revoluciomnibus.com

MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO


  O LIVRO DE PEDRA 

 Trechos

      VIDA DE ARTISTA

  crise, inguinorãça, preconceito

    CENSURA: não tem discussão. Não

 

       ciberzine   & narrativas de james anhanguera
CHICO  ROQUE ANDE ROL
QUE

FESTA DE ARROMBA!

SÃO PAULO

PALÁCIO DE CONVENÇÕES . ANHEMBI

10, 11, 12 E 13 DE MAIO DE 1973

  + Gilberto Gil e Caetano Veloso pós-exílio em Londres Back in London

3LPs originais e DVD.

 

Sinopse com os cortes:

TAKE 1

Caetano Veloso -  ... aqui tá muito bom...Quer que eu cante a Camisa Listrada...  que idéia boa, hein?

TAKE 2

 Wanderléa -  Muita gente me pergunta pelo Roberto e pelo Erasmo...

                  Hoje cada um tá seguindo  seu  caminho,  fazendo   o  seu   trabalho  ... mas todos nós curtindo muito... muito mesmo aquela época da Jovem Guarda e principalmente curtindo mais que tudo o amor, a amizade, o carinho que nós temos um pelo outro. Carinho que... que depende de a gente estar perto dos olhos... porque é um amor que permanece muito no fundo, sabe?

                    Aqui.

                    No coração.

TAKE 3

Chico BuarqueVamos lá! Vamo ao que pode. VAMOS AO QUE PODE.

TAKE 4

FagnerEu queria... eu queria dizer que aqui tá  o  Naná,   que   é  um  cara maravilhoso, que faz percussão que  pouca  gente  faz.  Eu  vou  cantar  uma música  que  é  o nome do meu primeiro elepê que se chama Manera, Fru-Fru, Manera, com letra de Ricardo Bezerra.

TAKE 5

Jorge BenEu vou chamar o Gil para nós fazermos um número juntos: GIL!!!

TAKE 6

Maria BethâniaObrigada... Muito obrigada... Obrigada... Uma canção que o Gil fez pra mim.

TAKE 7

..Caetano Veloso - ... esse da Phono 73 tá parecendo MUITO com o Festiva... tá parecendo muito com aqueles festivais da TV Record. Aliás, o que também é legal, né? Mas é engraçadamente parecido. Então, esse... NÃO HÁ NADA MAIS Z DO QUE PÚBLICO CLASSE A né, mas o... o... 

 

Cálice

  

Cálice – Gilberto Gil-Chico Buarque

        Chico Buarque-Gilberto Gil

           Quem fez a letra e quem fez a música? Ambos, juntos? Muito provavelmente Gil fez mais a música e Chico mais a letra. Nada disso, a música foi feito na cobertura da Lagoa de Chico Buarque, donde o monstro da Lagoa e a bebida amarga era a Fernet que tomavam enquanto compunham a quatro mãos, frente a frente, o... spiritual de Semana Santa, em um sábado de Aleluia, um escreveu uma estrofa, o outro outra, contou Gilberto Gil sobre o clássico da celeuma da Phono 72, em que o cale-se foi censurado com o corte dos microfones.

           Baião + rock ou roque = Baioque 

  – Chico Buarque

que recapitule-se regressara do exílio romano de mais de um ano depois de lá ter feito a letra de Samba de Orly - nome do aeroporto internacional parisiense de então, porque Fiumicino, o de Roma, além de muito menos conhecido, como título de música não soava muito bem -, que uma vez sem exemplo foi musicado por Vinícius de Moraes, para o grande sucesso de Apesar de Você – recado direto ao presidente Médici – e o sucesso retumbante de Construção/Deus Lhe Pague e do LP Construção. Ao chegar a Phono vinha de outro grande sucesso com a trilha sonora de Quando o Carnaval Chegar, o filme musical de Cacá Diegues em que atua em trio com Nara Leão e Maria Bethânia. É uma nova grande fase do cantautor, que manda um após outro recados de grande peso político, como Bom Conselho. Logo a censura começaria a cortar-lhe as asas, impedindo-o de alçar vôo, a não ser quando, esperto, inventa o pseudônimo “popular” Julinho da Adelaide e Julinho da Adelaide-Leonel Paiva.

