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CARNAVAIS QUE NÃO VOLTAM MAIS  

                MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO  

   O LIVRO DA SELVA

   

 2.  TUPY E NOT TUPY   

formação de ritmos e estilos urbanos, suburbanos e rurais

Rio, séculos 19-20 -   Das senzalas às escolas de samba

       Trechos  

       ciberzine   & narrativas de james anhanguera

                                                                    

           CARNAVAIS QUE NÃO VOLTAM MAIS  

     O carnaval é a invenção do diabo que deus abençoou, canta Caetano Veloso. Deus e o Diabo é uma das músicas que ele e o ex-Novos Baianos Moraes Moreira foram compondo ao longo dos anos 1970 e início dos 80 no espírito e na ginga dos carnavais de Salvador, ou da Bahia – em que marcha e frevo (sobretudo este) são componentes essenciais. Caetano juntou o seu pequeno repertório de músicas pra pular no LP Muitos Carnavais.

     Carnaval, então, é o momento em que a totalidade da população das cidades brasileiras vive aquela coisa sutil e grossa que é difícil de dizer, como se fosse talvez um momento da tragédia grega – ponderava o mesmo Caetano quando ainda não podia ver que um dos carnavais a que aludia, o do Rio de Janeiro, já pertencia apenas ao passado.

     Saudações pra quem gozou, gozou a festa. Nossa festa se acabou – cantou Luís Melodia por essa altura, quando o carnaval de rua do Rio, por incrível que pudesse parecer a quem o viveu ainda estonteante na segunda metade dos 1950 e na primeira dos 60, era só saudade.

     O carnaval carioca era então sim para quem quisesse o feriado da alma, como disse o poeta libertino. Quem não quisesse sempre tinha a alternativa de fugir para a praia ou para a serra.

     Tudo podia acontecer naqueles quatro dias bem gozados (nos dois sentidos) às vezes sob 40 graus à sombra de temperatura ambiente.

     Durante aqueles três dias aconteceram coisas que os hippies americanos em 1967 nem tinham sonhado, lembrava Caetano Veloso o tempo em que os lança-perfumes de éter ainda não tinham sido proibidos. E além da fragrância etérea no ar, parecendo pouco e pensando-se até na coincidência de datas, não seria de todo absurdo ou mera decorrência de uma bela prize pensar que a proibição dos lança-perfumes tenha tido muito a ver com o fim de mais de um século de folia. Que terá decorrido, sim, de profundas alterações urbanas – em meio século a cidade e região metropolitana quadruplicaram de tamanho e população – e de mentalidades. Cada coisa no seu devido tempo. A era dos carnavais no Rio acabou.

 

     A grande atração dos carnavais de rua de Salvador entre os séculos 19 e 20 eram as Embaixadas africanas, que por onde passavam jogavam efó – pó mágico extraído de chifre de carneiro – sobre os bandos rivais com que se cruzavam. As Embaixadas foram proibidas em 1920 através de um edital do município que as desclassificava como coisa de negro. Voltaram quase trinta anos depois mas já sem as características iniciais, mantendo apenas suas saudações e cânticos afros e chamando-se Afoxés.

     Nessa época, no Rio de Janeiro, João da Bahiana via-se obrigado a andar com o seu pandeiro cheio de assinaturas de gente importante para exibir quando fosse abordado por agentes da lei. Curiosamente o pandeiro que lhe deu fama secular era o seu documento de identidade. Nada mais certo (sem as assinaturas, talvez...). Sambistas eram invariavelmente confundidos com malandros-marginais. A equação é muito simples: negro = um bandido, um zé-ninguém. Questão de pele (racismo), questão de status (negro, grande fração marginal da sociedade, ainda que largamente majoritária em Salvador, por exemplo) .

     Além dos afoxés desfilam pelas ruas de Salvador, entre o Campo Grande e a Barra, cerca de 80 cordões e blocos e várias escolas de samba. Nos anos 1970 os seus enredos falavam da Consolidação da Independência da Bahia, dos 50 Anos de Yalorixá de Menininha do Gantois, de Lendas da Bahia e Vida Social no Brasil Colônia, dando idéia de que a festa mantinha características de coisa negra e do bom e velho espírito libertário baiafro.

