revoluciomnibus.com          

o livro do rock & da contracultura        

     e da eterna rebeldia 

com relato inédito do antes durante e depois do 25 de Abril de 1974 em Portugal

EBOOK  À VENDA em Setembro

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   ciberzine& narrativas de james anhanguera  

 

50 anos de  Flower Power

    A "bomba" estourou há 50 anos na Califórnia mas os ecos da explosão perduram e ela poderá surtir efeitos mais sensíveis em algum lugar do futuro.

    Menos de um ano depois da explosão do fenómeno hippie a partir de São Francisco da Califórnia Paris voltava a arder e as imediações de algumas universidades norte-americanas eram campo de batalha entre polícias e estudantes. As imagens de violência, ainda que entremeadas com flashes de flores nas roupas e nos cabelos compridos dos jovens e nos canos das espingardas das tropas de choque, comprovavam a impossibilidade de um mundo de paz e amor e honestidade e harmonia nas relações pessoais.

    Mas mesmo que o sonho tenha morrido quase à nascença no que ficou conhecido como o Verão do Amor o espírito da rebelião juvenil da década de 1960 contido nos princípios da chamada subcultura hippie, ou contracultura, permanece vivo. Os valores éticos e estéticos postos em circulação naquela época com o advento de uma nova consciência universalista e cósmica são os mesmos que norteiam a minoria inconformada com a corrida desaustinada do planeta para a hecatombe.

Veja e leia a seguir 

A doce rebelião dos jovens no verão do amor  

uma condensação do apêndice

 Rumo às ilhas da Utopia  

                   Da Teoria à Prática ou Vice-Versa    de         

   

o primeiro levantamento global profundo e alargado em língua portuguesa do movimento de juventude dos anos 60

          

         almanaque das ideias cores e sons do maior movimento de juventude da história

                               da era do rock & da contracultura

                                      o livro do rock   e da contracultura

     um vagalume vagamundo na era do rock e da contracultura

              narrativas em fricçao para tempos mornos

      vida aventureira de um jovem viajante no underground e no bas-fond entre os anos 1960 e 80

 

Cedo se apercebeu de que o remédio era cavalgar o tigre em que montara sem pensar muito no destino, cavalgar só para não ficar parado sobre a fera que a todo instante ameaça engoli-lo.

...

- Mas vem cá, tá tudo muito careta à nossa volta e os caretas desbundando tanto nas ondas mais vergonhosas que a gente até se retrai.

...

                       divertissement ilustrado, cronistória romanceada, docudrama

     

                         Trechos da versão PT- POR - versão on-line

   Rumo às ilhas da Utopia 

                                                     Rumo às ilhas da Utopia

    Primeiro levantamento global profundo e alargado do Movimento (pop, pop art, contracultural) do gênero em língua portuguesa a partir da vida e obra de Aldous Huxley.

                                                                                                                                 apêndice de

                                             

Por dentro e por fora em Londres

Terra da Dama Eletroacústica  

Medo atraso e rock nas berças  

Era uma vez a revolução   

Droga, Loucura e Vagabundagem

                          
                           

                          - Da Teoria à Prática ou Vice-Versa

 

                             Rumo às ilhas da Utopia  

                             Era uma vez as revoluções

                                            so listen to the rhythm of the gentle bossa nova

             narrativas de rock estrada e assuntos ligados

    

          

 

50 anos de Flower Power

 

   A doce rebelião dos jovens no Verão do Amor  

Janeiro de 1967. O jornal ‘alternativo’ The Oracle convoca os jovens de São Francisco da Califórnia para um Human Be-In (‘estar na onda’ humana) no parque de Golden Gate e vinte mil pessoas comparecem à primeira de uma série de Gathering of Tribes (congregação de tribos), onde se apresentam bandas da corrente tipicamente californiana do psychedelic ou acid rock - os já notórios Jefferson Airplane e Grateful Dead ou revelações como Big Brother and the Holding Company.

Travestidos com batas indianas o poeta beat Allen Ginsberg e o psicólogo Timothy Leary, guru do psicadelismo,  lêem poesia e trechos do Livro Tibetano dos Mortos e entoam mantras.

É o primeiro de uma série de eventos que irão dar a ideia de que São Francisco vive um Verão do Amor, quando numa localidade próxima, Monterey, acontece o primeiro grande festival de rock. Ali revelam-se duas das figuras de maior destaque do psychedelic rock, Janis Joplin, a vocalista da banda Big Brother and the Holding Company, e Jimi Hendrix, um Niccolò Paganini da guitarra eléctrica e criador de estilos próprios.

Rock psicadélico ou ácido, reuniões de tribos – o Verão do Amor é marco histórico de um vasto movimento de contestação juvenil que lança uma onda que se espalhará por quase todo o mundo ocidental e que deixou traços profundos nas ideias e no estilo de vida contemporâneos.

