entendo os Mutantes como representantes e
formadores desse tipo de prática. A presença de
representações associadas à contracultura pode ser
percebida nos comportamentos e modo de vida dos
integrantes do movimento, sendo indissociáveis da
forma como produziam sua arte3 e perceptíveis,
portanto, através de uma análise de sua história e
obra. Nesse sentido, é fundamental que escutemos
suas músicas, traçando um
OS MUTANTES E A CONTRACULTURA: UM CONTRAPONTO1
Eduardo Kolody Bay2
1 Texto escrito
originalmente como capítulo de monografia de
conclusão de curso defendido no Departamento de
História da Universidade de Brasília, em 2006, e
aqui apresentado com algumas modificações. 2
Mestrando em História pela Universidade de
Brasília (UnB). 3 Sobre essa associação entre
vida e obra, Cliford Geertz, ao analisar outras
manifestações artísticas, observa que “não é
nenhuma surpresa, Matisse estava certo: os meios
através dos quais a arte se expressa e o
sentimento pela vida que os estimula são
inseparáveis ...” GEERTZ, Clifford. A arte como
sistema cultural. In O saber local: novos
ensaios em antropologia interpretativa [1968].
Petrópolis: Vozes, 1998, p. 142-181, citação da
p. 148.
paralelo entre atitudes e idéias, a fim de captar
essas representações e entender como os Mutantes
“materializavam”4 seu modo de vida na música. O
fenômeno da contracultura em si é bastante
complexo, e da mesma forma que a música
tropicalista era fruto de uma experiência em curso
no campo da música e da arte, a contracultura é
também resultado de um pensamento que não surge na
década de sessenta. Apesar de não querer situar
suas origens com exatidão, os artistas mais
comumente citados como ideólogos da contracultura
tiveram sua produção iniciada no período do
pós-guerra, quando a crença nos valores
relacionados a um pretenso “progresso” da
civilização ocidental encontrou franco campo de
oposição. Entre os mais populares, podemos citar
William Borroughs, Jack Kerouac, Allan Ginsberg, e
Aldous Huxley. Eles popularizaram uma série de
reflexões que iriam permear o movimento da
contracultura, que explode no final da década e se
expande progressivamente nos anos subseqüentes, se
tornando parte dos hábitos da cultura ocidental
até os dias atuais. Segundo Luiz Carlos Maciel, “A
transmutação dos valores (do anos 60) foi resumida
pelos mass media, na célebre tríade: sexo, drogas
e rock'n'roll. Cada uma dessas áreas assinalou um
rompimento radical com o passado” 5. Contudo, a
contracultura não chega a se caracterizar como um
movimento homogêneo, nem vagamente organizado, e
sim como uma série de mudanças de atitudes e modos
de viver generalizados, o que me faz falar em
“movimentos contraculturais”, embora às vezes
possa me referir a suas idéias, de uma forma
genérica, apenas como “a” contracultura. Para
Carlos Alberto Pereira,
O termo contracultura foi inventado pela imprensa
norte-americana, nos anos 60, para designar um
conjunto de manifestações culturais novas que
floresceram, não só nos Estados Unidos, como em
vários outros países, especialmente na Europa, e
embora com menor intensidade e repercussão, na
América Latina. Na verdade, é um termo adequado
porque uma das características básicas do fenômeno
é o fato de se opor, de diferentes maneiras, à
cultura vigente e oficializada pelas principais
instituições das sociedades do Ocidente6.
As próprias características dos movimentos
contraculturais dificultam seu estudo, por se
oporem às formas de racionalidade e cultura
vigentes, e os trabalhos a respeito do
assunto
4 Sobre essa “materialização” do
modo de vida, Geertz afirma ainda que “os rabiscos
coloridos de Matisse (em suas próprias palavras) e
as composições de linhas dos Ioruba não celebram
uma estrutura social nem pregam doutrinas úteis.
Apenas materializam uma forma de viver, e trazem
um modelo específico de pensar para o mundo dos
objetos, tornando-o visível.” GEERTZ. op. cit., p.
150. (grifo meu). Embora a música em si não seja
“material”, é uma forma de comunicação entre o
modo de vida do artista e seus ouvintes e
espectadores – que podem absorver esse modo de
vida ao entrarem em contato com as mensagens por
ela transmitidas. 5 MACIEL, Luiz Carlos. Anos 60.
Porto Alegre: L&PM, 1987, p. 43. 6 PEREIRA,
Carlos Alberto M. O que é contracultura? São
Paulo: Brasiliense, 1983, p. 13.
Para o presente trabalho
utilizei-me da obra de ROSZAK, Theodore
Contracultura: reflexões sobre a sociedade
tecnocrática e a oposição juvenil. 2.ª ed.
Petrópolis: Vozes, 1972. Nela se faz uma análise
crítica das principais características dos
movimentos de contracultura ainda na época de seus
acontecimentos, no ano de 1968
...
O escracho e deboche passam a fazer parte dessa
atitude contra os padrões sociais instituídos, no
intuito de provocar o riso, desmoralizando-os, e
demonstrando desprezo com relação a categorias
caras à civilização ocidental. No Brasil, o uso
de fantasias, por exemplo (em oposição aos ternos
e vestidos sóbrios, comumente usados pelos músicos
nos festivais), era uma maneira de representar
visualmente esse deboche. De forma irreverente,
demonstrava-se que os fantasiados estavam
representando algo novo, que negavam os velhos
padrões. Os Mutantes não ficaram indiferentes a
esse movimento. Uma das inúmeras atitudes que
tiveram contra a “velha guarda” da música foi a
regravação de “Chão de estrelas”, de Orestes
Barbosa e Sílvio Caldas10, que, apesar de
conservar a letra original, possui uma série de
colagens de sons a partir da metade da música:
Efeitos de sonoplastia (motor de avião, bandinha
de música, relógio-cuco, galo cocoricando, panos
rasgados, tiros, vaias de festival) entraram como
uma paródia das imagens poéticas da canção,
transformando-a num pastelão sonoro11.
Pastelão sonoro que ofendeu os puristas,
...