     Hoje a maior atração do carnaval baiano, os trios elétricos foram inventados em 1950 quando Dodô e Osmar, que pesquisavam os efeitos da amplificação elétrica em instrumentos de corda, estando entre os que deram origem à guitarra baiana, botaram o seu equipamento num Ford 1929 e saíram pelas ruas tocando a título de se distrair. A coisa teve tal sucesso que no ano seguinte Osmar do cavaquinho e Dodô com o seu violão chamaram outro violonista e montaram o palanque sobre uma camioneta.

     Vinte anos depois os trios elétricos já estavam sobre carrocerias de caminhões e em vez das duas de Osmar e Dodô tinham 30 bocas de alto-falantes. Alguns eram iluminados por 500 lâmpadas. O Trio Elétrico Tapajós batizara o seu caminhão iluminado e sonoeletrificado de Caetanave, em homenagem a Caetano Veloso, que em 1969 fez grande propaganda dos engenhos com o seu frevo de rua Atrás do Trio Elétrico e de todo o carnaval da Bahia com o não menos famoso Frevo Novo: a Praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião. Caetanave homenageava também a Nasa, que no mesmo ano pôs dois homens na Lua.

Atrás do trio elétrico
só não vai quem já morreu

quem já botou pra rachar

aprendeu que é do outro

lado de lá

de lá do lado

que é lá

do lado de lá


 
          Ford Bigode 1929, berço do trio elétrico em 1950 - arquivo pessoal Aroldo Macedo

      Trio Elétrico de Dodô Osmar e Armandinho na Piazza Navona, Roma, 1983, Bahia de todos os sambas,
evento da estate romana in documentário de Leon Hirszman e Paulo César Saraceni

 
 
 

 
Armandinho e Tuzé de Abreu no Circo Massimo, Roma, 1983, Bahia de todos os sambas, in documentário de Leon Hirszman e Paulo Cesar Saraceni

    Carnaval de Salvador

    mistura culto à mãe      

    África

    com modernidades

    pop CIDADE DE FESTA TODO ANO NÃO ABDICA

    DO CARNAVAL DO JEITO QUE FOR 

                                                                                                                                                                                                                                                                             1994

  

  Cem mil watts de volume de som ribombam de uma parede de caixas instaladas sobre o caminhão que vem vindo lentamente e para ali a dois passos. A carcaça da caixa toráxica se comprime a cada martelada no bumbo da bateria da banda do trio elétrico postada em cima do caminhão, numa pressão dilacerante do peito ao maxilar. Mas, como diz o hit do carnaval cantado pelo vocalista da banda, inconscientemente a gente dança, o corpo balança...

  É o trio da banda do bloco afro Ara Ketu. Lá de cima, Caetano Veloso, careta bronzeada pelo sol de verão de Salvador, acena para a multidão.

  Ele não desce dos trios em que desfila para pular atrás do trio elétrico, mas ainda assim é incansável durante a semana de carnaval da sua Bahia natal: passa no “circuito alternativo” Barra-Ondina no carro de som do Ara Ketu, no “circuito oficial” Praça da Sé-Campo Grande no trio do bloco de índios Apaches do Tororó, “revitalizado” pelo “timbaleiro” Carlinhos Brown, e no do bloco afro Olodum. Canta enfim a capella o hino do Senhor do Bonfim a bordo do trio de Armandinho, Dodô e Osmar, na Praça Castro Alves, durante o tradicional encontro dos trios elétricos de final de carnaval, na madrugada-manhã de quarta-feira de cinzas.

  A Praça Castro Alves continua sendo do povo! – grita ao concluir o canto-prece, lembrando o mote que ele mesmo retomou do poeta cuja estátua o saúda com a mão quando compôs uma série de frevos e marchinhas que popularizaram o carnaval da sua terra no Brasil inteiro e um pouco ao redor do mundo.

  Sim. ATRÁS DO TRIO ELÉTRICO AINDA SÓ NÃO VAI QUEM JÁ MORREU. A Praça Castro Alves continua sendo do povo como o céu é do gavião. E a gente se olha, se beija, se molha de chuva, suor e cerveja!!!

  Eis os já antigos motes do carnaval da Bahia, ainda novos.

