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banco de dados revoluciomnibus.com do dossiê A Fome no Mundo e os Canibais
e ANHANGUERA PAPERS
A FOME NO MUNDO E OS CANIBAIS
Afirma uma firma que o Brasil confirma: ”Vamos substituir o Café pelo Aço”. Vai ser duríssimo descondicionar o paladar. Cacaso |
Este Admirável Mundo Louco - Ruth Rocha, 22ª impressão, ... ilustrações Walter Ono
A FOME NO MUNDO E OS CANIBAIS
CRISE 2008: DE CRACK EM CRACK A COMANDITA ENCHE O PAPO
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Oh como
os brancos são bons!
Come sono buoni i bianchi! |
sahel corno d'áfrica zimbabué uganda biafra ruanda quênia moçambique guiné-bissau somália angola zâmbia zaire (república do congo) nigéria burundi libéria sudão malawi magreb hutsi hutu serra leoa níger guiné equatorial bantu zulu áfrica do sul etiópia egito côte d'ivoire | CARDÁPIO
DESTA WEBPAGE Oh como os brancos são bons! Come sono buoni i bianchi! obscuridade nas trevas brasil-áfrica-áfrica-brasil daniel quinn buckminster fuller áfrica hype incidente em darfur come sono buoni i bianchi! josué de castro auxílios ao terceiro mundo guerra doença fome |
SÉCULO XIX : SÉCULO XXI
EM 100 ANOS A ÁFRICA SAI DA OBSCURIDADE PARA AS TREVAS E VOLTA PARA A OBSCURIDADE NAS TREVAS
A África Negra representou durante muitos séculos uma fatia obscura do mundo, terra de homens exóticos e estranhos; e que só começou a ser (pouco) desvendada (ao mesmo tempo em que era destruída) a partir do fim do século XIX.
veja, são paulo, 12 de novembro de 2008
Sarah Palin [candidata republicana à vice-presidência dos Estados Unidos] achava que a África era um país, não um continente.
isca lançada no oceano das especulações por um blogger que a mídia mordeu mas que de todo modo serve de mote para este blogger sobre o mar de penumbra que rodeia o continente perdido após um século de depredação
veja também aqui
BRASIL-ÁFRICA ÁFRICA-BRASIL
20 MILHÕES DE BRASILEIROS ESTAVAM - ABAIXO DA LINHA DA MISÉRIA -, OU SEJA - EM SITUAÇÃO ALIMENTAR GRAVE -, EM OUTRAS PALAVRAS - PASSANDO FOME - EM 2007 - SEIS MILHÕES A MAIS QUE EM 2004, SEGUNDO UM ESTUDO DO IPEA (INSTITUTO DE PESQUISAS E ANÁLISES APLICADAS) BASEADO NUMA PNAD (PESQUISA NACIONAL DE AMOSTRAS AO DOMICÍLIO) DO IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA). TAIS CIFRAS CORRESPONDIAM A QUASE UM DÉCIMO DA POPULAÇÃO DO BRASIL E A POUCO MAIS OU MENOS DOIS POR CENTO DO CONTINGENTE DE UM BILHÃO DE PESSOAS QUE PASSAM FOME NO MUNDO. ERAM OUTROSSIM POUCO MAIS OU MENOS EQUIVALENTES AO PORCENTUAL DA CONTRIBUIÇÃO DO BRASIL PARA O COMÉRCIO MUNDIAL, EM QUE OS ALIMENTOS TÊM PESO CONSIDERÁVEL. OS ESFOMEADOS SÃO 11 MILHÕES, DIZ UM ESTUDO DO IBASE (INSTITUTO BRASILEIRO DE ANALISES SOCIAIS E ESTATISTICAS) CITADO NO FILME GARAPA, DE JOSÉ PADILHA. 20 OU 11 MILHÕES É DE TODO MODO GENTE DEMAIS PASSANDO FOME EM UM PAÍS EM QUE
Brasileiro
passa fome
sem razão
Jornal do Brasil 22 de julho 1993
A fome não se explica pela falta de alimentos, constatou o Tribunal de
Contas da União baseado numa auditoria feita aos
Programas de Suplementação Alimentar do governo envolvendo
Fundação de Assistência ao Estudante (FAE)
Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (Inan)
Legião Brasileira de Assistência (LBA) e
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
EM CADA PROGRAMA FORAM OBSERVADAS IRREGULARIDADES E FALHAS GRAVES
Com uma média de 59 milhões de toneladas de grãos (arroz, feijão, trigo,
milho, soja) e a disponibilidade interna desses produtos e dos demais
produtos tradicionalmente consumidos no país é superior às necessidades
diárias de calorias e proteínas da população.
Dispõe-se de 3 280 calorias e 87 gramas de proteínas per capita/dia para
uma necessidade de 2 242 calorias e 53 gramas de proteínas.
Robert Anton Wilson dá o bote em The Illuminati Papers e dá o mote das premissas de
A Fome No Mundo e os Canibais::
Duas pessoas eminentemente inteligentes, R. Buckminster Fuller e Werner Ehrard, propuseram que podemos e devemos abolir a fome até o final deste século. [século XX] Este objetivo é racional, prático e desejável, de modo que, naturalmente, foi denunciado como utópico, fantástico e absurdo.
... se gastaria muito menos dinheiro em tremendas imbecilidades organizadas como a corrida aos armamentos, sobrando bastante mais para investir em projetos fomentadores de vida.
História do novo mundo, história da perpetuação dos erros humanos, dos enganos da civilização ocidental - fome no mundo. Erros de interpretação. A presunção do intérprete, que impõe a sua visão. Malthusianos e antimalthusianos, isto e aquilo. Isto ou aquilo. Terra arrasada e acabou. Não se fala mais nisso.
Chegados à África Central, rumam
para o interior, iniciando a sua aventura, que é essencialmente a da
deslocação cultural, a passagem de uma cultura para outra.
A PASSAGEM DE UMA CULTURA PARA OUTRA: OS CANIBAIS
QUEM CANIBALIZA QUEM OU O QUÊ
CANIBALISMUS / ESCRAVISMO:
eis o que de uma forma ou de outra funda o Brasil: regime de devorar ou
"gastar gente" - usar e jogar fora, como os índios, os negros. Darcy
Ribeiro dizia que ele torrou 10 milhões de almas.
dicas do cardápio de A Fome no Mundo e os Canibais da perspectiva
Oh como os brancos são bons!
Come sono buoni i bianchi!
ISHMAEL Como o Mundo Veio a Ser o Que É DANIEL QUINN 1992
[ a história do homem é a de Pegadores e Largadores, uma encenação]
Alguns pensadores pessimistas do século 19, como Robert Wallace e Thomas Robert Malthus, olharam para baixo. Mil anos antes, até mesmo quinhentos anos antes, provavelmente nada teriam notado. Mas o que eles vêem agora assusta-os. Era como se o solo se precipitasse ao seu encontro - como se estivessem a despenhar-se. Pensam um pouco e concluem: "Se assim continuarmos depararemos com grandes problemas num futuro não muito distante." Os outros Pegadores ignoraram as suas previsões.
"A intensificação da produção no sentido de alimentar uma população aumentada causa um aumento ainda maior na população." Os Pegadores respondem: "Tudo bem, só precisamos de colocar gente a pedalar na criação de um método fiável de controle de nascimentos. Então a Águia Pegadora voará para sempre."
... mas não enquanto as pessoas da tua cultura estiverem a encenar esta história.controle de natalidade
"... sempre deixado para o futuro. Ele foi deixado para o futuro quando éreis três bilhões em 1960."
"... enquanto as pessoas da tua cultura estiverem a encenar esta história. Enquanto encenarem elas esta história continuarão a reagir à fome aumentando a produção de alimentos. Viste já os anúncios para o envio de alimentos aos povos famintos do mundo?"
"Sim."
"Viste já anúncios para o envio de contraceptivos para algum lugar?"
"Não."
"Nunca. A Mãe Cultura tem dois pesos e duas medidas. Quando lhe falamos em explosão populacional ela responde controle populacional global mas quando lhe falamos em fome ela responde aumento da produção alimentar. Na verdade porém o aumento da produção alimentar é um evento anual e o controle populacional global é algo que jamais acontece."
Quem se recusar a ocupar um lugar na história não terá alimento - Mãe Cultura por oposição a Mãe Natura - Daniel Quinn: Ismael
(...) enquanto encenardes uma história que diz terem os deuses feito o mundo para o homem o usar como muito bem o entenda (...) a Mãe Cultura exigirá aumento de produção para hoje, prometendo controle populacional para amanhã.
(...) A fome não é apanágio exclusivo dos humanos. Todas as espécies estão sujeitas a ela, em qualquer parte do mundo. (...) uma população que ultrapassou os seus recursos, apressa-se a enviar-lhe alimentos do exterior, garantindo assim que na próxima geração haja ainda mais pessoas morrendo de fome. Como nunca se permite à população reduzir-se a ponto de poder sustentar-se através dos seus próprios recursos (...)
(...) Os seus colegas do mundo todo entenderam perfeitamente o que dizia ele, mas têm o bom senso de não contestar a Mãe Cultura (...)
... não é bondade nenhuma trazer comida do exterior para conservar o seu número em quarenta mil. Isso só garante a continuidade da fome.
A propósito desse Quinn se poderia colocar
assim: para alguns autores DO CONTRA vivemos a encenação de UMA
HISTÓRIA.
mais dicas do cardápio de A Fome no Mundo e os Canibais da perspectiva
Oh como os brancos são bons!
Come sono buoni i bianchi!
OPERATING MANUAL FOR SPACESHIP EARTH
R. BUCKMINSTER FULLER 1969
Surgiu então Thomas Malthus, professor de economia política da Companhia das Índias Orientais dos Grandes Piratas, que disse que o homem se estava multiplicando a um ritmo geométrico enquanto os alimentos apenas se multiplicavam a um ritmo aritmético. E finalmente, trinta e cinco anos depois, foi a vez de Charles Darwin, o servo especialista dos G.P.'s, que explicando a sua teoria da evolução animal disse que a sobrevivência era só para os mais aptos.
África-Brasil
a face cruel do paraíso terrestre na fazenda cafeeira: o calor sem trégua, os mosquitos, o regime de semi-escravidão, a prepotência dos patrões. - Sérgio Mauro em O Estado de São Paulo sobre Giovannina, de conde Afonso Celso (1896)
"capitalismo selvagem" significa
modernização na marra.
os "atravessadores" - "ideológicos" -
das campanhas de auxílio durante as guerras de libertação africanas
- Alguém aqui está ciente da existência da África?
- Angola? Sei... onde é que fica mesmo?
- Desapareceu do mapa do século XXI como nele mal figurou até o século
XIX. Falta água encanada mesmo nos melhores hotéis de Lagos, Nigéria.
Luanda? Onde é que fica Luanda?
ÁFRICA HYPE
mythos de papel e celulóide - leões de papel e celulóide
Kurt, Heart of Darkness, Joseph Conrad, fantasmagoricamente real África
- os mitos da selva - Tara, Fantasma, Hollywood -
ficaram lá no século XX e sem serventia volta-se ao século XIXantes do Mapa Cor-de-rosa.
FERRERI OBCECADO PELO TEMA
COMIDA, ALIMENTAÇÃO E CONSUMISMOA gula de um grupo de gourmands num retiro de fim-de-semana de degustação culinária leva a uma razia. LA GRANDE BOUFFE era um soco no estômago. De direto.
No final de L'ULTIMA DONNA - la MUTI, que passa o filme nua em pelo, CORTA O Pênis de Depardieu com uma serra elétrica de pão na cozinha do cubículo de ambos numa das praças fortes da Italia bene classe média de operários, Milano 2, na linha do primeiro grande tiro do barão Silvio Berlusconi, a especulação imobiliária speculazione edilizia
Dillinger è Morto É UMA LAUTA REFEIÇÃO. O olfato e o ouvido. Piccoli, com pinta de executivo settled down, passa o filme fazendo janta para um em uma das cozinhas mais bem equipadas e fornecidas do mundo, inclusive um revólver embrulhado no jornal do dia da morte de Dillinger. A mulher, Anita Pallenberg, mulher de Keith Richards, dorme. O som de fundo, enquanto Piccoli cozinha e restaura o revólver enferrujado, é o de uma estação de rádio italiana tocando o que há de mais belo ou divertido no repertório daquela nuova canzone dos anos 1960. Vê-se o filme e escuta-se rádio. Com muito gosto. Após a janta, ao que tudo indica sem uma ponta de ira ou raiva, Piccoli mata la Pallenberg dormente com um tiro da arma restaurada e sai. Chega a uma praia, nada e se oferece para trabalhar como cozinheiro num iate.
África e A grande farsa da democracia burguesa ocidental.
No ARCO de uma geração põe-se um continente inteiro a lidar com valores a que é totalmente estranho e a que se chegou na Europa após milênios de história.
Do kimbu, a aldeia kimbunda, de tanga a lankar (comer) o seu funji (pirão), acossados pela fome, por toda a sorte de doenças e milhões de minas terrestres convivendo via satélite com o kimbu global. Como se dá o exercício do "direito" do voto universal em tais circunstâncias se no Brasil, onde mais de 100 milhões de pessoas com genes transplantados desde há meio milênio da Europa e Oriente Médio e Japão, é como se não fora familiar, congênito.
E aqui um dado fundamental, tratando-se de nomes e números, é o do grau de consciência desse direito, que por ser ainda obrigatório - ou dever na marra - torna-se matéria muito complicada, que implica já não só o fato de o cidadão analfabeto ou alfabetizado que pode exercer o tão propalado direito (e dever) e dever (dever) cívico ser na grande maioria (70 por cento da população, segundo o Inaf/2008) analfabeto funcional. Pode-se ponderar sem dar margem ao engano que uma ínfima minoria - apesar de como a quase totalidade pertencer ao coro que anda entoando o refrão POLÍTICO É TUDO LADRÃO SAFADO -, os pouquíssimos milhões que lêem umas centenas de livros e publicações periódicas por ano, ter realmente alguma idéia do que está fazendo. E como por aqui se vê como em termos de estatísticas sociais África e Brasil ou vice-versa são grosso modo ou mais ou menos a mesma coisa, torna-se muito palpável que, de novo na obscuridade - agora laboratório de investimentos de tigres asiáticos (China a impingir-lhe suas armas e quinquilharias pirateadas) - África é apenas e só, no máximo, um contra senso, um paradoxo. Ou nem isso.
problemas reais, escaldantes, das populações: fome, guerra, refugiados e urbanização.
refugiados permanentes: um continente no continente, entre cinco a dez milhões de pessoas
... no ano 2000 mais de metade da população do planeta viverá nas cidades, a maior parte das quais serão mais perigosas que os efeitos de uma guerra atômica, selvas urbanas dilaceradas por novos, terríveis problemas, grande crise de identidade, de cultura e de emprego
Cidade do México: cidade-pesadelo
Cairo: um formigueiro humano, a que diariamente afluem 5 milhões de habitantes da periferia
Nas maiores cidades dos Estados Unidos 45 por cento dos jovens negros não têm emprego e 16 por cento dos adultos são analfabetos.
Cidades africanas e asiáticas tornaram-se inabitáveis pelo excesso de população e a falta de serviços, nomeadamente um mínimo de infra-estrutura sanitária, criminalidade crescente e mal-estar geral.
Estudiosos da África, Ásia e Américas fizeram notar que os problemas das cidades do futuro não serão apenas derivados da poluição, do tráfego, desemprego, da burocracia ou das drogas mas sobretudo da dissolução dos valores atuais, do desenraizamento das instituições, da ignorância e da pobreza.
Habitantes de muitas cidades africanas caminham por três dias até outras regiões em busca de lenha para cozinhar.
Carga Infernal, filme de Fernando d'Almeida e Silva
Jornal do Brasil 28 de junho de 1995
a carga de cereais, fruto da "ajuda humanitária" que o navio transportava, financiada por fundos europeus, vem de Chernobyl e está altamente contaminada - mas permitem aos transportadores embolsar uma pequena fortuna. (...) produtos importados no limite da validade que vão parar em Angola e Moçambique. A Europa até manda comida velha, mas não proporciona trabalho aos africanos quando eles chegam mais perto.
FERRERI: COME SONO BUONI I BIANCHI
CRITICA AOS AUXÍLIOS À ÁFRICA
ROMA 9 JUNHO 1987
O diretor italiano Marco Ferreri acabou de rodar nos desertos do Marrocos e da Mauritânia um filme, segundo disse, "com um final feliz".
(...) e compraram farinha de peixe e todas aquelas porcarias que se dão aos esfomeados.
Para se assegurarem que os seus auxílios chegariam aos destinatários e não seriam desviados para alimentar o exército local, enriquecerem os comerciantes ou serem deixados a estragar, como aconteceu tantas vezes, decidem entregá-los diretamente.
Chegados à África Central, rumam para o interior, iniciando a sua aventura, que é essencialmente a da deslocação cultural, a passagem de uma cultura para outra.
A PASSAGEM DE UMA CULTURA PARA OUTRA: OS CANIBAISQUEM CANIBALIZA QUEM OU O QUÊ
O pessoal está achando que os protagonistas acabam por ser comidos, embora o diretor nada tenha revelado sobre o "final feliz" do filme. Disse apenas que "a conclusão do filme pode ser definida como política, ou humanitária".
Contra todas as evidências Ferreri declarou que não pretendeu "fazer ironia com as grandes organizações internacionais de auxílios aos povos africanos esfomeados, que morrem por causa da seca e da carestia".
"O que eu quero dizer através do filme é que na minha opinião uma caridade desse tipo não serve a quem a recebe, apenas dá prazer a quem a faz. Seria muito mais caridoso matar Reagan ou alguém como ele."
"Penso que seria melhor deixar aquela pobre gente morrer em vez de ajudá-la como a ajudamos.
"Quarenta anos atrás tínhamos as colônias e os negros eram apenas 'mão-de-obra'. Agora tornaram-se 'consumidores'. E nós levamos farinha para países em que nunca se comeu pão e quando o comem, por não estarem habituados, passam mal; levamos a farinha láctea e as mães africanas, que pagam 750 000 escudos por uma lata, vêem-se obrigadas a fazê-las durar o mais possível, acrescentando-lhes água demais, dando a seus filhos mais água do que leite - e ei-los com as famosas barrigas inchadas que todos conhecemos das fotografias."
Ele é radicalmente contra as grandes campanhas humanitárias internacionais de auxílio a populações africanas vítimas de desastres naturais ou de guerras:
"Os grandes impérios coloniais não acabaram. Transformaram-se em grandes impérios econômicos. A atroz miséria africana continua sendo o seu território de conquista. Engordam à custa dos esfomeados, através dos auxílios, e não das armas, como dantes. Inventam a nova escravidão da fome."
Esperando "que um dia os africanos encham o saco de serem ajudados" o diretor afirma, categórico, que "as expedições de socorro deveriam ser feitas aos nossos próprios países, a caridade deveria ser dirigida aos nossos próprios velhos, e não ser feita apenas para transformar africanos livres em assistidos permanentes que se comem uns aos outros".
Para se informar sobre o assunto, segundo ele
"Basta viajar, conversar, olhar e pensar que por exemplo agora está na moda a ecologia, nos esforçamos por entender a truta e as suas razões, mas não temos nenhum respeito pelos outros seres humanos, impomos-lhes a nossa cultura e os nossos hábitos, inclusive alimentares."
O filme é fruto do intenso debate que se vem travando na Itália em torno dos auxílios ao Terceiro Mundo.
Seus lautos investimentos a fundo perdido em três continentes do sul do planeta foram ensombrados por uma série de denúncias de favorecimentos de empresas que operam no setor, desvios de fundos e da má qualidade dos produtores alimentares enviados, além de projetos técnicos inúteis ou descabidos, como os que envolveram deslocações em massa de etíopes das suas para outras regiões.
FERRERI: COME SONO BUONI I BIANCHI
AUXÍLIOS À AFRICA: POLÊMICA SOBRE FILME DE MARCO FERRERI
18 janeiro 1988
o último filme de Marco Ferreri estreia a 20 de janeiro em Paris em meio a muita polêmica.
"O diretor vai além das convenções com uma provocante lucidez radical, e sempre provocou escândalos, mas desta vez não reflete sobre a "comilança" consumista mortífera ou sobre a solitária derrota do macho: conta a simples história de europeus que vão à África levar comida e acabam por ser comidos por africanos" - revela La Stampa, o jornal diário de Turim.
"Conta-a para fazer polêmica contra a nova caridade branca, para desmistificar a grande campanha internacional que comoveu o mundo, mobilizou milhões de pessoas piedosas, de boa vontade, e induziu os governos a doar grandes somas de dinheiro por causa da África esfomeada e com sede."
"Fazem-se documentários sobre a fome no Sahel, mas ninguém fala das condições de abandono dos velhos nos nossos hospitais, das nossas misérias" - diz Ferreri, para quem "a aventura caridosa também é uma operação colonial".