Era do Aquário, Nova Era ou ponto de partida da restauração da sociedade de parceria entre os dois sexos num revivalismo arcaico tecnotribal: o poder da flor e a também chamada revolução psicadélica parecem ter vindo para ficar. É o que se vê quarenta anos depois do tão decantado como denegrido Verão do Amor, com todo um legado de princípios (os da ecologia acima de tudo?) a contrapor-se aos ditames dos cavaleiros do apocalipse iminente, os condottieri da sociedade judaico-cristã androcrática (regida pelos homens ou por mulheres muito viris).

A utopia ainda é possível, clamam os arautos da sempre nova onda contra o pessimismo (ou realismo?) dos que não vêem alternativa ao sistema e aos nossos regimes de desgoverno às vésperas da hecatombe inevitável prevista pelo cientista inglês James Lovelock, formulador da hipótese de Gaia, para antes do final deste século.

 

A revolução das flores foi a maior rebelião da juventude da história. Um acontecimento único, de que ainda se tem e se irá talvez ter ecos crescentes através dos tempos.

A Terra vive em ebulição. Em fase de grande prosperidade económica mas em que os chamados valores tradicionais, que pareciam de pedra e cal, são cada vez mais contestados, com muitos conflitos regionais (mas de âmbito planetário) em África e na Ásia e sob a constante ameaça da hecatombe nuclear.

O mundo é então surpreendido por imagens de jovens com cabelos muito longos e desgrenhados, roupas em estilo, cores e formas estrambólicas, a passear de mãos dadas ou a beijarem-se sobre a relva em São Francisco. A rádio transmite a cada instante o que seria um excelente jingle de promoção turística daquela cidade, a canção San Francisco: se estás a ir para São Francisco nâo te esqueças de pôr algumas flores no cabelo...

 

O repórter Hunter Thompson resumia a quente e em directo o que se passava no que foi um dos destaques do noticiário no Verão de 1967:

A ‘revolução moral’ entre os jovens deslocou-se nos últimos dois anos da Universidade de Berkeley, através da baía de São Francisco, para o bairro de Haight-Ashbury, a capital do que está rapidamente a transformar-se numa cultura das drogas. Os seus novos habitantes são chamados hippies. Metade deles são remanescentes da chamada Geração Beat. A outra metade da população hippy tem 20 anos de idade.

Desprezam a piroseira, querem ser abertos, honestos, carinhosos e livres. Rejeitam a presunção plastificada da América do século XX e tudo o que possa ser ‘negativo’, como a política, que para eles é ‘apenas mais um jogo’ do sistema.  A qualquer hora do dia ou da noite um tipo cabeludo de óculos escuros toca este ou aquele género de música com uma capa de Drácula, uma bata budista ou uma roupa indígena. Na percussão estará um louro com chapéu de caubói e um blusão de Búfalo Bill e ao seu lado uma rapariga a dançar ao ritmo da música. Em volta haverá todo o género de doidos a balançar e a balbuciar ao som da música. Usam marijuana e LSD. Uma pílula de ácido custa cinco dólares, o suficiente para se ouvir a Sinfónica Universal com Deus no canto e o Espírito Santo na bateria. Consideram-se ‘uma coisa completamente nova no mundo, pá’, mas os velhos beatniks, muitos deles a facturar alto com a nova onda, prevêem que tudo o que hoje é espontâneo e verdadeiro em Haight-Ashbury irá em breve ser engolido pela publicidade e pelo comercialismo.

 

  O mesmo jornalista faria um balanço distanciado no tempo do que viu e viveu naqueles anos:


São Francisco em meados dos anos sessenta era lugar e tempo muito especial para se viver. Talvez tenha tido algum sentido. Talvez não, a longo andar. Mas nenhuma teoria, mistura de palavras, música ou memórias chega aos pés da sensação de que estavas lá e bem vivo naquele canto do tempo e do mundo. Não importa o que significasse. Havia a fantástica sensação de que tudo o que se fizesse era certo, de que estávamos a ganhar... E essa, penso, foi a alavanca – a sensação da vitória inexorável sobre as forças do Velho e do Mal. Não por meios vis ou num sentido militar; não precisávamos disso. A nossa energia prevaleceria por si só. Não fazia sentido algum lutar – do nosso lado ou do deles. Tínhamos todo o ímpeto; estávamos a surfar na crista de uma alta e bela onda...
  Cinquenta anos depois não há dúvida de que, como previram os velhos beatniks - tidos como os pais dos hippies – a revolução’ dos anos 60 foi engolida pela publicidade e pelo comercialismo.  Mas com o revival da última década e meia, após um longo período de quase total esquecimento, não só os ícones da estética pop’ mas a própria ética contracultural psicadélica estão por toda a parte. Dos anúncios para jovens, papeis de parede de computadores e das Barbies aos cabelos e roupas das lolitas nas raves e em luaus e ao World Wildlife Fund (de que Paul McCartney foi um dos primeiros apoiantes, em 1971) e Greenpeace.