    Ali mesmo no Anhembi dá-se um dos embates mais chocantes – porque mais ou menos à vista e aos ouvidos de 3500 pessoas – entre esbirros da ditadura militar e artistas.

   A Phono-73 é uma produção André Midani, então presidente da sucursal brasileira da Phonogram, ex-Philips e futura Polygram, uma multinacional holandesa. O francês radicado no Brasil desde a década de 1950 foi um dos magos da produção e da administração da indústria da música. Onde punha a mão via-se ouro e mais que isso, porque um de seus segredos é charme e simpatia. O contato com os artistas era muito mais frutífero do que é habitual numa indústria que primava pela truculência, salvo ao que se sabe em casos excepcionais como o de um Clive Davis, então ex-todo-poderoso da gigante CBS, ou Nesuhi Artgun, que através da Atlantic lançou muitos dos magos da soul music e grandes discos de jazz.

   Com um grande elenco de astros, alguns recém-contratados, para mostrar em conjunto também como prova de pujança de uma grande empresa que atingira novos patamares ao incorporar outras marcas, ele pensou em fazer uma feira de música. Terá pensado até no Midem (Mercado Internacional do Disco e da Música), da França, e chegou a convidar a Odeon, ligada a outro colosso da indústria discográfica, a EMI, para promover uma edição conjunta. Juntas, as duas empresas reuniam em catálogo quase tudo o que existia de melhor na então de novo explosiva MPB. Mas a Odeon não topou e a Phonogram foi em frente sozinha. Seu elenco era por si só muito vasto, com grandes atrações de muito diferentes matrizes musicais, de Erasmo Carlos e Wanderléa da ex-Jovem Guarda ao então mega-star do cafonismo Odair José (Pare de Tomar a Pílula), a Jorge Ben, os baianos Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, Elis, Nara Leão e jovens e mais velhas promessas ou já com muito boas provas dadas como Hermeto Pascoal, Luís Melodia, Raul Seixas, Jorge Mautner, Jards Macalé, Naná Vasconcelos...

    Um dos aspectos mais inusitados da empreitada é que a publicação de três LPs com gravações dos quatro dias de evento chegou a ser anunciada antes para dois dias após o seu fim. As bolachas só saíram oito dias depois, mas não faz muita diferença. Foi quase como que uma série de transmissões ao vivo de rádio com edição e mixagem simultânea.

    O festival revelou um repertório excelente. Só como exemplo: Filhos de Gandhi e Ladeira da Preguiça, as duas de Gil, a segunda em duo com Elis, a primeira reunião Gil & Jorge, que depois renderia um duplo LP, o duo Gal e Bethânia com Oração de Mãe Menininha, Gal em versões de Sebastiana e Trem das Onze que até hoje estão firmes e fortes nas paradas, Movimento dos Barcos, de Macalé-Capinan numa versão enxuta e exata de Macalé, o duo Fagner-Naná arrebentando, enfim, para abreviar, Tudo Se Transformou, de Paulinho da Viola, e Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, de Odair José, por um mais uma vez ultra-provocante Cae Veloso.

    Além do grande embate Chico-Gil com os oficiais da censura, que cortam o microfone dos dois quando cantam Cálice (cale-se...). Nota-se na fala de Chico a seguir a tensão – e a coragem – do bardo para ainda assim anunciar com microfone de novo ligado Vamos ao que pode – e o que pôde?, dir-se-ia por milagre: Baioquequando eu canto que se cuide quem não for meu irmão, o meu canto, minha arma, não conhece o perdão. E a seguir Pesadelo, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, pelo MPB-4: você corta um verso, eu escrevo outro...

    Um momento e, quase ao vivo, um documento histórico. Uma notícia de semanário sobre a renhida guerra de bastidores entre parte da sociedade civil e a ditadura, que no auge da respectiva ferocidade não dá mole – corta, prende, tortura e mata a esmo.