Michel Piccoli (La Grande Bouffe, Dillinger è Morto)
narra as vicissitudes de uma campanha de auxílio ao Sahel chamada
Operação Anjos Azuis.
Três cidades da Itália, França e Espanha fazem uma coleta entre crianças das escolas para estarem seguros de que os alimentos comprados com o dinheiro coletado chegarão de fato à população a que se destinam. Os organizadores da campanha decidem entregá-lo diretamente mas dois deles acabam por ser comidos.
"Não sou o único a pensar que no futuro os povos do Terceiro Mundo dominarão o mundo ocidental. Mais tarde ou mais cedo irão nos comer. E se ainda estiver por aqui não vou chorar por causa disso. Para mim nossa civilização deveria acabar rapidamente."
"No passado existia a operação colonial, a aventura exótico-colonialista, com legionários, camelos, fortins nos desertos, imposição aos outros de uma civilização. Hoje existe a Operação Caridade, a aventura exótico-benéfica, com comida, remédios, know-how, novas culturas, a mesma imposição aos outros de uma civilização."
"São apenas válvulas para o sistema ocidental, que servem aos negócios, a exorcizar a revolta negra, a provocar a boa vontade dos jovens e dos inquietos, a conquistar territórios ou mercados: é a mesma coisa; o sistema econômico não mudou."
A CONQUISTAR TERRITÓRIOS OU MERCADOS
O filme, para Alberto Moravia, é "mais sobre a Itália que sobre a África". Para ele "ajudar a médio ou longo prazo é melhor que não ajudar".
Prevê-se que em 1988 a Itália invista 4 BILHÕES de DÓLARES em auxílios ao Terceiro Mundo.
roma 7 maio 1988
ESCÂNDALOS ITALIANOS NO TERCEIRO MUNDO
Come Sono Buoni I Bianchi é uma espécie de documentário com que Marco Ferreri quis envolver a opinião pública italiana no debate sobre os auxílios dos países industrializados ao Terceiro Mundo, que se tem circunscrito aos especialistas e aos meios políticos. Tentativa malograda. Na Itália o filme foi um fracasso de bilheteria e foi retirado das salas duas semanas após a estréia.
A atual política de cooperação e auxílios de emergência foi impulsionada pelo Partido Radical, que em 1979 iniciou uma campanha com o objetivo de alertar as autoridades e a opinião pública para a "fome no mundo", expressão que se tornaria célebre.
Nos nove anos que se seguiram registrou-se uma subida em flecha dos investimentos no setor, numa dinâmica que não esconde a determinação da diplomacia romana em de algum modo obrigar os países hoje ajudados, detentores de preciosas reservas de matérias-primas, a futuras relações econômicas privilegiadas com os seus protetores.
(...)
o arroz da campanha Noi Con Voi estava estragado e pertencia a uma remessa de 25 mil toneladas transacionada fraudu-lentamente com a cumplicidade de meia dúzia de funcionários do Fundo de Auxílios Italianos, entre eles o seu diretor-geral Claudio Moreno, e envolvendo
várias empresas (entre as quais a do Noi Con Voi).
o subsídio da CEE era sobre a exportação e no total teriam embolsado 35 milhões de dólares com a transação"O auxílio pode levar ao caos e mesmo sufocar os países que os recebem.
São dezenas de países doadores, de agências mundiais, de organizações de voluntários, centenas de projetos variados, que muitas vezes colidem uns com os outros." - Pedro Pires, primeiro-ministro de Cabo Verde
"Preferimos os auxílios modestos mas dilagados no tempo, programados com antecipação e por isso inseríveis nos nossos planos a imprevisíveis explosões de generosidade que dificilmente absorvemos."
roma, 12 fevereiro 1988
ALESSANDRO NATTA secretário-geral do Partido Comunista Italiano CRITICA AUXÍLIOS AO TERCEIRO MUNDO
os auxílios ao Terceiro Mundo "são migalhas dos excedentes de capital da corrida armamentista".
"Na atitude dos colossos financeiros, tecnológicos e comerciais, como na de muita imprensa eurocêntrica, entreve-se uma concepção de segurança como um processo que diz respeito apenas ao 'centro', não se hesitando em espezinhar a periferia."
A corrida entre os EUA e a URSS fez com que o Terceiro Mundo sofra "de forma inenarrável".
Parte considerável das dívidas dos países em vias de desenvolvimento resulta das importações de armas. Segundo cálculos da ONU, 20 por cento dos débitos.
A Itália investiu desde 1980 2,5 bilhões de dólares na cooperação para o desenvolvimento. Em 1986 tornou-se o país da OCDE com o maior índice de despesas com o Terceiro Mundo em relação ao PIB."É uma glória para Francesco Forte manter um pequeno ditador que encheu as prisões do seu país de gente cujo único erro é o de não pertencer ao seu clã e de não pensar como ele?"
COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE AUXÍLIOS ITALIANOS À ÁFRICA
"OBRIGARAM-NOS A PRODUZIR O QUE NÃO CONSUMÍAMOS E A CONSUMIR O QUE NÃO PRODUZÍAMOS", DISSE EM ROMA O PRESIDENTE DE UGANDA, YOWERI MUSEWENI, A PROPÓSITO DA CRISE NA ÁFRICA.
COLÓQUIO "CRISE africana e Intervenção Italiana" no Grand Hotel
"Motivos históricos e ambientais estão na base da situação dramática com que se debate a maior parte da população do continente, entre os quais o colonialismo do passado."
reunião da FAO para ajuda à África: mais um ato de show-off dos desenvolvidos?
projetos de auxílio a vinte países africanos atingidos pela seca em um dossiê: medidas para reestruturação agrícola. Custo US$ 200 milhões. Como obtê-los?
Os próprios responsáveis pelo recém-criado Departamento de Operações de Urgência da ONU afirmam que os países desenvolvidos ajudam o Terceiro Mundo não por idealismo mas por necessidade de esvaziar os seus depósitos de estoques reguladores de produtos alimentares: os depósitos estão abarrotados por questões de política de mercado.
Auxílios em gêneros não vão servir para acabar com a fome. Só uma reestruturação da produção agrícola. É evidente o empenho dos países do Norte em, através dos auxílios, se distinguirem aos olhos da opinião pública pela generosidade para com os necessitados do Sul. Show-off ou blefe de ricos esbanjadores, é o que está por trás da dança de cifras e toneladas de alimentos doados, enquanto perspectivas de mudança da situação no Terceiro Mundo permanecem imutáveis.
Em troca dos benefícios, os países agraciados são pressionados a aderir às políticas de livre mercado.
Mais de quatro milhões de pessoas afligidas pela fome em Moçambique carecem de 700 mil toneladas de cereais.
Pontes aéreas ou lançamentos de provisões com pára-quedas deverão ser organizadas para acudir as populações flageladas.A MAIOR PARTE DOS FÁRMACOS É INÚTIL
ROMA, 5 AGOSTO 1986
250 remédios bastariam para combater as doenças mais frequentes no planeta
a maior parte das cerca de 50 mil marcas comerciais de produtos farmacêuticos é inútil e muitos deles são até prejudiciais à saúde.
"A proliferação dos fármacos e o uso indiscriminado que deles se faz é um sintoma alarmante da aceitação acrítica de uma lógica que em última análise é a da morte" - teólogo Giannino Piana.
O Parlamento Europeu aprovou uma norma regulamentando a exportação de fármacos para países do Terceiro Mundo destinada a combater uma verdadeira tragédia provocada pela venda a países subdesenvolvidos de remédios com escassas informações terapêuticas na embalagem e que frequentemente são ineficazes, quando não prejudiciais pelos efeitos colaterais que provocam.
Inúmeras indústrias farmacêuticas européias exportam para o Terceiro Mundo enormes quantidades de produtos que não obtiveram autorização de venda nos respectivos países ou que foram retirados do mercado por terem sido superados ou pelos efeitos colaterais que provocam.
"O Terceiro Mundo é a lixeira da indústria farmacêutica", afirma a irlandesa Mary Banotti, um dos redatores da regulamentação.
A Europa Ocidental detém 32,5 por cento de um mercado que fatura cerca de US$ 100 bilhões de dólares/ano e exporta 45 por cento da sua produção.
1988... 1998... 2008...
18 janeiro 1988
"Fazem-se documentários sobre a fome no Sahel, mas ninguém fala das
condições de abandono dos velhos nos nossos hospitais, das nossas
misérias" - diz Ferreri, para quem "a aventura caridosa também é uma
operação colonial".
30 julho 2009
"Uma notícia surpreendente: 3 milhões de italianos vivem na miséria absoluta e milhões são pobres. Um quarto da população da Região Sul da Itália é pobre."
Incidente em Darfur
1983... 2003... 2008...
problemas reais, escaldantes, das
populações: fome, guerra, refugiados e urbanização.
refugiados permanentes: um continente no continente, entre cinco
a dez milhões de pessoas
a Operação Caridade, a aventura exótico-benéfica dos anos 2003, e 4, e 5 e tempo afora chama-se Darfur, no Sudão, 130 campos de refugiados com centenas de milhares de crianças subnutridas, e onde já morreram 300 000 pessoas.
Como se vê pelos trechos de parte do banco de dados revoluciomnibus expostos acima e abaixo,
RELATÓRIO DO FONDO ITALIANO CONTRO LA FAME
ROMA 2 maio 19865 mil toneladas de farinha para o Sudão, país ainda com zonas de subnutrição endêmica
102 toneladas de arroz
e também estruturas de armazenamento, ônibus, ambulâncias e unidades sanitárias móveis.Folha de São Paulo 19 de julho de 1991
Migração envenena relações entre os Estados africanos
Refugiados se tornam dado político importante na África
René Le Marchand
prof. Universidade da FlóridaSudão, neste momento, nos mostra a extensão do desastre que ameaça as populações do sul do país, após uma seca catastrófica
Cartum, a capital, barra ajuda internacional às áreas mais atingidas pela fome, confiando na redução da resistência do sul à dominação do norte, onde está o governo do general Omar Hasan al-Beshir.Folha de São Paulo 2 DE MAIO DE 1993
ÁFRICA DESAPARECE NA GEOPOLÍTICA DE MERCADO
José Sachetta Ramos
A saída dos militares norte-americanos da Somália põe fim a uma encenação da Nova Ordem Mundial. Intervenção "humanitária" não põe fim a problemas sociais.
Washington poderia ter optado por intervir no Sudão ou Etiópia, países vizinhos, com guerras civis e milhões de esfomeados.Sudão: islamização forçada de animistas e cristãos do sul levou a um conflito de três décadas de duração.
Etiópia e Sudão iniciaram programas de irrigação e drenagem das águas do Nilo Azul, que nasce na Etiópia, une-se ao Nilo Branco no Sudão e desce para o Egito. Ao frear a irrigação, as guerras civis adiaram um conflito ainda maior.
A FRAGILIDADE DA DEMOCRACIA AFRICANA
GAZETA MERCANTIL 15 DE FEVEREIRO DE 1996
Michael Holman
Financial Timesguerra no Zaire, Libéria, Sudão, Ruanda
vai para trinta anos que o caldo engrossou, como força de expressão, por aquelas lendárias paragens de minas de reis salomões. A guerra de milênios ali junto do Corno de África, em sua face contemporânea, estourou em 1983, quando os católicos do sul finalmente se rebelaram contra o domínio dos muçulmanos do norte numa guerra em que já morreram 2 000 000 de pessoas. 300 000, 2 000 000, 2008 e 9 e tempo afora são só números
como se constata por dados incluídos abaixo, troca-se Angola por Sudão ou Libéria ou..., 1983 ou 2015 e não se muda uma vírgula quando a mídia, até por falta de assunto, passa em revista o que se poderia pôr na revista e... vai de colar os mesmos epítetos de sempre: "tragédia invisível", "guerra que há muito perdeu qualquer propósito".
África-Brasil
ESCRAVOS - NEGROS - MISERÁVEIS
escravos contemporâneos - escravos da miséria, previstos por Joaquim
Nabuco logo após a Lei Áurea em profético discurso.
"O Terceiro Mundo é a lixeira da indústria farmacêutica".
O antigo Terceiro Mundo, hoje Países
em Vias de Desenvolvimento, é a lixeira - e ponto.
banco de dados revoluciomnibus.com
do dossiê A Fome no Mundo e os Canibais
e
ANHANGUERA PAPERS
recapitulam a história voltando mais ou menos ao último grande CRASH, 1986, 88, por aí - a que se referia a montagem de Gerald Thomas THE FLASH AND CRASH DAYS -, recapitula a história desconhecida da África das maleitas e da miséria, mas mais conhecida pelas histórias do Fantasma do que por qualquer outra coisa, até aportar no grande bode expiatório de 2008, que fez o mundo por um breve lapso de tempo reacordar para a África, Robert Mugabe - e afinal bode expiatório DO QUÊ? De uma história de atrocidades para que acordaram a África no século XV até o Mapa-Cor-de-Rosa?
Essa é a história que não contam (eles não falam do mar e dos peixes nem deixam ver a moça pôr a canção...)
O antigo Terceiro Mundo, hoje Países em Vias de Desenvolvimento, é a lixeira dos detritos de toda a espécie da Civilização Ocidental, agora com Índia, Rússia China e os tigres de papéis "podres" asiáticos - armas de segunda mão, ex-marcas-fetiches pirateadas, produtos fora do prazo de validade ou lixo mesmo, para os mercados "negros" africanos. África hoje talvez seja apenas o maior lixão do planeta.
Nos reportamos a um passado já remoto ma non troppo: os anos de Reagan, Thatcher e dos Yuppies, quando o chamado neoliberalismo assentava banca e A BOLHA da especulação financeira tomava proporções de um Mugabe, Idi Amin Dada, Mobutu Seze Seko e quantos vieram ao caso juntos - e ainda sobraria atrocidades (a dinheirama da corrupção e do narcotráfico circulando pelo gás dA BOLHA, por exemplo) para muitos mais ditadorzecos do gênero. Mamulengos do antigo e do neocolonialismo - nada demais.
África hype, pois sim: lixão. África-Brasil
JOSUÉ DE CASTRO
médico pernambucano, 1908-1973
revelou o flagelo da fome no Brasil
em 1952 foi eleito diretor-geral da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
Às vésperas do golpe de 1964 foi vetado pelo próprio partido, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), para o Ministério da Agricultura do governo João Goulart
morreu no exílio
Geopolítica da Fome - Geografia da Fome: obras de referência básica e consulta obrigatória
Theothonio dos Santos, economista 12 de setembro de 1993 Jornal do Brasil:
Ele foi fundo na busca das causas desse quadro de fome, ao processo de colonização e do seu caráter predatório baseado na busca do lucro fácil, do atendimento dos apetites e necessidades dos povos colonizadores, da implantação de regimes de trabalho servis. Destacou ainda o peso atual desta herança numa agricultura dominada pelo latifúndio, numa industrialização baseada no protecionismo e na inflação, em uma urbanização desequilibrada e incapaz de absorver os trabalhadores vindos do campo e de gerar um mercado urbano capaz de estimular uma economia agrícola moderna.
Alertava para uma centralização econômica que abandonava as regiões mais pobres à sua sorte. Durante os anos de crescimento econômico vitorioso era um dos poucos que criticava, de forma contundente, um crescimento industrial que marginalizava a agricultura e acentuava a concentração de renda e a centralização econômica.
O golpe de 1964 reinstalou no poder a oligarquia da terra, obrigando-a somente a modernizar-se e tornar-se mais produtiva por força de um Estatuto da Terra que preservava suas propriedades anti-econômicas e anti-sociais, o capital internacional e os interesses monopolistas e centralizadores.
Atualidade de Josué de Castro na advertência ao caráter paradigmático da evolução de Recife:
O que os sociólogos chamam de 'cidades inchadas', como a do Recife, com 200 mil marginais improdutivos, oriundos do interior, são uma demonstração evidente de que, longe de se atenuar, se vai agravando no Brasil nos últimos tempos o desequilíbrio entre a cidade e o campo. Como se agrava o desnível entre a região industrializada do Sul e as regiões predominantemente agrícolas do Norte e Nordeste do país, vindo a situação do Nordeste a constituir-se no mais grave problema nacional (...).
Como médico criou a profissão de nutricionista
pesquisou o valor nutricional de um grande número de produtos agrícolas brasileiros
estudou as doenças alimentares mais graves do país
professor de Geografia Humana nas Universidades do Brasil e do Recife
romance Homens e Caranguejos - homens que moram no mangue e vivem na lama como os caranguejos que vivem no mangue e moram na lama
Josué aprofundou sua visão ecológica da geografia humana que influenciou tão fortemente a ONU para a realização da famosa Conferência de Estocolmo em 1972 sobre ecologia e meio ambiente, em que a ditadura militar se opôs à defesa do meio ambiente em nome do desenvolvimento.
Ninguém se lembrou dele 20 anos depois como precursor do enfoque ecológico dos problemas humanos.
Seus trabalhos deste período foram publicados sob o título
Fome: um tema proibido
"A fome se revelou espontaneamente a meus olhos nos mangues do Capibaribe e nos bairros pobres de Recife."
páginas finais de GEOGRAFIA DA FOME, 1946:
... dualidade da civilização brasileira, com sua estrutura econômica bem integrada e próspera no setor da indústria e sua estrutura agrária arcaica, de tipo semicolonial, com manifesta tendência à monocultura latifundiária, (...)
Nenhum fator é mais negativo para a situação de abastecimento alimentar do país que a sua estrutura agrária feudal, com um regime inadequado de propriedade, com relações de trabalho socialmente superadas e com a não-utilização da riqueza potencial dos solos.
Também fator de agravamento da situação alimentar tem sido o surto de expansão industrial do país, sem o paralelo incremento da produção agrícola, de forma a atender à crescente procura de alimentos de uma população que procura levar os seus padrões de vida, principalmente nas cidades.
A alimentação do brasileiro se mostra assim imprópria em toda a extensão do território nacional, apresentando-se em regra insuficiente, incompleta e desarmônica, arrastando o país a um regime habitual de fome - seja de fome epidêmica, como na área do sertão, exposta às secas periódicas, a do Nordeste açucareiro e a da monocultura do cacau, seja da subnutrição crônica, de carências mais discretas, como nas áreas do Centro e do Sul.
... as inúmeras carências que o estado de nutrição do nosso povo manifesta constitui (...) o fator principal da lenta integração econômica do país. Por conta dessa condição biológica tremendamente degradante - a desnutrição crônica - decorrem graves deficiências do nosso continente demográfico.
Josué de Castro morreu em Setembro de 1973. Pioneiro no Brasil de estudos sobre alimentação e nutrição - 1945: Geografia da Fome 1952: Geopolítica da Fome - alertou para os danos que pode causar a falta de qualquer um dos 40 elementos nutritivos indispensáveis à salvaguarda da saúde, e não só para situações terminais como a inanição causada por falta de alimentos.
Provou que dois terços da população mundial passa fome ou sofre de doenças por má nutrição.
Para ele a questão não é produzir mais, mas distribuir melhor e repartir mais equitativamente; problemas fundamentais são políticos.
O Estado de São Paulo 16 de janeiro de 1994
MILTON SANTOS, professor titular de Geografia Humana da USP e autor dos livros
Croissance Démographique
Croissance Alimentaire dans les Pays Sous-Développés, CDU, Paris, 1967
A Urbanização Brasileira, HUCITEC, São Paulo, 1993
FOME SÓ ACABA COM PACTO SOCIAL DURADOURO
... o sonho do após guerra, de que Josué de Castro foi um paladino, de um mundo onde todos pudessem se alimentar devidamente, mostrou-se vão.
... a fome globalizada é diferente daquela fome localizada do passado.
... Antes os migrantes fugiam dos seus lugares para escapar ao flagelo, enquanto hoje continuam famintos no lugar onde chegam.
... uma urbanização galopante (em 1991, o número do urbano é igual ao total de brasileiros em 1980) e por migrações colossais desenraizadoras (eram 8 por cento os brasileiros ausentes do seu lugar de nascimento em 1940, hoje são mais de 45 por cento), levando a uma concentração gigantesca das populações em pequeno número de cidades (são 12 as cidades com mais de um milhão de habitantes e as Regiões Metropolitanas abrigam cerca de 30 por cento da população nacional).
... o problema da fome, quando se torna estrutural como agora, na escala do planeta, não se resolve metendo na mão dos necessitados um prato de comida. A comunhão instantânea tem de ser substituída por um verdadeiro e duradouro pacto social.
FOME E SECA; HISTÓRIA E ATUALIDADE INDÚSTRIA DA SECA
MOACIR WERNECK DE CASTRO Jornal do Brasil 24 de março 1993
Evocando os antecedentes do problema, escrevia Josué de Castro em Geopolítica da Fome:
São mais fatores de ordem social do que fatores de ordem natural que determinam a precariedade e a escassez alimentar neste continente. (...) A fome reinante nas terras sul-americanas é uma consequência direta do seu passado histórico: da história e da sua exploração colonial, de tipo mercantil, desdobrada em ciclos sucessivos de economias destrutivas.