  Caetano continua na moda e o carnaval da Bahia está cada vez mais na moda.

 

  Mas o carnaval da Bahia, até agora o de maior participação popular, periga sufocar como o carioca em excesso de elitismo e organização, feito só pra arquibancada lotada de gringo com grana para comprar ingresso. E por gringo que tem dinheiro para comprar o abadá – o uniforme dos blocos.

  “Circuito oficial”?!

  “Blocos alternativos”?!

  Quê qué isso?!

  É a velha briga entre a ordem e a desordem, a organização versus a desorganização – e nem o carnaval da Bahia escapa a isso.

  E há muito é assim. O novo baiano irreverente Moraes Moreira já fez até hino de exaltação ao folião pipoca.

  Pipoca?!

  É o folião que sem dinheiro ou saco para comprar mortalhas ou abadás para sair nos blocos brinca fora dos cordões de isolamento, a-nar-qui-ca-men-te, sem direito a pular logo ali atrás do trio elétrico e receber chapadão aquela ribombada de som no peito inflado, os olhos esguazeados, os ouvidos roucos. Bom baiano, neto de heróis de mil e uma revoltas algo anarcas, Moreira protestou enquanto era tempo contra os cordões de isolamento, que nem João Bosco e Aldir Blanc no samba em que cantavam não põe corda no meu bloco, não vem com teu carro-chefe, não dá ordem ao pessoal, não põe lema nem divisa que a gente não precisa que organizem nosso carnaval...

 

  Os blocos mais famosos, como o Olodum, já se assemelham muito em tamanho às quilométricas  escolas  de  samba cariocas, com  até 4000 figurantes. Alguns deles têm verdadeiros batalhões de gorilas para impedir que foliões desfantasiados ultrapassem os cordões e evitar excessos dentro deles.

  São mares de gente. Um milhão e meio de pessoas circula na semana de sete-oito-ou-nove-ou... dias de carnaval entre os circuitos oficial e de blocos alternativos de Salvador. A Bahia bate recordes. Recebe o dobro de turistas que vão ver as escolas de samba do Rio. Setecentos mil, dos quais cem mil estrangeiros, dizem as autoridades. Caetano, Daniela Mercury, o mano-ministro Gilberto Gil, os dirigentes dos blocos, quase todos concordam. É melhor organizar um pouco senão vira uma bagunça só.

  Anos atrás a então prefeita Lídice da Mata recebeu mil beijos por ter investido cinco milhões de dólares na montagem de arquibancadas e camarotes no Campo Grande e na Barra e de palcos e quiosques padronizados em vários bairros da cidade. Desde então 40 mil pessoas formam um exército de gente envolvida na organização, incluindo mais de mil músicos para animar a massa. Tudo para “consolidar” (ipso verbo) o carnaval como carro-chefe de atração turística da cidade. Mas todo mundo sabe que, sobretudo tratando-se de carnaval baiano como de qualquer carnaval, como ensinou o do Rio, se organizar demais desanda.

  A organização chegou ao rigor de instalar um decibelímetro na passarela do Campo Grande para checar o volume de som dos trios elétricos, que como qualquer banda de rock impulsionam a animação da massa com graduação de decibéis.

  Noventa e nove vírgula nove por cento dos trios que por ali passam fazem o estranho instrumento – espécie de barômetro de som – atingir o vermelho. Quase todos teriam que pagar multa. Mas a organização é baiana...

  O organismo humano, diz a Organização Mundial de Saúde, suporta até 90 decibéis de impacto sonoro. Além disso corre-se o risco até de deslocamento de órgãos internos. A maior parte dos trios vai além dos 120 decibéis... e isso... só se poderia suportar... com muito kapeta na cuca.

  Muitos quiosques vendem uma bebida que é pura dinamite, combustível infalível para qualquer ser mais malemolente varar a madrugada sem pestanejar: suco de frutas naturais, leite condensado, pó de guaraná, uma pitada de canela... vodka, bate tudo no liquidificador e... zás!

   É o kapeta. (Ente diabólico e bebida.)
   O coração dispara ao som de um dos carnavais mais democráticos em termos de ritmos & estilos musicais: ele é axé music, frevo, canções de sucesso da pop music internacional, o ancestral afrobaiano ijexá, reggae, samba-reggae, samba duro, samba ou sambanejo ou samba de pagode. Vale tudo no melting pot carnavalesco baiano.