   


         O conjunto de três discos, que rolaram também em versão DVD, que narra tudo em som e imagem, condensa uma série de fatores determinantes do conditio sine qua non da vida brasileira naquele ano

- censura/repressão e reação temerária dos artistas, que arriscavam a prisão fosse por protestos veementes, alusões ou supostas provocações, como aconteceu a Gil e Caetano quatro anos antes, quando foram presos porque alegadamente teriam achincalhado a bandeira ou o hino brasileiro;

  - e por ter sido, excluído o Clube da Esquina de Minas, Caymmi, Clara Nunes e alguns outros nomes importantes do cast da Odeon, um expositor de tendências nas paradas e prestes a estourar ou que se não estouraram foi ainda por censura ou preconceito ou falta de jabaculê, que à época já punha e dispunha no negócio da promoção das músicas através do rádio e da TV no Brasil e nos EUA sofria nova onda de assédio das forças da lei & ordem, num escândalo em que Clives Davis foi demitido da CBS por alegada cumplicidade com transas malditas.

   + Gilberto Gil pós-exílio em Londres Back in London

         Em 1973 Gil pré-anunciava a chegada do samba duro e da timbalada levando para o terreiro midiático nacional os blocos de afoxé de Salvador, de onde Gal & Bethânia traziam também o encantamento místico mais belo e profundo através de Caymmi, que acabara de lançar sua oração só com batuque, voz e violão (elas ali estão com o excelso acompanhamento de Dominguinhos do Acordeon).

    Filhos de Gandhi celebra a lei áurea dos blocos de afoxé, que através dele são levados ao conhecimento do resto do país, e prenuncia Refavela, LP de Gilberto Gil lançado quatro anos depois, e Um Canto de Afoxé Para o Bloco do Ilê, de Caetano Veloso, de outros tantos anos adiante.

    A oração de Gil e a participação de Naná – cujo LP Amazonas, recém-lançado pela Phonogram, foi apenas mais uma vítima do regime de jabaculê & preconceito vigente no pedaço – são marcos de uma abertura do mercado à música afro-brasileira além-samba. Batucada assim não se ouvia em disco desde Batmacumba, lançada por Gil e Caetano em 1968.
Duplo Sentido, Doente Morena, O Compositor Me Disse, Ladeira da Preguiça, Eu Preciso Aprender A Só Ser, Meio de Campo

    Essa foi a fase de maior relaxamento de Gilberto Gil, que buscava explorar novas formas de canção e intensificar o diálogo com a música e os seus instrumentos, após longo e intenso estudo da voz (em modulações e improvisos ou scats) e do violão. Essa fase, em que revela através de Bethânia e Elis ou quase nem revela Duplo Sentido, Doente Morena, O Compositor Me Disse, Ladeira da Preguiça, Eu Preciso Aprender A Só Ser e Meio de Campo, está muito bem documentada no duplo LP Gilberto Gil Ao Vivo, gravado no TUCA, em São Paulo, e dela são outros bons instantâneos Lugar Comum, feita em parceria com João Donato, recém-retornado dos EUA, e João Sabino, com quem mantém fascinante diálogo sobre música e visão atrás da serra, Cachoeiro de Itapemirim.

     É uma fase de intensificação do diálogo de Gil com a música e com os músicos, nomeadamente com o suingue danado do baixista Rubão Sabino. Em que ele também se revela excelente produtor com o LP Jorge Mautner, para que reuniu uma banda de rock, samba e samba-rock de fazer tremer o chão, o teto e as paredes em Cinco Bombas Atômicas ou Guzzy Muzzy. Gil iria repetir a façanha anos depois com um não menos injustamente negligenciado Domingo Menino Dominguinhos. E num estudo do samba-choro e samba de breque em que alterna interpretações suas de clássicos dos anos 1930-40 com gravações originais do paulista Germano Mathias.

     Ao estrelato com as façanhas da Tropicália e o sucesso de Aquele Abraço seguiu-se o choque térmico da redução a 0 das suas perspectivas na profissão ao ser coagido a começar de novo do exílio em Londres, o que por outro lado deu-lhe a liberdade de ouvir com tempo e ouvidos livres a música em circulação nos epicentros do movimento musical pop internacional, já transformado em pouco mais que uma miríade de etiquetas pela indústria do disco mas ainda assim – ou por isso mesmo - em plena ebulição. E um terreno que, com o approach à guitarra e outro instrumental eletrônico, vem ao encontro das suas intenções no momento – abrir o leque harmônico do samba ao funk: o jazz-rock do mestre da trilha sonora de Blow Up de Antonioni, que nos créditos do filme  assina Herbert Hancock.

