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almanaque das ideias cores e sons do maior movimento de juventude da história

o livro do rock & da contracultura

               e da eterna rebeldia

com relato inédito do antes durante e depois do 25 de Abril de 1974 em Portugal

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     ciberzine& narrativas de james anhanguera 

           

Por dentro e por fora em Londres

Terra da Dama Electroacústica

Medo, atraso e rock nas berças

Era uma vez a revolução

Droga Loucura e Vagabundagem

- Da Teoria à Prática ou Vice-Versa

Rumo às ilhas da Utopia  

Era uma vez as revoluções

so listen to the rhythm of the gentle bossa nova

 narrativas de rock estrada e assuntos ligados

  

Cedo se apercebeu de que o remédio era cavalgar o tigre em que montara sem pensar muito no destino, cavalgar só para não ficar parado sobre a fera que a todo instante ameaça engolii-lo.

...

- Mas vem cá, tá tudo muito careta à nossa volta e os caretas desbundando tanto nas ondas mais vergonhosas que a gente até se retrai.

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Trechos da versão PT-POR - versão on-line

          almanaque das ideias cores e sons do maior movimento de juventude da história

                               da era do rock & da contracultura

                                      o livro do rock   e da contracultura

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               narrativas em f(r)icçao para tempos mornos

        vida aventureira de um jovem viajante no underground e no bas-fond entre os anos 1960 e 80

 

Cedo se apercebeu de que o remédio era cavalgar o tigre em que montara sem pensar muito no destino, cavalgar só para não ficar parado sobre a fera que a todo instante ameaça engoli-lo.

...

- Mas vem cá, tá tudo muito careta à nossa volta e os caretas desbundando tanto nas ondas mais vergonhosas que a gente até se retrai.

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                       divertissement ilustrado, cronistória romanceada, docudrama

 

  Rumo às ilhas da Utopia 

   Da Teoria à Prática ou Vice-Versa 

                                                                                                                                   Rumo às ilhas da Utopia  

      Primeiro levantamento global profundo e alargado do Movimento (pop, pop art, contracultural) do género em língua portuguesa a partir da vida e obra de Aldous Huxley.

                                                                                                                                 apêndice de

                                                                                                                                

                 Por dentro e por fora em Londres 

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                          - Da Teoria à Prática ou Vice-Versa

 

                             Rumo às ilhas da Utopia  

                             Era uma vez as revoluções  



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    Rumo às ilhas da Utopia 

          Rumo às ilhas da Utopia

           Da Teoria à Prática ou Vice-Versa

        Trechos  

 

De uma das ilhas da utopia, a nossa ilha dos tesouros, qual Mr. Livingstone da mente no alvorecer da era cósmica, o infatigável Aldous Huxley partiu para uma longa jornada vida fora ao redor do mundo e dos mundos.

A terra da dama electroacústica e a ilha envolta pelo nevoeiro imaginada pela dama electroacústica são a ilha do visionário do Surrey, a utopia que se pode captar em sobrevoos psicadélicos, por exemplo, mas não viver em pleno, porque imaterializável – sonho de Atlântidas, Ítacas, Utopias, Lilliputs, Nações de Woodstock; fantasia da terra do nunca, talvez a maior das sonhadas pelo homem; o paraíso em vida, dentro de nós e em tudo ao redor.

A sua trajectória compõe uma das histórias mais fascinantes do século XX – do racionalismo científico e da revolta contra o espartilho moral vitoriano à consciência cósmica e à defesa da abolição da distinção entre ‘alta’ e ‘baixa’ cultura no ocidente, ou da prevalência qualitativa de uma sobre a outra, e a proposta de irmanamento delas com outras culturas numa contracultura pro natura, ou filosofia perene. Talvez a história do século de todas as revoluções. 

            ...

 

                                                       NOTA  DE  EDITOR  

             O editor, a este ponto, tende a mandar o capítulo para a lixeira. Quem irá querer ler hoje sobre a trajectória de um obscuro escritor do século 20 ou sobre os bastidores de uma série de eventos rockambolescos de há meio século, quarenta anos atrás?

            Mas o autor, que parece mais um médium do seu narrador, banca argumentos de peso.