Devemos perceber ainda que, embora estejamos
razoavelmente acostumados a realizar análises
calcadas na apreciação de símbolos visuais,
entendidos como portadores de significados que
elucidam as relações que procuramos compreender,
no caso do objeto deste estudo não podemos deixar
de considerar igualmente a forte expressão
simbólica presente nos ícones sonoros16 que
marcaram a experiência dessa geração de artistas,
entre eles os Mutantes. Existem traços de uma
sonoridade (ou sonoridades) considerada típica do
período, que engloba um conjunto de timbres,
estilos de tocar e citações17 sonoras. Esses
elementos são resultado de diversos fatores
musicais que variam desde a forma como o
aprendizado musical foi realizado por esses
músicos, até a constituição de seus instrumentos e
às formas materiais de como a música foi gravada e
reproduzida. A música produzida na década de 1960
(especialmente durante sua segunda metade),
identificável como “som contracultural”, mais
especificamente o rock, possui certas
características próprias e ficou conhecida
(principalmente) como psicodélica. No caso dos
Mutantes, graças aos instrumentos e outros
aparatos sonoros desenvolvidos por Cláudio César,
a banda conseguiu adquirir uma sonoridade ainda
mais específica, nitidamente diferente (e por
vezes considerada superior) do que era produzido
no Brasil àquela época. Um exemplo interessante do
uso de idéias simples em busca de sons não
14 PEREIRA, Carlos Alberto M.
op. cit., p. 19. 15 É interessante perceber que
nos períodos subseqüentes, notadamente na década
de 1970, muitos desses elementos
“característicos” acabam (re)apropriados pela
indústria cultural, tornando-se apenas mais um
produto desta, como a moda “hippie”. 16 Tomo
emprestada a noção de ícone utilizada por Burks:
"... uma representação de um objeto que
exemplifica ou exibe, de alguma forma, a
estrutura do objeto. Um exemplo são as
onomatopéias, 'pois o som da palavra sugere ou
exibe seu sentido." Apud SEGATO, Rita L.
Okarilé: uma toada icônica de Iemanjá. In
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, Brasília, 1995, p. 237-253. Dessa
forma compreendo que "... idéias podem não
apenas assemelhar-se visualmente a algo, mas
também 'soar como' algo" SEGATO. op. cit., p.
249. Acredito que essa noção é importante pois
muitas melodias, harmonias, ritmos, timbres e
partes inteiras das músicas dos Mutantes (e
também dos demais tropicalistas) nos remetem a
certas idéias, estilos musicais e culturas
regionais, que normalmente fazem parte do campo
sonoro de cada um, constituindo o universo
daquilo que conhecemos e já escutamos de música,
e que, no caso brasileiro, é, da mesma forma
como o movimento propõe, uma “colcha de
retalhos”, composta por diversos sons
diferentes. 17 Como a vinheta do “Repórter Esso”
tocada na introdução de Panis et Circencis, no
álbum OS MUTANTES. Mutantes. Polydor, 1968, e no
álbum TROPICALIA OU PANIS ET CIRCENCIS, Polydor,
1968
Em Tempo de Histórias - Publicação do Programa
de Pós-Graduação em História 206 PPG-HIS/UnB,
n.13, Brasília, 2008
usuais é a utilização da bomba de flit18, aparelho
usado em dedetização, como marcador do ritmo
durante a música Le premier bonheur du jour19. É
importante ressaltar que as inovações tecnológicas
da década de 1960 possibilitaram uma maior gama de
expressividade para o artista expor aquilo que
ele pretendia comunicar, gerando novos recursos
estilísticos a serem explorados na sua arte.
Muitas dessas inovações foram na realidade
desenvolvidas nos anos anteriores, mas o seu uso
intensivo, especialmente em forma de música não
experimental é uma característica do período20.
Umas tantas inovações são dignas de nota, até para
que possamos compreender como foi possível a
materialização das gravações que serão objeto de
análise mais adiante. Vejamos algumas delas.
Gravação de alta fidelidade:
proporcionada especialmente pela melhoria de
qualidade dos microfones e das mídias. As
gravações passaram a ficar cada vez mais próximas
do som original alcançado pela audição humana,
possibilitando, por exemplo, que fossem tomadas de
sons-ambiente, da rua e de objetos, que
posteriormente seriam adicionados fonograma como
no caso já mencionado da canção “Chão de
estrelas”.
Gravação multipista: o uso de
várias pistas de gravação foi fundamental também
para a melhoria da qualidade. Através desse
processo, os instrumentos ou sons podem ser
gravados em diferentes tempos e espaços, sendo
devidamente mixados ou “colados”21 em sincronia.
Isso permitiu que sons de ambientes externos (como
no caso acima citado) fossem acrescentados aos de
instrumentos utilizados dentro do estúdio ou que
as gravações fossem manipuladas, adquirindo um
andamento ou mais rápido ou mais lento em relação
ao som original. Além disso, tornou-se viável que
um mesmo músico gravasse várias vezes seu próprio
instrumento ou voz22, tocando “consigo mesmo”, de
forma que um único vocalista, por exemplo, pudesse
gravar diversas melodias com a sua voz “ao mesmo
tempo” num só registro23, sem o auxílio de outros
intrumentistas. Osciladores/processadores
de efeitos: a criação de osciladores e
outros aparatos podia modificar diretamente a onda
vibratória (que é o som em si), possibilitando
tanto que se
18 CALADO, Carlos. A divina
comédia dos mutantes ... op. cit., p. 115. 19 Le
premier bonheur du jour (Jean Renard / Frank
Gerald), presente no Presente no álbum OS
MUTANTES. Mutantes. Polydor, 1968. 20 O álbum
Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos
Beatles, de 1967, é apontado como um marco no
uso dessas técnicas experimentais na produção de
música pop como arte. 21 Os futuramente
chamados samples. 22 Técnica conhecida como
overdub. 23 Atentar para os vários vocais
gravados por Rita Lee em “Le premier boinheur du
jour”.
Em Tempo de Histórias - Publicação do Programa
de Pós-Graduação em História 207 PPG-HIS/UnB,
n.13, Brasília, 2008
criassem instrumentos que produziam som “do
nada”24 (sintetizadores), como também que se
alterassem as características fundamentais dos
sons de vozes e instrumentos, notadamente no caso
das guitarras elétricas. Alguns dos efeitos mais
comuns são o reverb, que simula ambiências da sala
onde são executadas as gravações, fazendo, por
exemplo, que o som pareça ser proveniente de uma
caverna; distorções, que saturam o sinal de saída
ou de entrada dos instrumentos, gerando o som
rasgado próprio das guitarras; e o wah-wah (também
próprio das guitarras), que acentua determinadas
freqûências de ressonância agudas (provocando o
som de ah) ou graves (provocando o som de wh)25.
Percebemos, então, que a maioria das inovações
sonoras da década de 1960 não são observáveis em
termos teóricos, com partituras explicando
mudanças rítmicas, melódicas e/ou harmônicas.
Embora as músicas não fossem necessariamente
simples, as inovações envolveram quase sempre a
utilização de novos timbres e variados modos de
hibridações utilizadas na construção das
gravações, misturando elementos musicais de
diversas culturas.
...
Cláudio César comenta:
... inventei uma aparelho chamado “wooh-wooh”,
para criar o som específico dessa música, que
sugerisse o tempo a fluir mais devagar. Isso as
pessoas sentem ao ouvi-la, porque conhecem (saibam
ou não do que se trata), de tanto o ouvirem em
Jimi Hendrix e outros, o som do “wah-wah”, mais
agudo; e o “wooh-wooh”, mais grave, se assemelha a
disco, ou filme, ou a percepção, ou viagem
lisérgica, onde a quarta dimensão é mais lenta30
.