     Quando Herbie grava Headhunters, o funk-padrão made by Hancock, desde o disco de regresso, 2222, com a impecável assistência harmônica e de tempero rítmico de Lanny Gordin, Bruce Henry e Tuti Moreno, Gil já virara fera nas levadas do samba-funk, como outra vez em João Sabino

  pra ver o sol nascer aqui na terra atrás da serra Cachoeiro de Itapemirim

  o sol nascer João Sabino eu imagino quando era menino eu via assim

  estava comendo banana pro santo
  - pra quem?

  - pro santo

  - pra quem?

  - pro santo

  - pra quem?

  - pro santo espírito senhor pai do filho do

        espírito santo filho do espírito santo filho

  de uma localidade de

 

 

     Na sequência de Ao Vivo e Jorge Mautner Gil despoleta Gil&Jorge, que no fundo é o corolário de suas pesquisas em torno das origens do samba e de outros ritmos afro-brasileiros e sua junção com o jazz ou o funk a partir do samba misto de maracatu de Jorge Ben, realiza Refazenda, no fundo talvez corolário dessa fase de análise dos (i)limites da canção e, de passagem, da função de corpo e intelecto na postura existencial, e com um dos parceiros na empreitada com Mautner, o guitarrista Roberto de Carvalho, no comando de ataque da banda, o disco ao vivo Refestança, ao lado de Rita Lee Jones, sua grande parceira na fase do desbunde da Tropicália nos Mutantes.

  JOVEM GUARDA

     Por alturas da Phono 73 Tropicália e Jovem Guarda eram marcos essenciais da formação da música popular de produssumo, como a definiu Décio Pignatari, mas já remotos. Produssumo = música popular e de passagem pop com um certo nível de informação ou de vanguarda para a massa. Nessa altura Roberto Carlos deixara já há muito a primeira fase de cantor romântico-pop-brasileiro para, com o maestro Eduardo Lajes e o RC-7 como acompanhamento de base, cultivar um estilo standard que é o modelo com que chega, decadentíssimo, ao século 21.

     Mistura com o parceiro Erasmo faixas brego-rockmânticas que de tão patéticas chegam a ser hilárias com peças marcantes, algo entre o pop, o soul e o rhythm and blues, como As Curvas da Estrada de Santos e Se Você Pensa, e depois Detalhes e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, que não são propriamente de se jogar fora.

     Em termos historiográficos a Jovem Guarda acabou por ter grande importância na formação do caldeirão de estilos contemporâneos da canção de produssumo por fatores congênitos e totalmente alheios a ela, mas a que acabou por adequar-se muito bem. Seu sucesso, contemporâneo a outras diluições do gênero que ocorreram em quase todos os países da Europa Ocidental, decorre de ser um fenômeno infanto-juvenil – num caso único em qualquer quadrante – muito bem aproveitado por uma agência de publicidade que, a partir do movimento de cantores e instrumentistas reunidos em torno dos carismáticos Roberto e Erasmo, decide com todos eles abrir o que parece uma butique da chamada moda jovem.

     O detalhe não é de somenos. Pop-rock foi som mas moda também. Beatles e Twiggy e Mary Quant. From Me To You (1963), uma das rampas de lançamento do maior fenômeno de massas de sempre, e Blow Up (1966), que é também uma reflexão sobre Londres e o que significava aquele movimento de juventude nascente – e claro que não é por acaso que o filme é também um desfile de modelos e modelitos e baseado no que um fotógrafo de moda vê através de suas lentes e se revela e amplia (e o que vê é imaginação?) no trabalho de laboratório.

     Ao transformar um programa de TV (Jovem Guarda) numa butique – através da qual, aproveitando muito espertamente o advento da geração do baby boom ao mercado de consumo, vende tudo o que se relacione à moda beatle, ou bitle - a agência de publicidade não faz o que estava sendo feito por exemplo nos EUA com os Monkees, onde da banda e do seu visual às musiquinhas (que eles não tocavam) tudo foi inventado. O germe já estava lá: o que faltava inventar era o nome e um programa de TV. Esse tipo de coisa não foi feito em lugar nenhum, fosse mesmo com os Beatles (o negócio de Brian Epstein, apesar de tudo, sempre foi apenas e só música) ou com Rita Pavone na Itália ou Johnny Halliday na França.