            Diz que até agora a segunda parte da trajectória de Huxley, muito mais polémica que a primeira, só foi contada em dois ou três compêndios com a história do uso de drogas e da sua explosão na década de 1960.

            Que entre os cronistas literários há até quem limite toda essa trajectória a duas penadas críticas. Mostrou-me um recorte de jornal em que um deles afirma que dos 47 livros que deixou cerca de metade foi escrita em Hollywood e que pouca coisa se salva desse período.

      Segundo o autor, tal como tantas outras, essa atitude deve-se apenas ao que chama de parti-pris (coisa de escritores muito lidos e viajados). Quer ele dizer que eles partem de preconceitos contra a virada existencial do autor inglês, porque segundo eles Huxley foi um dos grandes responsáveis pela onda insana – e para ele, o autor deste livro, insanável – do relativismo cultural.

            Mandou-me e-mail que diz o seguinte:

             Há entre os culturalistas da velhíssima guarda (não o são todos?), que já era velhíssima no meu tempo, quando vai-se a ver e eles ainda nem tinham nascido, quem talvez até exagere em elogios à sua enorme erudição e inteligência.

           Em quem acreditar então? Nos que subestimam sua literatura sobre drogas, distinguindo o seu relacionamento com elas dos da maioria dos usuários porque sua abordagem delas tinha objectivos sérios, científicos, e não para se divertir, ou os que pensam que só escreveu bons livros na primeira metade da carreira?  Não será então de supor que também em relação a Huxley a verdade possa estar no meio e encará-lo como um dos melhores cronistas e modelos do seu – e porque em muitos aspectos ainda é actual, do nosso – tempo? Regresso ao Admirável Mundo Novo chato?! Pois não. Mas talvez tão chato quanto a grande maioria dos ensaios, a que um leitor se submete sabendo de antemão que é sobretudo para aprender alguma coisa com uma suposta autoridade num determinado assunto. Ou vários – múltiplos, como é o seu caso.

          E quantas vezes um leitor não se entrega a autênticos bichos caretas só pelo seu estilo – pela graça com que escrevem esdruxulices.

            Quanto a mim a trajectória de Huxley, do berço racionalista à caverna de Platão e à tresloucada utopia – que entretanto, porque não é louco, e se há uma coisa em que se destaca é a de sempre que abraça novas perspectivas nunca deixar de ter os pés bem assentes no planeta em que vive, risca do mapa conjectural com uma bela invasão  bélica do seu jardim de delícias.

             Bem vistas as coisas (e isso parece-me por demais evidente) não houve um volte-face, no sentido de uma ruptura abrupta, em sua vida, mas uma evolução harmônica própria de um ser altamente inteligente e culto de um tipo de visão de certas coisas fundamentais a outro sem que uma ofuscasse completamente a outra. Senão vejamos.

            Escreve em sequência, primeiro - recém-chegado à América -, sobre um magnata da imprensa que à época é e o nec plus ultra do controle da informação e o star system  de Hollywood que fora obrigado a encarar para sobreviver como guionista. Dá de bandeja a Orson Welles o guião de um dos melhores filmes da história. Durante a guerra reflecte sobre o segundo grande confronto bélico mundial a que assiste à distância em duas décadas e lê e escreve sobre o que chamou de filósofos perenes. Depois sobre o belicismo e seus efeitos. Em seguida sobre a hierarquia de uma religião pecaminosa que se confunde com o sistema e seus desvios via nomeadamente supostas possessões demoníacas, o que o faz reflectir também sobre a busca da transcendência através das drogas. Que encara com preconceito até experimentá-las, quando aí sim procede a um volte-face em que muda da noite pro dia mas só em relação a esse ponto, porque logo em seguida aos dois livros sobre a matéria (e que vão muito além dela, de forma esplêndida) publica Regresso ao Admirável Mundo Novo. Que seja o que for parece-me até hoje obrigatório quanto mais não seja por conter a súmula do dever de casa que a humanidade deixou de fazer neste meio século, padecendo por consequencia do agravamento dos problemas que abordava há cinco décadas.