 

   Pobre Mundo Novo.
   Em 1977 Gilberto Gil apoiou-se na experiência do percussionista Paulinho Camafeu, do afoxé Filhos de Gandhi, para compor o LP Refavela, o seu disco-elegia ao ijexá, ponto de candomblé adotado pelos afoxés, renascidos com o Ghandi em 1949, quase três décadas após terem sido proibidos por levarem “macumba” para as ruas de Salvador.

Que bloco é esse que eu quero saber

é o mundo negro que viemos mostrar pra você

Somos crioulo doido, somos bem legal

Temos cabelo duro, somos bleque-pau

- cantava Gil no ijexá Mundo Negro.

   Dá até pena ver, vinte anos depois, o Mundo Novo passar no Campo Grande no desfile de blocos afros e afoxés de terça-feira de carnaval, coisa tosca com 30 percussionistas negros se tanto, um caminhão velho com plantas naturais nos cantos da carroceria desengonçada, um velho cantando uma melopéia bonita mas desengraçada no meio de tanta animação e uma jovem negra dando muito duro para agitar a galera das arquibancadas, que permanece como que estarrecida em face de tanta pobreza e decadência.
   Mundo Novo, coisa do passado? Quem sabe.

   É o mundo velho em comparação com o bloco afro que passa a seguir, em imponente procissão de 4 000 pessoas – até alemães (ou alemãos, para ser mais preciso com o linguajar do povo) -, centenas de percussionistas, um som de estourar os tímpanos irradiado de um trio elétrico montado sobre um caminhãozaço e três videowalls exibindo imagens captadas por várias câmeras postadas entre os seus componentes e tratadas num estúdio de TV montado no caminhão de apoio igualmente reluzente. O equipamento e a tecnologia foram comprados à TV Globo e custou mais de cem mil dólares.

   É o Olodum. O Mundo Novo, esse sim – imponente graças à celebridade nacional e internacional, que lhe permite ser até patrocinado por uma grande marca de cerveja e uma companhia aérea, apesar de prosseguir sendo um bloco/banda radicado/a na comunidade em que nasceu, o Pelourinho, epicentro do centro histórico da Bahia, até o final do século 20 em ruínas e hoje restaurado de ponta a ponta.

   O Olodum é feito o Pelourinho – um Mundo Novo de cara aparentemente nova. E que canta

 

o Pelourinho não é mais aquele

o Pelourinho não é mais aquele

olha a cara dele, olha a cara dele



      OLODUM    

        MAIS QUE BANDA DE WORLD MUSIC

              UMA ALDEIA CÍVICA NO PELÔ

 

A idéia que as forças vivas do Pelourinho fazem do plano de restauração e revitalização do centro histórico de Salvador comandado pelo babalorixá cacique & pajé da política baiana Antônio Carlos Magalhães é traduzida de fio a pavio pelo famoso soneto com mais de trezentos anos:

 

A ti tocou-te a máquina mercante

Que em tua larga barra tem entrado

A mim foi-me trocando e tem trocado

Tanto negócio e tanto negociante

- reza um trecho do poema sobre a triste Bahia que, musicado por Caetano Veloso, fez-se o mais célebre de Gregório de Matos.

  Os diretores do Grupo Cultural Olodum, a mais famosa instituição do bairro e uma das duas dezenas de organizações não-governamentais nele implantadas, não têm dúvida: A restauração foi positiva mas deveria reverter em benefício da população, o que não aconteceu. Ela foi expulsa ou marginalizada do novo tipo de consumo que gerou.

  A exemplo do de centros históricos no exterior, o processo de revitalização na Bahia produziu mudanças traumáticas no bairro, com a substituição dos habitantes nele enraizados por estratos de alto padrão de consumo e a propagação de um tipo de comércio que se poderia classificar de luxe.

  Com a restauração das casas nas ruas e travessas das imediações do Largo do Pelô bares onde o hambúrguer substituiu o acarajé, símbolo do fast food tradicional baiano, joalherias e lojas de franchising de marcas de roupas famosas disputam com lojas de artesanato a preferência de centenas de gringos que passaram a circular pela zona sem temer por sua segurança graças à acurada vigilância de dezenas de agentes da Tourist Police.