      Do yeah, yeah, yeah repetido à exaustão pelas quatro cabeleiras de Liverpool fez-se o ié-ié (diz-se iê-iê) francês e o iê-iê-iê brasileiro. A Jovem Guarda, além de aspectos musicais não negligênciáveis, antes pelo contrário, era apenas e só um fenômeno de massas infanto-juvenil muito inteligentemente desenvolvido por três publicitários como produto(s) a partir do que já continha quando eles decidem explorá-lo(s).

      Ao de uma certa forma adotá-la no seu movimento-manifesto Gilberto Gil e Caetano Veloso não a adaptaram. Apenas  incorporaram ao leque de informações do seu agitprop as que a turma da Jovem Guarda tinha muito bem traduzido e adaptado do inglês numa época em que, depois de Fred Jorge e Erasmo, já se inventava bandas (Brazilian Bitles) para cantar as versões de Rossini Pinto e quejandos dos sucessos internacionais.

  Assim também em relação aos Mutantes, que com certeza  aprenderam muito no convívio com Tomzé, Rogério Duprat e os dois baianos, mas já eram o que eram e também já estavam ou estariam prontos a se ligar de jato no Are You Experienced e Axis: Bold As Love de Jimi Hendrix.

      No plano estritamente musical algo do gênero foi feito na Itália com a junção de um grupo de rock ao melo-romântico Gianni Morandi para a produção de C’Era Un Ragazzo Che Come Me Amava i Beatles e i Rolling Stones, ou a acoplagem de um grupo de ingleses radicados na Bota, Rokes, a Rita Pavone, a endiabrada pimentinha sardenta que foi também ídolo da massa infanto-juvenil no Brasil.

     Para um guri entrando na adolescência nada mais bacana que ver clones subtropicais mandando ver com estilo e garra num terreno amanhado por gringos e a coisa foi ao rubro quando, na sequência, Caetano e Gil incorporaram à sua conspiração intelectual ou pseudo-intelectual ou o que tenha sido a sua paródia da musica de consumo nacional as manhas jovem-guardeiras, impondo-as como coisas nossas. O iê-iê-iê, já revestido de estridências e feedbacks detonados pelos irmãos Baptista, Arnaldo e Sérgio, e pela quase WASP Rita Lee aprofunda o feixe de referências paradoxais da estonteante mensagem dos Tropicálidos, para quem o Brasil precisava antes de tudo era de se enxergar e ver que a bossa nova é o suprassumo mas sua alma é brega mesmo e sua natureza um mata-borrão que deglute e regurgita tudo.

 

      Em De Leve (versão de Get Back, mais gozada mas como mil e uma versões que se faziam à época da JG em meio mundo) Gil e Rita Lee fazem também uma visita a esse passado.

      Na passada Gil envolve-se no projeto Doces Bárbaros, a primeira reunião dos quatro novos baianos Gil, Gal, Cae e Bethânia desde o ponto de partida em Salvador em Nós Por Exemplo, no mesmo Teatro Vila Velha que seria palco do show e disco de despedida de Gil e Caetano antes da partida para o exílio, Barra 69, produzido por Nelson Motta, e onde fizeram com Gal um de seus grandes shows e discos ainda de regresso, Temporada de Verão.

      Na introdução da versão de O Sonho Acabou, do seu show no Temporada de Verão, Gil presta tributo a Donga e João da Bahiana, pais do samba pela mistura das batucadas do Recôncavo Baiano com as jongadas e congadas bantos do Rio e Minas Gerais. Do som do samba ao fim do sonho contracultural. Em Doces Bárbaros o tributo é já a um dos pais do rock, Chuck Berry Fields Forever, em que desenvolve o mesmo raciocínio inter-étnico-racial e de fronteiras espaço-temporais. Dos campos de algodão e da cana-de-açúcar, séculos 19 e 20, aos de Chuck Berry. Aos de morangos ingleses dos Beatles e do seu exílio involuntário em meados do século. E ao futuro, que pela sua visão já estava implantado no início do último quarto do século do jazz, do samba, do cinema e do rock: Rock and roll, capítulo I, versículo 20, siculo 20, século 21. Hoje.