Mas o próprio Hunter Thompson escreveria antes de pôr fim à vida em 2005:  

     Os EUA estão a esfrangalhar-se rapidamente. Deu-lhe finalmente o amok a esta em tempos orgulhosa nação de desordeiros e meretrizes e do American Way que está efetivamente Fora de Controle e não irá se recuperar. A pilhagem, a batota, o roubo e o fracasso tiraram o país dos eixos, do seu orgulho, do seu sucesso e da sua segurança. Os fundos do Tesouro acabaram-se e o mercado de ações nunca irá se recuperar, as nossas tropas no Iraque nunca mais voltarão. Você nunca mais vai arrumar emprego. Os seus filhos irão beber água suja até ao fim da vida. Irá perder a sua casa e toda a sua poupança. Nunca irá conseguir aposentar-se e até mesmo deixar de trabalhar, e será um servo, mais um serviçal de uma dessas enormes e anónimas e eternamente beligerantes corporações globais que irão governar o mundo por motivos e lucros próprios. 

Há 50 anos, guerra no Vietname. no ... Hoje, guerra na Ucrânia, no.... O quadro pintado por Thompson da Sede do Império antes de se suicidar é praticamente o mesmo no resto do mundo por ele dominado. Enquanto isso opinião pública e os seus mentores dividem-se em renhida polémica sobre os efeitos na vida contemporânea e para o futuro da ‘radiosa utopiados anos 1960. Para uns, etapa indispensável da evolução do homem. Para outros uma das causas dos seus males actuais, que serviu apenas para provar que a utopia é a antecâmara do totalitarismo e neocomunitarismos e drogas psicadélicas estão entre os mais nefastos processos de alienação ou lavagem cerebral.  

 

                          

 

Na estação das flores californiana uma das faixas mais tocadas nas estações de rádio de FM, que formam uma rede de transmissão de música alternativa como alternativa é a cultura disseminada pelos jornais alternativos para as comunidades alternativas, como o Oracle, é Love Me Two Times, de uma banda chamada The Doors. Quem nunca até à data ouvira falar de Aldous Huxley passou a conhecê-lo de nome e a procurar conhecer a sua obra, porque o líder da banda diz que tirou o nome do título do seu polémico ensaio sobre mescalina, As Portas da Percepção. Jim Morrison era estudante de cinema da Universidade da Califórnia em Los Angeles quando ouviu falar em testes gratuitos de drogas alucinógenas recém-descobertas feitos em institutos de pesquisa públicos e privados e órgãos do governo norte-americano, empenhados em usá-las como a ‘droga da verdade na luta contra o comunismo.

O rock é a máxima expressão da era electrónica e do psicadelismo e torna-se a própria razão de ser da indústria multinacional de discos. Bandas e respectivas equipas técnicas são versões modernas das antigas trupes de saltimbancos e protótipos das comunidades alternativas que já proliferavam também na Europa.

Os trovadores contemporâneos cujas vozes e guitarras chegam a todos os continentes através dos meios de comunicação de massa reencarnam o estilo e o espírito idealista dos ‘buscadores de trovasprovençais da Idade Média. Mas vistas à distância no tempo a atitude e a divisão do trabalho nessas micro-comunas e entre os membros da galáxia reflectiam ao mesmo tempo as suas ‘revolucionáriasbases de relacionamento, fundadas na criatividade individual e colectiva, na fraternidade e na solidariedade (ou espírito de parceria), e um perfeito enquadramento ao espírito da ‘terceira onda capitalista tecnocrática. E o pioneiro festival de Monterey – idealizado por John Phillips, membro dos Mamas and Papas e autor de San Francisco (Be Sure To Wear Some Flowers in Your Hair) -, é exemplo paradigmático disso.

Monterey Pop 

                  ficha de produção

 

  Ao lado de John Phillips na direcção do festival estava o amigo e produtor Lou Adler. O ‘escritório internacional era dirigido por Andrew Oldham, que lançou os Rolling Stones. No comitê de imprensa, Derek Taylor, futuro chefe do mesmo departamento da Apple, dos Beatles. O conselho directivo da organização incluía nomes que dispensavam apresentação, como Donovan, Mick Jagger, Paul McCartney (que sugeriu a contratação do novato Hendrix), Roger McGuinn, líder do The Byrds, Paul Simon e Brian Wilson, dos Beach Boys, que cancelaram sua apresentação e foram substituídos à última hora por uma das maiores revelações do festival, Otis Redding. O staff organizativo incluía uma equipa de filmagem dirigida por D.A. Pennebaker, o já notório realizador do documentário Don’t Look Back, com Bob Dylan, e que lá rodou Monterey Pop. Roger McGuinn chegou a destacar o eficiente esquema de segurança montado pelo chefe da polícia de Monterey como uma das razões do enorme sucesso artístico e técnico do festival.

                                            

No ano do Verão do Amor o maior fenómeno de massas de sempre, os Beatles, lança o que é tido como maior hino ao LSD, Lucy in the Sky With Diamonds, no LP Sgt. Pepper’s. É? Não é? Paul jura que é coincidência. Na sua capa vê-se Aldous Huxley próximo à actriz Mae West e a Timothy Leary, além de Edgar Allan Poe e outros seres bizarros do passado e de então.

Mas afinal o que tem a ver o sisudo Huxley, morto um lustro antes aos 68 anos de idade, com toda aquela onda tão exótica e bizarra?