Monocultura e latifúndio constituem um dos maiores males do continente, que entravam de maneira terrível o seu desenvolvimento agrícola e consequentemente suas possibilidades de abastecimento alimentar.
Em outro livro, Sete palmos de terra e um caixão - Ensaio sobre o Nordeste, uma área explosiva, escrito pouco antes de 1964,
Josué de Castro analisa aspectos do problema da seca (...) A indústria da seca (...) vem de longa data (...) historia os precedentes de tentativas e fracassos a partir da criação do primeiro órgão destinado a enfrentar o problema: a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas.
Inicialmente se pretendia resolver a situação através de soluções técnicas, de engenharia hidráulica. Mas os açudes construídos "limitavam-se a refletir nas suas águas a beleza do azul do céu e a concentrar nas suas margens, como pontos de resistência, as negras massas de retirantes das épocas de calamidade".
Escreve ele que mais grave que a miopia técnica foi a mistificação política. O órgão federal "canalizava para os bolsos dos senhores das terras e dos seus apaniguados quase todos os recursos que deviam ser destinados a alimentar, a educar, a ajudar a viver os camponeses da região". Sua ação se fazia sempre "ao sabor das influências e do prestígio político".
As medidas posteriores, orientadas por uma mentalidade desenvolvimentista e não apenas paternalista, beneficiou "mais certos grupos apaniguados do que propriamente as vítimas do flagelo", com sua execução entregue a "colaboradores altamente comprometidos com a estrutura agrário-feudal, amparada no capital estrangeiro".
Daí a pouco o golpe militar faria do autor um proscrito
(autor, estudioso, professor, executivo - diretor-geral da FAO - Food and Agriculture Organization)
PERSEGUIDOS POLÍTICOS DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA 1964-1985
Paulo Freire
Celso Furtado
Anísio Teixeira
Darcy Ribeiro
Josué de Castro
OPÇÃO GERAL
O MAU EXEMPLO VEM DE CIMA
MILHARES MORRERAM NA GUERRA EM BIAFRA Folha de
São Paulo 27 DE AGOSTO DE 1993
Quando a Nigéria se tornou independente do Reino Unido, em 1960, formou
uma federação de três regiões - Norte, Leste, Oeste. O crescimento da
tensão regional, especialmente entre os hausas do Norte e os ibos do
sudeste, levou a um golpe militar em janeiro de 1966, visto como uma
tentativa dos ibos de tomar o poder. Houve um contragolpe liderado por
um general do Norte e em 1967 os ibos fundaram a República do Biafra.
Seguiu-se uma guerra civil de três anos e centenas de milhares de
vítimas na qual os ibos foram derrotados.
O GLOBO 26 DE JUNHO DE 1994 CONTRA
A INTERVENÇÃO ESTRANGEIRA
Africanista Roland Oliver, inglês, autor de
A Experiência Africana
África dos hominídeos aos nossos dias
o crescimento repentino e desordenado da população devido à redução das
taxas de mortalidade infantil sem uma correlação nas ambições das
famílias, que continuaram numerosas.
Sendo a recolonização internacional da África inconcebível, essas crises
têm de ser atacadas internamente. Os esforços da ONU e dos EUA se
destinam a manter as aparências para satisfazer uma opinião pública que
sempre espera o impossível. Eles precisam de mostrar que estão fazendo
algo mas sempre se abstendo de arriscar suas vidas ou seu dinheiro.
O HORROR NOS CAMPOS DO APOCALIPSE
VEJA 3 DE AGOSTO DE 1994
Dois milhões de ruandenses fogem da guerra civil e encontram um novo
flagelo - a cólera
controle demográfico pela guerra
A população encolhe - estimativa do governo dos EUA
8,2 milhões antes da guerra civil - 5,4 milhões mortos e refugiados -
2,8 milhões permanecem em Ruanda
Zaire: 2,2 milhões de refugiados
Tanzânia: 400 mil refugiados
QUÊNIA - PAÍS JÁ FOI MODELO PARA O RESTO DA ÁFRICA Folha
de São Paulo 1º de julho de 1993
problema do crescimento demográfico - média de 4,3 por cento ao ano - e
crescimento econômico nulo
sete filhos por mulher
salário mínimo de US$ 30, renda per capita de US$ 370
índice de analfabetismo de 69 por cento,
denúncias de corrupção
O Estado de São Paulo 3 DE JULHO DE 1994 FMI E
Bird SE TORNARAM AS NOVAS POTÊNCIAS
John Darnton
The New York Times
crise econômica
600 milhões de pessoas ao sul do Saara
Tirando a África do Sul, PIB equivale ao da Bélgica, com 10 milhões de
pessoas
Em grande parte dependentes das exportações de bens primários como café,
cacau e cobre.
Preços desses produtos nos anos 1980 desabaram por causa da recessão
mundial.
Explosão demográfica, com aumento da população de 3,2 por cento ao ano.
Em meo arroz da campanha Noi Con Voi estava estragado e pertencia a uma
remessa de 25 mil toneladas transacionada fraudulentamente com a
cumplicidade de meia dúzia de funcionários do Fundo de Auxílios
Italianos, entre eles o seu diretor-geral Claudio Moreno, e envolvendo
várias empresas (entre as quais a do Noi Con Voi).
o subsídio da CEE era sobre a exportação e no total teriam embolsado 35
milhões de dólares com a transação
ANOS NEGROS
RELATÓRIO DO FONDO ITALIANO
CONTRO LA FAME
ROMA 2 maio 1986
FAI em um ano aplicou 750 milhões de dólares
criado em 1984 com uma dotação de 1,5 bilhão de dólares.
Centro Italiano de Projetos Especiais Para o Exterior - Cipres
Somália em primeiro lugar com 250 milhões de dólares
No conjunto os países do chamado Corno d'Africa (Chifre da África) foram
beneficiados com 500 milhões de dólares.
10 mil toneladas de milho branco para Moçambique
5 mil toneladas de farinha para o Sudão, país ainda com zonas de
subnutrição endêmica
102 toneladas de arroz
e também estruturas de armazenamento, ônibus, ambulâncias e unidades
sanitárias móveis.
Roma, 15 maio 1986
DESERTIFICAÇÃO DA ÁFRICA:
A DESERTIFICAÇÃO NÃO É UM PROBLEMA CIRCUNSCRITO MAS UMA TENDÊNCIA DE
ALCANCE PLANETÁRIO.
Um sétimo da população mundial vive em terras em vias de desertificação.
Um território tão vasto como o das duas Américas é considerado de alto
risco erosivo. Vinte e um milhões de hectares tornam-se todos os anos
inutilizáveis para fins agrícolas. Na África a Sul do Saara o deserto
avança 30 kms por ano.
"Um ambiente que perde o seu sujeito, o homem, está condenado à
degradação."
Roma 27 maio 1986
ITÁLIA/DIA DA ÁFRICA: Francesco Cossiga, presidente italiano, no Dia da
África: o empenho no esforço de cooperação da Itália com o
desenvolvimento e a erradicação das condições de pobreza de milhões de
seres humanos na África corresponde a uma convicção profundamente
enraizada na consciência civil do povo italiano de que eles são
elementos fundamentais para a paz, estabilidade e segurança duradouras
dos países do continente. As soluções não podem estar condicionadas por
lógicas externas ao continente e devem responder às aspirações de paz
dos países e dos povos, no respeito dos princípios de inviolabilidade
das fronteiras e da integridade dos Estados - declarou.
roma 27 fevereiro 1987
ITÁLIA GASTARÁ 3,6 BILHÕES DE DÓLARES NA COOPERAÇÃO EM 1987
No quinquênio 1979-1984 a Itália investiu 4,20 bilhões de dólares em
programas de cooperação e em programas de auxílio de emergência.
roma, 2 fevereiro 1988
AUXÍLIOS À ÁFRICA
só metade, ou mesmo apenas 20 por cento dos auxílios chegam às
populações locais - segundo Panorama.
"O auxílio pode levar ao caos e mesmo sufocar os países que os recebem.
São dezenas de países doadores, de agências mundiais, de organizações de
voluntários, centenas de projetos variados, que muitas vezes colidem uns
com os outros." - declarou Pedro Pires, primeiro-ministro de Cabo Verde
"Preferimos os auxílios modestos mas dilagados no tempo, programados com
antecipação e por isso inseríveis nos nossos planos a imprevisíveis
explosões de generosidade que dificilmente absorvemos."
roma, 12 fevereiro 1988
ALESSANDRO NATTA CRITICA AUXÍLIOS
AO TERCEIRO MUNDO
Os auxílios ao Terceiro Mundo "são migalhas dos excedentes de capital da
corrida armamentista".
"Na atitude dos colossos financeiros, tecnológicos e comerciais, como na
de muita imprensa eurocêntrica, entrevê-se uma concepção de segurança
como um processo que diz respeito apenas ao 'centro', não se hesitando
em espezinhar a periferia."
A corrida entre os EUA e a URSS fez com que o Terceiro Mundo sofra "de
forma inenarrável".
Parte considerável das dívidas dos países em vias de desenvolvimento
resulta das importações de armas. Segundo cálculos da ONU, 20 por cento
dos débitos.
A Itália investiu desde 1980 mais de 2 bilhões de dólares na cooperação
para o desenvolvimento. Em 1986 tornou-se o país da OCDE (Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento) com o maior índice de despesas
com o Terceiro Mundo em relação ao PIB.
roma, 5 abril 1988
RADICAIS PEDEM INQUÉRITO
À COOPERAÇÃO ÍTALO-SOMALA
O Parido Radical pediu à Procuradoria da República italiana que
investigue os auxílios italianos à Somália no biênio 1985-1987.
Os radicais baseiam-se em declarações de Ali Khalif Ghalayo, ex-ministro
da Indústria sômalo, à Justiça italiana segundo as quais parte do
montante dos auxílios foi manipulada no seu próprio interesse pelo
socialista Francesco Forte, dirigente do extinto FAI, e pelo presidente
da Somália, Siad Barre.
Ghalayo referiu-se nomeadamente à construção de uma fábrica de adubos
orçada em cerca de oito milhões e cuja adjudicação a uma empresa
italiana foi feita sem concurso público.
"Estamos apenas destampando a panela", declarou Francesco Rutelli, chefe
do grupo parlamentar radical, que também pretende que sejam investigados
outros projetos de infraestrutura em vários setores, alguns nunca
concluídos e outros dados por peritos como completamente inúteis.
Outro ex-ministro sômalo cuja identidade não foi revelada confirmou
informações de Ghalayo de que é o próprio Siad Barre quem decide sobre o
destino a dar nomeadamente aos auxílios italianos para projetos de
desenvolvimento em seu país.
Em deslocação a Mogadíscio em fevereiro Francesco Forte recebeu de Barre
o título de cidadão honorário sômalo.
Em fevereiro de 1987 foi instituída a Direção-Geral para a Cooperação ao
Desenvolvimento em substituição do FAI.
Dos 4 bilhões de dólares que a Itália deverá investir em cooperação em
1988 40 por cento serão destinados aos programas multilaterais da ONU e
o restante a programas bilaterais com países africanos, sobretudo com os
do chamado Corno d'África (Chifre da África).
roma 11 abril 1998
DIPLOMATAS APÓIAM INQUÉRITO À
COOPERAÇÃO ITALO-SOMALA
ENTRE 1985 E 1987 o extinto FAI concedeu à Somália subsídios no valor de
500 milhões de dólares destinados a financiar uma série de projetos de
grande envergadura.
Francesco Forte foi acusado de cumplicidade com o "autoritário e
corrupto" presidente sômalo.
A associação de diplomatas criticou também a concessão pela
Direção-Geral para a Cooperação ao Desenvolvimento, que substituiu o
FAI, de um subsídio de 1,281 milhão de dólares destinado à formação de
quadros sindicais na Somália.
A gestão do subsídio foi confiada à UIL, central sindical socialista,
também criticada pelos diplomatas, para quem "Siad Barre não só
não tolera greves como institui leis que prevêem a pena de morte contra
quem as promove".
Protestaram também contra os que permitem o pagamento a cerca de 200
docentes da Universidade de Mogadiscio de salários de dez mil dólares
depositados numa conta especial de um banco suíço.
Nigrizia, revista mensal dos missionários combonianos, publicou no seu
último número um artigo em que critica os termos e os fins da cooperação
ítalo-sômala, intitulado MATRIMONIO SOCIALISTA CON BOCCAGRANDE
e ilustrado com uma foto de Bettino Craxi, secretário-geral do PSI
(Partido Socialista Italiano), com Siad Barre.
(sabe-se que fim levou Craxi e onde depois da Operação Mãos Limpas:
refugiado... na Somália )
"É uma glória para Francesco Forte manter um pequeno ditador que encheu
as prisões do seu país de gente cujo único erro é o de não pertencer ao
seu clã e de não pensar como ele?" - pergunta o diretor da revista,
padre Aurelio Boscaini.
O Partido Radical apresentou entretanto uma denúncia relativa à
concessão pela Direção-Geral para a Cooperação ao Desenvolvimento de um
subsídio de sete milhões de dólares para o combate à malária na região
etíope de Tana Beles.
"Pressionado pela guerrilha antigovernamental, Haile Menghistu
deportou para a pantanosa região gente que sempre viveu no planalto,
agora condenada a morrer de malária" - comentou Francesco Rutelli.
roma 22 abril 1988
LIV ULLMAN SOBRE A FOME
APÓS VISITA A QUATRO PAÍSES AFRICANOS
atriz norueguesa
Interrogada sobre se haverá uma maior sensibilidade para os sofrimentos
da fome após o bombardeamento de imagens de crianças esqueléticas e com
a barriga inchada por ocasião da carestia na Etiópia e no Sahel, disse
que
"Aquelas imagens se referiam ao último estágio da fome e podem nos
induzir a pensar que onde não existem crianças-esqueletos o problema da
subnutrição não existe.
Mas não é bem assim: nos países que acabei de visitar as barrigas são um
pouco mais gordas do que o normal e as pernas e os braços só um pouco
mais magros, mas a fome e a subnutrição atingem as crianças com grande
violência.
Quero com isto dizer que aquelas fotografias dramáticas podem ter-nos
desviado do verdadeiro problema. Afinal, naqueles mesmos meses morriam
mais crianças no México e na Índia que em todo o Sahel, e ninguém sabia
disso."
roma 24 abril 1986
ÁFRICA, UM CONTINENTE PARA PRIVATIZAR, SEGUNDO JORNAL ITALIANO
il manifesto
A exemplo de Guiné-Conakry e Nigéria, "Moçambique lança um duríssimo
plano de reativação econômica e Guiné-Bissau vende à iniciativa privada
tudo o que não é considerado economicamente estratégico".
"Desde o fim do colonialismo mais ou menos em toda a África negra o
Estado é o principal agente econômico.
"Na base dessa escolha estiveram a falta de quadros técnicos preparados
e a convicção que desse modo seria mais fácil iniciar processos de
modernização. Mas com o andar do carro de boi as empresas estatais
acumularam imponentes déficits e a economia está gravemente
comprometida.
"Nestas condições a liberalização econômica é vista como um meio de
aligeirar a situação financeira e entre várias medidas destacam-se os
despedimentos maciços de funcionários públicos, a desvalorização das
moedas, a liberalização dos preços e sobretudo a privatização de muitas
estatais.
"Na sequência de iniciativas congêneres já tomadas em países como
Guiné-Conakry, Camarões e Mali rigorosos critérios de produtividade
levarão a despedimentos em massa nos próximos meses em Moçambique.
A desvalorização da moeda decretada nos últimos meses em Moçambique,
Guiné-Bissau e Serra Leoa tem o objetivo comum de combater o mercado
negro, fortíssimo em toda parte e com cotas que atingem 50 por cento do
PIB. Dar prestígio à divisa, atribuindo-lhe um valor mais econômico que
político, visa atingir os intermediários, que enriquecem rapidamente e
muitas vezes formam comunidades nacionais separadas.
Baixam-se também leis de investimentos extremamente abertas e liberais
para estimular a criação de empresas de capital mista.
"Todos os governos africanos sabem dos efeitos sociais devastadores que
tais medidas muitas vezes provocam, como já aconteceu na Tunísia,
Jamaica e Zâmbia mas apesar disso insistem em adotá-las porque é cada
vez maior a percepção de que não se pode continuar com enormes aparatos
estatais ineficazes e deficitários e com a retórica de supostas
políticas igualitárias, quando as diferenças sociais entre os extratos
urbanos e rurais são abissais.
"Na falta de propostas adequadas da parte de outras forças políticas
acaba por ser inevitável recorrer aos conselhos interessados do Fundo
Monetário Internacional, de cuja política na África medidas como a
liberalização econômica, a reforma da administração estatal e as
privatizações são eixos."
roma 8 maio 1988
DEMITIDO DIRETOR DA REVISTA MISSIONÁRIA ITALIANA
NIGRIZIA
O padre comboniano Alessandro Zanotelli, há dez anos diretor da revista
mensal Nigrizia, foi demitido do seu cargo por ordem da Congregação do
Vaticano para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide), segundo o
próprio padre por pressão do governo de Roma junto da sede da Igreja por
causa dos seus incendiários editoriais com acusações ao Ministério das
Relações Exteriores da Itália e aos governos africanos.
Em 1985 Zanotelli protestou contra a lei que estabeleceu o envio em dois
anos de auxílios italianos ao Terceiro Mundo de mais de 1,5 bilhão de
dólares.
"Tais auxílios servirão apenas para tornar os países africanos mais
dependentes dos interesses italianos", escreveu.
"Em vez de ajudá-la a Itália fornece à África 93 por cento da sua
produção de armas, alimentando os focos de guerra civil."
Um ano antes o diretor de Nigrizia denunciara o tráfico de armas de um
porto italiano para a África do Sul e definiu o então ministro da Defesa
Giovanni Spadolini como um "vendedor de armas".
Zanotelli precisou que as pressões para que fosse demitido de Nigrizia
partiram do ministro italiano das Relações Exteriores, Giulio Andreotti,
e do ex-ministro Spadolini, que segundo ele chegou a contatar
diretamente o papa João Paulo II para reclamar da linha editorial da
revista.
O padre disse que desde outubro de 1985 vinha sendo ameaçado de
afastamento pela Propaganda Fide caso "não abandonasse o tom polêmico e
de barricada e não renunciasse às batalhas contra o tráfico de armas".
"Abandono o cargo em função de um ultimato do cardeal Josef Tomko,
prefeito da congregação."
Zanotelli, que viveu no norte do Sudão entre 1965 e 1973, anunciou que
partirá para a Etiópia onde pretende trabalhar como missionário
numa favela de Nairobi.
roma 20 maio 1986
AUXÍLIOS AO TERCEIRO MUNDO: NOTIFICAÇÃO JUDICIAL
A magistratura de Milão notificou Francesco Forte de que estão em curso
investigações judiciais sobre suas atividades como secretário de Estado
das Relações Exteriores da Itália.
As investigações estão a ser feitas no âmbito da instrução de um
processo por suspeita de fraude num fornecimento de 150 mil toneladas de
arroz a vários países africanos, entre os quais Angola e Moçambique, em
1985.
Duas empresas de rizicultura alegam que o FAI atribuiu o fornecimento a
uma concorrente sem realizar um concurso público.
O edital do FAI não obrigava a empresa a fornecer arroz italiano e ela
recorreu ao mercado fora da Comunidade Européia.
Na época a Itália tinha um excedente de 250 mil toneladas de arroz.
Segundo um jornal belga o arroz foi comprado na Indonésia, onde custa
200 dólares a tonelada, mas dado como oriundo da CEE, onde a tonelada
custa 500 dólares mas quem o compra para exportar ganha um subsídio
comunitário de 400 dólares.
Forte é também acusado de participar numa série de casos de fraude e
corrupção em projetos de auxílio à Somália.
PEMBA MOÇAMBIQUE
PEMBA MOÇAMBIQUE
PEMBA MOÇAMBIQUE
18 jul 1986
PARTE DE RAVENNA NAVIO DE SOLIDARIEDADE COM MOÇAMBIQUE
Transportará mantimentos de emergência e material técnico recolhidos
junto da população da cidade de Reggio Emilia e do Fundo de Auxílio de
Emergência (FAI).
A campanha 'Noi con Voi' foi iniciativa da prefeitura e teve o apoio do
governo da região da Emilia Romagna, das secretarias regionais das três
confederações sindicais italianas e da unidade sanitária local do
Serviço Nacional de Saúde italiano.
Constituiu-se de material destinado ao hospital de Pemba, entre ele uma
ambulância e uma cozinha, à drenagem de terras cultiváveis e outros
equipamentos agrícolas e de limpeza urbana, além de 700 mil peças de
vestuário, tecidos, bicicletas, máquinas de costura e material escolar.
O projeto parte do princípio de que o auxílio às populações carentes do
Terceiro Mundo não pode ser realizado apenas através de macro-projetos a
que chamam de CATEDRAIS NO DESERTO, muitas vezes
impraticáveis por motivos econômicos ou técnicos
A região da Emilia Romagna lançou esta semana o III Programa de
Desenvolvimento no âmbito de um plano de cooperação econômica com seis
países da África, da América Latina e da Ásia (China).