            Enfim, publica A Ilha mas pouco antes de fazer o último trip põe o ponto final num ensaio sobre Shakespeare, e as suas famosas últimas palavras, Shakespeare e a Religião, são tidas como de altíssimo nível por muito anti-relativista velho-padrão, nomeadamente um tal que com bom humor desconsidera os devaneios psicadélicos do intelectual, que todavia escreve em seu último trabalho publicado em vida um tratado em defesa da aplicação do uso de determinadas drogas num trabalho de desenvolvimento humano, individual e colectivo.

             Huxley é um – e não o – modelo do século passado e deste início de século sobretudo por ser um dos melhores espelhos reflectores das nossas contradições de sempre. E seria curioso ver até onde irá esse sempre. Se nos extinguiremos já ali na esquina pelo superaquecimento global ou se sobreviveremos em guerra e paz aqui e guerra e paz acolá por mais algum tempo.

             O que se depreende do discurso anti-relativista é que um tipo como Huxley incomoda muito porque seu dedo, ó, continua lá cutucando as feridas, que também são as mesmas, mas talvez muito maiores.

           Contar sua trajectória enquadrando-a na do século 20, como faz o meu narrador, é importante porque ela desemboca, ele já morto, nas diatribes de há 40 anos, que felizmente deixaram muitas e muito boas histórias e lições.         

 

...

 

 

Por essa altura Aldous Huxley assesta a lupa num artigo dos psiquiatras britânicos Humphrey Osmond e John Smythies, que trabalham num hospital de Saskatchewan, no Canadá.

Osmond e Smythies pesquisam o uso de mescalina no tratamento de distúrbios mentais e tentam há anos identificar as possíveis causas orgânicas da doença, que é objecto de pesquisas infrutíferas desde o final do século XIX.

Descobriram num livro sobre o peiote que a fórmula molecular da mescalina tem semelhanças com a da adrenalina. Passaram a ponderar sobre a hipótese de que em situações de stress moléculas de adrenalina transformem-se num composto químico ainda mais parecido com a mescalina. Hipótese improvável dado que quando começaram a pesquisa não havia indícios de que, a exemplo de algumas plantas, animais fossem capazes de produzir alterações no seu metabolismo. Para aprofundar o estudo Osmond tomou 400 miligramas de mescalina. O resultado das pesquisas foi resumido no artigo Esquizofrenia: Uma Nova Abordagem, publicado em Abril de 1952, em que afirmam que quanto maior a quantidade de adrenalina gerada em estados de ansiedade maior é a quantidade produzida pelo organismo de um alucinogénio endogâmico chamado adrenocromo. Esta substância altera a percepção e aprofunda o nível de estado psicótico do cérebro, cuja última defesa é desligar-se da realidade.   

Em Fevereiro de 1953 o Hibbert Journal reproduz um artigo em que a mesma dupla afirma que ninguém poderá ter verdadeira competência para tratar da esquizofrenia sem vivenciá-la, o que se tornaria bastante possível tomando-se mescalina. Smythies e Osmond citam o phantasticum lewinii também ao arriscar uma nova teoria da mente baseada em dois pontos: o desenvolvimento de estudos comparativos do design e funcionamento dos computadores com a estrutura e o funcionamento do cérebro e os últimos avanços da parapsicologia, que para eles levaram à consolidação do princípio de que a percepção Extra-sensorial é um facto científico.

Os psiquiatras surpreendem Huxley com a sua nova chave de interpretação da doença e ao associá-la a uma droga que poderá levar um indivíduo artificialmente aos mundos descritos por William Law, Jacob Boehme e outros filósofos perenes. Escreve-lhes para cumprimentá-los pelo trabalho e comunicar-lhes o seu empenho em testar a mescalina no âmbito das suas pesquisas sobre misticismo e a psique humana e convida-os para hospedarem-se na sua casa quando quiserem ir a Los Angeles.

Huxley e Heard perfilham a teoria de Henri Bergson e do filósofo inglês C. D. Broad pela qual o cérebro possui um mecanismo que funcionaria como um filtro de dados sensoriais considerados inúteis para o dia-a-dia e que reduziria o uso da capacidade mental. Tentam por todos os meios conhecidos encontrar formas de driblar a ‘válvula redutora’, que segundo Bergson seria o maior obstáculo para que o homem atinja um estágio superior de evolução. E também, crêem eles, para que tenha acesso à iluminação mística.