Muito mais do que normalmente se pensa e diz.

Neto de Thomas Huxley, que entrou para a história como o cão de guarda de Charles Darwin, ao tornar-se íntimo de D. H. Lawrence o que foi, com o autor de O Amante de Lady Chatterley, um dos paladinos da revolta contra o puritanismo vitoriano nos anos 1920 começa a trilhar uma das maiores reviravoltas biográficas e profissionais da história da literatura universal. Huxley passa do racionalismo científico herdado do avô e da antiutopia do seu romance mais famoso, Admirável Mundo Novo, de 1932, à utopia psicadélica neotribal da sua última obra de ficção, A Ilha, lançada trinta anos depois.

Era tido como um dos mais notáveis eruditos e críticos da sociedade entre as duas grandes guerras mundiais, e como tal um dos escritores mais representativos do século XX, quando entre 1954 e 1956, após uma série de ensaios sobre história da religião e misticismo, escandalizou o mundo intelectual com a publicação de As Portas da Percepção e Céu e Inferno, dois ensaios inspirados nas suas recentes experiências com mescalina. O descobridor do LSD, o químico Albert Hofmann, acredita que Huxley só não recebeu o Prémio Nobel em função da sua campanha em defesa das drogas psicadélicas (termo que ajudou a cunhar) como possíveis instrumentos de alargamento da percepção e de mudança da condição humana.  

Na sua autobiografia Hofmann, que descobriu o LSD por acaso num laboratório farmacêutico suíço em 1943, ajuda-nos a enquadrar o advento das drogas psicadélicas – motores da ‘revolução dos anos 60 - como um dos componentes do que chamou de espírito da nossa era:

Considerando a sua descoberta no quadro de outras descobertas significativas do nosso tempo nos campos médico e técnico fica-se com a noção de que [o LSD] não veio ao mundo por acidente mas no âmbito de algum plano mais alto.

Na década de 40 foram descobertos os tranquilizantes, que são os antípodas farmacológicos do LSD, porque escondem os problemas psicológicos enquanto o LSD os revela, tornando-os acessíveis ao tratamento terapêutico. Nessa época descobriu-se também o uso da energia nuclear e foi desenvolvida a bomba atómica. Comparando-as às fontes de energia e armas tradicionais, uma nova dimensão de ameaça foi atingida, o que em termos de energia agregada corresponde à da psicofarmacêutica quando se compara o poder da mescalina [sintetizada em laboratório a partir de uma substância de um cacto mexicano no final do século XIX] ao do LSD.

A descoberta do LSD poderia estar destinada a ser um poder mais alto que surgia precisamente numa era em que o predomínio do materialismo com todas as suas consequências estava a ser inferido e ele ser um psicofármaco iluminador no caminho para uma nova era espiritual.

Timothy Leary, que dirigiu um departamento de pesquisas com drogas psicadélicas na Universidade de Harvard, considerava-as a chave da evolução humana rumo à consciência cósmica. O psicólogo tornou-se figura de destaque no noticiário internacional como ‘papa do LSD ao lançar uma palavra de ordem bastante diferente das gritadas em manifestações políticas, Turn On (Ligue), Tune In (Sintonize), Drop Out (Abandone o sistema), e com ela hastear a bandeira do psicadelismo como uma nova cosmogonia. Para ele pela experiência psicadélica o homem abandona o estágio de primata mental, ascende a um estado de percepção cósmica da existência e rompe com o monoteísmo judaico-cristão, o seu conjunto de dogmas culpabilizantes e castradores e a instituição familiar patriarcal, pilar da civilização ocidental.

São propostas implícitas na caminhada dos protagonistas das telefotos produzidas em São Francisco e que dão a volta ao mundo no Verão do Amor.

Elas baseiam-se na hipótese formulada pelo filósofo francês Henri Bergson pela qual a espécie humana buscaria a cada passo atingir um grau mais alto de complexidade e competência de raciocínio e acção.

O psicólogo canadiano Richard Bucke partiu desse ponto há um século para a teoria segundo a qual, após uma caminhada de milhões de anos para a percepção da consciência e depois da autoconsciência, o próximo passo do homem seria o da percepção da ‘consciência cósmica’. Fascinado pela ideia o seu colega norte-americano William James notou que na Índia a busca da consciência cósmica, ou dos ‘momentos místicos’, como também a define Bucke, é há muito uma ‘ciência’ consolidada.

 

A ilha de Pala, cenário de A Ilha - a ilha da Utopia de Aldous Huxley -, é um dos modelos do sonho de Verão dos jovens em 1967. Uma ilha assente sobre uma jazida de petróleo que não explora porque o considera desnecessário para o seu bem-estar. Pala não produz bens supérfluos e tem tudo o que precisa para a sobrevivência colectiva em pé de igualdade. Nela adotou-se os que seriam os melhores ditames do budismo, do taoísmo, do hinduísmo e do cristianismo, como a cultura de Pala teria o que há de melhor no Oriente e no Ocidente - a irracionalidade racionalizada, como a definiu o escritor.