A junta de governo regional pretende servir de elo entre o poder central
e o sistema produtivo local. A cidade de Reggio Emilia já coopera com
Pemba-Cabo Delgado desde 1970, antes da independência de Moçambique,
quando fornecia equipamento e remédios ao seu hospital.
Roma, 29 agosto 1986
AUXÍLIO A MOÇAMBIQUE ALVO DE
POLÊMICA NA ITÁLIA
acusação: 700 mil peças de vestuário que fizeram parte dos mantimentos
recolhidos junto da população de Reggio Emilia não foram distribuídas
gratuitamente e estão sendo vendidas em lojas de funcionários do governo
de Maputo.
doações orçadas em sete milhões de dólares
um dos promotores da iniciativa disse que um dos objetivos da campanha
era o de dinamizar o mecanismo de trocas comerciais na cidade
moçambicana, que se encontra paralisado.
"Trata-se não de uma venda mas de uma troca, uma permuta. Para obter
artigos que não sejam de primeiríssima necessidade as pessoas devem
trabalhar, trocar mercadoria com trabalho, o que serve para estimular o
crescimento do país."
O produto da troca deverá ser reinvestido pelo governo em projetos de
desenvolvimento - disse a fonte, membro comunista do conselho do governo
municipal.
O projeto passou a ser visto como uma burla levada a cabo às custas e
nas costas da população.
O principal alvo da polêmica é o assessor das relações internacionais da
prefeitura, Giuseppe Soncini, coordenador da campanha.
O assessor admitiu o erro de "não ter informado cabalmente a população
reggiana de que o vestuário era destinado a venda e não a doação".
O FAI contribuiu para a campanha com 300 mil contos destinados a
projetos de desenvolvimento agrícola, à compra de duas toneladas de
arroz e ao aluguel do navio de transporte.
À polêmica juntam-se elementos obscuros relacionados com a operação,
como o fornecimento de material diverso no valor de 450 mil dólares
subsidiado pelo FAI por uma misteriosa empresa cujo verdadeiro
proprietário se esconde no anonimato - ISTM, International Suppliers
Trading Marketing - e foi registrada em nome de uma dona de casa.
Roma, 10 setembro 1986
MAGISTRATURA DE REGGIO EMILIA ABRE
INQUÉRITO SOBRE AUXÍLIO A MOÇAMBIQUE
a pedido da própria junta municipal e da federação local do Partido
Comunista Italiano, que ocupa todos os cargos no governo.
A empresa a que a prefeitura de Reggio Emilia encomendou o fornecimento
de equipamento portuário no valor de 450 mil dólares foi criada uma
semana depois do anúncio da liberação de 2 milhões de dólares de
subsídio do FAI para a campanha.
roma, 17 setembro 1986
PROSSEGUEM INVESTIGAÇÕES A
AUXÍLIO A MOÇAMBIQUE
Prestações de contas: suspeitas de que comitê superfaturou o balanço de
despesas na compra de mantimentos e equipamento em entre 10 a 15 por
cento, que poderão ter servido para o pagamento de propinas a
atravessadores.
O sub-secretário de Estado das Relações Exteriores, Francesco Forte,
decidiu não apoiar mais iniciativas do gênero de caráter local, mas
apenas as de órgãos de tutela do governo.
A de Reggio Emilia foi a primeira e única
Em entrevista ao jornal Corriere della Sera Forte disse estranhar a
compra do equipamento portuário à ISTM quando o FAI possui os seus
próprios fornecedores.
O verdadeiro proprietário da empresa é um dos consultores do comitê de
solidariedade, a que terá servido simultaneamente como comprador e
vendedor.
roma, 20 setembro 1986
AUXÍLIO A MOÇAMBIQUE
A procuradoria da República de Reggio Emilia emitiu oito comunicações
judiciais por suspeita de peculato
Subsídio do FAI para a campanha: entre 2 a 3 milhões de dólares, segundo
diferentes fontes
Reggio Emilia é uma das praças fortes comunistas da região centro-norte
da Itália
O comitê Noi Con Voi não possuía os requisitos exigidos por lei para
obter financiamento do governo.
Por esse motivo o contributo do FAI foi canalizado para o Comitê de
Solidariedade Pemba-Cabo Delgado, criado em 1975, aquando da
independência de Moçambique, e que também careceria de reconhecimento
oficial através de decreto do Ministério das Relações Exteriores.
roma, 28 novembro 1986
ARROZ ITALIANO PARA O
TERCEIRO MUNDO: FRAUDE DE 35 milhões de dólares
Surge agora a suspeita de que o arroz transportado pelo cargueiro Chris
para Pemba, em Moçambique, era em quantidade inferior à declarada e
estava estragado.
A suspeita foi levantada por uma empresa produtora de arroz que após ter
perdido o concurso para a adjudicação da encomenda fez uma denúncia às
autoridades oficiais.
As novas investigações, que estão a ser realizadas em conjunto pelas
magistraturas de Reggio Emilia e Roma, visam desvendar eventuais fraudes
em torno dos fornecimentos de arroz incluídos nas campanhas de auxílio
de emergência.
5 DEZEMBRO 1986
Campanha de Auxílio a Moçambique - Reggio Emilia
NOVE INDIVÍDUOS ALVO de processo aberto pela magistratura local
entre eles o comunista Giuseppe Soncini, ex-assessor da prefeitura,
principal responsável pela iniciativa, e um irmão do prefeito, que
coordenaram a compra dos auxílios. Além deles está sendo investigado um
fornecedor do material.
O cargueiro Chris zarpou em julho do porto italiano de Ravenna com
cerca de sete milhões de dólares de arroz, roupas e equipamentos
diversos destinados à cidade-irmã Pemba, na província de Cabo Delgado.
Envolvidos nas fraudes estariam também seis dirigentes do FAI (órgão da
Secretaria de Estado das Relações Exteriores), entre eles o
diretor-geral Claudio Moreno.
As magistraturas de Reggio Emilia e de Roma investigam também diversas
remessas de arroz para países do Terceiro Mundo que teriam causado
prejuízos da ordem de 35 milhões de dólares à CEE.
Quase todo o arroz embarcado na Itália estaria estragado, inclusive as
mil toneladas que seguiram no Chris para Pemba.
Um dos processos judiciais em curso relaciona-se com a compra de 25 mil
toneladas de arroz dadas como oriundas da CEE
campanha Noi Con Voi Nós Com Vocês do
Comitê de Solidariedade de Reggio Emilia com Moçambique.
Roma, 23 dezembro 1986
Beira: a segunda maior cidade de Moçambique está há quatro meses
sem luz e água, é impossível encontrar roupas, açúcar e carne no mercado
oficial e há muito pouca coisa à venda também no mercado negro.
Moçambique é hoje pouco mais que uma expressão geográfica.
LATICÍNIOS RADIOATIVOS ITALIANOS
PARA O TERCEIRO MUNDO
Roma 12 dezembro 1986 - contaminados de
radioatividade após a fuga de partículas atômicas da central de
Chernobyl, na URSS, serão leiloados para venda no Terceiro Mundo.
O edital da agência estatal para intervenção agrícola italiana
especifica que os produtos destinam-se a alimentação zootécnica na
Itália e em países extra-Comunidade Européia "e não aos consumidores
habituais".
Escândalos relacionados com o envio a países do Terceiro Mundo como
auxílio de emergência de gêneros alimentícios estragados, como tomate e
arroz.
Os laticínios ao Césio 137 e nano-curies serão
vendidos a "preços muito baixos", anuncia o edital de vésperas de Natal.
roma, 21 outubro 1986
300 MILHÕES DE ´DÓLARES DA ITÁLIA PARA O TERCEIRO MUNDO
O Comitê Interministerial para a Política Externa (Cipes) aprovou a
concessão de 300 milhões de dólares a organismos internacionais que
superentendem a cooperação com países em vias de desenvolvimento.
60 por cento do subsídio serão distribuídos pelo Programa para o
Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD, UNDP), pela Unicef e pelo PAM
(Programa Mundial de Alimentação).
O restante será destinado a diversos organismos de pesquisa, cooperação
econômica e auxílio a refugiados.
ROMA, 3 NOVEMBRO 1986
PARTE NAVIO COM QUATRO TONELADAS DE
AJUDAS A MOÇAMBIQUE
do porto italiano de Livorno.
Anna Maria Elle
com gêneros de primeira necessidade e material diverso
800 toneladas de arroz, 700 de farinha de milho, leite, sabão, roupas,
cobertores e calçado, material escolar, equipamento sanitário e
agrícola, maquinas de costura, fios e tecidos calculados em cerca de 2,5
milhões de dólares.
A iniciativa do "Navio Para Moçambique" é do Comitê Amigos de
Moçambique, de Roma, que mobilizou cinco mil pessoas na angariação dos
bens, destinados à organização local da Caritas Internacional.
Um quarto da população de Moçambique (3,4 milhões de pessoas) é vítima
da fome e de doenças graves.
O índice de mortalidade infantil no país é de 119 óbitos por mil
nascimentos.
Expectativa de vida: 45 anos
1 médico para 39 mil pessoas.
75 mil italianos fizeram doações em dinheiro.
Caritas deu no passado garantias precisas de distribuição rápida e
racional dos auxílios.
Roma 13 novembro 1986
COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE AUXÍLIOS ITALIANOS À ÁFRICA
"FOMOS OBRIGADOS A PRODUZIR O QUE
NÃO CONSUMÍAMOS E A CONSUMIR O QUE NÃO PRODUZÍAMOS",
DISSE EM ROMA O PRESIDENTE DE UGANDA, YOWERI MUSEWENI, A PROPÓSITO DA
CRISE NA ÁFRICA.
COLÓQUIO "CRISE africana e Intervenção Italiana" no
GRAND HOTEL
"Motivos históricos e ambientais estão na base da situação dramática com
que se debate a maior parte da população do continente, entre os quais o
colonialismo do passado."
Organizado pelo Instituto para a Cooperação Econômica Italiana (ICEI)
para fazer o balanço de um ano e meio de atividade do FAI.
Desde 1985 o FAI investiu 1,5 bilhão de dólares em programas de ajuda de
emergência e de desenvolvimento agrícola de várias regiões africanas.
O papel da Itália na cooperação deriva de "uma opção humana", segundo
Francesco Forte.
Roma, 10 dezembro 1986
250 mil crianças morrem por semana de infecções e subnutrição
nos países em vias de desenvolvimento, segundo relatório da Unicef sobre
a condição da infância no mundo.
Programa Revolução Para a Sobrevivência e o Desenvolvimento da Criança
salvou quatro milhões de crianças por ano desde 1982.
Sete milhões poderão ser salvas a cada ano nos próximos anos através de
campanhas de vacinação, reidratação oral para o combate da diarréia,
controle de crescimento e do aleitamento materno.
Campanhas de vacinação contra a tosse convulsa, sarampo, tuberculose,
tétano e difteria têm salvo um milhão de crianças por ano.
1982: 125 milhões de doses de vacinas fornecidas a 100 países
1985: 377 milhões de doses.
FAO
reunião da FAO para ajuda à África: mais um ato de
show-off dos desenvolvidos?
projetos de auxílio a vinte países africanos atingidos pela seca
em um dossiê: medidas para reestruturação agrícola. Custo US$ 200
milhões. Como obtê-los?
Os próprios responsáveis pelo recém-criado Departamento de Operações de
Urgência da ONU afirmam que os países desenvolvidos ajudam o Terceiro
Mundo não por idealismo mas por necessidade de esvaziar os seus
depósitos de estoques reguladores de produtos alimentares, que estão
abarrotados por questões de política de mercado.
Auxílios em gêneros não vão servir para acabar com a fome. Só uma
reestruturação da produção agrícola.
É evidente o empenho dos países do Norte em, através dos auxílios, se
distinguirem aos olhos da opinião pública pela generosidade para com os
necessitados do Sul. Show-off ou blefe de ricos esbanjadores, é o que
está por trás da dança de cifras e toneladas de alimentos doados,
enquanto perspectivas de mudança da situação no Terceiro Mundo são
nulas.
Em troca dos benefícios os países agraciados são pressionados a aderir
às políticas de livre mercado.
Mais de quatro milhões de pessoas afligidas pela fome em Moçambique
carecem de 700 mil toneladas de cereais.
Deverão ser organizadas pontes aéreas ou lançamentos de provisões com
pára-quedas para acudir as populações flageladas.
FAO
Roma, 14 Julho 1986
300 milhões de pessoas são vítimas
da subalimentação na Ásia, mas o continente está vencendo
a luta contra a fome.
Graças à adoção de políticas que não penalizam os agricultores, ao
contrário do que acontece em muitas áreas do Sul, sobretudo na África,
hoje Ásia e Pacífico são exportadores de arroz.
A relação entre preços agrícolas e preços industriais tornou-se
aceitável para os camponeses e incentivou a produção e investimentos de
recursos na agricultura.
Arroz cobre mais de metade das necessidades alimentares da região.
Mas a subalimentação ainda é um fato, em consequência de uma pobreza "em
massa".
A disponibilidade de terreno cultivável está praticamente esgotada na
região.
FAO
roma, 21 outubro 1986
O diretor-geral da FAO Edouard Saouma exprimiu o seu "grande alarme pela
dramática queda dos preços de exportação de produtos agrícolas em 1985,
sobretudo porque muitos países subdesenvolvidos e mesmo com alto grau de
desenvolvimento dependem de maneira crítica das divisas provenientes
desses intercâmbios para equilibrar sua balança comercial e reforçar
suas reservas monetárias.
ITALIA/MUNDO
Roma, 5 agosto 1986
36% DA POPULAÇÃO ITALIANA É
POBRE
segundo estatística baseada em índices de consumo
alimentar familiar divulgados pelo Banco da Itália: consomem de 0 a 70
por cento da média de consumo total de alimentos.
Na faixa acima, 48 por cento da população vivem entre condições modestas
e relativo bem-estar, consumindo de 70 a 150 por cento da média total.
15 por cento estão na faixa dos privilegiados.
54 por cento dos 20 milhões de habitantes da Região Sul vivem na miséria
absoluta, na pobreza ou com problemas econômicos.
roma, 18 setembro 1986
NOVE POR CENTO DAS FAMÍLIAS
ITALIANAS VIVEM MAL - relatório vida econômica na Itália
em 1985 - INSTITUTO ITALIANO DE ESTATÍSTICA (ISTAT)
outros números da mesma ordem:
com renda igual ou abaixo de 500 dólares mensais
apenas 8 por cento das famílias italianas podem ser consideradas como
tendo um bom nível de vida, com rendimento mensal de 2 mil dólares por
mês.
desde 1970 o índice de consumo registrou aumento de 42,7 por cento,
tendo despesas com higiene, saúde, educação e entretenimento quase
igualada aos gastos com alimentação, que desceu de 37 para 29 por cento
do rendimento per capita.
taxa de poupança: 20 por cento
taxa de investimento: 20 por cento do PIB em 1980, mais 9,9 por cento em
1984 e mais 3,5 por cento em 1985.
A MAIOR PARTE DOS FÁRMACOS É
INÚTIL
ROMA, 5 AGO 1986
250 remédios bastariam para combater as doenças mais frequentes
no planeta.
A maior parte das cerca de 50 mil marcas comerciais de produtos
farmacêuticos é inútil e muitos deles são até prejudiciais à saúde.
"A proliferação dos fármacos e o uso indiscriminado que deles se faz é
um sintoma alarmante da aceitação acrítica de uma lógica que em última
análise é a da morte" - defende o teólogo Giannino Piana.
O Parlamento Europeu aprovou uma norma regulamentando a exportação de
fármacos para países do Terceiro Mundo destinada a combater uma
verdadeira tragédia provocada pela venda a países subdesenvolvidos de
remédios com escassas informações terapêuticas na embalagem e que
frequentemente são ineficazes, quando não prejudiciais pelos efeitos
colaterais que provocam.
Inúmeras indústrias farmacêuticas européias exportam para o Terceiro
Mundo enormes quantidades de produtos que não obtiveram autorização de
venda nos respectivos países ou que foram retirados do mercado por terem
sido superados ou pelos efeitos colaterais que provocam.
"O Terceiro Mundo é a lixeira da indústria farmacêutica", afirma a
irlandesa Mary Banotti, um dos redatores da regulamentação.
A Europa Ocidental detém 32,5 por cento de um mercado que fatura cerca
de 100 bilhões de dólares/ano e exporta 45 por cento da sua produção.
Roma, 6 junho 1988
GUINÉ-BISSAU ACEITA DETRITOS TÓXICOS - O governo de Guiné-Bissau assinou com uma empresa suíça, em outubro de 1987, um contrato em que se compromete a receber três milhos de toneladas de detritos tóxicos nos próximos dez anos.
A notícia foi divulgada domingo pelo telejornal do segundo canal da RAI e é aprofundada em reportagem publicada pelo semanário L'Espresso.
"As autoridades da república africana não puderam recusar a proposta de transformar seu território numa lixeira de venenos químicos, porque a Intercontrat e outras empresas do norte da Europa e norte-americanas se comprometeram a pagar 120 milhões de dólares por ano pelo negócio" - lê-se na revista, que o apelida de O ÚLTIMO MULTIMILIONÁRIO ECO-BUSINESS.
A Intercontrat é a mesma empresa que se responsabilizou pela liquidação de duas mil toneladas de detritos tóxicos que vai para um ano encontram-se no cargueiro sírio Zanoobia, há meses ancorado ao largo do porto italiano de Marina di Carrara, no mar Ligúrio.
Os detritos que Guiné-Bissau vai receber estão destinados a um depósito a ser construído numa região escolhida para um projeto de desenvolvimento rural da Comunidade Européia e que, segundo L'Espresso, pela alta umidade do ar e permeabilidade da terra, é "absolutamente contra-indicado para lixeira de detritos tóxicos".
Gianfranco Ambrosini, proprietário da Intercontrat, diz que é muito simples achar depósitos para os detritos dos países industrializados: "A gente vai a um desses países semi-desérticos e esfomeados, fala com as autoridades, paga bem e começa a escavar a descarga, um buraco de trinta metros que é impermeabilizado conforme as normas dos Estados Unidos, da Comunidade Européia e da Suíça."
"Mas atenção, os depósitos nos custam uma enormidade de grana. Os negros dão apenas um pedaço de terra do tamanho de um campo de futebol, sem estradas de acesso e a que se deve fazer chegar os caminhões. Além do mais o pessoal lá embaixo é muito devagar, e para se ativar um depósito leva-se meses - seis meses, para ser exato."
Ambrosini considera ser muito melhor responder desse modo ao que para ele se caracteriza como uma enorme emergência do que continuar sepultando detritos em fossas, rios, lixeiras e em mar aberto, uma atividade ilegal muito praticada e que ao que diz "se deve à aversão das populações européias em geral à abertura de descargas nas suas próprias regiões".
L'Espresso informa que somente um quarto das cerca de 25 milhões de toneladas de detritos industriais produzidos anualmente na Itália é queimado nos três incineradores existentes no país.
Após a revelação do caso do Zanoobia, que vagou pelos mares de meio mundo em busca de autorização para descarregar detritos tóxicos que transportava, a opinião pública foi alertada para a existência de uma grande frota de "navios fantasmas" que cruzam os mares em busca de um destino para sua mercadoria indesejada, alguns com registros fictícios ou de embarcações desaparecidas.
Estima-se que em todo o mundo sejam produzidas anualmente um bilhão de toneladas de detritos tóxicos, um terço das quais de altíssima periculosidade.
ÁFRICA-BRASIL BRASIL- ÁFRICA
1980-2008
Daniel Quinn: Ismael - Como o Mundo Veio a Ser o Que É
controle de natalidade - sempre deixado para o futuro.
"Ele foi deixado para o futuro quando éreis três bilhões em 1960. (...)
... enquanto as pessoas da tua cultura estiverem a encenar esta história. Enquanto encenarem elas esta história, continuarão a reagir à fome aumentando a produção dos alimentos. Viste já os anúncios para o envio de alimentos aos povos famintos do mundo?"
"Sim."
"Viste já anúncios para o envio de contraceptivos para algum lugar?"
"Não."
"Nunca. A Mãe Cultura tem dois pesos e duas medidas a este respeito. Quando lhe falamos em explosão populacional ela responde controle populacional global, mas quando lhe falamos em fome ela responde aumento da produção alimentar. Na verdade porém o aumento da produção alimentar é um evento anual, e o controle populacional global jamais acontece.
... enquanto encenardes uma história que diz terem os deuses feito o mundo para o homem o usar como muito bem o entenda (...) a Mãe Cultura exigirá aumento de produção para hoje, prometendo controle populacional para amanhã.
... A fome não é apanágio exclusivo dos humanos. Todas as espécies estão sujeitas a ela, em qualquer parte do mundo. (...) uma população que ultrapassou os seus recursos, apressa-se a enviar-lhe alimentos do exterior, garantindo assim que na próxima geração haja ainda mais pessoas morrendo de fome. Como nunca se permite à população reduzir-se a ponto de poder sustentar-se através dos seus próprios recursos (...)