  As lojas dos casarões restaurados são alugadas ou foram vendidas pelo governo da Bahia a preços muito reduzidos, fórmula eficaz de atração de investimentos para o que passou a ser uma mini-Disneylândia arquitetônica e paisagística nos trópicos.  

 

 

 

  A história do Olodum e sua vivência do bairro levam fundadores como João Jorge a não medir palavras nas críticas ao que para eles traduz-se num desvirtuamento do plano original de restauração e revitalização do bairro.

  O Olodum foi o primeiro a restaurar um imóvel no bairro, uma casa do Largo do Pelô onde o grupo instalou sua primeira sede e mantém uma butique que vende apenas produtos fabricados pela ONG.

   Com as obras ainda em andamento o grupo passou a reivindicar certa primazia entre as demais instituições culturais e recreativas do bairro, como blocos de afoxé, academias de capoeira e outras organizações negras, na defesa do patrimônio histórico do Pelô.
   Nascido pela música e para a festa em 1979, seu sucesso no Brasil e no exterior (vendeu sete milhões de cópias dos seus sete primeiros discos em mais de oitenta países) permitiu que o bloco de samba duro se transformasse pouco a pouco numa organização bastante ativa e dinâmica em vários campos.

  Além do bloco o Olodum mantém grupos de dança e teatro, uma fábrica de confecções – a Fábrica do Carnaval, onde emprega centenas de pessoas – e uma Escola Criativa, com mais de 500 alunos de música, fabricação de instrumentos, teatro de fantoches, informática e História, cujo currículo se baseia nos princípios de pedagogia inter-étnica, que realça o papel do negro e do índio na construção da sociedade brasileira.   

  O grupo acabou por criar no Pelô uma verdadeira Aldeia Olodum, com meia-dúzia de imóveis. O seu eixo é a Casa do Olodum, onde estão a sede administrativa, um bar-restaurante e um auditório de debates e seminários sobre a cultura negra.

   O plano desencadeado pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães no início da década de 1990 é classificado pelo pessoal de Olodum de um processo de discriminação e racismo contra os moradores do bairro e o público do grupo, que para a elite baiana não passam de pessoas deseducadas, sem poder de compra e por isso inconvenientes.

  A Revolta do Olodum foi até gravada em disco. Para a dita elite, ao remover muitos habitantes o governo acabou por fazer também uma limpeza de marginais e delinquentes que ali se acoitavam. Para o Olodum tratou-se de uma expulsão em massa de gente que não teria lugar no que a elite transformou num parque arquitetônico para uso exclusivo de gringos num estado e numa cidade direcionados apenas para o turismo.

  Mais de um quarto dos quatro mil moradores do Maciel-Pelourinho, eixo do conjunto de bairros do centro artístico e histórico da Bahia, foram deslocados da favela em que se transformara o bairro para conjuntos habitacionais precários muito afastados da cidade.

  O governo pagou pouco mais de mil reais a quem aceitou abandonar as moradias degradadas.

  Para quem não ganha nem um salário mínimo isso parece uma fortuna, mas não dá nem para pagar o aluguel de um barraco de favela por seis meses, dizem no Olodum.

  Foram os ricos que construíram o Pelourinho mas foram os pobres que o mantiveram e é esse o preço que pagamos por mais de um século de resistência, insurgem-se os mestres do samba duro.  

   Em duas décadas não houve manutenção da maquete, que volta a esboroar-se lentamente. Caetano Veloso não tem dúvida: o Pelô se degrada como reação das administrações petitas (de PT, Partido dos Trabalhadores, a força hegemônica da oligarquia substituta da máquina de ACM), que sempre se opuseram ao plano adotado pelo ex-governador baiano.

                                                                  

            

                        DISPARIDADE NO CARNAVAL COMO NO RESTO DO ANO, AINDA QUE EM FESTA   

 

    Como a própria cidade, riquíssima em patrimônio artístico e arquitetônico no centro histórico mas paupérrima em quase toda a sua extensão, com 80% de maioria negra e quase toda favelada, o carnaval de Salvador não poderia deixar de ser um monstruário de disparidades.

