MÚSICA DO BRASIL

 em                                  

              

A triste

e bela

saga dos

brasilianos  

do desastre de Sarriá às arenas italianas

   

                                                                                                

                   Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dorival e Nana Caymmi e João Gilberto 

                                            Roma, 1983-84 

 

  ciberzine   & narrativas de james anhanguera

     MÚSICA DO BRASIL

    em                                

A triste e bela saga dos brasilianos

                                              do desastre de Sarriá às arenas italianas

 

Por nove dias, na estate de 1983, o barroco, o moderno e o muderno da Bahia encontram-se com a imponência clássica e barroca de Roma. É um regalo para os sentidos ver manifestar-se a alegria transbordante e a placidez intimista baiana na Roma mística e pagã de alto verão. A Roma das antigas saturnais e batalhas de carros navais, de outros, longínquos carnavais. A mítica Bahia das 365 igrejas encontra talvez a sua mais completa tradução na imagem sintética de Roberto Rossellini, que a chamou de Roma negra, segundo Glauber, seu sinônimo em arte e homenageado na noite de abertura de Bahia de Todos os Sambas. O evento traz a Roma uma das mais ricas e representativas embaixadas musicais já organizadas, que se exibirá no Circo Massimo, tendo ao fundo as ruínas do Palatino iluminadas. Algumas noites acabam sob toró, há sempre umidade além da conta, milhares de romanos noite após noite tomando pela primeira vez contato com os mais diversos estilos de música baiana. E não só. Uma obra-prima de Glauber e Rossellini rodada por Leon Hirszman - recém-laureado com o Leão de Ouro do Festival de Veneza por Eles não usam black tie - e Paulo César Saraceni. Roma de todos os sambas.

          O pessoal técnico enrolou-se todo, e o que era para ser um show cinemusical, com trechos de filmes de Glauber “ilustrados” por Naná Vasconcelos, Gal Costa, Gilberto Gil e o grupo etnomusical Vivá Bahia acabou por ser, como a definiu Caetano Veloso, uma homenagem “confusa e emocionada como o homenageado, um cineasta confuso e emocionado”, cujas imagens foram projetadas em total assincronia com o que rolava no palco, ainda que Gil se tenha dado ao rigor de ensaiar o repertório das trilhas de alguns dos filmes. Naná, que é de casa e conhece a freguesia, entrou no palco carregando, um de cada vez, berimbau, tablas e processador eletrônico de sons, sentou-se no chão e mandou ver seu show mágico. A galera, que a princípio ficara atônita, em dez minutos já vaiava e o mandava via!... via!... dali, mas transcorridos 50 minutos de performance não queria deixá-lo sair do palco nem que chovessem dardos.

          João Gilberto desfiou Desafinado, Chega de saudade e Samba de uma nota só, além da sua versão de Estate, de Bruno Martino, com o acompanhamento das cordas da Orquestra Sinfônica local, prejudicado por um som lastimável. Comentou depois que só aguentou porque desejava muito cantar em Roma, onde não atuava desde 1964. Nunca se viu ninguém suportar tamanha tortura - ver um acontecimento raríssimo quase ir pelos ares - porque João Gilberto nunca se submeteu a tamanho flagelo acústico.

   Teve mais Gil e Gal e Djalma Corrêa, os ex-Novos Baianos Morais (com o filho Davi) Moreira e Paulinho Boca de Cantor, Caetano Veloso, Batatinha, Dorival e Nana Caymmi e... trio elétrico de Dodô, Osmar e Armandinho,na noite de encerramento, a maior enchente da Piazza Navona de que se tem memória. Um gigantesco “baile”, e nada mais que isso, ao som de sucessos dos Beatles e afins. Pop no carnaval baiano?! Quem haveria de dizer! - admiram-se os romanos espantados, e mais espantados ainda olham para um caminhão com uma carroceria de dez metros de altura construída às pressas alegadamente a partir dos modelos de fotografias de Salvador, sem a supervisão de Osmar Macedo e Armandinho que, ao vê-la já pronta, monstruosa, nada puderam fazer. Sorte que, num ato de sanidade, a prefeitura proibiu o caminhão de circular. Uma pena, porque os romanos não puderam ver o trio elétrico - mesmo que muito mal decorado e iluminado - circular, mas a medida poderá ter evitado uma tragédia. A prefeitura temia que uma eventual queda do caixotão arruinasse as insubstituíveis relíquias da praça. E, de fato, ao invés de parecer temer que a igreja do seu rival Borromini lhe caia em cima, a estátua do barbudo sobre a Fonte dos Quatro Rios de Bernini parece estender a mão e arregalar os olhos aterrorizada com a idéia de que aquela “coisa” lhe desabe em cima! Mas valeu, quanto mais não seja porque deu para ver o alto grau de aceitação dos romanos das coisas do Brasil no encerramento de um dos verões mais festivos que a cidade conheceu. Graças a Falcão, a onda brasileira é avassaladora.