Outro exemplo interessante é a versão de
Bat-macumba31, de Gilberto Gil.
(Poesia concreta: Augusto de
Campos. Muito importante para a Safra. Gil e Caê
moravam em Sampa, base dos poetas de campos e
espaços - com Haroldo, seu irmão). Perito em
poesia visual, A. De Campos, os concretos deram
belas sacadas a eles também. Em Balanço da Bossa o
efeito tá bom.)
Em MÚSICA
DO BRASIL DE CABO
A RABO revoluciomnibus.com
?
Música do Brasil Phono73.htm
http://revoluciomnibus.com/M%C3%BAsica%20do%20BR%20M%20Phono%2073.htm
cita outro bom exemplo: Tudo (Caetano Veloso, LP
Jóia, 1974):
2001 – Rita Lee-Tomzé
Sua sonoridade mistura o uso de viola, sanfona e
maneirismo caipiras – como o “r” puxado e as
expressões “Tá ficando bão, né?”, “barbaridade,
uai!” , “astronarta” – com o rock (e seus
instrumentos eletrificados e ritmo rápido), além
dos abusos experimentais usuais, como a utilização
do Theremin,37 instrumento usado em filmes de
ficção científica, tocado em conjunto com vários
outros sons de instrumentos, buzina e vozes,
colados numa espécie de caos sonoro.38 Sua letra
trata da relação descompassada de uma pessoa
simples com elementos modernos, “Minha vida me
ultrapassa /em quarqué coisa que eu faça”, idéia
reforçada pela hibridação dos instrumentos. Une
elementos orgânicos e artificiais, “Meu sangue é
de gasolina/Meu peito é de sal de fruta”, e
procura (des)naturalizar a relação que opõe, como
contrapontos, o passado/atrasado/rural, com o
“futuro”/“moderno” representado na letra pelo
astronauta, assunto que estava em voga no ano em
que o homem pisava na lua. Essa mesma
complexidade, expressa na mistura de elementos
comunicativos, pode ser observada em “Dom
Quixote”.39 Ela se inicia com uma colagem
orquestral retirada do filme Ben Hur40. Na
seqüência, segue com uma letra cheia de
aliterações com os sons de “s” e “x”, acompanhados
por arranjos orquestrais (desta vez compostos por
Duprat).
revoluciomnibus.com:
o trecho de Ben Hur também ´composto` por Duprat
Como vimos, o som do grupo abusava da
complexidade de timbres através desses métodos
criativos de manipulação do som – não era música
para se dançar, mas para a apreciação auditiva. Os
entorpecentes psicodélicos mais populares eram a
maconha e o ácido lisérgico ou LSD (consumido de
diversas maneiras) embora existissem muitos outros
como a ayahuasca e a mescalina. Essas substâncias
elevariam o indivíduo a um estado de percepção da
realidade alterado em que, segundo os defensores
da contracultura, seria possível perceber o mundo
de forma distinta, a partir de novas idéias e
respostas existenciais45. Seu uso seria
publicamente associado a uma busca filosófica,
afastando-se de qualquer idéia de simplesmente
“curtir o barato”, do mero prazer, se bem que não
se deva desconsiderar essa possibilidade. Naquela
época, a maior parte dessas substâncias não era
vista como um problema de saúde pública como nos
dias atuais, e sua utilização só foi proibida na
maioria dos países em 1966, após uma resolução da
ONU46. Mesmo assim, seu consumo era uma afronta à
mentalidade tradicional, ainda que por vezes
ganhasse um tratamento mais brando da mídia,
43 Um sentido possível da
expressão psicodélico seria “alteração da mente”.
44 ROSZAK, Theodore. op. cit., cap. 5. 45 Idem. 46
COHEN, Sidney. Drugs of hallucination: the story
of LSD. St Albans: Paladin, 1970.
Em Tempo de Histórias - Publicação do Programa de
Pós-Graduação em História 213 PPG-HIS/UnB, n.13,
Brasília, 2008
por representar como que a “modernidade dos
costumes”. Vários artistas declararam-se
publicamente consumidores de entorpecentes,
defendendo e estimulando seu uso47, e muitos
consideravam que certas músicas eram especialmente
compostas para serem apreciadas nesses outros
níveis de consciência. No entanto, freqüentemente
a apologia ao uso dessas substâncias era feita
veladamente, através de letras metafóricas,
misturando esse tema com outros assuntos. É esse o
caso de “Ando meio desligado”48:
...
Seus versos mesclam as sensações provocadas pelo
amor com aquelas relacionadas ao uso da maconha,
gerando uma ambigüidade no tema. Apesar dessa
música ter sido gravada no terceiro álbum da
banda, A divina comédia ou ando meio desligado, e
apresentada no 4° FIC (Festival Internacional da
Canção) (com o subtítulo “não faz marola”)49, a
substância já fazia parte do repertório da banda
há algum tempo:
Quando as drogas apareceram? Rita: Até o exílio
dos mestres (Caetano e Gil, em 1969), os Mutantes
usavam maconha. Uma vez experimentamos ayahuasca
e, em outra ocasião, meia pedrinha de mescalina.
Quando nos apresentamos no Olympia, de Paris,
encontramos com Peticov (artista plástico amigo da
banda) e aí, sim, é que a festa começou ...
Arnaldo: Acho que comecei com maconha ainda nos
tempos do (colégio) Mackenzie... Mas a expansão
mesmo se deu em Paris, quando tomamos LSD pela
primeira vez. Não uso o termo "drogas", chamo de
"expansores da musculatura mental". Isso pode ir
do cafezinho ao LSD. A gente passou a ter uma
idéia mais ampla da música. Por exemplo: eu tinha
um órgão, passei a usar pedal. Era uma coisa meio
assim: “Está tudo muito bom, vamos
adiante".50
Embora o LSD tenha sido descoberto em 1938, pelo
cientista Albert Hoffman51, seu uso só passou a
ser difundido largamente na década de 1960, depois
dos acid tests52, realizados gratuitamente,
principalmente entre os jovens universitários (mas
abertos a qualquer um), e a substância ganhou
muito respeito entre intelectuais e cientistas
respeitados:
A descoberta das virtudes do ácido lisérgico deu
origem a um verdadeiro culto religioso nos Estados
Unidos, cujos maiores sacerdotes foram os
exprofessores de psicologia de Harvard, Timothy
Leary e Richard Alpert53.
Para esses cientistas, esses "expansores da
musculatura mental" poderiam vir a ser os grandes
responsáveis pela mudança comportamental
generalizada na população, que levaria a novos (e
melhores) relacionamentos entre as pessoas e,
conseqüentemente, a uma sociedade melhor54. Sérgio
Dias confirma essa idéia, ao falar de sua primeira
experiência com a substância:
Minha primeira viagem foi extremamente poderosa.