Artistas e místicos com dotes excepcionais conseguiriam ultrapassar o obstáculo por meios naturais ou através de técnicas de exercícios físicos e mentais desenvolvidas no Oriente, que não seriam mais que ferramentas para abrir a dita válvula. Huxley busca a todo o custo operar uma profunda transformação na sua mente. O que nunca imaginou desde a época em que fazia as pesquisas para modelar o soma e até ler o artigo de Osmond e Smythies é que o atalho para uma experiência que por meios naturais só se completaria após muitos anos de auto-controle e disciplina pudesse partir da etnofarmacologia.

 

Huxley muniu-se de um gravador para registar a sua primeira experiência com a droga. Na manhã de 4 de Maio de 1953 Humphrey Osmond dissolve 400 miligramas de cristais de sulfato de mescalina em meio copo de água e, muito apreensivo, dá-o ao escritor. Desde a partida do Canadá Osmond não via com bons olhos a possibilidade, ainda que remota, de ser o homem que levou Aldous Huxley à loucura. Pensava na estranheza que lhe causara uma nota do escritor na carta de confirmação do convite sobre a sua expectativa em relação à experiência:

No actual regime de desleixo a grande maioria dos indivíduos perde no curso da sua educação toda a abertura para a inspiração, toda a capacidade de apreender a existência de outras coisas além das enumeradas no catálogo Sears-Roebuck; será esperar demais que haja um dia um sistema de educação planeado para dar resultados, em termos de desenvolvimento humano, equivalentes ao tempo, dinheiro e esforço despendidos? Em tal sistema de educação a mescalina ou outra substância química poderia ter a função de possibilitar aos jovens provar e ver o que aprenderam de segunda mão, ou directamente mas a um nível de mais baixa intensidade, nos escritos de religiosos ou em obras de poetas, pintores e músicos.

Até receber a carta, embora já tivesse pressentido que talvez pudesse ser usada para outros fins, Osmond pensara na mescalina apenas como um mímico da demência, capaz de reproduzir cada um dos maiores sintomas de esquizofrenia aguda, nunca como catalisador de mudança da consciência e menos ainda como ferramenta educacional. E como que a reforçar essa perspectiva inusitada Huxley acaba de dizer-lhe que espera atingir o mundo do heróico do que foi talvez o mais delirante poeta inglês, William Blake!

 

How absolutely incredible! - exclamou o escritor meia hora depois de ingerir a droga, quando olhou para o vaso de flores sobre a mesa e deu-se conta de uma mudança de percepção sensorial e visual. As cores das flores estavam muito mais vivas e as próprias flores pareciam vibrar. Ao focá-las, as luzes douradas do escritório pareciam ondular. Ao cerrar as pálpebras era como se o seu cérebro projectasse um filme de animação em que figuras geométricas mudavam lenta ou abruptamente de cor e forma. Até que atravessa uma tela ou algo parecido – como uma porta que se tivesse aberto na parede - e passa a ver o que Adão viu na manhã da criação – o milagre, momento a momento, da existência nua.

Como se nunca, mesmo antes da cegueira, tivesse tido olhos e depois óculos para ver como deveríamos ver, como as coisas são de facto, como repete de vez em quando ao gravador entre descrições dos objectos em volta nos contextos alterados a que irá fazer referência mais tarde - a Eternidade numa flor, a Infinidade numa cadeira de quatro pernas e o Absoluto nas pregas de um par de calças de flanela!

Apercebe-se também que palavras e conceitos verbais tornam-se supérfluos, porque sente as emoções perpassarem-lhe cada célula do corpo em sensações intraduzíveis por palavras, e menos ainda de maneira automática. Irá constatar entretanto o alto grau de condicionamento de uma cultura dominada pela contextualização verbal de tudo – ou quase: devemos preservar e se necessário intensificar a nossa capacidade de olhar o mundo directamente e não através do processo algo opaco dos conceitos.