Huxley põe num só tempo e lugar os princípios de reforma educacional que defendeu no ensaio Fins e Meios, publicado em 1937, e outros expostos na sua obra desde então: o Factor Superior Comum a todas as grandes religiões do mundo e o projecto de autogoverno responsável, análogo à organização política da ilha da Utopia de Thomas Morus, que há cinco séculos lançou as bases da literatura utópica. Pala herda também da pioneira Utopia o regime de trabalho em tempo parcial e adaptado ao potencial criativo e à compleição física de cada um e a estrutura económica baseada na produção e importação apenas de bens essenciais à sobrevivência humana.

E como na Utopia de Morus a instituição da célula familiar, que nas sociedades ocidentalizadas não passam de empresas em que os velhos, inúteis na unidade de produção, são relegados ao abandono e à solidão, é substituída pelos chamados Clubes de Adopção Mútua, em que as crianças podem ter quantas famílias desejem ou de que necessitem e os idosos também se ocupam da sua educação.

Lá está a política de controle demográfico e a noção de ecologia pela qual o homem deve viver integrado e em total harmonia com a natureza, ensinada desde as primeiras letras, além do princípio de solidariedade humana. E está também a medicina moksha (libertação em sânscrito), que leva os seus habitantes aos mesmos lugares a que se chega através da meditação e se baseia numa droga muito parecida com a mescalina.

 

Não há lugar para o sonho nem forma de atingir o progresso ideal defendido por Oscar Wilde quando afirmou que o progresso é a realização das utopias?

É o que o próprio Huxley parece sugerir com o desenlace catastrófico do romance.

Mas não o que pensam os jovens que à época do lançamento de A Ilha começam a viver o sonho psicadélico e que vêem na sociedade de Pala uma grande comuna e no romance um modelo de organização neotribal de feições arcaicas. Com palavras de ordem como aqui e agora e a imensidão e mansidão de Buda e do taoísmo, uma religião não castradora, nenhum vestígio de Estado e uma ética em que o trabalho é também fonte de prazer por se estar a produzir para a colectividade e não apenas algo que se faz porque é preciso.

Vão construir as suas Palas a que chegarão nos Woodenships de Crosby, Stills & Nash, viver o sonho, como atesta a viúva do escritor, Laura Huxley: Nos anos 60 as pessoas estavam explicitamente a tentar recriar o mundo à imagem da sociedade de Pala. Usavam psicadélicos para inspiração, abandonavam o excesso de materialismo e palmilhavam o caminho de regresso à terra.

A Ilha junta-se a um número crescente de livros que apontam para um novo caminho nas mochilas dos novos nómadas que passam a deambular aparentemente sem destino pelas estradas do mundo.

 

A América mudou muito desde a publicação de As Portas da Percepção, na alvorada do psicadelismo.

Negros mobilizam-se em número crescente contra o segregacionismo racial nos estados do sul e nos guetos das suas metrópoles e estudantes organizam-se para defender esses e outros direitos civis e lutar por reformas para que os seus estabelecimentos de ensino deixem de ser sucursais do mundo inócuo e hipócrita da casa paterna que James Dean rejeitava em Rebel Without a Cause (Fúria de Viver), o épico de Nicholas Ray. Manifestam-se contra o serviço militar obrigatório e a iminência da segunda guerra em que o ‘poder branco’ aprestava-se a envolver-se em dez anos para lutar contra um ‘povo amarelo’ com o objectivo de defender do comunismo a terra que roubou ao povo vermelho’, como cantaria a letra do musical Hair.

O novo presidente John Kennedy assumiu o poder rodeado de expectativas de uma nova era para a América e para o mundo. Mas o que se assiste é à prossecução da política agressiva de Harry Truman e Dwight Eisenhower, que a levaram ao relativo vexame de uma paz com honra’ na Coreia, com a confirmação de que os EUA entraram para ficar na Indochina, enquanto a CIA treina refugiados cubanos para uma tentativa de derrubar Fidel Castro, que nacionalizara as empresas americanas, rompendo relações com os vizinhos.

Cuba, os direitos civis dos negros e manifestações pacifistas contra a construção de abrigos antiatómicos e a eventualidade de uma escalada bélica no Vietname são temas de reuniões e manifestações promovidas por um número crescente de organizações estudantis enquanto a crise provocada pela descoberta dos mísseis soviéticos no Caribe faz o mundo tremer com a primeira forte ameaça de conflito nuclear.

Partem as primeiras grandes levas de tropas e a guerra do Vietname gera também conflitos na retaguarda. Os jovens queimam cartões de incorporação em manifestações pacifistas junto a postos de recrutamento e clubes militares. Malcolm X abandona a organização Muçulmanos Negros para ajudar a fundar o Partido dos Panteras Negras, que provoca motins nos guetos de Nova York e Los Angeles e intensifica as campanhas pelos direitos cívicos nos estados do sul.