  

...

 

          O Brasil é aqui, anuiu Tom Jobim do alto do seu quarto de hotel, olhando o casario dourado de sol do centro histórico de Roma sobre a escadaria de Trinità dei Monti e a Piazza di Spagna.

          As embaixadas artísticas e culturais formam um capítulo à parte na gloriosa saga dos brasilianos - especialmente em Roma. Ou não: são parte integrante da história. Roma entrou no roteiro de todo artista de férias. Muitos nem fazem questão de ir a outros pontos da Europa ou da própria Itália. Ficam por aqui mesmo. No meio disso algumas incursões d’obbligo, como a de Tom.

          Sua vinda a Roma deve-se a um convite para tocar com a orquestra da Rádio e Televisão austríaca na Grossenkonzerthaus de Viena. Jobim deu a seus dois shows no Teatro Olímpico, em frente ao templo de culto à arte de Cerezo e Falcão, um clima de apresentações informais, com o acompanhamento do grupo de base que levou para o concerto vienense, em que foram executados arranjos do norueguês Claus Oggerman para as suas composições. Um excelente grupo de base muito familiar: Tom, a mulher, Ana, os filhos Elizabeth e Paulo, o casal Danilo e Simone Caymmi, o baixista Sebastião Neto - famoso pelo seu trabalho no Sergio Mendes & Brazil ‘66 - e o baterista Paulinho Braga.

          Ao menos por alguns dias falando-se do Brasil na Itália não se fala só de bola e dos milionários jogadores importados pelos italianos. Ainda assim, escalando Milão vindo de Viena o grupo familiar liderado por Tom encontrou no aeroporto de Linate o trânsfuga Zico, contundido e mais folgado que o costume nessa altura do campeonato.

          - A saída de todos esses craques reflete a situação do Brasil. A crise não deixa outra opção a não ser a de sair do país - comenta Danilo.

          Tom fala da sua primeira apresentação na Europa desde 1978, quando deu um showzaço no Olympia de Paris com Vinícius de Moraes, Miúcha, Toquinho e... Baden Powell, com entusiasmo de principiante:

          - Foi lindo. Apesar de exteriormente parecerem muito frios os austríacos também têm coração, e em alguns momentos até choraram. Imagine. Na entrada, música de Johann Strauss. Depois, composições de Antônio Carlos Jobim. Durante um mês o grupo de base ensaiou no Rio. O Oggerman mandou os arranjos dos Estados Unidos para Viena e, lá, fizemos cinco ensaios com a orquestra para apenas um concerto. Os austríacos não brincam em serviço... 

          - E qual foi a reação?

          - A reação foi tipo terremoto, porque o público lá bate os pés no chão. Voltamos cinco vezes ao palco! - responde Danilo Caymmi.

          Esqueçam a bossa nova - ordenou Tom em entrevista ao órgão oficial do PCI, l’Unità, em que falou de um Brasil esquecido do Brasil, que não quer saber do Brasil, das suas mil querelas e aquarelas violentadas, do sol mediterrâneo e de pássaros, um dos seus temas preferidos.

          Falando com Tom na Itália surge inevitável Vinícius como tema de conversa. Mas a Gianni Minnà, que se referia na televisão a esta sua vinda a Roma, o poeta recém-falecido, como uma visita nostálgica, respondeu cortando qualquer hipótese de se fazer da memória do parceiro um motivo de tristeza.

          - Mas o que é isso de até em relação à morte se dar exclusividade a Vinícius?! Eu também vou morrer um dia!