Ao assomar o jardim, quando a mudança de ambiente dá-lhe a súbita sensação de deslocamento, tem um surto de paranóia e de loucura. Mais tarde, ao chegarem à rua, diverte-se muito ao ver os carros que passam e com a ideia de que são o retrato falado do homem do século XX. Descem a colina a caminho de um drugstore. Os novos óculos de lentes poderosíssimas dão-lhe uma visão translúcida e mais abrangente: as palmeiras alinhadas ao lado das ruas na área de Sunset Boulevard tremem às margens do sobrenatural e as casas nas colinas para os lados de Hollywood lampejam ao sol de fim de tarde como fragmentos da Nova Jerusalém. Ao aproximar-se do drugstore apercebe-se de que a transfiguração das coisas é proporcional à distância: quanto mais perto, mais divinamente outra coisa. Huxley sente-se como um miúdo a quem tivessem dado um telescópio e, como que a seguir sugestão antiga do avô ultra-racionalista, vê-se sentado diante dos factos como uma criança.

O mystique manqué não terá conquistado ainda o reino do misticismo mas começa a apossar-se do domínio do facto objectivo. Escreverá depois que o homem que volta pela Porta na Parede em que entrou no final da manhã nunca mais será como o que saiu. Realiza enfim o antigo ideal de tirar férias da realidade – de um mundo de egos, de tempo, de julgamentos morais e observações utilitárias, o mundo de auto-afirmação, presunção, palavras sobrevalorizadas e noções idolatricamente adoradas. Ou de ver a realidade por outros prismas.

... 

Quando se sente com forças e não lhe falta a voz, Huxley grava num ditafone os seus últimos textos, entre os quais Shakespeare e a Religião, que será publicado pela Show Magazine em 1964, e uma adaptação da sua conferência ‘Experiência Visionária’, que seria publicada sob o título Hallucinogens: A Philosopher’s Visionary Prediction (Alucinógenos: A Visionária Profecia de um Filósofo) na edição de Novembro de 1963 da revista Playboy.

Com o agravamento da doença e o escritor acamado, o casal Huxley lê o Livro Tibetano dos Mortos na versão de Timothy Leary e Ralph Metzner. Por volta do meio-dia de 22 de Novembro Aldous escreve numa folha de papel que entrega à mulher:

 

 

         LSD – tenta por

         intramuscular

           100 mm

 

 

Laura Huxley passa pela sala para buscar o material necessário e estranha que o médico e alguns amigos estejam a distrair-se a ver televisão sabendo que o seu marido poderá estar a morrer. Uma hora depois, dá-lhe outra injecção com mais 100 microgramas de LSD, após o que sussurra-lhe ao ouvido, repetindo mais ou menos as palavras que ele dissera quase nove anos antes a Maria e que reproduziu numa cena de A Ilha: Leve e livre deixa-te ir, querido; para a frente e para cima, estás a ir rumo à luz. De boa vontade e conscienciosamente estás a ir, e estás a fazê-lo divinamente; estás a ir rumo à luz e a um amor maior... Estás a ir rumo ao amor de Maria com o meu amor. Estás a ir rumo a um amor maior do que qualquer outro que conheceste. Estás a ir rumo ao melhor, o maior amor, e é tão fácil. Não é a morte – estás a ir para dentro da luz.    

Só após a passagem do marido Laura é informada de que John Kennedy foi morto horas antes. 

 

No último trabalho publicado em vida Huxley faz um resumo dos seus pontos de vista em relação à experiências mística e visionária para chegar à sua ‘profecia’ sobre a aplicação das drogas psicadélicas no desenvolvimento psíquico e intelectual de indivíduos com capacidade para servir de agentes de uma gradual transformação da sociedade. Segundo ele, através da experiência psicadélica os indivíduos envolvidos no processo poderão partir de um estado de ‘consciência estética e visionária’ para um outro, mais aprofundado, de ‘consciência mística’.

‘O mundo é então visto como uma diversidade infinita que é ainda uma unidade e o contemplador sente-se um com a infinita Oneness que se manifesta, totalmente presente, em todos os pontos do espaço, a todo o instante, no fluxo do perecimento perpétuo e da perpétua renovação. A nossa consciência normal condicionada pela palavra cria um universo de distinções acentuadas, preto ou branco, isto e isso, eu e você e aquele. Na experiência mística de ser um na Oneness existe uma reconciliação de opostos, uma percepção do Não-Individual nas individualidades, uma transcendência das nossas ainda problemáticas relações sujeito-objecto com coisas e pessoas.’