Com o acirramento do processo também as universidades são cenário de motins, apesar da atitude por princípio pacífica dos estudantes. A proibição de actividades políticas no campus de Berkeley leva à ocupação das instalações da universidade e a um movimento nacional pela liberdade de expressão e contra cursos superiores de reciclagem de ex-combatentes. Em pouco tempo o movimento estudantil cinde-se em várias frentes, umas neo-marxistas-leninistas, outras trotskistas e uma a destoar de todas, podendo-se talvez caracterizá-la como anarco-hippie, chamada Yippie (Youth International Party, Partido Internacional da Juventude, ou Festa Internacional da Juventude, como os seus fundadores também pretendem ver entendido o termo party). As suas premissas estéticas são praticamente as mesmas que Aldous Huxley expôs no seu último romance. Uma contracultura.

Nasce a chamada Nova Esquerda, que pelos princípios pacifistas e não-violentos como pelas propostas de reorganização social é claramente influenciada pela nova visão proporcionada pelas drogas psicadélicas.

 

Intelectuais e cientistas movem intensa campanha para convencer deputados e senadores a não incluir o LSD, a psilocibina e a mescalina na lista de substâncias proibidas. Mas em 1965 o Congresso norte-americano aprova uma lei que veta o consumo de psicadélicos, que passam a ser produzidos e distribuídos clandestinamente. A organização Brotherhood of Eternal Love, nascida de uma comunidade hippie que adoptou o nome pelo qual São Francisco começa a ser também chamada, distribui LSD por todo o país e segundo alguns relatos faz fortuna com a importação de haxixe do Afeganistão.

O romance semi-autobiográfico Voando Sobre um Ninho de Cucos, de Ken Kesey, torna-se um best-seller e o escritor aplica o que ganha em direitos autorais na compra de ácido lisérgico para distribuição gratuita em cerimónias-festas de iniciação ao psicadelismo da sua comunidade, Merry Pranksters (algo traduzível como levados da breca). Apenas mais um nome incomum entre os da constelação de comunas que despontam por todo o país e particularmente no berço da chamada contracultura, a região de São Francisco.

A contracultura é a expressão da nova visão que se vislumbra do outro lado das ‘portas da percepção’ abertas pelas drogas psicadélicas. Como o descobridor do LSD e da psilocibina, Albert Hofmann, ou Aldous Huxley, muitos iniciados de inegáveis competência e seriedade nos campos da ciência e da cultura destacam a sua importância como instrumentos de desenvolvimento do potencial humano em termos de criatividade, de aumento do conhecimento por parte do indivíduo de si mesmo, dos seus semelhantes e da natureza e como auxiliar no tratamento de distúrbios psíquicos.

Um dos pilares da base teórica da ‘nova consciência’ era a obra do filósofo alemão Herbert Marcuse, que já com a cabeleira toda branca apoiou os jovens no que identificou como uma busca da erotização da vida, acreditando que por si só ela poderia levar à desintegração das instituições.

 

Pelas suas premissas transculturais, com a contracultura pela primeira vez a América vê-se a dar a volta ao mundo, de forma figurada e literal. Muitos jovens seguem o roteiro prescrito numa das suas leituras de mochila, a de Hermann Hesse em Viagem ao Oriente - algures a leste do Suez, ao longo da Rota do Haxixe para a Índia... Unidade cósmica, um curso de estudantes universitários de um ano no estrangeiro, conhecido familiarmente como O Grande Passeio Cerebral, o Expresso do Oriente, na sugestiva interpretação de Timothy Leary.

Postos de fronteira europeus registam um fluxo permanente de dez mil jovens ‘sujos’ e ‘desgrenhados’ a caminho do Médio Oriente e da Índia. Em 1966 noventa mil adolescentes eram dados como desaparecidos nos EUA. Em 1968 dois milhões de jovens viviam em comunidades hippies no país e mundo afora o antigo sinal de vitória de Winston Churchill tinha-se transformado em sinal da paz.

Prolongar a liberdade e o espírito de brincadeira da infância na idade adulta e fazer da cultura uma cultura da juventude é a proposta implícita do estilo hippie, segundo escrutinadores dessa cultura da ingénua-idade. Segundo eles ela rejeita as definições sociais estabelecidas de razão, progresso, conhecimento e realidade e proclama o abandono do egocentrismo e da compulsão da visão tecnológica do mundo. A sociedade americana é para ela um pesadelo em ambiente de ar condicionado, desumanizada e comercializada, essencialmente conformista nos seus costumes e princípios morais, hipócrita em termos de religião e homicida e repressiva em termos políticos: torna as drogas psicadélicas ‘libertadoras’ ilegais e não reprime o álcool e a nicotina ‘escravizadores’. ‘Detergente mental’ que purgaria a psique, dando origem a um renascimento espiritual, o LSD inspira e anima os jovens a ensaiar uma nova forma de comunidade e um novo estilo de vida na década psicadélica.