(...) Os seus colegas do mundo todo entenderam perfeitamente o que dizia ele, mas têm o bom senso de não contestar a Mãe Cultura (...) não é bondade nenhuma trazer comida do exterior para conservar o seu número em quarenta mil. Isso só garante a continuidade da fome.
1991: um bilhão de famintos
Países ricos precisariam doar 100 milhões de toneladas de alimentos por
ano até 2050
A Fome no Mundo é a fome da ganância de subir na vida e de lucro fácil
deles.
os "atravessadores" - "ideológicos" - das campanhas de auxílio durante
as guerras de libertação africanas
We Are The World LIVE AID - a pioneira: depois de relançar Michael Jackson projetando-o às estratosferas do showbizz Quincy Jones produziu mais um milagre mas - we are supposed to build a better place so let's start givin' - só americano mesmo: afinal, money makes the world go around
Doações desviadas para venda por atravessadores - em Pemba (Moçambique) ou Barra (Bahia)
Shows de caridade, de benemerência, beneficência - o ego inflado e o brio religioso id.
-
Alguém aqui está ciente da existência da África?
-
Angola? Sei... onde é que fica mesmo?
-
Desapareceu do mapa do século XXI como nele mal figurou até o século
XIX. Falta água encanada mesmo nos melhores hotéis de Lagos, Nigéria.
veja 12 de setembro de 2001
HÁ MOUROS NA PRAIA
marroquinos: hoje maior colônia estrangeira na Espanha: 300 mil
antes do BOOM espanhol preferiam emigrar para França, onde são 700 mil.
Na Espanha foram presos 20 000 clandestinos desde janeiro
Miséria galopante no Marrocos.
Em 30 anos população dobrou de 15 para 30 milhões.
4 milhões vivem em favelas.
Índice de desemprego entre moradores de áreas urbanas: 20 por cento.
veja 9 de dezembro de 1992
OPERAÇÃO COMIDA
Decisão histórica: Conselho de Segurança da ONU aprovou envio de tropas
à Somália. Missão: viabilizar entrega de alimentos aos 2 milhões
de somalianos - um terço da população do país, devastado pela guerra -
na iminência de morrer de fome.
A cada dia de atraso 1 000 mortos no inferno somaliano.
Primeira tarefa dos marines: ocupar aeroporto de Mogadíscio.
Facções beligerantes apropriam-se de 75 por cento dos alimentos enviados
do exterior, pistoleiros maltrapilhos extorquem dinheiro de funcionários
de organizações humanitárias, atacam comboios e roubam comida.
Força estrangeira terá de expulsar achacadores que ficam nos portos e
armazéns.
No aeroporto há 30 000 toneladas de grãos, suficientes para alimentar 1
milhão de pessoas durante 4 meses.
Por que não usar também a força para deter a matança de civis na
ex-Iugoslávia?
Em estado de convulsão desde a derrubada do ditador Siad Barre há 11
meses.
VISÃO 16 DE DEZEMBRO DE 1999
ANGOLA
CORRU
nos de 25 anos, se esta tendência
continuar, quase 30 nações duplicarão sua população.
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS É 20 por cento INFERIOR À DE 1970
Problemas de saúde e de produção de alimentos catastróficos por causa da
guerra, seca e degradação do solo, que sofre o avanço do deserto,
acrescidos de políticas contrárias à rentabilidade da agricultura,
-
Agricultura não é só produção de alimentos. É preciso ter mercado, meios
de acesso e infraestrutura.
Zâmbia: proporção de crianças desnutridas aumentou de 5 para 25
por cento na última década.
África: 10 mil crianças morrem por dia de causas que se pode prevenir e
outras 10 mil incapacitadas pelo resto da vida.
Os gastos com cada estudante diminuíram em um terço
O Estado de São Paulo 20 DE DEZEMBRO DE 1992
ÁFRICA
MORTANDADE SE IGUALA A HOLOCAUSTO
Em vários países cidadãos desesperados começam a sonhar com o fim da
independência.
-
África está sofrendo uma verdadeira tragédia malthusiana com todos os
seus elementos básicos: fome, guerra, pobreza e doenças.
INVESTIMENTOS COMEÇAM A FUGIR
80 por cento dos investimentos no Terceiro Mundo vão para a Ásia e 7 por
cento para a África.
Em 1989 a dívida externa desses países já equivalia ao triplo das suas
exportações anuais.
DIVISÃO ARTIFICIAL DE PAÍSES VIROU BOMBA-RELÓGIO
- O
futuro do Terceiro Mundo irá depender das condições que forem impostas
pelo Primeiro Mundo e da qualidade das lideranças no Terceiro Mundo.
[E da qualidade das lideranças do Primeiro Mundo.]
Mas os países do Primeiro Mundo renegaram uma nova ordem econômica com
melhores condições de troca, como por exemplo preços mínimos para as
matérias-primas.
Os africanos frequentemente sucumbiram à tentação de realizar projetos
gigantescos e supostamente supermodernos, em cuja contratação corriam
sempre enormes subornos e propinas. Os beneficiários disso muitas vezes
não têm o menor sentimento de culpa: para eles a prioridade não é o
interesse do Estado mas o bem-estar do seu próprio grupo familiar ou
tribal. Em muitos países os dirigentes saqueavam sem quaisquer
escrúpulos os bancos centrais. A "cleptocracia" instalou-se como forma
de governo.
CLEPTOCRACIA
Agora que os donativos dos ricos estão diminuindo ou desapareceram
completamente
as regiões pobres do mundo, principalmente a África situada às portas da
Europa: explosivo potencial para o caos.
Jornal do Brasil 29 DE MAIO DE 1996
PAÍSES RICOS CORTAM AJUDA A MISERÁVEIS
Relatório sobre as catástrofes no mundo/1996 - Federação Internacional
das Sociedades da Cruz Vermelha
Alerta para um colapso na ajuda humanitária:
verba dos países ricos diminui e fome nos países pobres aumenta.
Em todo mundo
1985 - refugiados internos e externos: 22 milhões
1995 - refugiados internos e externos: 45 milhões
em 2005 podem chegar a 90 milhões
Suécia costumava contribuir com 1 por cento do PIB ou US$ 2 bilhões e
vai reduzir para 0,7 por cento, ainda assim seis vezes mais que as
doações dos EUA.
Falta de alimentos em algumas regiões e má distribuição e gestão dos
recursos.
Folha de São Paulo 22 de agosto de 1993
John Torode
The Independent
NIGÉRIA
ditadura militar
88 milhões de habitantes
importantes reservas de petróleo, o país mais populoso e potencialmente
o mais rico país da África.
90 por cento da receita: petróleo
Cronicamente instável devido às divisões tribais entre os Ibos
(sudeste), os Yorubas (sudoeste) e os muçulmanos Hausa/Fulani
(norte).
A Nigéria existe como um único país apenas porque o Reino Unido forjou
uma união entre o sul e o norte em 1917.
O Estado de São Paulo 7 de fevereiro de 1993
PAÍSES CORREM O RISCO DE SE FRAGMENTAR
Joy Aschenbach
National Geographic
Se todos os grupos étnicos tivessem a sua nação-Estado haveria
entre 850 e mil países no continente.
A população muda como as areias. É impossível registrar a população no
mapa.
A Somália, cujos habitantes estão morrendo de fome, era uma nação-Estado
homogênea (com língua comum e religião muçulmana), mas a base de sua
política são os clãs familiares.
Guerra civil na Etiópia (dominada por cristãos) pela independência da
Eritréia (mulçumana): 30 anos.
Fronteira entre Nigéria e Benin: linha traçada no centro do Estado
Yorubá, no meio de um Estado pré-colonial coerente. Existem agora duas
nacionalidades yorubá, uma anglófona e outra francófona.
DESAFIO MAIOR É ACABAR COM DITADORES
MARTIN WOOLLACOTT
THE GUARDIAN
Mobutu é o homem a quem foi aplicada pela primeira vez a frase: É
um criminoso, mas nosso criminoso.
(Que diferença faz?)
Banco Mundial
agenda africana:
continuar com programas de reforma econômica e política que estimulem o
crescimento e incentivem o aumento da produtividade e eficiência
[nos padrões ocidentais - em uma geração o salto da tribo para a aldeia
global de alta tecnologia e corrupção]
aumentar o investimento em recursos de desenvolvimento humano para de 8
a 10 por cento do PIB no final da década
dobrar o crescimento da produção agrícola em 4 por cento
tomar providências urgentes contra a degradação do meio ambiente e dos
recursos naturais
Banco Mundial
1985: 191 milhões de pobres - 1992: 228 milhões
Pobreza aumenta em função do declínio do comércio externo e de causas
internas como a seca e adoção de políticas não apropriadas.
Jornal do Brasil 2 de novembro de 1993 A
GUERRA SUJA DE ANGOLA ARTUR POERNER
Em meados de 1988 - quando os prejuízos causados a Angola já eram
estimados em US$ 12 bilhões, além dos milhares de mortos e mutilados...
Jornal do Brasil 27 de fevereiro de 1994
A GUERRA SANGRENTA QUE O MUNDO ESQUECEU
ANGOLA: só no Huambo chegam a cair 9 mil bombas por dia.
O Brasil vende armas ao governo de Angola.
Grupos paramilitares da África do Sul, Arábia Saudita, Marrocos e Zaire
suprem a Unita.
A Europa vende a Angola armas de ferro-velho.
Israel vende mina que flagela, não mata, e eficiente também porque cada
soldado mutilado será carregado por outros dois.
Jornal do Brasil 22 de agosto de 1993
A rota acidentada da
democracia na África
Scott Kraft
Los Angeles Times
Nigéria dividida em 250 grupos étnicos que falam aproximadamente
400 línguas
90 milhões de habitantes: quase um sexto dos africanos
Folha de São Paulo 28 de agosto de 1994
Eeben Barlow, mercenário sul-africano, nas décadas de 1970
e 80 lutou no exército do seu país contra o governo de Angola, a que
desde 1993 presta ajuda na guerra contra a Unita através da sua empresa
Executive Outcomes.
Jornal do Brasil 8 de janeiro de 1994
Salário mínimo em Angola: US$ 1 - em Moçambique: US$ 12
Moçambique, terra de Tara, onde passa o rio Zambeze.
PIB: US$ 1,5 bilhão Dívida externa: 6 bilhões
saindo da pior seca do século
Hotel Polana, em Maputo, foi construído em 1922 por Walter Reid, autor
do projeto do Copacabana Palace
O Estado de São Paulo 13 de fevereiro de 1994
Minas terrestres espalham a
morte em 62 países
Donovan Webster
The New York Times Magazine
São fabricadas até 30 milhões por ano.
Folha de São Paulo 8 de dezembro de 1989
comunidade "doadora"
para permanecer no ponto em que estão e não piorar segundo o Banco
Mundial´
as economias africanas precisam crescer pelo menos 4 a 5 por cento ao
ano.
África não tem condições de disputar mercado internacional em quase
nenhuma área.
"Fuga de cérebros", ou evasão de cientistas: calcula-se que pelo
menos 70 mil tenham optado por ficar na Europa ou EUA, onde se formam.
EUA abrigam 34 mil estudantes africanos.
Especialistas em ciências exatas são estrangeiros.
Agricultura: a maior chance de a África retomar o desenvolvimento
Produção agrícola deverá crescer até 5 por cento ao ano ou será
impossível alimentar uma população que dobrou em 30 anos e dobrará nos
próximos 30.
Expansão das áreas cultiváveis
aquisição de equipamentos, ferramentas, técnicas para maior
produtividade do solo, pesquisas sobre espécies agrícolas mais
produtivas, resistentes e adaptáveis.
Conter a devastação ecológica para impedir a desertificação do solo.
O Estado de São Paulo 18 DE MAIO DE 1997
A SEGUNDA MORTE DO IMPERIO
FRANCÊS GILLES LAPOUGE
Zaire, o coração estratégico - geográfico e financeiro - da África.
Em 1994, o presidente de Ruanda foi assassinado. Nos dias que se
seguiram os hutus, da sua etnia, massacraram 1 milhão de membros
da etnia tutsi.
Leste do Zaire: antigas colônias belgas de Ruanda e Burundi e
ex-colônia inglesa de Uganda.
Tropas de Laurent Kabila têm, além de zairenses, ruandenses e ugandeses.
É claro que se deve criticar a colonização, mas a da França foi bem
menos brutal, insensível ou egoísta que a de outras potências
imperialistas.
[Que diferença faz?]
ANGOLA: DOENÇAS MATAM TANTO QUANTO A GUERRA O
Estado de São Paulo 28 DE JANEIRO DE 1996
Unicef, órgão das Nações Unidas para a Infância, apontou Angola como o
país de maior ocorrência de mortalidade infantil no mundo em 1995.
A malária dizima populações inteiras no país.
"Há uma epidemia em Angola de todas as doenças que se possa imaginar",
chegou a dizer uma funcionária de uma agência humanitária.
Guerrilheiros ou Exército saqueiam tudo: medicamentos, freezers,
geradores de energia, carros, alimentos. Angola era o segundo maior
produtor de alimentos da África e o quarto maior exportador de diamantes
e de café do mundo, tem uma das maiores reservas de petróleo e gás
natural do planeta, depósitos significativos de ouro, ferro, fosfato,
manganês, chumbo, cobre, quartzo, mármore, granito e zinco, potencial
para produzir 600 mil toneladas anuais em pesca e - muito importante na
África - tem água em abundância - um Brasil oito vezes menor
Catoca, considerado o maior filão de diamantes do mundo, maior
até que o de Kimberley, o famoso centro diamantífero sul-africano
Produzia US$ 700 milhões e esperava produzir US$ 2 bilhões na extração
de diamantes por esta altura - mas boa parte dessa riqueza não reverte
para o Estado porque é desviada para o contrabando.
O Estado de São Paulo 17 DE NOVEMBRO DE 1996 RUANDA FECHA FRONTEIRA PARA CONTER
REFUGIADOS
ONU indica que medida é temporária e visa apenas tentar controlar a
gigantesca onda de civis hutus, que voltavam do Zaire em ritmo acelerado
- mais de 200 por minuto.
FRONTEIRAS CICATRIZES CRIAM ÁFRICA
ABSURDA GILLES LAPOUGE
a região dos Grandes Lagos (leste do Zaire, Ruanda,
Burundi e Uganda)
Ruanda: hutus, maioria, e tutsis, 15 por cento
Ruanda e Burundi: poder na mão dos tutsis
tutsis: redesenhar as fronteiras do centro da África para
reagrupar a etnia que hoje se estende ao Zaire
África tem 700 etnias e 1,2 mil línguas (ver acima outra cifra).
Jornal do Brasil 24 DE NOVEMBRO DE 1996
O DECANO DOS DITADORES DA ÁFRICA
JUAN CARLOS SANZ EL PAÍS
Zaire: cinco vezes a Espanha com quase a mesma população
(42 milhões)
No subsolo jazem algumas das reservas de cobre, cobalto e diamante mais
ricas do planeta. Com mais de 250 grupos tribais, cinco idiomas e
dezenas de dialetos
MAURÍCIO THUSWOHL Jornal do Brasil
Zaire: refúgio para 2 milhões de hutus ruandenses.
Dois grandes campos foram montados pela ONU na região de Kivu.
RICOS TIRAM PÃO DA BOCA DOS POBRES
JOHN FRIEDMAN NEWSDAY
Sistema global de assistência pós-Segunda Guerra Mundial, que
supria os países pobres com gigantescos excedentes de alimentos dos
países ricos, terminou com o encerramento da Cúpula Mundial de
Alimentação em Roma.
- Os
países que não podem alimentar a si mesmos ficarão ao desabrigo -
resumiu um funcionário do primeiro escalão do WFP, World Food
Program, ou PAM, Programa Mundial de Alimentação..
Declaração final promete reduzir à metade os 840 milhões de pessoas que
passam fome no mundo até o ano 2010.
Os excedentes têm praticamente desaparecido e os contribuintes dos EUA e
da Europa não se acham dispostos a pagar para alimentar os países
pobres.
Previsões: por volta de 2025 haverá mais 2,6 bilhões de bocas
15 milhões de toneladas de ajuda alimentícia de que os países pobres
necessitam este ano aumentarão para pelo menos 27 milhões, talvez 40
milhões, em 2005. A maior parte do crescimento das necessidades estará
na África subsaariana.
Ajudas em alimentos:
1992: 15,2 milhões de toneladas
1995: 8,4 milhões
O Estado de São Paulo 29 DE OUTUBRO DE 1996
RUANDA E BURUNDI APÓIAM
OFENSIVA REBELDE NO ZAIRE
Cerca de 500 mil refugiados hutus que viviam em acampamentos desde o fim
da guerra civil ruandesa em 1994 se movimentam em desespero ao longo das
margens do Lago Kivu em busca de lugar seguro para escapar dos ataques
tutsis.
Banyamulenges - tribo tutsi refugiada no Zaire há várias gerações.
As Nações Unidas não conseguiram convencer os refugiados a voltar ao seu
país e os países ocidentais que pagam a conta se cansaram de contribuir
com US$ 300 milhões por ano para sustentá-los.
Em Ruanda os hutus tomaram o poder em 1959 e expulsaram milhares de
tutsis. No Burundi foram os tutsis que controlaram o poder por meio de
brutal repressão.
Mas de momento os dois governos são integrados por tutsis, apenas com
alguns membros hutus.
FINANCIAL TIMES GAZETA MERCANTIL 30-09-1993
O volume da dívida da África subsaariana cresceu de cerca de US$
90 bilhões em 1980 para US$ 183 bilhões, valor superior ao Produto
Interno Bruto da região.
Gana, que implementou um programa de recuperação econômica durante uma
década com as bênçãos do FMI, ainda entrega 25 por cento das receitas de
suas exportações em pagamento do serviço da dívida e precisa pedir mais
ajuda para cobrir seu déficit do balanço de pagamentos.
NOVAS GUERRAS CRIAM LEGIÕES DE
REFUGIADOS O GLOBO 14 de agosto de 1994
JOHN DARNTON THE NEW YORK TIMES
O êxodo de dois milhões de refugiados de Ruanda, trágico e
escandaloso.
Em todo mundo:
1974: 2,4 milhões de refugiados
1984: 10,5 milhões
1994: 23 milhões
Em regiões como o Chifre da África a combinação da seca com a guerra
castigou de tal forma o solo que não é mais possível extrair dele a
sobrevivência.
As raízes da crise ruandesa vêm de 1959: meio milhão de
refugiados, quase todos da minoria tutsi, fugiram para escapar da
"revolução social" promovida pelos hutus antes da independência, em
1962.
Campos de Kivu: enorme concentração de pessoas sem água limpa
para beber ou condições sanitárias que evitassem o alastramento de
doenças como cólera, tifo e disenteria.
Só nos campos de refugiados de Goma já morreram 20 mil pessoas.
Folha de São Paulo 24 DE JUNHO 1993
DITADOR DA NIGÉRIA
ANULA ELEIÇÃO E RESOLVE PERMANECER NO PODER
vitória quase certa do empresário muçulmano Moshood Abiola, originário
do sul do país, onde a maioria da população é cristã.
Com quase 120 milhões de habitantes (? - ver acima),
Guerra do Biafra: mais de um milhão de mortos
GUERRAS QUE O MUNDO NÃO VÊ O GLOBO 16 de maio de 1996
DRAMA DE REFUGIADOS DA LIBÉRIA MOSTRA DESCASO DA COMUNIDADE
INTERNACIONAL
fugitivos de mais um país sem importância que se esvai em sangue na
desarrumação do mundo pós-Guerra Fria.
Milicianos assassinando milicianos a tiro e a faca nas ruas de Monróvia.
A Europa permitiu que muçulmanos, croatas e sérvios se matassem por
atacado durante cinco anos na Bósnia. Se foi indiferente a Srebrenica e
Sarajevo, como esperar que se comova com a África subsaariana?
OVER
BURUNDI MOUNTAINS CODONA
O GLOBO 24 DE DEZEMBRO DE 2000
GUERRAS MATARAM CEM MIL
PESSOAS EM UM ANO
Balanço Militar 2000, Instituto Internacional de Estudos Estratégicos,
com sede em Londres
nove guerras internacionais e 27 conflitos internos armados
60 por cento das mortes se concentram na África subsaariana
economias mais pobres do mundo estão sendo destruídas por conflitos
armados
cresce o mercado de armas
14 operações mundiais de paz mantidas pela ONU
comércio internacional de armas caiu em 1999: US$ 53,4 bilhões
1998: US$ 58 bilhões
gastos militares globais: US$ 809 bilhões
"O objetivo da operação de paz da ONU em Serra Leoa não está claro,
assim como é bastante questionável sua capacidade de fazer uma
contribuição sensata a uma região altamente instável como o Congo."
Jornal do Brasil 14 de dezembro de 1996
Kofi Annan
Trinta anos a serviço da organização (das Nações Unidas)
Quase impossível de transitar
incólume pelos corredores minados da ONU
em Nova York.