          - Há muito tempo que eu disse sim ao eterno - diz, quando se insiste para que fale da bossa nova.

          - Bossa nova não é modismo. Escrevi para o futuro. A verdadeira elegância despreza a moda... ou será que exagero? João Gilberto diz que a bossa nova foi um balão que inventaram para atirarem nele e o derrubarem. Ainda hoje não sei o que quer dizer o nome bossa nova. A propósito, será que nesse hotel não tem um piano para a gente se divertir um pouco em vez de ficar aqui só conversando?

          - Vou providenciar - corta Nelson Motta, levantando-se no ato para falar com o gerente. Volta convidando a descer ao lounge e contando que antes de providenciar a chave do piano de cauda do esplêndido Hotel Trinità del Monte o gerente inquiriu, preocupado:

          - Ma lui suona veramente?

          E que arregalou os olhos ao saber que se tratava do autor de Ragazza di Ipanema.

          Ao piano - um charuto no cinzeiro e um copo de conhaque ao lado - passeia pelo seu repertório bem pra lá de bossa nova, perguntando entre uma e outra peça com sorrisos irônicos:

          - Qual é a melhor?

 

          O Brasil está cada vez mais na moda na Itália num momento em que não está na moda no próprio Brasil, como diz Nelson Motta. Muitos italianos torceram como cachorros loucos pelo futebol brasileiro até a surpreendente vitória da squadra azzurra sobre o escrete solar em Sarriá. Sagrados tricampeões mundiais, vestiram camisas e empunharam bandeiras verde-amarelas gritando, estampando em jornais e escrevendo nos muros que o Brasil é aqui.

          A ex-Alegria do Povo flamenguista está na Itália e até prova em contrário é a alegria do povo de Udine, uma cidade de província perdida no nordeste da península. Falcão, Zico e mais uma dezena de brasileiros do calcio transferiram para os estádios de norte a sul da Itália a festa que se vivia no Maracanã e no Morumbi, hoje sob a ameaça de ruir de solidão.

          O Brasil está representado em toda a riqueza cromática do seu povo, o neretto Juary, o biondo Falcão, os mulatos Cerezo e Júnior, o moreno Dirceu, o luso-carioca Zico, agora Sócrates cara-de-índio.

          O Brasil está na moda na Itália e não tem por que não estar, enquanto a Itália, terra de exílio de algumas das suas maiores riquezas de expressão popular, estará cada vez mais na moda no Brasil. Revela-se nessa onda o quanto os dois países têm em comum pela transfusão de sangue, usos e costumes operada por mais de um milhão de emigrantes há um século atrás. Existem pontos de contato em expressões enraizadas no cotidiano do chamado vulgo: cafona (cafone ou caffone) ou grana (grana) viajaram na boca da mesma gente que levou para o Brasil o know-how da pizza, das massas, da muzzarella e dos gnocchi.

          A trilha dos antecedentes é curta e muito clara. Começa na herança deixada pelo poeta Murilo Mendes, cuja residência no centro histórico da cidade eterna era uma casa do Brasil, como testemunha a professora Luciana Stegagno Picchio, responsável pela primeira edição mundial do romance Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, com a chancela da Feltrinelli, de Milão. Veio depois o poeta, diplomata e capitão do mato Vinícius de Moraes que, com Chico Buarque e Toquinho plus Josephine Baker, 15 anos atrás, mostrou as belezas e tristezas de nossa música popular. Roberto Carlos fez história no festival de San Remo de 1969 cantando música de Endrigo e Bardotti, Canzone per te, talvez o maior sucesso brasiliano de sempre na Itália. O doce balanço da técnica futebolística levou à curiosidade pelo resto: cinema udigrudi dos anos 60-70, candomblé, MPB, pop e funk Brasil estão em teatros, salas de conferências, rádios e TVs.

          Michele Ascolese toca violão com sotaque brasileiro e fala brasileiro com sotaque napulitáno. Como aprendeu a tocar assim? Ouvindo discos. Me amarro em Hélio Delmiro. E como é que fala desse jeito? Bastaram dois meses em digressão pela Itália com um show de mulatas tipo oba-oba.