Londres, uma das capitais europeias da pesquisa médico-científica com psicadélicos, torna-se uma das sedes mundiais do psicadelismo. Através de múltiplas iniciativas revolucionárias nos mais variados campos da cultura, como as chamadas rádios piratas e as publicações underground, e em grande parte também graças ao papel galvanizador dos Beatles, a Inglaterra passa a ser o principal braço europeu do movimento jovem e Londres torna-se a Swinging City. Os Pink Floyd revelam-se e entram para a história do psychedelic rock e da arte multimedia com um espectáculo em que o cenário é um écran em que são projectados slides e filmes super-8 ‘psicadélicos’. A sua rampa de lançamento foi o Congresso sobre Dialéctica da Libertação, que teve a participação de remanescentes da geração beat inglesa (os angry young men) e dos seus herdeiros na revolta contra as Instituições Estabelecidas, como os antipsiquiatras Ronald Laing e David Cooper.

      Em 1967 os Beatles lançaram o antológico LP Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band mas também e pela primeira vez na história em directo pela TV via satélite, pela Mundovisão, o hino All You Need is Love, todo paz e amor, todo flores... Love, love, love...  

 

Mas nem tudo foram flores naquele ano e menos ainda um ano depois, quando a rebelião jovem atinge quase todos os quadrantes do mundo ocidental e em Praga chega ao fim uma Primavera política à qual não terá sido alheia a visão alargada que o LSD e/ou outras substâncias terão dado a alguns líderes da resistência anti-soviética. A imaginação no poder - prescreve-se nos muros de Paris.

A atitude de rompimento pacífico com o sistema de jovens de São Francisco a Copenhaga e a de protesto violento dos estudantes de Paris que erguem barricadas, lançam cocktails molotov e incendeiam carros em recontros com a polícia no maior movimento de juventude contra o status quo remetem de alguma forma à sua grande predecessora, a revolta antipuritana dos anos 1920, de que Huxley foi um dos mais destacados porta-vozes.

Por toda a América intensificam-se os confrontos entre manifestantes que exigem a Paz Agora e a polícia. Em quatro anos trinta mil soldados norte-americanos morreram no Vietname. Os conflitos por ocasião de uma grande manifestação em Chicago após a convenção do Partido Democrata para a escolha do seu candidato às eleições presidenciais, em que o pré-candidato que prometia o cessar-fogo imediato foi derrotado, são os mais sangrentos da era da rebelião pacifista que deveria ser pacífica, com cerca de trezentos feridos entre manifestantes e soldados da Guarda Nacional. Sete membros dos partidos Yippie, Weathermen e Panteras Negras, promotores da manifestação, foram presos. Os Panteras Negras e os Weathermen adoptam a luta armada. A palavra de ordem agora é matar para não morrer na luta contra o imperialismo e o racismo yankees na sua própria terra.

Em 1969 realiza-se o mega-festival de Woodstock, em que segundo os seus promotores cerca de meio milhão de pessoas viveram três dias de paz e amor e segundo outras versões viveu-se apenas um fim de semana de paz e lama. Os barcos de madeira da utopia psicadélica afundaram nas poças da chuva que caiu na quinta de Max Yasgur quando para os mass media nascia a Nação de Woodstock.

 

O sonho acabou, decretou John Lennon dois anos depois no obituário da era da utopia. No fundo as coisas não mudaram. Apenas vestimos roupas mais vistosas e coloridas e há muita gente de cabelo comprido a andar pela rua. Os mesmos pulhas, as mesmas pessoas de sempre continuam a mandar em tudo, denunciou.

Porquê acabou? Talvez porque numa jornada que deveria ser de total dissolução dos egos proporcionada pelas drogas psicadélicas também a cena contracultural subterrânea, no acender das luzes da ribalta da pós-modernidade, por natureza a era da informação, foi dominada pelo egoísmo (egotrip) de personagens de ponta. Que não passarão todavia de meros bodes expiatórios. A revolução será feita a brincar ou não se fará de forma alguma, sentenciara Abbie Hoffman, misto de activista antiintelectual e palhaço da contracultura. O sistema logo assimilou e transformou a contestação e rebeldia juvenil em mais um produto comercial. A própria insatisfação social e o espírito de revolta dos adolescentes tornaram-se mercadoria, considera o belga Guy Débord, autor do ensaio A Sociedade do Espectáculo e inspirador de uma das correntes (a)políticas do pós-Maio de 68, a Internacional Situacionista.

Ao dar um contorno moral para o que na verdade era um ódio sem forma definida ao sistema a guerra do Vietname foi factor decisivo para a explosão do Movimento em tempos de serviço militar obrigatório. Com o cessar-fogo, uma geração que acabou de crescer e amadureceu numa guerra externa contra o comunismo e interna pela paz começa a desmobilizar-se e, debilitado pela morte ou prisão de muitos dos seus líderes, o Movimento perdeu fôlego até extinguir-se.

A luta contra os vietcongs externos e internos foi das mais penosas e os órgãos de repressão recorreram a todos os meios para vencê-la, segundo algumas denúncias chegando a espalhar heroína pelos guetos para acabar com o Poder Negro.

A proibição de drogas levou à proliferação de novas redes de tráfico e à expansão de uma outra categoria sócio-profissional clandestina, a do dealer ou passador, até então limitada ao submundo mafioso. Com ele a chamada sociedade alternativa torna-se o que um estudioso caracterizou como uma caricatura criminosa do ethos comercial americano.