Lembro da compreensão de ser música. As caixas
acústicas tocando e eu era aquilo, saía por ali.
Não via nada derreter, mas tive momentos de
consciência cósmica. 55
A “evolução psicodélica” da banda seria retratada
no álbum Jardim Elétrico, lançado após sua segunda
ida ao exterior (e a primeira viagem de LSD), no
final de 1970. Logo na capa, o psicodelismo é
expresso através de um pé de maconha estilizado,
desenhado pelo artista plástico Alain Voss56.
Entre as canções, encontramos It’s very nice pra
xuxu”57, que bem representa o que se vem
refletindo.
Hoje tudo mudou O que você me dá é lindo de
morrer Ontem amei você É lindo... Oh! Oh! Oh,
yeah! It’s very nice pra xuxu, baby
50 Arnaldo Baptista e Rita Lee,
apud Show Bizz, op. cit. 51 ROSZAK, Theodore.
op. cit., cap. 5. 52 Tradução livre: “testes de
ácido”. Testes científicos ou não, geralmente
feitos pelas comitivas itinerantes que distribuíam
a substância. 53 MACIEL, Luiz Carlos. op. cit., p.
51. 54 ROSZAK, Theodore. op. cit., cap. 5. 55
Apud TATINI, Giuliana. “Astronauta libertado”.
Trip, n° 116, São Paulo: 2005. p. 25. 56 CALADO,
Carlos. op. cit., p. 250. 57 It’s very nice pra
xuxu (Arnaldo Baptista /Rita Lee / Sergio Dias)
presente no álbum JARDIM ELETRICO. Mutantes.
Polydor, 1971.
Os versos falam não apenas da “evolução” da
maconha para o LSD (Eu era meio desligado/ Eu não
sou mais aquele), mas também da mudança de vida
provocada pela substância: “Hoje eu falo a sua
língua”. A expressividade vocal de Arnaldo
Baptista demonstra a alegria nessa mudança, que
se reflete igualmente na harmonia e na melodia da
música, que lembra canções românticas.
...
“RITA LEE FOI PASSEAR, VINTE ANOS, NAMORAR TALVEZ
...”
Uma outra forma de modificação comportamental
fundamental foi a nova perspectiva de se pensar o
corpo, que surgiu como reação à moralidade cristã
defendida pelas ditas “pessoas direitas”.
...
Impulsionada principalmente pela estabilidade
econômica que proporcionava a liberdade de sair de
casa e escolher seus próprios destinos mais cedo
que de costume, bem como pela pílula
anticoncepcional, que permitia que o sexo fosse
praticado sem o risco da gravidez (que, à época,
levaria os jovens quase que inevitavelmente ao
casamento), uma parcela da juventude urbana passou
a buscar novos tipos de relacionamentos,
derrubando muitos dos tabus que organizavam as
representações da sociedade, como a virgindade, a
heterossexualidade e as relações monogâmicas62.
A rebeldia se estabelecia então contra o sistema
ou, em outras palavras, contra todo o conjunto de
valores construídos em torno do direito, da
justiça e da organização política. Um termo menos
utilizado e mais técnico, que poderia se aplicar a
essa “instituição” ou “conjunto de instituições” –
o sistema – seria tecnocracia:
Quando falo em tecnocracia, refiro-me àquela forma
social na qual uma sociedade industrial atinge o
ápice de sua integração organizacional. É o ideal
que geralmente as pessoas têm em mente quando
falam de modernização, atualização,
racionalização, planejamento. (...) Chegamos assim
à era da engenharia social, na qual o talento
empresarial amplia sua esfera de ação para
orquestrar o complexo humano que cerca o complexo
industrial. A política, a educação, o lazer, o
entretenimento, a cultura como um todo, os
impulsos inconscientes e até mesmo, como veremos,
o protesto contra a tecnocracia – tudo se torna
objeto de exame e de manipulação puramente
técnicos71.
71
ROSZAK, Theodore. op. cit., cap
...
Essa postura nem sempre clara contra as
instituições ocidentais que gerava uma visão
considerada alienada, desengajada e, por vezes,
“antinacionalista”, que era freqüentemente
associada aos artistas tropicalistas, em especial
aos Mutantes, como exemplificou Rita Lee: “Havia
esse rótulo de “antinacionalistas”, mas era
puramente por sermos do contra. Nem sabíamos
direito contra o quê (risos) ...”73 Esse
“antinacionalismo” era o ponto de vista da
“esquerda engajada”, que aproximava qualquer tipo
de rock à direita e ao imperialismo. Os Mutantes
realmente não eram objetivamente políticos,
militantes de causas políticas, o que no momento
vivido pelo país era por vezes julgado como um
sinal dessa alienação. Apesar disso, foram também
censurados, por suas canções tratarem de temas
subjetivamente políticos, como o sexo e o uso de
entorpecentes.
...
Era um espaço onde poderiam praticar o “amor
livre” e consumir grandes quantidades de
entorpecentes sem problemas, numa grande viagem
coletiva. Essa viagem freqüentemente levava também
os integrantes dessas comunidades a diferentes
buscas espirituais (em oposição ao cristianismo),
o que os impulsionou ao estudo de religiões
orientais, como o budismo, e as religiões pagãs
européias, como a wicca e o xamanismo77. Era no
fundo um misticismo não organizado: nem sempre as
práticas dessas religiões eram o foco de atenção
principal, mas sim suas diferentes interpretações
de mundo, muitas vezes reunidas num conjunto de
explicações “esotéricas” e sincréticas. A
importância dada àquilo que, por vezes, era
considerado lenda ou mentira no mundo ocidental
como empatia, magia, telepatia, ganha muita ênfase
nesses discursos78. Nesse contexto, em 1972, o
grupo gravou seu quinto e último álbum com a
presença de Rita Lee, Os Mutantes e seus cometas
no país dos baurets.
...
Discografia
OS MUTANTES. Mutantes. Polydor, 1968.
MUTANTES. Mutantes. Polydor, 1969.
A DIVINA COMEDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO. Mutantes.
Polydor, 1970.
JARDIM ELETRICO. Mutantes. Polydor, 1971.
MUTANTES E SEUS COMETAS NO PAIS DOS BAURETS.
Mutantes. Polydor, 1972.
O A E O Z. Mutantes. Philips, 1992. (gravado em
1973)
TUDO FOI FEITO PELO SOL. Mutantes. Som Livre,
1974.