 

+ Caetano Veloso pós-exílio em Londres Back in Bahia

Era um rapaz do Recôncavo

que queria ser cineasta

e virou cantor

 

   Pai médico, mãe professora de cidadezinha do interior baiano, Gil cresceu em Ituaçu ouvindo Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro irradiados pelo serviço público de alto-falantes, por todo o Brasil, de pequenos municípios a favelas como as do Rio de Janeiro, a Rádio Nacional alternativa para os que não tinham para escutar nem o rádio fanhoso do vizinho.

   A irmã mais nova de Caetano Veloso, chamada Maria Bethânia por conta da música de Capiba, já nasceu sob o signo da canção e mais tarde trepava em árvores da casa de Santo Amaro da Purificação para dar seus shows.

Caetano também desde pequeno viveu ligado na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que irradiava a música da época de ouro e da época, talvez só de prata ou de bronze. Santo Amaro não é Rimini mas ainda assim pegou a mania de cinema ainda antes de ir para Salvador. Passou a escrever crítica de cinema. Pelos textos de então vê-se o rapaz também ligado em livros e que já manja muito de linguagem literária e cinematográfica e sabe muito bem o que quer.

Toca violão e começa a cantar. Torna-se cantor meio que por acaso. Queria ser cineasta.

De sintonia em sintonia, em turmas regadas a teoria com Tomzé e Tuzé de Abreu - por aí.

Conhece de cor e salteado todo o repertório da antiga. Pensa em samba e o conhece do berço, no estilo de suas origens baianas, samba marcado pela percussão de prato e faca ou colher e pelas palmas das mãos. O samba de roda rural que, levado pelas tias baianas para o Rio de Janeiro, deu samba. O crítico pretendente a cineasta, profundo conhecedor das manhas da canção popular brasileira, torna-se crítico musical: Tropicália.

Transa, de um ano antes da Phono 73, o disco de despedida da sua produção somente triste de London, London e do carnavalesco regresso ao Brasil e a Salvador, é uma súmula da sua longa visita à melancolia e às raízes do tipo navio negreiro de uma ponta a outra da diáspora

but today, but today

I feel a little more blue

than then

...

hey brother

it’s a long, a long, a long

a long way, it’s a long way

It’s the long and widing road that leads to your door, a long way

os sambas de roda do Recôncavo

os olhos da cobra verde

hoje foi que arreparei

se arreparasse há mais tempo

não amava quem amei

e o reggae enunciado e pronunciado para o Brasil pela primeira vez em Nine Out Of Ten quando Bob Marley e Peter Tosh acabavam de sistematizá-lo na sua feição básica a que depois se chamaria – appunto – roots, raízes.

Livre como um passarinho, após a desconstrução do acervo com Araçá Azul, Caetano remonta o puzzle para a nova etapa, definindo suas prerrogativas estéticas e os dois tipos de sonoridade de base instrumental com que irá nos deslumbrando até a década de 1990 – quase duas décadas.

Jóia e Qualquer Coisa são gêmeos (saíram ao mesmo tempo) mas não univitelinos.

Jóia acústica.

Qualquer Coisa eletroacústica.

As duas faces de Caetano Veloso dos anos 1970 a 1990.

Jóia toda natura. O homem natural. A paisagem natural. A nudez (da pintura da capa censurada, o que fez com que Jóia se tornasse sem querer o álbum branco de Caetano Veloso).

A abrir, em Minha Mulher, com o exímio acompanhamento em dedilhado rendilhado de Gilberto Gil. 

E por acaso – todo o disco tem esse clima de acontecência por acaso, como de resto muitas canções de Gilberto Gil, que acontecem quando e como menos se espera – o lado B de Jóia começa com Pipoca Moderna da Banda de Pífanos de Caruaru, sertão de Pernambuco, da mesma terra de onde vem de consequência Na Asa do Vento, o delicado baião de João do Vale talvez nessa pequena peça no estilo mais por assim dizer bucólico ou por assim dizer silvícola de sua obra. Por uma vez quase sem outro exemplo – não fosse um outro exemplo ser o majestoso Pisa na Fulô.

De banda de pife a João do Vale Caetano vai em estilo leve e solto em seu disco hippie e digamos minimalista, que explana e dispõe as formas para suas futuras canções de voz e violão.