          Duas redes de TV mostram quatro novelas brasileiras, a maior parte da Globo, que depois do inesperado sucesso de A Escrava Isaura (24 milhões de espectadores no horário do almoço) abriu escritório em Roma e comprou a Telemontecarlo. A escrava apaixonou a opinião pública italiana, que exigiu sua libertação onde sempre reclamou de tiranias e injustiças, nos pasquins ou pixações murais:

                 ISAURA   LIBERA!

          As novelas dubladas parecem made in Italy e a dublagem apagou a sensualidade de tigresa da voz de Sônia Braga. Enredo após enredo os italianos ficam com uma vaga idéia de como se vive com o desvalorizado cruzeiro - algo indublável - mas adoram o gênero pelo que é, drama e comédia da vida, uma lágrima aqui uma graça ali e uma ou outra bossa nova. O trabalho de dublagem dura o dobro do tempo de gravação. Os brasileiros são napolitanos alemães, espanta-se um produtor de TV referindo-se à férrea organização em que se baseia a fábrica de enlatados da Globo. Com Dancin’ Days a rede de novelacômanos aumenta a olhos vistos, trazendo à Itália um fenômeno inesperado e com características inéditas: jovens e velhos, donas de casa e comerciantes, estudantes e empregados prontos a abandonar qualquer ocupação às 14 horas, ao soar o tema cantado pelas Frenéticas.

           - O personagem de Carlos (o Cacá), que professa uma ilimitada paixão pelo cinema novo de Glauber Rocha e o ardente desejo de o imitar, é escrito e interpretado com a intenção de tornar popular um tipo de artista atraído pelos mass media, sobretudo pelo gosto de se exprimir. Um modelo que ao menos para nós é considerado o oposto do fabricante de emoções um tanto ao metro como se julga devam ser os artistas de séries televisivas - destrincha Tulio Kesich no tijolo de rendição intelectual ao gênero Siamo in tanti, siamo belli i tifosi di ‘Dancin Days’, publicado no diário la Repubblica.

          A América está na moda na Itália desde que Colombo a descobriu. O humorista Beppe Grillo apresentou há dois anos uma série de seis programas na RAI 2 ironizando um dos maiores mitos da Itália contemporânea: Te le do io, l’America. Atento à novidade emergente o mesmo Grillo lançou em março Te le do io, il Brasile, com seis programas sobre o Brasil, recorde de audiência no canal e no horário (10 milhões de espectadores) para as cores e os sons mais díspares da nossa realidade, do roque de Rita Lee ao musak de Jair Rodrigues e o carnaval de João de Barro, a beleza do toque de bola de Zico, a riqueza da natura, o extermínio do índio e a fome nos sertões e nas grandes selvas de concreto. Gianni Minnà, o animador do mais interessante programa de TV no momento, dedicou ao Brasil uma emissão inteira de Blitz, no mesmo canal da RAI: cinco horas com escolas de samba do Rio, Jorge Ben, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Clementina de Jesus e Hermeto Pascoal - os italianos estupefatos com os sons disparados pelo bruxo de cabeleira solar.

          A TeleMontecarlo exibe semanalmente teipes de partidas antigas e recentes com os craques que a Itália ainda não importou, e os italianos sempre se perguntam come mai naquela tórrida tarde de julho de 1982 a squadra azzurra conseguiu vencer aqueles maestros. E come mai?

          O Brasil é uma das principais metas dos italianos em excursões a terras distantes e exóticas e a Itália torna-se o objetivo de gente famosa no Brasil e que aqui circula anônima. Noite sim noite sim encontra-se Milton Nascimento num show dos amigos Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams no Teatro Olímpico, Daniel Filho e Paulo César Pereio tomando fresco na Piazza Navona, Naná Vasconcelos saindo da enoteca Da Hans, na via del Governo Vecchio, depois de gravar Acchiappa achiappa com Pino Daniele, em Nápoles, e entre dois shows com o pistonista Enrico Rava, Nelsinho iluminado pela graça de Marisa de montão...

          Naná é de casa, conhece Roma há uma década, quando tocava com o saxofonista Sorrizo e o pianista Dusty no início do seu longo exílio, entre exilados e italianos apaixonados pelo cinema nuovo. Glauber Rocha deixou marcas profundas aqui. Mas a onda Brasil em curso deve-se a um maestro nos campos e na vida que os romanos preferem chamar por todos os nomes: Paolo Rroberto Farcao. Que dá uma imagem de seriedade e competência que é a chave com que o Brasil tem aberto muitas portas na Itália.