MUTANTES DE TRAS PRA
FRENTE
Mutantes
e Seus Cometas no País do Baurets
https://www.youtube.com/watch?v=Mdh8kCgOLSI&list=OLAK5uy_lwx46gaP1RR7cUrktD322HegQ4r6xXW0g&index=2
1972
já em vias de saída de Rita Lee
Mutantes - Jardim Elétrico
https://www.youtube.com/watch?v=FNF1C1vN3B8
1971
Aqui já tem até influência de Tim Maia!
a divina comédia ou ando
meio desligado
https://www.youtube.com/watch?v=i4YPdwm-ov4&list=PL3IfvYSK4XMOpDlwXRQnJosgGuZDDaXHz
1970
ando meio desligado
Tecnicolor 1970
https://www.youtube.com/watch?v=JyLocMuwCYw
1970
Mutantes (1969)
https://www.youtube.com/watch?v=XyYAQHCnRu4&list=PLi35_uQWHsZwuCQw9gUiMw5vv30eGSLNR
1969

Mutantes
https://www.youtube.com/watch?v=S-S2v9GoQjc&list=PLRQKT-Cu2_2S26KTGzg8b_E2-dxllwEL-
1968
[PDF]traços
da contracultura na cultura brasileira da década
de 1960
www.encontro2012.mg.anpuh.org/.../1340743615_ARQUIVO_ArtigoContracultura-...
- Em cache
- Semelhante
método comparativo para analisar práticas e
movimentos culturais específicos da contracultura
tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil na
década de 1960.
tem muita muvuca em
Amsterdam, Holanda – é uma das capitais – e em
Copenhague, Dinamarca, até hoje tem um bairro
hippie.
Tem no Brasil...
Tem no Brasil? – investigar
Resultado da Investigação:
Luiz Carlos Maciel e o resto acima e:
PDF]Os jovens e a contracultura brasileira. -
Senac
www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistaiara/wp.../03/61_Iara_artigo_revisado.pdf
1. Em cache
de CM Pereira - ?Citado por 1 - ?Artigos
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a importância da contracultura no Brasil, no final
da década de 1960, a partir do movimento
tropicalista e sua juventude. Palavras-Chave:
vestuário, arte, moda.
?
http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistaiara/wp-content/uploads/2016/03/61_Iara_artigo_revisado.pdf
IARA – Revista de Moda, Cultura e Arte Vol. 8 no 2
– Janeiro de 2016, São Paulo: Centro Universitário
Senac
1. Introdução
A juventude para o historiador britânico Eric
Hobsbawm (1995, p. 319) foi estabelecida por três
fatores. Primeiro, ela passou a ser vista não como
um estágio preparatório para a vida adulta, mas
como o estágio final do pleno desenvolvimento
humano. Segundo, ela se tornou massa concentrada
de poder de compra, cujos jovens eram mais
propícios ao consumo de novas tecnologias e de
novos produtos no mercado, diferentemente de
grupos etários mais conservadores. O terceiro
fator foi o internacionalismo da nova cultura
jovem nas sociedades urbanas. Um dos exemplos que
englobam estes três fatores é o blue jeans e o
rock, que se tornaram marcas da juventude moderna,
refletindo a hegemonia cultural dos Estados Unidos
da América, tanto na cultura popular como nos
estilos de vida. O estilo juvenil também foi
bastante difundido na Grã-Bretanha por uma espécie
de “osmose informal”, em que o rádio era o grande
veículo promocional, e ainda através de imagens
distribuídas mundialmente do turismo juvenil e da
rede mundial de universidades. Ademais, a cultura
juvenil para Michel Maffesoli (2000), em sua
teoria das tribos, aponta que, nos anos 60, a
contracultura e as comunas estudantis europeias
eram exemplos de tribalismo clássico. No pós anos
70, as tribos se caracterizavam pelo ir e vir,
pela agregação de um grupo, um bando, uma família
ou até uma comunidade. Já o neotribalismo é
relacionado ao comportamento pós-moderno
caracterizado pela fluidez, pelos ajuntamentos
pontuais e pela dispersão. Para as tribos,
contudo, a aparência é uma dinâmica de agregação.
Conforme Maffesoli,
Agora, cada vez mais, nos damos conta de que mais
vale considerar a sincronia ou a sinergia das
forças que agem na vida social. Isso posto,
redescobrimos que o indivíduo não pode existir
isolado, mas que ele está ligado, pela cultura,
pela comunicação, pelo lazer, e pela moda, a uma
comunidade, que pode não ter as mesmas qualidades
daquelas da Idade Média, mas que nem por isso
deixa de ser comunidade (MAFFESOLI, 2000, p. 114).
Assim, estar junto é um dado fundamental que
determina e assegura a espontaneidade de uma
cultura e sua solidez. Para Maffesoli, as tribos
estão relacionadas à formação das sociedades de
massa, e afirma que “a constituição em rede de
microgrupos contemporâneos é a expressão mais
acabada da criatividade de massas”. Desta forma, o
coletivo serve de matriz para a multiplicidade de
experiências, de situações e de ações em grupo, o
que vai ser mais suscetível para os jovens, por
serem mais sensíveis a questões sociais de
mudança, em que a aparência e o costume são de
extrema importância para seus grupos. De acordo
com Elisabeth Murilho da Silva, a cultura juvenil
foi de extrema importância para os anos 60:
A emergência de uma cultura juvenil proporcionou
um questionamento dos valores até então
estabelecidos e
IARA – Revista de Moda, Cultura e Arte - Vol. 8 no
2 – Janeiro de 2016 19
aceitos, culminando com o levante estudantil de
maio de 1968 na França, mas também em outras
grandes cidades do mundo. A revolta contra o
sistema escolar transformou-se na revolta contra
toda forma de autoridade, a recusa dos valores da
sociedade burguesa e industrial e a busca por
maior liberdade individual. Alguns desses ideais
orientaram o surgimento da cultura hippie, como o
desejo de retomar valores comunitários e
religiosos, ao mesmo tempo em que proliferava uma
tendência de evasão e hedonismo a partir das
drogas e do sexo. Desse processo resulta a
imposição de alguns valores juvenis na cultura da
sociedade e a expansão do culto ao indivíduo
(SILVA, E. M., 2011, p. 7).
Os símbolos da cultura juvenil passam, então, a
vir da rua, e estes ganham vida na passarela.
Assim, a moda deixa de ser padronizada e,
gradativamente, o estilo individual norteia as
escolhas da composição, com peças de vestuários e
acessórios. Expressam engajamentos políticos,
pessoais e culturais de cada pessoa e influenciam
a sociedade a se vestir inspirada nesta cultura
juvenil emergente. A consequência desse estilo
jovem é a admissão de um visual mais descontraído
e colorido, com inspiração na cultura hippie,
longe de suas ideologias. Esta descontração no
vestuário esteve presente somente no meio
universitário, na rua e no ambiente de lazer,
enquanto no trabalho mantinha-se o traje formal e
sério. A adesão de um vestuário mais confortável e
informal era a reação a um relaxamento dos hábitos
para alguns momentos em que se começava a permitir
a informalidade no comportamento (SILVA, E. M.,
2011, p. 7). Esta informalidade compreendeu o
reflexo do comportamento juvenil nos anos de 1960
e 1970, época em que os hippies (figura 1)
sintetizaram o exemplo mais característico da
rejeição aos valores burgueses da sociedade
capitalista e industrial, impulsionando propostas
de produção artesanal com caráter mais artístico,
em contraponto ao sistema vigente de produção.