Para um indivíduo em estado de consciência normal a frase ‘Deus é Amor’ não é mais que ‘um pedaço de uma racionalização positiva de um desejo’, mas ‘para a consciência mística é uma verdade em si mesma’, considera.

‘Mudanças tecnológicas e demográficas de uma rapidez sem precedentes aumentam paulatinamente os perigos que nos rodeiam’, pelo que ‘um treino amplo na arte de derrubar tapumes culturais é agora a mais urgente das necessidades’, defende, antes de se/nos interrogar:

‘Pode um treino desse tipo ser acelerado e tornar-se mais efectivo através do uso judicioso dos fisicamente inofensivos psicadélicos hoje disponíveis?

‘Como deveriam ser usados os psicadélicos? Em que condições, com que tipo de preparação e acompanhamento?’

Segundo ele, ‘tais questões devem ser respondidas empiricamente, através de uma experiência em larga escala.’    

‘[N]um mundo com um aumento populacional explosivo, em precipitado avanço tecnológico e de nacionalismo militante, o tempo à nossa disposição é muito limitado. Devemos descobrir, e descobrir muito rapidamente, novas fontes de energia para suplantar a inércia psicológica da nossa sociedade, melhores solventes para dissolver a nossa grudenta tacanhez de um estado mental anacrónico.’

Segundo ele, indivíduos envolvidos num processo de desenvolvimento do seu potencial psíquico e intelectual com a ajuda de substâncias alteradoras de consciência ‘deveria[m] tornar-se apto[s] a adaptar-se melhor à sua cultura, rejeitando os seus males e o que nela haja de estúpido e irrelevante, aceitando com gratidão todos os tesouros do aprendizado acumulado, de racionalidade, interioridade humana e sabedoria prática. Se o número de tais indivíduos for suficientemente grande, se a sua qualidade for suficientemente alta, eles poderão estar aptos a passar do estágio da perspicaz aceitação da sua cultura para o de uma  perspicaz mudança e reforma.’

‘Será isto um esperançoso sonho utópico?’, pergunta-se/nos Aldous Huxley, para arrematar:

‘A experiência poderá dar-nos uma resposta, porque o sonho é pragmático; a hipótese utópica pode ser testada empiricamente. E nestes tempos opressivos uma pequena esperança não é seguramente uma visita indesejada.’

 

   ... 

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trechos dos capítulos Era uma vez a revolução e  Droga, Loucura e Vagabundagem  que compõem um romance dentro da crônica histórica romanceada a partir daqui

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VAGABUNDAGEM

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Jack Kerouac termina seu livro de crónicas Lonesome Traveler / Viajante Solitário (1960) com o ensaio O Vagabundo Americano em Vias de Extinção. Aquele vagabundo americano -

 

trechos dos capítulos Era uma vez a revolução e  Droga, Loucura e Vagabundagem  que compõem um romance dentro da crónica histórica romanceada sobre a era posterior a Jack Kerouac em que ainda foi possível vagabundear pelas estradas fora em trips interiores e exteriores antes do bloqueio das fronteiras ao turismo existencial ou "sem propósito" ou "a despropósito" - a partir daqui

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Enquanto crescíamos havia muita gente que acreditava que ainda iria viver num mundo totalmente diferente. Hoje em dia parece que tudo aquilo sequer existiu.

Quem jamais ousará de novo acreditar na regeneração da humanidade?

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1970-1975          2010-2015

40 anos esta noite

25 de Abril de Cabo a Rabo

relato inédito com dados exclusivos de fatos marcantes que precederam e sucederam a queda da ditadura portuguesa 1928-1974 com a cronologia em insights originais dos antecedentes do maior acontecimento da história portuguesa no último meio século, da madrugada dos filhos da madrugada, do chamado PREC (Período Revolucionário em Curso) e do retorno à "normalidade", a uma outra realidade. Ao mesmo fado?   

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