A partir do acaso ou da manifestação do Espírito da Era da relatividade na descoberta do LSD-25, a revolução psicadélica – pela própria natureza sem linha programática nem bases organizacionais – poderá também ter sido obra do acaso ou de uma combustão espontânea provocada pela propagação desse Espírito. Dava sinais de uma nova consciência cósmica em oásis como a quinta de Yasgur, no estado de Nova York - meio milhão de jovens amontoados por três dias sem nenhum tipo de policiamento e sem produzir nenhum incidente grave. Mas também reflectiu as patologias da ‘grande sociedade’ do presidente Lyndon Johnson e da ‘maioria silenciosa’ do seu sucessor Richard Nixon - abuso de drogas, violência, ego-trips ou manifestações místico-dementes como as da sempre lembrada seita de Charles Manson, responsável por uma chacina em Hollywood.

A própria frouxidão organizacional da chamada Nova Esquerda seria o preço a pagar pelo movimento de contracultura por perseguir o ideal da democracia participativa, segundo um analista.

Na América como em França, por exemplo, tais grupos foram em grande parte apolíticos ou antipolíticos e valorizavam acima de tudo a desorganização, o não-dogmatismo e a criatividade na busca de novos modelos de vida e de organização social. Mas uma revolução que almeja a ‘morte da política’, como defendiam grupos nascidos com os movimentos estudantis norte-americano e do Maio de 68 francês, não acontece por milagre e de um momento para o outro, como exigia o grupo de teatro Living Theatre em Paradise Now. Tanta utopia só iria resultar de uma lenta e gradual expansão da nova consciência de uma para outras ilhas de excelência até ganhar o mundo, conforme o prognóstico de Aldous Huxley, que era contra a propagação indiscriminada das drogas psicadélicas.

O abuso e a confusão de resultados levaram ao fim da busca da ilha da utopia de Huxley, considera a sua viúva, Laura, para quem não se pode simplesmente drop out e esperar que tudo mude. Aldous escreveu sobre como os jovens, num ritual de puberdade, são levados para as montanhas e iniciados na medicina moksha. O seu professor pergunta: vocês vão desfrutar desta experiência como desfrutariam de uma noite num concerto para depois voltarem à rotina habitual? A resposta não está no assombro de um dia, mas em encontrar valor e assombro nos actos de cada dia.

Ken Kesey dissera o mesmo de outro modo no amanhecer da revolução psicadélica: A minha mensagem aos hippies é a de que o LSD pode ser a porta para a abrir a mente a novos domínios da experiência mas muitos deles usam-no apenas para sair e voltar pela porta, sem tentar aprender algo com isso.

 As lutas da época eram por um modo de vida mais livre e saudável, mas os mecanismos neurotizantes reagiram e o resultado é o que se vê: uma sociedade ainda mais doentia, resume o cronista brasileiro Luís Carlos Maciel.

Era tempo de guerra fria e o maniqueísmo imperava. Para os mais velhos, rock (uma grande indústria), rebeldia (contra a direita e a esquerda tradicional) e propagação do uso de drogas, os três componentes básicos do Movimento, são novas formas subculturais de alienação da juventude ou as mais recentes e perigosas armas do poderoso arsenal propagandístico do imperialismo norte-americano para desestabilizar o comunismo.

No alvorecer da aldeia global, em que os meios de comunicação de massa começam a romper barreiras nacionais e intercontinentais, a contracultura une Ocidente e Oriente e Norte e Sul numa linguagem transcultural, a partir do inglês, o esperanto do mundo sob domínio anglo-saxão. A cultura ocidental reabsorve filosofias de vida e disciplinas banidas por dois milénios de obscurantismo católico e dois séculos de racionalismo mecanicista, como as chamadas ciências ocultas, esotéricas ou paranormais, o xamanismo e a cultura oriental. O mundo descobre traços comuns ou compartilháveis das mais diferentes culturas numa busca cósmica de união na diversidade.

Pelo progresso tecnológico e pelo passo em frente da psicadelia a aldeia global nascente torna-se espaço de cultivo de novas ou antigas ideias que equivaleriam a um salto de gigante em termos comportamentais, provocando cortes definitivos com anacrónicas instituições seculares e instituindo princípios de liberdade e igualdade entre raças, sexos e credos e profunda mudança no relacionamento do homem com a natureza. Quase nenhum campo da actividade humana passa incólume pela onda da nova consciência: o movimento de antipsiquiatria gerado por Ronald Laing e David Cooper e outros psicoterapeutas, por exemplo, pôs fim à ideia de que louco é indigente e de que a psiquiatria poderia perpetuar-se como mais uma arma de repressão ao direito à diferença.

 

      Há quem veja o último quarto do século XX como um ciclo de quatro estações: a Primavera do existencialismo europeu e do movimento beat norte-americano no pós-Segunda Guerra Mundial, o Verão do movimento hippie, o Outono da década de 1970 - o despertar de um sonho de Verão na Primavera da existência - e o longo Inverno de descontentamento por que estaríamos ainda a passar.

  Rumo a uma nova renascença ou à hecatombe?

 

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