Esta inspiração subcultural opõe-se aos símbolos
massificados da moda (SILVA, E. M., 2011, p. 8).
...
O termo “contracultura” pode ser definido como um
novo estilo de contestação social ao sistema
político-econômico vigente, bem diferenciado da
prática política da esquerda tradicional. Este
termo foi muito empregado na década de 1960,
quando empregado para designar um movimento social
libertário, impulsionado pela juventude que se
contrapunha aos valores da sociedade ocidental. A
contracultura se desenvolveu principalmente nos
Estados Unidos da América, além de outros países,
especialmente na Europa, mas também com alguma
repercussão, ainda que menor, na América Latina.
Desta forma, esta se afirmou como uma cultura à
margem do sistema; uma cultura marginal ou
anticultura.
A geração dos anos 50 foi considerada como a de
poetas beats, que personificavam a juventude
pós-guerra, contando com o seu auge, o rock 'n'
roll de Elvis Presley (1935 – 1977). Rebeldia e
música configuravam a cultura jovem do período.
Chamada de juventude transviada, esta se
caracterizava por gangs de motociclistas. Nos anos
de 1960, a oposição exercida pelo jovem, que vinha
ganhando força social ao longo da década anterior,
culminou em uma explosão político cultural. Na
música, na primeira metade do século XX, houve o
surgimento de cantores e grupos que marcaram
época, como os britânicos dos Beatles e o
americano Bob Dylan. E na segunda parte da década,
ocorreram grandes festivais de rock e concertos de
música, que se transformavam em grandes
happenings. Dentre os mais relevantes, estão o
Monterey Pop Festival, em 1967, que lançou Jimmy
Hendrix e Janis Joplin (figura 2 e 3) na cena
musical mundial; o Festival de Woodstock, em 1969
(figura 4 e 5), e o de Altamont, no mesmo ano,
além do festival da Ilha de Wight, no Reino Unido,
em 1970, com as presenças de Gilberto Gil e
Caetano Veloso, neste momento, já exilados. Tais
festivais caracterizaram a cultura hippie
(PEREIRA, 1992, p. 9-10).
Diz Carolina ainda q
O movimento estudantil deste período era
voltado para a esquerda, pautado pelas diversas
divisões do Partido Comunista. (HOLLANDA;
GONÇALVES, 1999, p. 64-70).
- Ora, "Nós éramos, além de
tudo, baianos. E ligados ao ideário da
contracultura", avaliava Caetano Veloso em 2015
(Folha, acima).
- Eis o ponto aqui: a desfaçatez,
o desbocamento tropicalista, já em evidência acima
no material Maciel/Pasquim -
Ensaio de Carolina:
Essas novas dissidências do Partido Comunista
apontam uma nova forma de luta que se dá em uma
revolução social, compartilhando novas práticas,
como a guerrilha e a militância dos jovens.
Entretanto, conflitos e contradições marcaram as
relações entre o movimento estudantil e o regime
militar no Brasil. Em 1965, a UNE (União Nacional
dos Estudantes) foi extinta, mas se manteve na
ilegalidade com suas atividades, embora a polícia
estivesse intensamente reprimindo os eventos do
movimento. Somente em 1968 essa repressão da
polícia gerou repercussão. No dia 28 de março, um
incidente com polícia e estudantes da Frente Unida
dos Estudantes do Calabouço derivou na morte de
Edson Luís, estudante de um curso secundário. Isto
ocorreu devido ao conflito existente entre o
governo do Estado da Guanabara e a União
Metropolitana dos Estudantes, que mantinham um
restaurante chamado Calabouço, visado pelo
governo, a fim de fechar o estabelecimento. Os
estudantes estabeleceram negociações com o governo
para manter o restaurante em condições adequadas,
já que se encontrava em estado precário.
Desanimados com o não entendimento com o
governador Negrão de Lima, os estudantes
planejaram uma manifestação de última hora.
Inesperadamente, os policiais chegaram ao local
agredindo violentamente o grupo estudantil. No dia
posterior, uma multidão, munida de bandeiras e
cartazes com fotografias de Fidel Castro e Che
Guevara, compareceu ao enterro de Edson Luís
(HOLLANDA; GONÇALVES, 1999, p. 73-75).
Em todo o país, movimentos de aversão e revolta
acarretaram em manifestações com aceitação de
diferentes camadas das sociedades. No dia 26 de
junho, no Rio de Janeiro, a movimentação política
chegava a seu ponto mais alto, em contraposição ao
regime militar. Liderada pelo movimento
estudantil, uma grande manifestação foi feita no
centro da cidade do Rio de Janeiro. Imortalizada
na História pelo nome de “Passeata dos Cem Mil”
(figura 6), os jovens de classe média que a
integraram exprimiu o descontentamento para com a
ditadura que estava no comando do país. Esta
manifestação foi permitida pelo governo e
controlada por mais de 10 mil policiais. Apesar de
os manifestantes fazerem parte de partidos e terem
preferências políticas diferenciadas, todos
estavam mobilizados a expressar o desgosto em
relação ao governo militar (HOLLANDA; GONÇALVES,
1999, p. 75-77). Os novos movimentos sociais que
emergiram durante os anos 60 foram um grande marco
para a época, entre eles as revoltas estudantis,
os movimentos juvenis contra culturais, as lutas
pelos direitos civis e os movimentos
revolucionários do “Terceiro Mundo”. A década de
1960 também testemunhou a articulação de novas
identidades individuais e coletivas, baseadas em
raça, etnia, sexo e orientação sexual nos Estados
Unidos e na Europa.
Figura 6. Passeata dos Cem Mil, em 26 de Junho de
1968, no Rio de Janeiro. José Celso de casaco e
óculos escuros, Caetano de camisa branca, ao lado
de Nana Caymmi e Gilberto Gil.