O Estado de São Paulo
12 DE MAIO DE 1996
NA PENÚRIA, ONU USA FUNDO
DE OPERAÇÕES DE PAZ Renan Antunes de Oliveira
10 mil barnabés da sede do Secretariado Geral, em Manhattan. Vem aí uma
redução de 10 por cento entre os 54 mil funcionários espalhados pelo
mundo, nas entidades afiliadas.
Operação em Angola com 1118 capacetes azuis custa US$ 1 milhão/dia
Até o fim da Guerra Fria o uso da ONU pelos USA era diferente do que é
hoje.
Ações e decisões da ONU repousam na aparência no bom senso mas às vezes
demora tanto que deixa um país se consumir, como aconteceu em Ruanda,
para depois ir lá catar os pedaços.
Todos gostam de missão fora. São o filé. Angola paga US$ 61 de diária,
fora o salário que fica na conta em Noiva York.
No capítulo A Natureza da Guerra de Ends and Means (Fins e Meios) Aldous Huxley aponta para a maior contradição dos estatutos da Liga das Nações, antecessora da Organização das Nações Unidas: a de só admitir como membros países que tenham exércitos, pressupondo que devem estar preparados para a guerra e não para a paz. Um claro sinal do verdadeiro espírito dos governantes, estando-se, como tudo indica em 1937, na iminência de um novo conflito bélico. Mais uma prova de que o homem nunca se prontificou a encontrar uma alternativa para a guerra, argumenta.
Leia mais reflexões de Huxley sobre o desgoverno mundial em
O
PERIGO QUE ESPREITA A CADA PASSO VEJA 17
de abril de 1996
minas terrestres, arma estúpida
Convenção das Nações Unidas sobre Armas Desumanas, aprovada em 1981 mas
só ratificada agora - um contra-senso
arma simples, barata e perversa, arma preferida pelos exércitos
maltrapilhos nas guerras esquecidas do Terceiro Mundo
mais de 110 milhões espalhadas por 64 países
fábricas instaladas em 36 países produziram 2 milhões em 1994
matam 24 000 pessoas por ano
algumas custam menos de 3 dólares
Retirá-las custa de 300 a 1 000 dólares, de acordo com a ONU
erradicá-las custaria US$ 33 bilhões
China: mais de 1 milhão de minas deixadas pela Guerra Civil de 1949 e
pelo conflito de fronteiras com a ex-URSS na década de 1960
Angola: entre 15 a 20 milhões, uma para cada habitante
200 pessoas dão entrada em hospitais por semana com as pernas
esmigalhadas. Há mais de 70 000 mutilados.
Irã: mais de 10 milhões
Bósnia: 3 milhões de minas espalhadas por muçulmanos, croatas e sérvios
Jornal do Brasil
Zaire
orçamento para a saúde em 1991: R$ 0,05/habitante
Mobutu alugava Concordes por R$ 1 milhão
1991: só 10 por cento da receita dos diamantes foram para os cofres
públicos
madeiras nobres, além de solos férteis para a produção de café e cacau.
Zaire foi o canal para a ajuda americana à Unita
O FIM DO IMPÉRIO FRANCÊS AFRICANO Jornal do
Brasil 11 DE MAIO DE 1997
Mobutu recebeu em seu território os fugitivos ruandenses da etnia hutu,
protegidos da França e responsáveis pelo genocídio de cerca de 1 milhão
de tutsis e hutus moderados.
Laurent Kabila ainda NÃO CHEGOU A KINSHASA MAS ESQUADRILHAS DE
JATOS EXECUTIVOS já estão aterrissando no aeroporto de Kisangani,
subitamente transformada em meca dos bons negócios.
Heart of Darkness, coração das trevas, Kurt
antecessores de Mobutu Sese Seko inspiraram romance de Conrad:
Horror!
Horror!
O Estado de São Paulo 7 de agosto de 1994
Alguns especialistas dizem que a saída está no chamado realismo
econômico: a ajuda econômica só dará resultado se os africanos ajudarem
a si mesmos.
Por um lado o respeito a essas fronteiras ajudou a proteger o fraco do
forte - as guerras entre Estados africanos são raras - elas forçaram
etnias tradicionalmente inimigas a conviver sob a mesma bandeira.
12 dos 47 países têm sofrido com sucessivas guerras civis
40 golpes de Estado nos últimos 30 anos
importações cresceram 10 vezes nos últimos 30 anos
PARA GUEVARA, KABILA ERA BÊBADO E MULHERENGO O
Estado de São Paulo 13 de abril 1997
A única pergunta que os observadores da África Central fazem é se ele
será menos ou mais corrupto, menos ou mais despótico do que Mobutu.
... sabe-se que 50 por cento da produção das minas de diamante sai
ilegalmente do Zaire.
Os tubarões anglo-americanos e sul-africanos dos metais não-ferrosos e
dos diamantes já estão de conchavo com Kabila.
Zaire, um dos países mais ricos em minério do mundo, ocupa lugar
estratégico no centro do continente.
[E o que isso interessa agora?]
O Estado de São Paulo 18 de dezembro de 1996
Enquanto isso na Tanzânia - outro país a receber
centenas de milhares de refugiados após a guerra civil ruandense - cerca
de 300 mil hutus continuavam se dirigindo à fronteira ruandesa, depois
de terem sido praticamente expulsos dos campos pelo Exército tanzaniano.
Jornal do Brasil 5 de janeiro de 1997
REFUGIADOS, UM
PROBLEMA SEM FIM
resistência dos países desenvolvidos a conceder asilo. A França,
conhecida pela sua liberalidade na concessão de vistos, cerrou as portas
inclusive para naturais de suas ex-colônias como a Argélia.
condição de meteco (do grego metoikos, ou quem muda de casa)
Entre os que todo ano jogam flores para Iemanjá nos mares do Brasil
muitos não sabem que os primeiros negros escravizados jogavam flores na
esperança de que chegassem ao país da origem, para onde queriam voltar.
A oferenda é um pedido de dias melhores de nossos primeiros metecos.
O Estado de São Paulo 1º de novembro 1996
Goma, no nordeste do Zaire, centro das operações humanitárias
para mais de 1 milhão de refugiados hutus.
Mugunga, com mais de 400 mil pessoas, já é o maior e o mais
densamente povoado campo de refugiados do mundo.
Kabila, líder do grupo tutsi Aliança de Forças Democráticas para a
Libertação do Congo-Zaire
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) exigiu a abertura
de "CORREDORES HUMANITÁRIOS", sem que se saiba ao certo a partir de onde
e em que direção.
Aos políticos ocidentais o que não falta é coragem. Eles detestam
violência, injustiça, desprezo pelos direitos humanos. Mas estão de mãos
e pés atados.
O Estado de São Paulo 5 DE ABRIL DE 1995
FALTA DE AJUDA AMEAÇA DEMOCRATIZAÇÃO
HOWARD W. FRENCH
THE NEW YORK TIMES
OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico,
que monitora o fluxo líquido de verba assistencial dirigida aos países
em vias de desenvolvimento.
neologismo ilógico
DOAÇÕES:
1992: US$ 60,85 bilhões
1995: US$ 55,96 bilhões
África: US$ 20 bilhões
EUA:
1985: US$ 1,72 bilhão
1992: US$ 1,2 bilhão
Departamento dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
fechou 8 de suas 35 missões africanas.
"O mundo ao redor da África está sendo rapidamente unificado e esse
continente corre o grave risco de tornar-se um espaço isolado do mundo",
anteviu Anthony Lake, consultor de segurança nacional do ex-presidente
Bill Clinton.
... o pagamento das dívidas que beneficiaram as contas pessoais dos
ditadores
Mali, país banhado pelo Rio Niger, privilegiado com um delta
fértil que ofereceria a salvação para uma região que importa há muitos
anos grandes quantidades de grãos. Se esse potencial for explorado, os
especialistas alegam que o país necessitaria injeções de dinheiro e
assistência técnica. Os diplomatas também chamam a atenção para esse
extenso país no coração da região do Sahel, sul do Saara, como
uma barreira contra a expansão da militância islâmica proveniente do
vizinho ao norte, a Argélia.
indiferença do Ocidente
despotismo
Ocidente virou as costas e depositou todo seu interesse em outros
países
Continente precisaria de décadas para adquirir know-how de Bolsas de
Valores para abrigar investimentos de fundos de pensão.
GAZETA MERCANTIL 8 DE JUNHO DE 1995
ÁFRICA AMEAÇA FRUTICULTURA EUROPEIA
Vantagens concedidas a Pretória podem afetar produtores do Mediterrâneo
JAMES HARDING
FINANCIAL TIMES
O apoio da UE ao processamento industrial de frutas, que já
cobriu mais de 40 por cento dos custos dos pêssegos, agora geralmente
cobre menos de 15 por cento.
... [produtores de frutas europeus pedem] compensação ao setor por
acordos bilaterais existentes com produtores de frutas tropicais.
... a facilidade com que competidores externos podem capturar uma fatia
do mercado é chocante.
... existem cerca de 575 mil pessoas empregadas em horticultura na
África do Sul, das quais dependem outros 2,7 milhões de pessoas.
"Qualquer coisa que dificulte o acesso ao mercado europeu impedirá a
geração de lucros pelos fazendeiros sul-africanos, inclusive o
investimento na agricultura e a manutenção dos empregos que garantem o
tecido social do país"
Jornal do Brasil 18 de dezembro de 1994
MOÇAMBIQUE EM PAZ SABOREIA DEMOCRACIA
Se a comunidade internacional parasse hoje de dar dinheiro a Moçambique
amanhã o país estaria quebrado.
Renda per capita anual: US$ 80
Mortalidade infantil: 150 em cada 1 000
Desmobilização de 90 mil homens da Frelimo e da Renamo.
56 por cento do orçamento do Estado vêm de outros governos e
instituições estrangeiras.
Das 6 mil escolas antes existentes, restam 3 mil
e só metade dos 2500 postos de saúde
O Estado de São Paulo 18 DE DEZEMBRO DE 1994
MOÇAMBIQUE ENFRENTA DESAFIO DA DEMOCRACIA
Moçambique tem muitos recursos naturais (como carvão e gás), bons portos
e a maior hidrelétrica africana, Cabora Bassa, no Zambeze
- rio das aventuras de Tarzan -, que opera com 10 por cento da
capacidade.
Folha de São Paulo 17 de maio de 1997
APÓS 32 ANOS MOBUTU DEIXA ZAIRE FALIDO
João Batista Natali
Renda per capita: metade dos US$ 230 de 1990
Ingere-se em média 1500 calorias/dia, 1000 a menos que o necessário à
nutrição.
Metade das crianças sofre de paludismo/malária
51 por cento das mortes são por infecções e doenças parasitárias.
Por sua posição estratégica Zaire tornou-se pivô continental dos
confrontos Leste-Oeste.
Os soviéticos apoiavam Patrice Lumumba (que era
primeiro-ministro quando Mobutu tomou o poder após guerra civil através
de golpe de Estado patrocinado pela CIA), e os belgas e norte-americanos
a Província Separatista de Katanga, governada por Moisés
Tchombé.
Além da Unita, apoiou na África do Sul os adversários do CNA (Congresso
Nacional Africano) de Mandela.
RIQUEZA DIFICULTOU O FIM DA COLONIZAÇÃO
Técnicos europeus designam o Zaire um "escândalo geológico"
Guerra da Argélia matou de 300 a 600 mil pessoas
Jornal do Brasil 17 DE MAIO DE 1997
MOBUTU ABANDONA O PODER
e voou para a mansão-fortaleza conhecida como Versalhes da Selva
que possui em Gbadolite, no Norte do país.
Mais de 70 milhões de dólares no Marrocos em propriedades localizadas
principalmente na área de Marrakesh.
Palácio na Riviera francesa.
Uma residência em Lausanne no valor de US$ 2,5 milhões.
Apartamentos em Paris e Bruxelas.
Enorme quinta no Algarve com 14 mil garrafas de vinho de safras
preciosas.
Proprietário de fazendas de café no Brasil.
SESE
SEKO KUKU NGBENDU
WAZA BANGA aliás,
Joseph Desiré Mobutu
- As
elites francesas encaram a África como um continente habitado por
selvagens, por violentas tribos que precisam de um ditador para
controlá-las.
Folha de São Paulo 19 de julho de 1991
Migração envenena relações entre os Estados africanos
Refugiados se tornam dado político importante na África
René Le Marchand
prof. Universidade da Flórida
fugindo da morte e da miséria
África: seis milhões de refugiados;
se acrescentar aos imigrados os deslocados no interior de cada Estado:
15 milhões.
Moçambique: 1 milhão
e 900 mil refugiados em Malawi
Nigéria, durante o BOOM do petróleo atraiu trabalhadores;
em 1983, expulsou 500 mil estrangeiros
Sudão, neste momento, nos mostra a extensão do desastre que
ameaça as populações do sul do país, após uma seca catastrófica
Cartum, a capital, barra ajuda internacional às áreas mais
atingidas pela fome, confiando na redução da resistência do sul à
dominação do norte, onde está o governo do general Omar Hasan
al-Beshir.
Diante dos interesses em jogo o desaparecimento de 7 milhões de vidas
humanas.
Etiópia 1984-85: deportação de 1,5 milhão de pessoas para o
país atacadas pela seca, entre as mais refratárias ao governo de
Adis Abeba, e do mesmo modo governo recusa a permissão de ajuda
internacional.
Fracasso da política de urbanização dos regimes afro-marxistas. Na
Etiópia programa de urbanização das Forças Armadas planejou deslocar 30
milhões de habitantes entre 1985 e 1995. Em 1987, enquanto os militares
se gabavam de ter reagrupado 3 milhões de pessoas em nome da revolução
agrária, 700 etíopes chegavam por dia ao campo de Aguessa, na Somália,
fugindo da arregimentação.
Violência em confrontos no reagrupamento de populações rurais em
Moçambique é atribuída a erros da Frente de Libertação de Moçambique
(Frelimo) muito mais que ao apoio da África do Sul à Resistência
Nacional Moçambicana (Renamo). População vítima de atrocidades de ambas
as partes.
Políticas de desenvolvimento, na maioria dos casos, têm por objetivo
permitir às elites que se apropriem de terras valorizadas pelo
planejamento do espaço, um dos aspectos menos conhecidos dos fenômenos
migratórios.
e quando já é mais que evidente o descalabro
ÁFRICA: DEMOCRACIAS ENGATINHAM EM MEIO À TRAGÉDIA
Jornal do Brasil 7 abril 1991 Eric Fottorino Le Monde
África parece longe de tudo, como se não servisse para nada.
O Magreb, na África do Norte, interessa mais aos europeus pela
proximidade e o perigo que podem representar para o Norte.
Organização de Urgência das Nações Unidas (Undro) encontra dificuldades
há cinco meses para acudir as populações atingidas pela guerra civil na
Libéria. Pediu US$ 14 milhões para dar ajuda a meio milhão de pessoas
bloqueadas na capital, sem água potável e com poucos sacos de arroz, mas
só conseguiu um décimo desse valor.
"Trade, Not Aid" foi o slogan no fim da chamada "década perdida
para o desenvolvimento" também na África, quando a queda dos preços das
matérias-primas tropicais (café, cacau, algodão) e do cobre do
CINTURÃO DO COBRE zairo-zambiano mostraram quanto a África tinha
ainda a perder em trocas comerciais decididamente desiguais: 41 países,
dos quais 21 africanos, contribuíam apenas com 1 por cento para o
comércio mundial, em que a África não exerce qualquer influência na
formação dos preços ou na distribuição dos produtos. As importações, por
outro lado, tornam-se mais caras e a cada ano o continente se afasta
mais da auto-suficiência alimentar.
Desenraizamento das populações em cidades abarrotadas de gente e
sub-equipadas.
África, a região mais endividada do mundo (US$ 130 bilhões) em relação
ao Produto Interno Bruto. Pelo destino dado aos recursos pelos seus
governantes, ninguém de bom senso poderia pretender convencer a opinião
pública-contribuinte a aceitar o perdão da dívida. E o endividamento é
de somenos quando se pensa na falta de poupança e de estímulo ao
investimento privado.
Na Conferência Mundial para a Reparação à África e aos Africanos da
Diáspora a Nigéria propõe aos países ricos o pagamento de uma
indenização de US$ 25 bilhões pelos cinco séculos de escravidão negra.
(A quem serviriam eles?)
Uganda: alguém aí se lembra das atrocidades de um certo Idi Amin Dada
nos anos 1970? E do papel ridículo de leão coroado de Jean-Bedel
Bokassa na República-Império Centro-Africana?
Jornal do Brasil 27 DE OUTUBRO DE 1996
(MAIS UM) GENOCÍDIO À VISTA NO CORAÇÃO DA ÁFRICA
Ruanda: pelo menos 800 mil pessoas mortas em 1994
(prenúncio insuspeitável da queda de Mobutu) no Leste do Zaire Exército
enfrenta rebelião de tutsis zairenses ou baniamulenges,
acossados no outro flanco por mais de 1 milhão de refugiados hutus de
Ruanda e Burundi.
Zaire: 60 por cento das reservas mundiais de cobalto, diamantes,
cobre cádmio, zinco, ouro, prata, estanho, manganês, urânio, rádio
Mobutu: fortuna estimada em 4 a 6 bilhões de dólares
região dos Grandes Lagos do Centro da África (Vitória, Tanganica,
Albert e Niasa)
ALFONSO ARMADA, EL PAÍS
Libéria: escravos libertos chegados dos EUA subjugaram os
nativos durante mais de um século e meio.
Burundi: 6,5 milhões de habitantes, 150 mil mortos em
conflitos étnicos nos últimos três anos.
ministro das Instituições Eugene Nindodera: As diferenças
entre valões e flamengos na Bélgica foram transplantadas para a
colônia: os valões apoiaram os tutsis e os flamengos os hutus. Antes
da chegada dos europeus não havia questão étnica.
(talvez houvesse)
tutsis: a maioria criadores e negociantes de gado
hutus: agricultores
(não reproduzirão também uma certa guerra dos primórdios da história
ocidental?)
A FRAGILIDADE DA DEMOCRACIA AFRICANA
GAZETA MERCANTIL 15 DE FEVEREIRO DE 1996
Michael Holman
Financial Times
golpes no Níger e Serra Leoa
agitação na Guiné Equatorial
agravamento da crise na Nigéria
guerra no Zaire, Libéria, Sudão, Ruanda
As lealdades tribais determinam a fidelidade dos eleitores.
Críticos também destacam que os mesmos doadores não permitiram que a
questão dos direitos humanos impedisse o aumento do comércio com a China
GAZETA MERCANTIL 29 DE JANEIRO DE 1996
ANGOLA, UM PARAÍSO DE MERCENÁRIOS
Cerca de 70 companhias do setor da segurança estão competindo em Angola
na esperança de preencher o vazio deixado pela saída formal da
sul-africana Executive Outcomes, convidada a deixar o país por
pressão do presidente norte-americano Bill Clinton.
O Estado de São Paulo 1º DE FEVEREIRO DE 1996
ANGOLANOS JÁ NEM SABEM POR QUE GUERREIAM
Thomas L. Friedman
The New York Times
Num continente cheio de guerras insensatas, a de Angola consegue
ser a mais insensata: as duas coisas que mantêm esta guerra em andamento
agora são o ego de Savimbi e os diamantes.
Folha de São Paulo 29 DE MARÇO DE 1991 MOÇAMBIQUE
TEM A MAIOR POBREZA DO MUNDO
Relatório do Desenvolvimento do Banco Mundial
Renda per capita: US$ 100 (1988)
Mortalidade infantil: 144 mortes em 1 000 crianças com menos de 1
ano
PIB caiu 5,9 por cento ao ano entre 1982 e 1985
Taxa de crescimento demográfico:: 2,7 por cento
desabastecimento, corrupção e mercado negro
Política agrícola desastrosa: Experiência das aldeias comunais e das
fazendas estatais de produção coletiva em grande escala revelou-se
ineficiente e desagregadora do sistema tradicional de organização das
dez tribos do país.
Os portugueses deixaram uma colônia fortemente dependente de importações
e destituída de quadros de gestão econômica.
Ao contrário das colônias britânicas, a população foi marginalizada pelo
sistema educacional.
[Taxa de analfabetismo em meados da década de 1970 era de 90 por cento e
quando o então ministro da Cultura Luís Bernardo Onwana falou
na adoção do inglês como língua oficial porque o país está rodeado de
anglófonos a última flor do Lácio bradou ao escândalo: que
diferença faz para quem teria de ser alfabetizado de qualquer jeito?]
O Estado de São Paulo 25 de setembro de 1991
Zaire: país montado pelos belgas se esfacela
Gilles Lapouge
mais de cem etnias (diz ele), 15 milhões de bantus, três
milhões de sudaneses e 100 mil pigmeus
Parece que voltamos à obscura Idade Média européia quando homens e
mulheres viam os filhos morrer de fome e os poderosos construíam
palácios de ouro e matavam e destruíam ao acaso.