 

...

 

             Batucada mesmo - e da melhor - teve na capital em Rio de todos os carnavais, o grande evento da estate romana e afinal de encerramento de um final de temporada extrabilhante, a par com uma montagem da Tosca de Puccini nas ruínas das Termas de Caracalla. Este ano, alegadamente para dar também aos habitantes de outras zonas da cidade a possibilidade de viver em festa o mormaço do verão mas sem dúvida vencido pelas críticas à realização de eventos em pleno centro histórico, o mestre de cerimônias da estação, Renato Nicolini, decidiu descentralizar. E descentralizou tanto que algumas atrações foram parar em Ostia, a 50 km da capital.

          Para Roma de todos os sambas, como poderia ser chamado o evento brasiliano deste ano, tudo bem. Não poderia haver cenário mais apropriado que o Foro Itálico, melhor ainda a cabeceira da Curva Sud do Estádio Olímpico, para tornar mais vibrante o abraço entre as duas capitais do futebol... e do samba. Dá para imaginar que a festa teria sido muito maior se a Roma tivesse conquistado a Copa dos Campeões mas ainda assim foi bárbaro ver o vasto recinto cheio ao longo de uma semana numa série de shows explosivos.

          Explosivos até demais. A maior parte do público desconhecia por completo os músicos e cantores escalados e esperava mesmo era por shows de música primitiva e exótica dos trópicos. Muita gente que pagou para ver Hermeto Pascoal fugiu quando viu o bruxo albino explorando sem medo toda a gramática de sons. Entre os que resistiram houve quem no final ainda pedisse samba... Mestre Hermeto apresentou todos os músicos, menos ele. Eles estão dizendo que está  faltando eu, mas não está faltando eu não; está faltando nós! Está faltando nós! - conclamou o público ignaro do idioma e, por tabela, embasbacado. Vocês querem samba? Então a gente vai tocar samba. Mas samba moderno! E com Itiberê na tuba e o resto do pessoal na percussão foi de samba do tempo de Donga descendo o palco e chamando o público para pular atrás da bandinha, fazendo da festa uma noite de São Hermeto.

          O show de abertura esteve a cargo de Djavan e sua banda Sururu de Capote. No início foi meio estranho, eles tentando me reconhecer e eu tentando reconhecê-los, narrou o cantautor. Mas quando a banda atacou os primeiros acordes de Sina fez a galera se levantar para não se sentar mais. O samba-funk é famoso numa versão italiana intitulada Jazz, que deu título ao último LP da rocker transalpina Loredana Bertè. A partir daí o reconhecimento foi tal que finda a digressão européia o tecladista Rique Pantoja abandonou o Sururu e veio morar em Roma, onde toca há meses no Mannuia, o point ítalo-brasiliano de Trastevere.

          Precavido, Milton Nascimento fez intensa campanha de divulgação antes de subir ao palco sobranceiro à Curva Sul do Olímpico com a banda composta por Wagner Tiso (teclados), Ricardo Silveira (guitarra), Nico Assunção (baixo) e Robertinho Silva (bateria) e revelou-se aos romanos viajando à vontade entre a voz natural e falsetes de arrepiar.

          Só teve batucada como o público esperava com a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, no final de uma noite de gala com os sambas da solidão e dos sinais fechados de Paulinho da Viola, de Dona Ivone Lara e da Velha Guarda da Portela, que deixaram muitos romanos de boca aberta, apesar de não entenderem todo o seu lirismo.

          Mas pra valer mesmo, em termos de empatia, foi a noite de Martinho da Vila com os convidados especiais Oswaldinho do Acordeon e Noca da Portela, mais a maestrina Rosinha de Valença, no centro da cena, magnânime, sorridente e prazenteira. Um timaço a que se associou de improviso João Nogueira, que fez da noite uma serata exaltante, mesmo para a extragrande maioria que não entende bulhufas de português, quando apresentou sua adaptação do samba de Assis Valente, readaptada para a ocasião, braços erguidos na direção da Curva Sud:                    

                                         O mais querido

                                          Tinha Zico, Adílio e Adão

                                          E eu vou rezar a San Giorgio

                                          Per la Roma de Falcón

...