Hippie, pois não. Homens, afazeres triviais de subsistência, sua natureza e a natureza enobrecendo os seres que a contemplam. Hippie ou naturalista. Naturalista ou silvícola. Eu, você e o curumim. E na sequência em Bicho, Um Índio.

hum

tu

tudo

tudo co

tudo comer

tudo comer tu

tudo comer tudo

tudo comer tudo dor

tudo comer tudo dormir

tudo comer tudo dormir tu

tudo comer tudo dormir tudo

tudo comer tudo dormir tudo no

tudo comer tudo dormir tudo no fun

tudo comer tudo dormir tudo no fundo

tudo comer tudo dormir tudo no fundo do

tudo comer tudo dormir tudo no fundo do mar

tudo comer tudo dormir tudo no fundo do

tudo comer tudo dormir tudo no fundo

tudo comer tudo dormir tudo no fun

tudo comer tudo dormir tudo no

tudo comer tudo dormir tudo

tudo comer tudo dormir tu

tudo comer tudo dormir

tudo comer tudo dor

tudo comer tudo

tudo comer tu

tudo comer

tudo co

tudo

 tu


  revoluciomnibus.com

              MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO         


Música  do Brasil de Cabo a Rabo é um livro com a súmula de 40 anos de estudos de James Anhanguera no Brasil e na América do Sul, Europa e África. Mas é também um projeto multimídia baseado na montagem de um banco de dados com links para múltiplos domínios com o melhor conteúdo sobre o tema e bossas mais novas e afins. Aguarde. E de quebra informe-se sobre o conteúdo e leia trechos do livro Música do Brasil de Cabo a Rabo, compilado a partir do banco de dados de James Anhanguera.

MÚSICA DO BRASIL DE CABO A  RABO

Você já deve ter visto, lido ou ouvido falar de muita história da música brasileira da capo  a coda, mas nunca viu, leu ou ouviu falar de uma como esta. Todas as histórias limitam-se à matéria e ao universo musical estrito em que se originam, quando se sabe que música se origina e fala de tudo. Por que não falar de tudo o que a influenciade que ela fala sobretudo quando a música  popular brasileira tem sido quase sempre um dos melhores veículos de informação no  Brasil? Sem se limitar a dicas sobre formas musicais, biografia dos criadores  e títulos de   maior destaque. Revolvendo todo o terreno em que germinou, o seu mundo e o mundo do  seu tempo, a cada tempo, como fenômeno que ultrapassa - e como - o fato musical em si. 

Destacando sua moldura
      
nessa janela sozinho olhar a cidade me acalma

dando-lhe enquadramento
           
estrela vulgar a vagar, rio e também posso chorar

... histórico, social, cultural e pessoal.
  Esta é também a história de um aprendizado e vivência pessoal.

De um trabalho que começou há mais de meio século por mera paixão infanto-juvenil, tornou- se matéria de estudo
e reflexão quando no exterior, qual Gonçalves Dias, o assunto era um meio de estar perto e conhecer melhor a própria
terra distante e por isso até mais
atraente. E que como começou continuou focado em cada detalhe por paixão.
                                                                               
CONTINUA AQUI


CORAÇÕES FUTURISTAS nunc et semper AQUI


MÚSICA DO BRASIL  DE  CABO A RABO
MÚSICA DO BRASIL
 
DE  CABO A RABO

                                                   ÍNDICE DOS CAPÍTULOS 
capítulos, seções de capítulos com trechos acessíveis a partir dos títulos, em azul DeLink


     O LIVRO DA SELVA

    Productos Tropicaes E Abertura em Tom Menor

    1. O BRASIL COLONIZADO
        raízes & influências Colônia e Império
 
  

       1. A  Um Índio   1. B Pai Grande    1.C  Um Fado 

       2. TUPY NOT TUPY formação de ritmos e estilos urbanos suburbanos e rurais
                                                Rio sec. 19-sec. 20 - Das senzalas às escolas de samba

    Os Cantores Do Rádio   ESTreLa SoBE 

  CARMEN MIRANDA DE CABO A RABO

  fenômeno da cultura de massa do século XX                  

  4. BOSSA NOVA do Brasil ao mundo

    Antonio-Carlos-Jobim-Tom-Jobim .html 

5. BOSSA MAIS NOVA o Brasil no mundo  

6. TROPICALIA TRIPS CÁLIDOS    e a manhã tropical se inicia


Detalhe de cenário de Rubens Gershman para montagem de Roda Viva, Teatro Oficina, 1967