23 de novembro de 1991
O Estado de São Paulo
ONU: Enfraquecida e pouco operante por várias décadas, a
organização vem ganhando força desde o fim da guerra fria. Teve papel
decisivo na guerra do Golfo ao autorizar o uso da força contra o Iraque.
(em nome de quê e de quem?)
ISTOÉ 12 de julho 1995
PAZ DE CEMITÉRIO
Angola: existe o temor de que ocorram levantes de populações
desesperadas com a fome
[quem as conhece não pensa sequer em coisa do gênero - em nenhum lugar é
assim - nem na Bósnia isso aconteceu. As populações estão subjugadas.]
Folha de São Paulo 2 de janeiro de 1995
REFORMA NA ÁFRICA DO SUL
AMEAÇA REINO ZULU
até agora os zulus conseguiram manter um alto grau de independência em
seu reino, a Zululândia - ou KwaZulu, na língua de 22
por cento dos sul-africanos.
A tendência agora é a de perder a autonomia relativa que teve mesmo sob
o regime de apartheid (1948-1990).
O resultado mais visível das transformações são as brigas entre
militantes do Partido da Liberdade Inkatha (zulu) e do CNA, de
Nelson Mandela, de origem xhosa: mais de 10 mil mortos desde 1990.
Missão de paz requer diálogo e poder de fogo
Folha de São Paulo 20 de novembro de 1994
Moçambique: 2 milhões de minas explosivas espalhadas pelo
território.
Caminhões com alimentos são assaltados por guerrilheiros. Banditismo
endêmico. [como na Somália]
Jornal do Brasil 20 de junho 1993
GUERRA EM ANGOLA CONTINUA IGNORADA PELO RESTO DO MUNDO
Trata-se de uma guerra de Terceiro Mundo, travada com equipamentos
obsoletos e poucas armas de destruição em massa.
[uma guerra de terceira categoria]
Meio milhão de crianças morreram desde a retomada da guerra
O Estado de São Paulo 14 de fevereiro 1993
ÁFRICA
um terço dos conflitos de toda ordem registrados ao redor do mundo:
15 países conflagrados
Folha de São Paulo 2 DE MAIO DE 1993
ÁFRICA DESAPARECE NA
GEOPOLÍTICA DE MERCADO
José Sachetta Ramos
A saída dos militares norte-americanos da Somália põe fim a uma
encenação da Nova Ordem Mundial. Intervenção "humanitária" não põe fim a
problemas sociais.
Washington poderia ter optado por intervir no Sudão ou Etiópia, países
vizinhos, com guerras civis e milhões de esfomeados.
Somália se formou em 1990 da junção de duas ex-colônias, uma britânica
outra italiana.
Até 1977 a ex-URSS forneceu-lhe ajuda. Depois voltou-se para a inimiga
Etiópia. Os EUA ocuparam o vácuo. Em meio a uma seca devastadora, a
Etiópia invade o país, que já nasceu sob o signo das disputa de clãs
tribais. Estado de ficção, numa região com 65 por cento de nômades.
Sudão: islamização forçada de animistas e cristãos do sul levou a um
conflito de três décadas de duração.
Seca, fome e guerra: cenário contemporâneo do Chifre da África.
Etiópia e Sudão iniciaram programas de irrigação e
drenagem das águas do Nilo Azul, que nasce na Etiópia, une-se
ao Nilo Branco no Sudão e desce para o Egito. Ao frear
a irrigação, as guerras civis adiaram um conflito ainda maior.
veja 16 de abril de 1977
UM REGIME ROLA LADEIRA ABAIXO
Mobutu nunca fez distinção entre tesouro nacional e fortuna pessoal
já gastou 50 milhões de dólares com a campanha militar
Jornal do Brasil 16 de junho 1991
Neil Henry
The Washington Post
NOVA ÁFRICA EMERGE DA GUERRA FRIA
Finalmente desprezado pelos Estados Unidos, o regime sômalo de Mohamed
Siad Barre (que servia de tampão contra a vizinha Etiópia, apoiada
pelos soviéticos) esboroou-se.
Agora os Estados Unidos ajudam uma insurreição rural antes apoiada por
Moscou a assumir o poder.
Sete milhões de etíopes estão ameaçados de morrer de fome.
Jornal do Brasil 30 de novembro 1994
ONU DENUNCIA CORRUPÇÃO NO GOVERNO DE MOÇAMBIQUE
A ONUMOZ, missão das Nações Unidas, descobriu que 20 mil dos 85 mil
soldados da Frelimo nunca existiram, denunciou o representante especial
da organização, Aldo Ajello:
- Era
um negócio como outro qualquer. O Ministério das Finanças pagava e
alguém no Ministério da Defesa pegava o dinheiro.
O Estado de São Paulo 20 de março de 1997
Zaire, definido no guia
The World's Most Dangerous Places, do norte-americano
Robert Young Pelton: Sujo, desagradável, corrupto, violento, mas
fora isso não tão ruim. O buraco do inferno da África Central.
Jornal do Brasil 29 DE OUTUBRO DE 1995
ÁFRICA AINDA VIVE NA ERA DO
RÁDIO
Ondas radiofônicas amplificam tradição verbal e servem como principal
instrumento de propaganda e informação no continente
John Balzar
Los Angeles Times
abril de 1994
O locutor disse que o avião que transportava o presidente tinha caído e
ele morrera.
A estação era um braço do movimento extremista hutu.
Radio Mille Collines
"Quem vai acabar de encher as
sepulturas meio vazias?"
Foram 500 mil mortos.
Na maioria dos países da África o controle do rádio é competência
exclusiva do governo. Outros permitem estações independentes, mas
geralmente controladas por pessoas ligadas ao governo.
países doadores do Ocidente
Usando a ajuda como cenoura e porrete, países ocidentais vêm lisonjeando
e intimidando o Quênia para que permita maior competição política e
econômica.
Libéria, uma guerra civil longa e caótica
Costa do Marfim - 12 milhões de habitantes e 80 grupos étnicos
Côte d'Ivoire - eis um toque de
ÁFRICA
HYPE
marfinenses se vestem de rei mesmo
para ir à feira com túnicas, vestidos e turbantes
Jornal da Tarde s/d
A África Negra representou durante muitos séculos uma fatia obscura do
mundo, terra de homens exóticos e estranhos; e que só começou a ser
(pouco) desvendada (ao mesmo tempo em que era destruída) a partir do fim
do século XIX.
GAZETA MERCANTIL 08 de fevereiro
[QUAIS MRS. LIVINGSTONES]
EMPRESÁRIOS VASCULHAM O CONTINENTE EM BUSCA DE NEGÓCIOS
KEN WELLS
THE WALL STREET JOURNAL
a capital decadente de Uganda, onde não faz muito tempo o ditador
Idi Amin cometeu atrocidades inenarráveis
África do Sul já importa anualmente 120 bilhões de dólares em bens e
serviços.
Moçambique e Angola - países com abundância de recursos cujo potencial
imenso permanece inexplorado.
Folha de São Paulo NATUREZA É PROGRAMA OFICIAL EM
ZIMBÁBUE 1º
DE AGOSTO DE 1991
José Sachetta Ramos
Cataratas de Vitória, os grandes rios, a savana, animais grandes e
estranhos levam o viajante a um cenário cinematográfico.
Jornal do Brasil 7 de julho 1991
ANGOLA: AS MARCAS DA
GUERRA
Vêem-se por todos os lados homens usando muletas para substituir pernas
estraçalhadas nos campos minados.
Os melhores hotéis da cidade mantêm nos apartamentos águas em baldes
pois, pelas torneiras, ela raramente aparece.
O Estado de São Paulo 1º DE OUTUBRO DE 1991
PAÍSES RICOS IGNORAM
IMPLOSÃO DA ÁFRICA
jamais assimilaram regimes democráticos do tipo ocidental. Muitos de
seus dirigentes estão desgastados pela usura do poder, pelo
nepotismo e corrupção.
veja 18 de junho de 1997
CONVULSÃO COLETIVA
Três países africanos vivem situações de violência, mas pode ser o final
de um longo ciclo
Resumindo assim, parece uma repetição de velhos clichês sobre o
continente de ditadores corruptos, tribos em pé de guerra e caos
político
GAZETA MERCANTIL s/d
FRACASSO NAS INTERVENÇÕES ABALA A CREDIBILIDADE DA ONU
ONU REVELA QUE 1 BILHÃO DE
PESSOAS VIVEM COM FOME EM TODO O PLANETA
países ricos precisariam doar 100 milhões de toneladas de alimentos por
ano até 2050
Folha de São Paulo 19 de junho 1991
O número de subnutridos no continente africano deve subir de 142
milhões registrados em 1983-85 para cerca de 200 milhões no ano 2000.
POBREZA MATA 12 MILHÕES DE CRIANÇAS POR ANO SEGUNDO RELATÓRIO DA OMS O Estado de São Paulo 2 DE MAIO DE 1995
Miséria atinge um quinto da população
30 por cento das crianças não se alimentam adequadamente
Folha de São Paulo 12 de maio 1991
A América Latina precisa de US$ 200 bilhões só para realizar um
saneamento básico contra a cólera - Fernando Gabeira de Berlim.
O Globo 7 de julho de 1991
Um bilhão de pessoas vivem com US$ 1 ao dia
O Desafio do Desenvolvimento - Banco Mundial
"TAXA DE MORTALIDADE NO BRASIL É
MAIOR DO QUE EM MUITOS PAÍSES DA ÁFRICA E DA ÁSIA"
"OS PAÍSES RICOS TÊM A RESPONSABILIDADE DE ABRIR O MERCADO PARA OS
POBRES"
"AS PERSPECTIVAS DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO ESTÃO EM SUAS PRÓPRIAS
MÃOS"
BRASIL-ÁFRICA ÁFRICA-BRASIL
GARIMPEIROS URBANOS BOCA DO LIXO MISÉRIA
Brasil-África: doação de alimentos é
alvo de críticas
Rio de Janeiro, 16 Junho 1997 - Uma lei sancionada sexta-feira por
Fernando Henrique Cardoso, ordenando o envio de 80 mil toneladas de
alimentos para Angola, Cuba, Namíbia e Moçambique, suscitou nova onda de
críticas ao Presidente brasileiro.
O "Jornal do Brasil", do Rio de Janeiro, destaca ao dar a notícia a
informação de que aquela quantidade dos alimentos doados é suficiente
para alimentar um milhão de pessoas e ressalta que o programa brasileiro
de ajudas de emergência Comunidade Solidária irá atender este ano
somente seis dos 32 milhões de indigentes do país.
De acordo com a lei, cada país irá receber 20 mil toneladas de grãos dos
estoques públicos administrados pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab).
"Serão doados preferencialmente os produtos com maior risco de perda de
qualidade", afirma o texto da lei aprovada pelo Congresso Nacional, que
deverá ser sancionada pelo Presidente.
As despesas com o transporte das mercadorias, a partir dos portos
brasileiros, ficarão a cargo dos países beneficiados.
A notícia da doação fora já objeto de duras críticas de outros órgãos de
comunicação no início da votação do projeto de lei, da autoria dos
Ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores.
Repercutindo a notícia do "Jornal do Brasil", uma rede de emissoras de
rádio está transmitindo hoje um inquérito de rua em que habitantes de
São Paulo condenam a doação de grãos.
A maioria dos entrevistados afirma que o país deveria cuidar, em
primeiro lugar, do seu povo faminto.
Angolanos, cubanos, namibianos e moçambicanos irão receber o equivalente
a 0,001 por cento da safra brasileira de grãos em 1997, que deverá ser
de 79,4 milhões de toneladas.
O programa Comunidade Solidária, dirigido pela primeira-dama Ruth
Cardoso, pretende distribuir 450 mil toneladas de comida, ou 0,005 por
cento da safra, informa o diário carioca, segundo o qual por trás do
sancionamento da lei está o desejo do Brasil de conquistar o lugar
reservado a um país da América Latina no Conselho de Segurança da ONU a
partir de fevereiro de 1998.
Cuba entra na lista de países a que o Brasil poderá doar alimentos
em "risco de perda de qualidade"
Rio de Janeiro, 7 fevereiro 1997 - Cuba foi incluída na lista dos países
a que o Brasil deverá doar alimentos "com maior risco de perda de
qualidade, muitas vezes impróprios para comercialização", conforme uma
proposta do Governo brasileiro em votação no Congresso Nacional de
Brasília.
Os outros três países "beneficiários" da medida seriam Angola, Namíbia e
Moçambique.
O projeto de lei, da iniciativa do Ministro brasileiro das Relações
Exteriores, Luís Felipe Lampreia, e do seu ex-colega da Agricultura,
José Eduardo Andrade Vieira, e que foi enviado à Câmara de Deputados em
1996, foi aprovado quinta-feira pela Comissão de Constituição e Justiça
da Câmara de Deputados.
Desde a sua chegada à Câmara o projeto original sofreu importantes
alterações.
Ele previa de início que fossem fornecidas anualmente dez mil toneladas
de produtos aos três países africanos, mas o relator do projeto na
Comissão de Constituição e Justiça, deputado Nilson Gibson, decidiu
propor o aumento para 40 mil toneladas e incluir Cuba na lista dos
receptores.
Aprovado por unanimidade pela Comissão de Relações Exteriores o projeto
de lei foi rejeitado por unanimidade pela Comissão de Agricultura e
Política Rural.
Segundo o parecer do relator do projeto nesta última comissão, Silverani
Santos, um país com 32 milhões de famintos não deveria dar-se ao luxo de
fornecer gratuitamente alimentos a terceiros.
O jornal "O Globo", do Rio de Janeiro, informa hoje que, mesmo tendo-o
reprovado, a maioria dos deputados da Comissão de Agricultura e Política
Rural deverá aprová-lo quando ele for levado à votação no plenário da
Câmara de Deputados em março.
O jornal cita um deputado da referida comissão, que votou contra mas
mudou de idéia segundo o qual há muitos produtos que o mercado
brasileiro "não aceita consumir, como arroz e feijão velhos".
O projeto do Governo prevê que sejam doados alimentos que se encontram
em depósitos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresa
estatal brasileira que mantém estoques reguladores de cereais e grãos, e
que as despesas de transportes dos depósitos até o destino sejam
cobertas pelos países "beneficiários".
Cuba é o país que tem demonstrado maior interesse em receber os
alimentos, segundo "O Globo", que informa ainda que a Conab tem cinco
milhões de toneladas de cereais e grãos em estoque e que o Governo
brasileiro pretende distribuir 300 mil toneladas de comida a 18 milhões
de famílias carentes do seu país até o final do ano.
As 40 mil toneladas a serem fornecidas aos países africanos e Cuba
corresponderiam, hoje, a apenas 0,8 por cento de todo o estoque
regulador brasileiro e estariam orçadas no equivalente a seis milhões de
dólares.
nnnn
Brasil: morre Betinho, o maior incentivador do espírito de cidadania
entre os brasileiros
Rio de Janeiro, 10 Agosto 1997 - Morreu sábado, no Rio de Janeiro, de
insuficiência hepática, o sociólogo brasileiro Herbert de Souza, o
Betinho, tido como o maior impulsionador de ações pela tomada de
consciência do espírito de cidadania pela população do seu país.
Betinho, que tinha 62 anos e era hemofílico, lutava há uma década contra
a aids, doença que contraiu através de uma transfusão de sangue.
Sua figura franzina e a sua expressão afável e sorridente tornaram-se
muito populares no Brasil desde que, em 1992, lançou a Ação pela
Cidadania, Contra a Fome e a Miséria, que mobilizou milhões de pessoas
numa campanha destinada a acudir a população mais carente do país.
A sua "lenda" começou a ser construída uma década e meia antes, quando a
cantora Elis Regina gravou o samba "O bêbado e a equilibrista", de João
Bosco e Aldir Blanc, um dos maiores libelos contra a ditadura militar
brasileira de 1964-85.
Nascido em Minas Gerais, Betinho militou na Ação Popular (AP), grupo de
inspiração católica que se engajou na luta do governo do Presidente João
Goulart (1962-64) pela promoção das chamadas reformas de base, que
deveriam mudar radicalmente as relações sociais e econômicas no Brasil.
Obrigado a exilar-se do seu país após o golpe militar de abril de 1964,
que derrubou João Goulart, só regressaria ao Brasil em 1979.
Até os anos 90 Betinho foi conhecido sobretudo como o "irmão do Henfil",
como é chamado em "O bêbado e a equilibrista", que falava sobre o drama
do exílio político no Brasil da ditadura ("Meu Brasil que sonha com a
volta do irmão do Henfil/ com tanta gente que partiu/ num rabo de
foguete", dizia o trecho da letra em que lhe é feita referência).
Betinho era irmão do cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil, cujas
histórias em cartum denunciavam as arbitrariedades e injustiças da
sociedade brasileira das décadas de 1970 e 80.
Também hemofílicos, tanto Henfil como o outro irmão de Betinho, o
compositor Francisco Mário, acabariam por morrer poucos meses após terem
contraído a aids, igualmente através de transfusões de sangue.
Betinho fundara entretanto o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (Ibase), organização não-governamental através da qual lançou
as campanhas que fariam com que se tornasse uma das personalidades mais
marcantes do Brasil nos últimos anos.
No final de 1988, após a Prefeitura do Rio de Janeiro ter decretado a
falência da cidade, lançou a campanha "Se liga, Rio", em que procurou
mobilizar os cariocas para a recuperação do sentimento de dignidade e de
amor-próprio que pareciam perdidos na maior crise da história da
edilidade.
A partir de então deixa de ser apenas o - a um só tempo famoso e obscuro
- personagem da canção que Elis popularizara para tornar-se um símbolo
da esperança no futuro, apesar de todos os males, inclusive, a chamada
doença do século. Esperança personificada na canção pela equilibrista do
título.
"O que muda o país é a cidadania, não o poder", declarou ao lançar a
Ação pela Cidadania, Contra a Fome e a Miséria, a partir da qual seriam
criados centenas de comitês para a articulação de campanhas de
angariação de alimentos destinados aos flagelados brasileiros.
Paladino da ética na política, como em cada ação individual do
dia-a-dia, Betinho levantou a primeira grande polêmica em torno dos
propósitos do atual presidente social-democrata e também sociólogo
Fernando Henrique Cardoso ao abandonar o conselho de consultores do
Comunidade Solidária, programa oficial de combate à miséria dirigido
pela primeira-dama, a antropóloga Ruth Cardoso.
"Não precisamos de novos investimentos sociais, mas que os investimentos
cheguem à população" - declarou, ao justificar o abandono, para grande
embaraço da suposta boa consciência em torno do governo do que é tido
como o primeiro presidente intelectual brasileiro.
Betinho já havia passado então por uma das maiores provas de integridade
a que foi submetido ao longo da sua atribulada existência, quando o seu
nome surgiu numa lista descoberta em 1994 ao lado de representantes das
autoridades e personalidades públicas envolvidas com um controlador do
jogo do bicho.
De acordo com os livros de contabilidade do bicheiro Castor de Andrade,
Betinho teria recebido dinheiro daquele contraventor - numa das
revelações mais chocantes de todo o escândalo.
Já bastante combalido pela aids o sociólogo chorou ao pedir desculpa e
compreensão pela ato ilícito segundo ele cometido num momento de
desespero.
O dinheiro, disse, foi destinado a uma organização não-governamental de
luta contra a aids que não tinha outros meios de sobrevivência.
Personagem tocante, pelo drama pessoal vivido ao longo da sua existência
e pela firmeza e determinação demonstradas na luta contra a morte como
nas campanhas contra as gritantes injustiças sociais do seu país,
Betinho é agora recordado como um homem que transformou a debilidade
física e o diminutivo do seu apelido em sinônimo de grandeza.
É também apontado como maior responsável pelo despertar do povo
brasileiro para o sentimento de cidadania.
Em 1991 ele recebeu o Prêmio Global 500 da ONU pela sua contribuição
para a defesa do meio ambiente.
Sua vida foi tema do enredo do desfile de carnaval da Escola de Samba
Império Serrano em 1996 com o título "E verás que um filho teu não foge
à luta".
(Rio de Janeiro)© Brasil em campanha por Natal
com menos fome 1993
Rio de Janeiro¬ 22 dezembro © Organismos cívicos¬
empresas¬ personalidades da cultura e
artistas se mobilizaram numa grande
campanha de recolha e distribuição de alimentos entre
a população carente no Brasil¬ numa
campanha intitulada "Natal sem Fome".
Centenas de toneladas de alimentos não perecíveis
estão sendo doadas por empresas e
organizações cívicas ou recolhidas em
espetáculos artísticos e esportivos realizados nas
principais cidades do pais¬ onde o público
paga a entrada com alimentos.
Os produtos arrecadados são posteriormente
distribuídos em comunidades carentes e
entidades assistenciais.