 

Júnior adia a folia para outros carnavais

 

            Este vai ser o primeiro ano em que o carioca de pleno direito Júnior, carnavalesco nato, não vai cair na folia. Não joga em Turim contra a Udinese de Zico e Edinho porque está com uma fissura na costela mas seu domingo gordo será bem diferente dos outros:

          - Vou ao estádio ver o jogo e depois venho para casa, onde estarão minha mãe e meu padrinho, e nem quero pensar em carnaval. Claro que não fico satisfeito por não estar lá perto daquela bagunça, do delírio, daquilo que a gente gosta. Mas o que é que eu posso fazer? Apesar de folião também sempre fui cumpridor das minhas obrigações e o dever está acima de tudo!

          Júnior nem lembra quando caiu na farra pela primeira vez.

          - Eu cheguei ao Rio com cinco anos e fui logo tomado de enorme entusiasmo, mais por causa da música do que pela folia carnavalesca propriamente dita. Foi a música que me fez curtir mais o carnaval.

          Quando criança Júnior torcia pelo Fluminense mas depois de dez anos no Flamengo meu coração é rubro-negro, garante. Seu amor de carnavalesco é que foi sempre um só: a Mangueira, campeã do desfile do Rio no ano passado.

          - Comecei indo aos ensaios, pouco a pouco fui conhecendo o pessoal e ficando cada vez mais ligado à vida da Mangueira. Sair na escola para mim é uma coisa natural porque onde eu morava, Copacabana, apesar de o carnaval de rua no Rio de Janeiro ter vindo pouco a pouco a desaparecer, a gente sempre organizava uma festinha, mais por força de vontade porque com tanto carro fica até difícil a gente se divertir na rua hoje em dia.

          Mesmo longe Júnior não deixou de cultivar a paixão pelo samba, que consumou quando antes da Copa da Espanha gravou um compacto com Voa, canarinho, voa.

          - Se você vem me falar de música vamos ficar aqui duas horas - ameaça, antes de dizer ser esse o seu tema de conversa predileto. - Quando estive no Brasil no Natal comprei o disco com os sambas-enredo deste ano, que acho os melhores dos últimos anos. De tanto ouvir fico o tempo todo cantando os da Mangueira, Portela, Beija-Flor, Caprichosos e Estácio de Sá, que são os meus preferidos.

          Por uma vez Júnior passará um carnaval diferente dos outros, preocupado com a contusão que o manterá afastado do Torino por mais duas semanas e, embora menos, com as últimas exibições do time, que depois de uma excelente fase inicial ultimamente não consegue vencer um jogo.

          - O Torino ainda vai dar muito trabalho aos outros grandes - diz confiante.

          Sem tristeza por não participar na folia deste ano.

          - Pode deixar que a gente ainda vai ter tempo de curtir muitos carnavais.

 

Carnaval socrático

 

            À hora do fechamento desta edição a festa está correndo solta em casa de Sócrates em Grassina, nos arredores de Florença. Alguns convidados dançam ao som do Frevo dos Vassourinhas e outros comem e bebem. Magrão e seus convidados mais ilustres (os jogadores Zico, Júnior, Cerezo Edinho e Pedrinho), embora já pra lá de Bagdá, “segundo indiscrições”, permanecem juntos, quase à parte, conversando.

          Este ano o carnaval coincidiu com o aniversário do Doutor, que está completando 31 anos. Hoje à noite Sócrates estará recebendo amigos de Florença para comemorar o evento com bolo e velinha.

          Todos para casa de Sócrates, nosso Doutor e capitão. Vamos festejar o seu gol e o seu aniversário. Era com essa disposição que Júnior se preparava para com a mulher Heloísa corresponder ao chamado do jogador. Afinal, a reunião de hoje é uma rara oportunidade dos jogadores brasileiros que estão na Itália se encontrarem fora dos compromissos profissionais e a primeira desde o encontro formal com o presidente eleito Tancredo Neves em Roma.

          Com muita música de carnaval e não apenas chope mas tudo o que é bom para fazer face ao rigoroso inverno europeu (em Florença os termômetros desceram abaixo de zero e ameaça nevar) a festa estava animada e prometia durar até tarde. Uma festinha entre amigos, os jogadores e suas famílias e outras famílias brasileiras que estão na Itália, dissera o Doutor em seu convite para o pagode. Zico e Cerezo chegaram sozinhos porque suas famílias estão no Brasil.