Os movimentos culturais do início da década de
1960 tentaram introduzir uma crítica de classes,
mas eram limitados pelo populismo paternalista e,
em algumas ocasiões, etnocêntrico. A esquerda
tradicional no Brasil, representada principalmente
pelo Partido Comunista, não dedicava muita atenção
a questões de desigualdade social e sexual,
concentrando os esforços na resistência
antiimperialista e na luta de classes. (DUNN,
2009, p. 182) Christopher Dunn cita Rogério
Duarte, que descreveu o contexto brasileiro na
época:
Na visão elitista de então havia uma espécie de
pseudonacionalismo purista, que era aquela ideia
de nosso bom crioulo, nosso samba autêntico, tudo
isso como se fosse uma forma estagnada, não
destinada a um processo de transformação [...] O
momento internacional na era do Tropicalismo me
parece basicamente uma visão terceiromundista
[...] um momento de anticolonialismo, uma abertura
muito grande para o pensamento negro-africano, ou
seja, o etnocentrismo branco, oficial, começa em
nível de estética a se esboroar (DUARTE apud DUNN,
2009, p. 181).
A partir da afirmação acima, pode-se perceber que
a elite estabelecia um discurso diferenciado da
fala tropicalista, como também a própria esquerda
brasileira ignorava ou subestimava o discurso do
movimento. Além de reagir ao autoritarismo
militar, os tropicalistas contribuíram com
discursos e práticas emergentes concentradas nas
novas subjetividades. A contracultura, no caso dos
tropicalistas, teve outras facetas, inclusive as
que dependiam do consumo de novos estilos e
produtos culturais. Assim, tais artistas se
utilizaram da ambiguidade mencionada para produzir
esta contracultura. Os tropicalistas (figura 7)
criticavam o governo militar e não se adequavam
aos preceitos da esquerda daquele período,
enquanto, em sua produção cultural, discutiam
temas culturais, políticos e estéticos
importantes. Segundo a pesquisadora Ana de
Oliveira:
O Tropicalismo, como parte dessa malha
interdisciplinar, assimilou matrizes criativas
distintas – desde as formas populares arcaicas até
as eruditas e as de invenção contra cultural – e
estabeleceu uma relação dialógica sem precedentes
entre cultura de massa, mercado, tecnologia,
tradição e modernidade. A incorporação do rock
internacional como informação legítima, o uso de
elementos da alta cultura articulados com meios de
comunicação de massa e a reivindicação de uma
linguagem universal no ato de pensar a cultura
nacional, foram algumas das premissas a partir das
quais o Tropicalismo efetuaria uma intervenção
decisiva na criação artística e nos debates
estético-político-culturais do Brasil (OLIVEIRA,
2010, p. 7).
A autora, nesse trecho, evidencia a mistura de
referências, realizada por esses artistas que
criaram sua própria música, como artesãos de um
momento musical ou, como Ana de Oliveira
conceitua, como “artífices da modernidade
musical”. Além disso, utilizavam referências da
cultura de massa mal vista pelos eruditos, como o
IARA – Revista de Moda, Cultura e Arte - Vol. 8
no 2 – Janeiro de 2016 25
pop-rock dos Beatles até ritmos nordestinos,
passando pela vanguarda dos concretistas. Assim,
criou-se um novo formato de contracultura juvenil.
A autora Heloísa Buarque de Hollanda
_____________________________________importante______________
ver e folhear
?
http://www.heloisabuarquedehollanda.com.br/
para questões contemporâneas de
culturas marginais no Brasil talvez ligadas a
heranças do flower power e contracultura
para eventual repercussão das ideias da
contracultura no brasil hoje
_______________________________
A autora Heloísa Buarque de Hollanda vai pontuar
como outra característica forte dos tropicalistas,
neste momento de contracultura, o tom de
“desbunde”:
A derrota de 68, os sinais de desgaste das
alternativas “militaristas”, a minúcia e a
violência da ação repressiva, configuram um
período de dispersão e isolamento. Por outro lado,
as sugestões da “revolução individual” que
estiveram presentes no Tropicalismo, encontram um
solo fértil. A descrença em relação às
alternativas do sistema e à política das esquerdas
dá lugar ao florescimento, em áreas da juventude,
de uma postura “contracultural”. A droga como
experiência de alargamento da sensibilidade e de
mudança de cabeça, a valorização da transgressão
comportamental, a marginalização, a crítica
violenta à família – nesse momento, mais que nunca
fechada com o Estado, que lhe oferece as delícias
do “milagre econômico” –, a recusa do discurso
teórico e intelectual, crescentemente tecnicista
[...] – que tem seus aspectos na vivência-limite
da loucura e do desajustamento – dão o tom do
desbunde: “A cultura e a civilização, elas que se
danem, ou não”, cantava Gilberto Gil na virada da
década (HOLLANDA; GONÇALVES, 1999, p. 95).
A derrota de 68, que a autora evidencia, ocorre em
dezembro daquele ano, em uma intensa crise
político-institucional, e usava a argumentação de
um discurso do deputado Márcio Moreira Alves.
Enquanto isso, o governo Costa e Silva fechava o
Congresso Nacional e editava o Ato Institucional
nº 5, outorgando poderes ilimitados ao poder
Executivo e evidenciando a predominância do Estado
na sociedade política. Dessa maneira, não
desconfiavam apenas das atividades
político-sindicais dos grupos e classes populares,
mas, agora, da própria classe média
intelectualizada, do setor estudantil, da
universidade e de todos os seus
IARA – Revista de Moda, Cultura e Arte - Vol. 8 no
2 – Janeiro de 2016 26
setores – como professores e pesquisadores – e do
setor cultural – como os artistas e intelectuais
que estavam envoltos em uma produção engajada. O
termo “desbunde”, mencionado na citação acima, era
o deboche que criticava as atitudes “bem
comportadas”, tornando-se, então, uma crítica
comportamental. Isto ocorreu quando o Tropicalismo
começou a refletir sobre a necessidade da
revolução do corpo e do comportamento, rompendo
com a falta de flexibilidade da prática política
vigente. Assim, o movimento tropicalista não se
preocupava se a revolução brasileira ia ser
socialista-proletária, nacional-popular ou
burguesa. Estes desacreditavam da ideia da
conquista de poder. A própria noção da revolução
marxista-leninista já estava demonstrando, na
prática, um autoritarismo e uma burocratização
nada atraentes aos tropicalistas, que desconfiavam
da esquerda ortodoxa e da direita militarista,
resultando em uma crítica radical ao comportamento
e direcionando-se para um novo tipo de ação. Desse
modo, eles preferiram uma intervenção múltipla,
uma “guerrilha”, em tonalidade anarquista
(HOLLANDA, 1980, p. 61-63). É neste momento que se
começava a conhecer os primeiros conceitos sobre a
contracultura no Brasil, trazendo questões, como o
uso de drogas, a psicanálise, o corpo, o rock e os
circuitos alternativos, o chamado underground2.
Segundo Heloísa Buarque de Hollanda:
A marginalidade é tomada não como saída
alternativa, mas no sentido de ameaça ao sistema;
ela é valorizada exatamente como opção de
violência, em suas possibilidades de agressão e
transgressão. A contestação é assumida
conscientemente. O uso de tóxicos, a
bissexualidade, os comportamentos descolonizados
são vividos e sentidos como gestos perigosos,
ilegais e, portanto, assumidos como contestação de
caráter político (HOLLANDA, 1980, p. 68).