   De contrastes tão salientes quanto é certo que à medida que o tempo passa eles vão assumindo proporções cada vez mais parecidas com as do carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro.

   Não se põe um bloco na rua hoje em dia por menos de cem mil dólares, informa Carlinhos Brown, o ex-percussionista de Caetano Veloso e Tribalista que no início da década de 1990 pôs mãos à obra para “revitalizar” os decadentes pracatuns de timbaus, inventando a timbalada. Apesar da sua fama e de durante o carnaval não se esquivar de cantar jingles publicitários entre três músicas, Brown sempre reclama da excessiva comercialização da festa e das dificuldades de um bloco como o do seu bairro pobre do Candeal brilhar nos circuitos do carnaval baiano.

   Puro racismo, dizia não faz muito tempo: Querem que preto seja segurança de bloco a vida inteira, mas a gente não é burro. Acho que esse negócio de preto e branco não tem nada a ver. Mas parece que os patrocinadores não pensam assim.

   De tão raivoso por isto ou por aquilo em meio a tanta sarabanda, Brown chegou a se desentender com o mestre e parceiro Gilberto Gil enquanto ministro da Cultura, afinal representante dos mais altos poderes, no carnaval de 2006. Depois pediu desculpas aos prantos. Gil é Gil. E o carnaval da Bahia apenas um possivelmente longo e belo episódio da história baiana de que em breve os mais velhos terão saudades. Como o do Rio de Janeiro.

   Entre tradição e modernidade de refavela o carnaval baiano surpreende também pelos seus contrastes. Nativo ou gringo, quem quer aparecer gasta 200 dólares num abadá, o livre-trânsito para desfilar num bloco. O mesmo preço do ingresso de camarote no circuito oficial ou no de Ondina-Barra.

   Contraste entre as cores afro-jamaicanas do Olodum vermelho-verde-amarelo-e-preto e o manto branco que os dois mil homens – mulheres não entram – dos Filhos de Gandhi, de bata e toucado africano, estendem nos seus desfiles após a tradicional patuscada com romaria à igreja do Bonfim de sexta-feira gorda.

   Contraste em suma entre a gringalhada que sai atrás dos tambores do Olodum e a massa negra do Ilê Ayê, que chega a ser chamado de racista por só admitir negros em seus desfiles.

  E enquanto os blocos e trios elétricos ou afros parecem querer ressuscitar Jimi Hendrix com sua parafernália eletrônica e solos de guitarra de arrepiar, o Ara Ketu bate-que-bate sua batida única só de percussão, misturando a tradição cultural iorubá – base da cultura negra da Bahia – com rap.

Viva a tradição!  

E viva a contradição!   

   A baianidade dos terreiros de candomblé, dos seus pais e mães-de-santo e do respeito às tradições da mãe África!

   E a baianuniversalidade dos novos ícones da aldeia global que em sua larga barra vão entrando sem pedir licença com cada vez mais negócio e negociante.

              Triiiiiste Bahia?

 

               MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO



Música  do Brasil de Cabo a Rabo é um livro com a súmula de 40 anos de estudos de James Anhanguera no Brasil e na América do Sul, Europa e África. Mas é também um projeto multimídia baseado na montagem de um banco de dados com links para múltiplos domínios com o melhor conteúdo sobre o tema e bossas mais novas e afins. Aguarde. E de quebra informe-se sobre o conteúdo e leia trechos do livro Música do Brasil de Cabo a Rabo, compilado a partir do banco de dados de James Anhanguera.

MÚSICA DO BRASIL DE CABO A  RABO

Você já deve ter visto, lido ou ouvido falar de muita história da música brasileira da capo  a coda, mas nunca viu, leu ou ouviu falar de uma como esta. Todas as histórias limitam-se à matéria e ao universo musical estrito em que se originam, quando se sabe que música se origina e fala de tudo. Por que não falar de tudo o que a influencia de que ela fala sobretudo quando a música  popular brasileira tem sido quase sempre um dos melhores veículos de informação no  Brasil? Sem se limitar a dicas sobre formas musicais, biografia dos criadores  e títulos de   maior destaque. Revolvendo todo o terreno em que germinou, o seu mundo e o mundo do  seu tempo, a cada tempo, como fenômeno que ultrapassa - e como - o fato musical em si. 