          Sócrates tem mais um motivo para festejar. Após dois meses de crise a Fiorentina melhorou bastante e o Doutor, que no domingo marcou o seu quinto gol no campeonato e o nono em partidas oficiais, parece mais entrosado em seu time, onde já conquistou o merecido respeito.

 

              Música do Brasil de Cabo a Rabo

         veja e leia também em revoluciomnibus.com

     MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO

 Música  do Brasil de Cabo a Rabo é um livro com a súmula de 40 anos de estudos de James Anhanguera no Brasil e na América do Sul, Europa e África. Mas é também um projeto multimídia baseado na montagem de um banco de dados com links para múltiplos domínios com o melhor conteúdo sobre o tema e bossas mais novas e afins. Aguarde. E de quebra informe-se sobre o conteúdo e leia trechos do livro Música do Brasil de Cabo a Rabo, compilado a partir do banco de dados de James Anhanguera.

         

          CORAÇÕES FUTURISTAS nunc et semper  AQUI   

 

   Você já deve ter visto, lido ou ouvido falar de muita história da música brasileira da capo  a coda, mas nunca viu, leu ou ouviu falar de

uma como esta

  Música  do Brasil de Cabo a Rabo

   Todas as histórias limitam-se à matéria e ao universo musical estrito em que se originam, quando se sabe que música se origina e fala

de tudo.

   Por que não falar de tudo o que a influencia e de que ela fala sobretudo quando a música popular brasileira tem sido quase sempre um dos melhores veículos de informação no Brasil? Sem se limitar a dicas sobre formas musicais, biografia dos criadores  e títulos de maior destaque. Revolvendo todo o terreno em que germinou, o seu mundo e o mundo do seu tempo, a cada tempo, como fenômeno que ultrapassa - e como - o fato musical em si. 

Destacando sua moldura

   dessa janela sozinho olhar a cidade me acalma

  dando-lhe enquadramento

    estrela vulgar a vagar, rio e também posso chorar...

histórico, social, cultural e pessoal. 

     Esta é também a história de um aprendizado e vivência pessoal.

De um trabalho que começou há quatro décadas por mera  paixão infanto-juvenil, tornou-se matéria de estudo e reflexão quando no exterior, qual Gonçalves Dias, o assunto era um meio de estar perto e conhecer melhor a própria terra distante e por isso até mais atraente. E que como começou continuou focado em cada detalhe por paixão.                    

Música  do Brasil de Cabo a Rabo

NARRATIVA DE APRESENTAÇÃO CO N TINUA  AQUI

AQUI CONTINUA APRESENTAÇÃO DE ÍNDICES E LINKS PARA TRECHOS DE CONTEÚDO ACESSÍVEIS NESTE revoluciomnibus.com

                                                                                                                                                               

MÚSICA DO BRASIL  DE CABO A RABO       

ÍNDICES

Indice onomástico mais de 3000 referências

artistas personagens e personalidades citados e com obras citadas e comentadas standards internacionais associados

ENTRADA PARA ARTISTAS E REPERTÓRIO CITADOS E TRECHOS ACESSÍVEIS 

     PORTAL DE TODAS AS ENTRADAS PARA

   MÚSICA DO BRASIL  DE  CABO A RABO

INDICE TEMÁTICO

repertório             mais de 4000 entradas

clássicos coletâneas STANDARDS

RITMOS ESTILOS FOLGUEDOS E INSTRUMENTOS

fontes bibliográficas 

FILMES VÍDEOS PROGRAMAS DE RÁDIO E TV PEÇAS TEATRAIS 

                                         

     ÍNDICE DOS CAPÍTULOS

          em negrito capítulos ou seções de capítulos com trechos acessíveis a partir de seus títulos

                        