A rejeição ao sistema e a descrença na esquerda
geraram um período de desilusão política. O rock
passou a ser um estilo de vida, ou seja, uma forma
nova de se entender a sociedade e o comportamento.
Em consequência da intenção da liberdade
comportamental, para radicalizar os costumes
tradicionais e conservadores da sociedade, o uso
de tóxicos e a valorização de experiências
sensoriais se tornavam recorrentes nestes jovens,
descontentes com o sistema em vigência.
3. Considerações finais
A partir dos anos 60, a juventude deixar de ser
somente uma fase passageira da vida e estrutura-se
como uma fase de imposição e comportamentos
juvenis, apesar do escândalo e do impacto na
sociedade, devido aos novos comportamentos e
hábitos. A cultura jovem em todo século XX ganhou
grande força no Ocidente, devido à oposição jovem
aos modelos e aos padrões da sociedade. As
modificações nos anos sessenta revolucionaram o
comportamento de sua época. Em todo o mundo
ocidental, os movimentos dessa década foram
importantes por conta das novas concepções de
valores a partir de novas ideologias e
manifestações culturais.
2Underground: movimento, organização ou atividade
subterrânea que funciona secretamente [...]
(FERREIRA, 1975, p. 574).
IARA – Revista de Moda, Cultura e Arte - Vol. 8
no 2 – Janeiro de 2016 27
No Brasil, a tropicália se caracterizou como uma
manifestação de contestação à ditadura vigente,
como um movimento social impulsionado pela
juventude.
Referências
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século
XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. HOLLANDA, Heloísa Buarque de; GONÇALVES,
Marcos A. Cultura e participação nos anos 60. São
Paulo: Brasiliense, 1999.
____________________________. Impressões de viagem
CPC, vanguarda e desbunde: 1960/70. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1980.
MAFFESOLI, Michel, O tempo das tribos: o declínio
do individualismo nas sociedades de massa. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2000.
SANT’ANNA, Patrícia. Coleção Rhodia: arte e design
de moda nos anos sessenta no Brasil. 282 f. Tese
(Doutorado em História da Arte) - Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Estadual de Campinas. São Paulo, 2010. SILVA.
Elisabeth Murilho da Silva. “Rigidez e
relaxamento: a emergência da cultura juvenil e
seus impactos na moda e no comportamento.” In:
anais 7º Colóquio de Moda, Maringá. PR:
Universidade Cesumar. 2011. Disponível em:
<http://coloquiomoda.com.br/anais/anais/7-Coloquio-deModa_2011/GT08/GT/GT_89452_Rigidez_e_relaxamento_a_emergencia_da
_cultura_juvenil_e_seus_impactos_na_moda_e_no_comportamento_.pdf>.
Acesso em 30 de dezembro de 2013.
Recebido em 15/09/2014 e Aceito em 12/02/2016.
Globalidade e globalização e
globalização da onda via satélite (que começam a
ser lançados no espaço em 1962)– o rádio de ondas
curtas, a TV, os discos, as publicações
underground, simultaneidade transcultural transa
cultural transnacional – a patrulha ideológica
dizia q era parte com o diabo do imperialismo
ianque.
- por toda parte – e no Brasil: imprensa
alternativa, underground, undigrudi
Pasquim, Flor do Mal, Verbo Encantado em Salvador,
Rolling Stone-Brasil, Bondinho, Ex, Grilo (HQ) e
por aí, Música do Planeta Terra, ...
Um nome NADA falado nestes
últimos 30 anos: José Angelo Gaiarsa
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Sexo, Reich E Eu
https://books.google.com.br/books?isbn=8571838895
Jose Angelo Gaiarsa - 1985 - ?Visualização - ?Mais
edições
Este livro fala de temas como amor, transferência,
arte erótica e tantra. É um estudo, uma reflexão
de Gaiarsa sobre as questões da sexualidade
humana, inclusive com depoimentos pessoais.
A Cartilha Da Nova Mae\
https://books.google.com.br/books?isbn=8571838291
JOSE ANGELO GAIARSA - Visualização
A exemplo de outras obras de Gaiarsa, é um livro
instigante para quem está questionando o velho e
tradicional papel da maternidade em busca de novos
modelos.
Organização das posições e movimentos corporais
https://books.google.com.br/books?isbn=853230088X
JOSE ANGELO GAIARSA - Visualização - ?Mais edições
Este livro pretende explicar, de forma acessível,
a complexidade de nosso aparelho locomotor.
As vozes da consciência
https://books.google.com.br/books?isbn=8571833788
José Angelo Gaiarsa - 1991 - ?Visualização
Um livro ambicioso de um dos mais importantes
terapeutas brasileiros.
couraca muscular do carater
https://books.google.com.br/books?isbn=8571831815
JOSE ANGELO GAIARSA - Visualização
Com base em nossa realidade anatômica, em nossa
fisiologia, o autor explica o que vem a ser a
couraça muscular e como ela realmente exerce uma
grande influência em nosso relacionamento com o
mundo.
Meio Seculo De Psicoterapia Verbal E Corporal
https://books.google.com.br/books?isbn=8571830215
JOSE ANGELO GAIARSA - Visualização
Um encontro hipotético entre este autor e Freud,
Reich e Jung. É para aí que nos leva a imaginação
ao lermos esta obra comemorativa de 50 anos de
atividade profissional de J. A. Gaiarsa, na qual
ele expõe a súmula de suas idéias.
O espelho mágico: um fenômeno social chamado corpo
e alma
https://books.google.com.br/books?isbn=8532301800
José Angelo Gaiarsa - 1984 - ?Não há visualização
- ?Mais edições
Este livro analisa o fenômeno da comunicação entre
as pessoas.
Minha Querida Mamae
https://books.google.com.br/books?isbn=8571838720
JOSE ANGELO GAIARSA - Visualização - ?Mais edições
A relação entre mães e filhos é o tema abordado
neste livro.
Sexo tudo que ninguém fala sobre o tema.
https://books.google.com.br/books?isbn=8571838283
José Angelo Gaiarsa - 2005 - ?Visualização
Como o próprio título indica, este livro fala
sobre intimidades, em linguagem permitida apenas
com o espelho ou pessoas muito íntimas.
Sobre Uma Escola Para O Novo Homem
https://books.google.com.br/books?isbn=857183010X
JOSE ANGELO GAIARSA - Visualização
Neste livro, o autor ajuda a questionar (e
demolir!) o sistema educacional brasileiro, que,
segundo ele, é arcaico e reacionário.
José Angelo Gaiarsa: uma curtição reichiana. De
Wilhelm Reich. Psicoterapeuta teutão q estudou com
Freud e se exilou nos EUA, onde morreu preso.