Destacando sua moldura
      
nessa janela sozinho olhar a cidade me acalma

dando-lhe enquadramento
           
estrela vulgar a vagar, rio e também posso chorar

... histórico, social, cultural e pessoal.
  Esta é também a história de um aprendizado e vivência pessoal.

De um trabalho que começou há mais de meio século por mera paixão infanto-juvenil, tornou- se matéria de estudo
e reflexão quando no exterior, qual Gonçalves Dias, o assunto era um meio de estar perto e conhecer melhor a própria
terra distante e por isso até mais
atraente. E que como começou continuou focado em cada detalhe por paixão.
                                                                               
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CORAÇÕES FUTURISTAS nunc et semper AQUI


MÚSICA DO BRASIL  DE  CABO A RABO
MÚSICA DO BRASIL
 
DE  CABO A RABO

                                                   ÍNDICE DOS CAPÍTULOS 
capítulos, seções de capítulos com trechos acessíveis a partir dos títulos, em azul DeLink


     O LIVRO DA SELVA

    Productos Tropicaes E Abertura em Tom Menor

    1. O BRASIL COLONIZADO
        raízes & influências Colônia e Império
 
  

       1. A  Um Índio   1. B Pai Grande    1.C  Um Fado 

       2. TUPY NOT TUPY formação de ritmos e estilos urbanos suburbanos e rurais
                                                Rio sec. 19-sec. 20 - Das senzalas às escolas de samba

    Os Cantores Do Rádio   ESTreLa SoBE 

  CARMEN MIRANDA DE CABO A RABO

  fenômeno da cultura de massa do século XX                  

  4. BOSSA NOVA do Brasil ao mundo

    Antonio-Carlos-Jobim-Tom-Jobim .html 

5. BOSSA MAIS NOVA o Brasil no mundo  

6. TROPICALIA TRIPS CÁLIDOS    e a manhã tropical se inicia


Detalhe de cenário de Rubens Gershman para montagem de Roda Viva, Teatro Oficina, 1967

 O LIVRO DE PEDRA

  PARA LENNON & McCARTNEY 
  VIDA DE ARTISTA crise e preconceito = inguinorãça

  CAETANO VELOSO

  CENSURA: não tem discussão. Não            
 
POE SIA E MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
 
Milton Nascimento
 
O SOM É MINAS: OS MIL TONS DO PLANETA    
  MARIA TRÊS FILHOS

  (SEMPRE) NOVOS BAIANOS        
  NORDESTONTEM NORDESTHOJE

 
RIO &TAMBÉM POSSO CHORAR  
      Gal Costa Jards Macalé Waly Sailormoon Torquato Neto  Lanny Maria Bethânia
  FILHOS DE HEITOR VILLA-LOBOS
 
INSTRUMENTISTAS & INSTRUMENTAL Sax Terror     
  SAMBA(S)
BLEQUE RIO UM OUTRO SAMBA DE BREQUE        
  FEMININA

  MULHERES & HOMENS NO EXÍLIO o bêbado exilado & a liberdade equilibrista

  ANGOLA          
  ROCK MADE IN BRAZIL ou
 Quando a rapeize solta a franga

  LIRA PAULISTANA            
  CULTURA DA BROA DE MILHO

  LAMBADA  BREGANEJO AXÉ E SAMBAGODE
 
RIO FUNK HIP SAMPA HOP E DÁ-LE MANGUE BITE RAPEMBOLADA
  DRUM’N’BOWSSA            
  CHORO SEMPRE CHORO     
  INSTRUMENTISTAS
 & INSTRUMENTAL II   SAX TERROR  NA NOVA ERA
  ECOS E REVERBERAÇÕES DO SÉCULO DAS CANÇÕES
  
  DE PELO TELEFONE A PELA INTERNET

   MÚSICA DO BRASIL em  A triste e bela saga dos brasilianos
  
MÚSICA DO BRASIL  em ERA UMA VEZ A REVOLUÇÃO      



 


Elifas Andreato: capa do LP Confusão Urbana Suburbana e Rural de Paulo Moura

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