O LIVRO DA SELVA 

      Productos Tropicaes   e   Abertura em Tom Menor

        1.    O BRASIL COLONIZADO

                raízes & influências Colônia e Império   

         1. A  Um Índio     1. B  Pai Grande         1. C   Um Fado  

        2.     TUPY E NOT TUPY 

formação de ritmos e estilos urbanos suburbanos e rurais    

    Rio sec. 19-sec. 20 - Das senzalas às escolas de samba

        3.     Os Cantores Do Rádio    

                      a  ESTreLa SoBE

              CARMEN MIRANDA DE CABO A RABO

                                                   fenômeno da cultura de massa do século XX

                        

        4.     BOSSA NOVA do Brasil ao mundo      

                Tom Jobim   INÚTIL PAISAGEM  

                    de Rumo à Estação Oriente 

      5.  BOSSA MAIS NOVA o Brasil no mundo

 

  O LIVRO DE PEDRA

        PARA LENNON & McCARTNEY           

        VIDA DE ARTISTA crise e preconceito = inguinorãça

        CENSURA: não tem discussão. Não            

        POE SIA E MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

        O SOM É MINAS: OS MIL TONS DO PLANETA        

        MARIA TRÊS FILHOS

        (SEMPRE) NOVOS BAIANOS         

        NORDESTONTEM NORDESTHOJE

       RIO &TAMBÉM POSSO CHORAR       

       FILHOS DE HEITOR VILLA-LOBOS

INSTRUMENTISTAS & INSTRUMENTAL

              Sax Terror      

       SAMBA(S)

       BLEQUE RIO UM OUTRO SAMBA DE BREQUE        

       FEMININA

       MULHERES & HOMENS NO EXÍLIO

             o bêbado exilado & a liberdade equilibrista

       ANGOLA          

       ROCK MADE IN BRAZIL

             ou Quando a rapeize solta a franga

       LIRA PAULISTANA            

       CULTURA DA BROA DE MILHO

       LAMBADA  BREGANEJO AXÉ  E  SAMBAGODE

       RIO FUNK HIP SAMPA HOP

             E DÁ-LE MANGUE BITE RAPEMBOLADA

       DRUM’N’BOWSSA            

       CHORO SEMPRE CHORO     

       INSTRUMENTISTAS & INSTRUMENTAL II  

              SAX TERROR NA NOVA ERA

ECOS E REVERBERAÇÕES DO SÉCULO DAS CANÇÕES  

             De Pelo Telefone a Pela Internet

 

    MÚSICA DO BRASIL  em   A triste e bela saga dos brasilianos    

    MÚSICA DO BRASIL em ERA UMA VEZ A REVOLUÇÃO          

 

r MAPA DO SITE MAPA DA MINA         revoluciomnibus.com        

  ciberzine & narrativas de james anhanguera              QUEM SOMOS            e-mail

 a triste e bela saga dos brasilianos do desastre de Sarriá às arenas italianas

 la triste e bella saga dei brasiliani dalla strage di Sarrià alle arene italiane

so listen to the rhythm of the gentle bossa nova  

  narrativas  de  rock  estrada  e  assuntos  ligados  

Notícias

             do          

   Tiroteio

A Fome no Mundo e os Canibais 

meio século de psicodelia e bossa nova

 

MÚSICA DO BRASIL

DE  CABO A RABO

 

  Eternit    alvenaria    móveis das casas bahia sambagode   breganejo   rap funk & derby azul  no  sacolão  do  faustão

Novelas & Trivelas  

Boleros & Baladas

 

  LusÁfricabrasileira

   lusáfricabraseira

           você está aqui    

 

revoluciomnibus.com eBookstore

 

acesse a íntegra ou trechos de livros de james anhanguera online a partir DAQUI

 

revoluciomnibus.com - ciberzine & narrativas ©james anhanguera 2008-2017 créditos autorais: Era Uma Vez a Revolução, fotos de James Anhanguera; bairro La Victoria, Santiago do Chile, 1993 ... A triste e bela saga dos brasilianos, Falcão/Barilla: FotoReporters 81(Guerin Sportivo, Bolonha, 1982); Zico: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e seleção brasileira de 1982: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Edinho: Briguglio, Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Antognoni: FotoReporters 81, Guerin Sportivo, Bolonha, 1981. E-mAIL

educação diversão desenvolvimento humano

facebook.com/ james anhanguera twitter.com/revoluciomnibus instagram.com/revoluciomnibus - youtube.com/revoluciomnibus dothewho

TM .........................

Carolina Pires da Silva e James Anhanguera

TM