 O LIVRO DE PEDRA

  PARA LENNON & McCARTNEY 
  VIDA DE ARTISTA crise e preconceito = inguinorãça

  CAETANO VELOSO

  CENSURA: não tem discussão. Não            
 
POE SIA E MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
 
Milton Nascimento
 
O SOM É MINAS: OS MIL TONS DO PLANETA    
  MARIA TRÊS FILHOS

  (SEMPRE) NOVOS BAIANOS        
  NORDESTONTEM NORDESTHOJE

 
RIO &TAMBÉM POSSO CHORAR  
      Gal Costa Jards Macalé Waly Sailormoon Torquato Neto  Lanny Maria Bethânia
  FILHOS DE HEITOR VILLA-LOBOS
 
INSTRUMENTISTAS & INSTRUMENTAL Sax Terror     
  SAMBA(S)
BLEQUE RIO UM OUTRO SAMBA DE BREQUE        
  FEMININA

  MULHERES & HOMENS NO EXÍLIO o bêbado exilado & a liberdade equilibrista

  ANGOLA          
  ROCK MADE IN BRAZIL ou
 Quando a rapeize solta a franga

  LIRA PAULISTANA            
  CULTURA DA BROA DE MILHO

  LAMBADA  BREGANEJO AXÉ E SAMBAGODE
 
RIO FUNK HIP SAMPA HOP E DÁ-LE MANGUE BITE RAPEMBOLADA
  DRUM’N’BOWSSA            
  CHORO SEMPRE CHORO     
  INSTRUMENTISTAS
 & INSTRUMENTAL II   SAX TERROR  NA NOVA ERA
  ECOS E REVERBERAÇÕES DO SÉCULO DAS CANÇÕES
  
  DE PELO TELEFONE A PELA INTERNET

   MÚSICA DO BRASIL em  A triste e bela saga dos brasilianos
  
MÚSICA DO BRASIL  em ERA UMA VEZ A REVOLUÇÃO      



 


Elifas Andreato: capa do LP Confusão Urbana Suburbana e Rural de Paulo Moura

   MAPA DO SITE   MAPA DA MINA         revoluciomnibus.com

meio século
de psicodelia
e bossa nona
bossa nova
The Beat
Goes ON
a fome
no mundo e
os canibais

as ditas
moles e as
ditaduras

Brasil de
Caminha a
Lula da
Silva
Brasil
a bossa e a
boçalidade
Miconésia
no Pindaibal
Brasil e
Amer ica
Latina
  contracultura









história
do uso das
drogas
aldous
huxley
henry david
thoreau
ERA UMA VEZ
A
REVOLUÇÃO

poP!

Notícias
do
Tiroteio

Lusáfrica
brasileira
parangopipas
Maio de 68
 50 do 25 Rumo à
Estação Oriente
A triste
e bela saga
dos brasilianos
La triste
e bella saga
dei brasiliani

Deus e o
Diabo na Terra
da Seca
Música do
Brasil de Cabo
a Rabo
Maionese
a consciência
cósmica

revoluciomnibus.com eBookstore

 

acesse a íntegra ou trechos de livros de james anhanguera online a partir DAQUI

revoluciomnibus.com - ciberzine & narrativas ©james anhanguera 2008-2024 créditos autorais: Era Uma Vez a Revolução, fotos de James Anhanguera; bairro La Victoria, Santiago do Chile, 1993 ... A triste e bela saga dos brasilianos, Falcão/Barilla: FotoReporters 81(Guerin Sportivo, Bolonha, 1982); Zico: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e seleção brasileira de 1982: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Edinho: Briguglio, Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Antognoni: FotoReporters 81, Guerin Sportivo, Bolonha, 1981


. E-mAIL


educação diversão desenvolvimento humano

facebook.com/ james anhanguera twitter.com/revoluciomnibus instagram.com/revoluciomnibus - youtube.com/revoluciomnibus 3128 

TM

.........................

Carolina Pires da Silva e James Anhanguera

TM