Cantores e músicos famosos¬ como Milton Nascimento¬
Jon Anderson¬ James Taylor¬ Jorge Benjor
(ex-ø-Jorge Ben)¬ Daniela Mercury e Chico
Buarque têm participado em diversos shows organizados no
âmbito da campanha de solidariedade para um Natal com menos fome. Ï "Natal sem Fome" ¢ é fruto de uma iniciativa lançada no
inicio do ano pelo sociólogo Herbert de
Souza¬ ï Betinho¬ sob o titulo "Ação da
Cidadania Pela Vida¬ Contra a Miséria e a Fome"¬ a que aderiram
o governo federal¬ os mais importantes órgãos de comunicação¬
empresas e outras entidades representativas da sociedade.®
A coordenação da campanha não é centralizada¬
tendo apenas por objetivo despertar o
espírito de solidariedade de grupo em cada cidadão.
Apesar disso¬ ela se confunde com a imagem do seu
principal mentor e impulsionador¬ um
ativista cívico que se tem mantido na
vanguarda do movimento por uma melhoria das condições
de vida da população. Antigo
membro de uma organização política clandestina durante a ditadura militar¬ quando teve de exilar-se¬ Betinho
contraiu aids numa transfusão de sangue e
está também envolvido em campanhas contra a
propagação da doença¬ na assistência às crianças e adolescentes
em risco e na valorização da vida no Rio de Janeiro¬ sua
cidade adotiva. No auge de uma crise
administrativa que levou o Rio á bancarrota¬
em 1988¬ Herbert de Souza organizou uma campanha para "levantar
o moral" ¢ da "Cidade Maravilhosa"¬ através do movimento "Se
ìiga¬ Rio". Na sexta-feira¬
participou de uma paralisação de dois minutos em protesto
contra a violência na cidade¬ promovida por um movimento com objetivos análogos ao do que lançou há cinco anos¬ ï "Viva
Rio". O sociólogo dirige o Instituto de
Análises Estatísticas e Sociais¬ que estima
em 32 milhões o número de indigentes no país. Fontes
oficiais calculam que 43 milhões de brasileiros (quase
um terço da população © vive abaixo da linha de
miséria. Entre as décadas de 70 e 80¬ a
desnutrição infantil diminuiu 50
por cento No mesmo período¬
o índice de mortalidade infantil devido à desnutrição
e falta de saneamento básico caiu de 180 para 60 mortes por cada grupo de mil crianças com até cinco anos de idade¬
segundo dados da Unicef. æ Ainda
assim¬ o Brasil ainda ostenta índices de miséria que estão
entre os mais elevados do mundo.Há quem¬ tendo
em conta a seriedade e as boas intenções de Betinho¬ critique
a "Ação pela Vida ¢ por considerá-la assistencialista.
Para esses críticos¬ a miséria deveria ser
combatida através de medidas radicais¬ como
o controle de natalidade¬ e é necessário que as
entidades envolvidas no seu combate reivindiquem transformações políticas¬ sob o risco de apenas virem tomar o espaço dos
segmentos mais conservadores da Igreja.®
Os adeptos da iniciativa rebatem as críticas dizendo
tratar- se de uma campanha de emergência
para colmatar a ausência de um
Estado falido e ineficaz no combate ao flagelo social
do país. A divida social brasileira
(entendida como investimentos
necessários para dotar toda a sociedade de condições
de vida digna© está orçada em 30 bilhões de
dólares.
O Brasil desperdiça 50 bilhões de dólares ou 10 por
cento do que produz por ano por motivos
como uso de técnicas gerenciais
inadequadas¬ erros de projeto ou mau armazenamento¬
segundo cálculos do Ministério da
Indústria¬ Comércio e Turismo.
Um estudo publicado em Março pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada¬ do Ministério
do Planejamento ©
revelou que mais de um décimo dos produtos disperdiç ‡
ados são gêneros alimentícios¬ entre os
quais 20 milhões de toneladas de
grãos¬ hortaliças e frutas. Tendo
atingido o auge nesta quadra natalina¬ a "Ação da Cidadania
Pela Vida¬ Contra a Miséria e a Fome" ¢ gerou um movimento de iniciativas as mais diversas¬ de um jornal que recolhe
alimentos de grandes empresas anunciantes a
posto de gasolina que se proclama "a postos
com a fome" ¢ ou um famoso ator das telas de TV¬ José Wilker¬
que se comprometeu a doar uma cesta básica por mês a
uma criança carente."A
mensagem é º se quiser mudar este país¬ começa pela sua casa. ® Não basta votar em alguém a cruzar os braços. ® Não dá para
ser esquerda em praça pública e de direita
em casa ¢ justificou o ator.
[criada em 1993, em 1995 a campanha
Natal Sem Fome já saíra de moda]
HOMENS GABIRUS
Homem Gabiru é um - famoso. Torna-se um fenômeno de mídia: chega a ser
invejado pela vizinhança por tanta oferta que recebe. Até que cedo
acaba. Dá momentaneamente mais uma oportunidade ao piedoso exercício da
caridade - mais: da generosidade - mas solidariedade genuína... é como
dizia a outra no vidro do carro delux em Sampa
Não gosto de balas, não sou sua tia nem tenho trocado
1995, agosto COMUNIDADE SOLIDÁRIA: SÓ DISTRIBUI CESTA BÁSICA
programa era para aumentar projetos na área social
objetivo é combate emergencial à fome e à pobreza
assistencialismo do governo enfrenta primeiras denúncias de
irregularidades - denúncia paralisa entrega de cestas básicas
VALE DO JEQUITINHONHA VALE DA MISÉRIA miséria absoluta
anualmente distribuição de cestas básicas do WFP Programa Mundial do
Alimento
terra das VIÚVAS DA SECA porque maridos trabalham sete meses em São
Paulo no corte de cana
CARDÁPIO BRASILEIRO pinga para enganar a fome das crianças
Herbert de Souza, Betinho
14 de setembro 1993 Jornal do Brasil
ditadura militar
Instalada no Palácio e no autoritarismo a economia deitou e rolou no
atendimento das elites consorciadas, produzindo a mais fantástica
concentração de riqueza de nossa história.
Findo o período da ditadura, mas não do autoritarismo instalado na
cultura e nas instituições,
O Estado de São Paulo 21 de dezembro de 1995
BETINHO CRITICA PROGRAMA DE AÇÃO SOCIAL DE FH
O coordenador da Campanha da Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela
Vida disse que às vezes se sente "como um verdadeiro palhaço ao
participar das reuniões do Comunidade Solidária vendo aquele povo todo
fazer aquelas mesmas coisas".
"Vamos ter a moeda mais forte do mundo juntamente com a maior miséria do
mundo. Não podemos ficar tão passivos e tão pacíficos diante de tanta
miséria."
NATAL COM MAIS FOME VEJA 27 DE DEZEMBRO DE 1995
A MODA PASSOU E ATÉ MILITANTES DA CAMPANHA CONTRA A FOME JÁ SE
CONSIDERAM CARENTES
Natal feliz em 1993
formando comitês em 22 dos 27 Estados
Ibope, dezembro de 1993: 2,8 milhões de brasileiros estavam
engajados na campanha
em 1994 a Ação da Cidadania coletou 1,4 toneladas de mantimentos em
Pernambuco. Agora não chega à metade.
Em São Paulo praticamente não houve coleta.
uma entidade que distribui comida para 1 500 pessoas no bairro de São
Miguel Paulista:
Ela divide um barraco com a mãe, três filhos, dois irmãos e o pai, que é
cego. Renda familiar: 100 reais, da pensão do pai.
- O
impulso de solidariedade dos brasileiros teve fôlego curto - constata um
sociólogo.
- Não
dá para dar comida o resto da vida. Não é papel do sindicato fazer
assistencialismo. O combate à miséria cabe fundamentalmente ao governo -
analisa um sindicalista.
- Os
ricos perderam o medo dos pobres e agora não querem nem ouvir falar em
miséria - sublinha o deputado Plínio de Arruda Sampaio, que acha que ela
se tornou um paliativo para o desemprego e para a concentração de renda.
perda de apoio das empresas estatais, a espinha dorsal do movimento.
Estado se engajou por ordem do então presidente Itamar Franco.
3000 comitês recenseados no final de 1993
1907 formados por funcionários do Banco do Brasil
Uma agência que funcionou no centro de São Paulo dando 120 sopas por dia
aos miseráveis que dormem na Avenida São João fechou por falta de
doadores e de voluntários para distribuir o sopão na rua.
Betinho culpa os empresários pelo Natal mais magro.
BETINHO PROPOSTA Jornal do Brasil 9 de
fevereiro 1991
O Brasil deixou de ser conhecido como oitava economia do mundo para ser
o quinquagésimo país em desenvolvimento humano.
É preciso dizer que distribuir renda no Brasil é promover o
desenvolvimento e não impedi-lo (...). Distribuição de renda é condição
de ampliação do mercado interno, do consumo, da produção.
BETINHO O Estado de São Paulo 17 DE JULHO DE 1995
compara o Brasil ao Titanic a caminho do desastre
A merenda escolar que deveria ser responsável por apenas 15 por cento
das necessidades nutricionais de uma criança do Primeiro Mundo, hoje é
responsável por 100 por cento das necessidades das crianças brasileiras.
Existe recurso suficiente na sociedade brasileira para resolver o
problema.
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
O Estado de São Paulo 23 de julho 1995
COMUNIDADE SOLIDÁRIA CESTAS BÁSICAS
Sem fluxo de caixa para sustentar qualquer ambicioso programa social, o
governo tem promovido ações asssistencialistas. Na semana passada deu
início à distribuição de cestas básicas a 185 mil famílias no âmbito de
um projeto do programa Comunidade Solidária cuja primeira etapa foi
orçada em R$ 9 milhões. A cesta é bem menos nutritiva do que a de
governos anteriores: 10 quilos de arroz, 15 de fubá e 5 de macarrão
resultantes da troca dos estoques in natura do Ministério da Agricultura
por produto beneficiado.
Com 1 bilhão de dólares o Rio de Janeiro pode urbanizar e humanizar
todas as suas favelas.
ISTOÉ 28 de fevereiro 1996
COMUNIDADE SOLIDÁRIA: CORRUPÇÃO SOBRE RODAS
Vale do Jequitinhonha, no âmbito do Programa Nacional de Transporte
Escolar, o governo liberou R$ 11 milhões para a compra de 230 veículos
escolares pelas prefeituras da região.
Castigados pela seca há três anos, os 63 municípios do semi-árido
mineiro irrigados com verba milionária transformaram-se em terreno
fértil para empresas de transporte e concessionárias de veículos.
Algumas pagaram mais por veículos em segunda mão do que gastariam para
comprar ônibus novos. Numa delas na primeira semana de aula seis
veículos estavam transportando apenas 89 dos 4800 alunos da rede de
ensino público local pela incapacidade dos ônibus de trafegar nas
péssimas estradas da região.
DESPERDÍCIO É GORDO NO NORDESTE DA FOME O GLOBO
14 de janeiro 1996
COM 17 285 528 INDIGENTES, de acordo com o Programa Comunidade Solidária
nos nove estados nordestinos o Globo registrou uma perde de 124
toneladas de frutas e hortaliças apenas nas principais centrais de
abastecimento da região. A agroindústria do caju abandona no solo
anualmente um milhão e meio de toneladas de pedúnculos, a parte fibrosa
e rica em vitamina C da fruta. A polpa renderia sucos, doces, rapaduras,
carnes vegetais (como a de soja), vinhos, vinagre, picles, molhos
picantes e farinha que pode substituir o bromato de sódio na indústria
de panificação.
No Ceará quatro mil toneladas de cabeça de lagosta são jogadas ao mar a
cada ano. Se as indústrias do estado a aproveitassem deixariam de jogar
fora 157 milhões de dólares do alimento. A exportação das caudas das
lagostas rendem anualmente 45 milhões de dólares.
NORDESTE - OBRAS: MAIS DINHEIRO PELO RALO
503 obras públicas de hospitais, açudes, escolas e rodovias estão
paralisadas na região, segundo o Tribunal de Contas da União.
Segundo o senador Wilson Campos, do PSDB de Pernambuco, o número de
obras inacabadas eleva-se a 617 e requerem investimentos de R$ 6 bilhões
para serem concluídas.
GASTOS SOCIAIS FAVORECEM MAIS OS RICOS
Folha de São Paulo 3 de março 1996
Os 20 por cento mais pobres ficam com 15 por cento dos gastos sociais e
os 20 por cento mais ricos levam 21 por cento.
Banco Mundial - relatório Brazil: a Poverty
Assessment
24 milhões de brasileiros, ou 17,4 por cento da população, viviam
abaixo da linha da pobreza em 1990.
Para acabar com a miséria não basta colocar mais dinheiro na área
social, mas fazê-lo chegar aos pobres, acabar com a ineficiência, o
desperdício e a má administração.
Os gastos públicos com educação no Brasil são regressivos - quanto maior
a renda do estudante, mais ele leva: os 20 por cento mais pobres
ficam com 16 por cento dos gastos e os 20 por cento mais ricos com 24
por cento.
No Chile a faixa mais pobre leva 27 por cento e a mais rica apenas 7 por
cento.
O problema da pobreza do Brasil não é apenas de dinheiro.
Os gastos sociais somavam 19 por cento do PIB em 1990, por exemplo, só
que segundo o Bird o dinheiro não chega onde deveria e os indicadores
sociais do Brasil permanecem entre os piores do mundo.
Aumentar os gastos é fácil, mas desviá-los de rumo é complicado, dizem
os especialistas, porque isso significa mexer em privilégios de
determinados grupos.
Na década de 1980 o número de pobres aumentou nas áreas metropolitanas
mas eles continuam principalmente no campo (52 por cento) e no Nordeste
(32 por cento).
No Nordeste 1/4 das crianças é subnutrida nas cidades e 1/3 no campo.
Preço da terra triplicou nos anos 1970 e subiu 40 por cento na de 1980 e
a produção agrícola aumentou muito desde então. Mas os salários dos
trabalhadores agrícolas subiu 66 por cento nos anos 1970 e permaneceu
estagnado na década seguinte.
REAL PERDE PARA CRUZADO EM GASTO SOCIAL Folha de São
Paulo 3 de março 1996
NO SEU PRIMEIRO ANO O GOVERNO destinou menos US$ 1 bilhão à educação e a
saúde do que foi gasto em 1988 e 1989, os dois últimos anos muito ruins
da presidência de José Sarney. Apesar disso, os quase US$ 18 bilhões
investidos foram 20 por cento maiores que os destinados às duas áreas em
1993.
DIVIDA SOCIAL BRASILEIRA É DE R$ 80 BILHÕES Folha de São
Paulo 8 DE JANEIRO DE 1996
Segundo cálculos de órgãos do próprio governo federal o déficit de
moradias é de 6,4 milhões, o que requer investimentos de R$ 50 bilhões.
4,2 milhões de moradias não têm água encanada e outras 8,9 por cento
carecem de ligação à rede de esgoto ou fossa séptica. Para eliminar o
déficit anual na área de saneamento é necessário um investimento de R$
25 bilhões em 15 anos.
Segundo o IBGE em 1991 apenas 61 por cento dos domicílios brasileiros
contavam com coleta de lixo. Nas cidades o índice é de 80 por cento.
Cerca de 45 por cento do lixo recolhido é jogado a céu aberto, outro
tanto aterrado e apenas 5 por cento recebem tratamento em usina.
Nas regiões Norte e Nordeste 90 por cento do lixo é jogado a céu aberto.
Para atender a toda a população urbana são necessários investimentos de
R$ 5 bilhões em 15 anos.
LIXO É FONTE DE RENDA A 20 KM DO PLANALTO
Catadores sobrevivem da venda de detritos da população de Brasília e
montam casas com madeira e sucata
Folha de São Paulo 19 de novembro 1991
É o Lixão ou a Boca do Lixo, área de 50 hectares onde mora uma
comunidade com cerca de duas mil pessoas.
GARIMPEIROS URBANOS
caminhões de coleta despejam em torno de 440 toneladas de lixo por dia
UM CHOQUE NA DESIGUALDADE VEJA 6 DE MARÇO 1996
O Real trouxe uma renda extra de 7,3 bilhões de reais para a metade mais
pobre da população brasileira.
Com combinação de crescimento econômico e estabilização monetária, em
1995 colocou renda extra de 7,3 bilhões de reais nos bolsos dos
brasileiros mais pobres, metade da população.
A FATIA DO BOLO
os 50 por cento mais pobres avançam sua participação na renda nacional
em 1,2 por cento
os 20 por cento mais ricos perdem 2,3 por cento
em 1990 a fatia dos mais pobres era 6,5 vezes menor que a do segundo
grupo;
agora é 5,5 vezes menor
Continua uma diferença escabrosa
O CC (Consumo de Comida) cresceu 10 por cento
Vendas de eletrodomésticos subiram 50 por cento
inflação alta deixou de atuar como aliada tácita dos mais ricos
imunizados contra a desvalorização da moeda por investimentos
financeiros
Anos 1970: 50 por cento mais pobres detinham 15 por cento da riqueza
nacional
Fim dos 80: TUDO PELO SOCIAL - a fatia encolhe para 12 por cento
Começo dos anos 90, entre o Plano Collor I e Plano Collor II e o
impeachment de Collor a renda per capita caiu 2,3 por cento ao ano e até
os 20 por cento mais ricos empobreceram.
Brasileiro
passa fome
sem razão
Jornal do Brasil 22 de julho 1993
a fome não se explica pela falta de alimentos e o Tribunal de
Contas da União baseado numa auditoria feita aos Programas de
Suplementação Alimentar do governo envolvendo a Fundação de Assistência
ao Estudante (FAE), o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição
(Inan), a Legião Brasileira de Assistência (LBA) e a Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab) constatou EM CADA PROGRAMA IRREGULARIDADES E
FALHAS GRAVES
uma média de 59 milhões de toneladas de grãos (arroz, feijão, trigo,
milho, soja) e a disponibilidade interna desses produtos e dos demais
produtos tradicionalmente consumidos no país é superior às necessidades
diárias de calorias e proteínas da população.
Dispõe-se de 3 280 calorias e 87 gramas de proteínas per capita/dia para
uma necessidade de 2 242 calorias e 53 gramas de proteínas - demonstrou
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita pelo IBGE em
1990 e em que se baseou o Ipea para realizar o Mapa da Fome.
"O PROBLEMA ALIMENTAR É UMA QUESTÃO DE RENDA PARA COMPRAR OS GÊNEROS"
[Pensava-se ainda então que eram 32 milhões os indigentes mas seriam 16
milhões - meia Argentina e duas Somálias]
TESE DEMONSTRA MISÉRIA DE CANAVIEIROS
Jornal do Brasil 13 de maio 1991
Cortadores matam fome com farinha e bebem água poluída.
O trator e o burro sem rabo - consequências da modernização agrícola
sobre a mão-de-obra no Brasil
Expedito Rufino de Araújo, do
Instituto Universitário de Estudos de Desenvolvimento de Genebra:
governo dá ampla assistência a usineiros mas esquece-se de legião de
cortadores de cana de cinco dos nove estados nordestinos
ausência total na
prestação de assistência médica
educação básica
fiscalização dos direitos dos trabalhadores
aferição de medidas
inspeção de condições de trabalho
proteção da integridade física dos camponeses contra agressões de
prepostos dos patrões: existem milícias privadas armadas em boa
parte dos 9 mil engenhos
nem sequer se preocupam em informá-los sobre aqueles itens ou proteção
contra aplicação de herbicidas e agrotóxicos
63 por cento sofreram acidentes de trabalho
- A
gente chega a fazer duas toneladas por dia. Os três meninos cortam 500
quilos, amarram cem feixes, e se fosse só eu só conseguia cortar 1 500.
- A
gente só não morre de fome porque por aqui por perto tem jaqueira, manga
e banana.
Jornal do Brasil 11 de abril 1993
ÁFRICA ESPERA SUA VEZ
UMA FAVELA DE NATAL
Os moradores da África quase não têm o que comer e dormem em casas de
papelão com 17 metros quadrados: 990 famílias de moradores.
Merenda escolar é distribuída diariamente a 30 milhões de crianças.
O GLOBO 11 de outubro 1993
Bird diz que 41 por cento dos brasileiros vivem na miséria
vivem abaixo da linha de pobreza: ganham dois dólares por dia
18,7 por cento deles vivem na miséria absoluta ou "pobreza extrema"
O Estado de São Paulo 17 de julho de 1994
NOVA GEOGRAFIA DA FOME ENTRE BRASILEIROS
a expectativa de vida de um nordestino é em média 17 anos menor que a de
um brasileiro do Sul
Brasil, o primeiro produtor mundial de laranja, cana-de-açúcar e café
o segundo de cacau, soja e mandioca
o terceiro de milho
o quarto de carne, aves e de ovos
o sétimo de cereais
o oitavo de leite
casta de deserdados
400 mil crianças de zero a cinco anos morrem todos os anos de
desnutrição no Brasil, o equivalente ao impacto da Bomba A lançada em
1945 em Hiroshima.
20 por cento mais ricos consomem 32 vezes mais que os 20 por cento mais
pobres.
a segunda pior distribuição de renda do mundo; pior, só Botsuana
63º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU
desnutridos de segundo grau (gravidade média) são 10 por cento do total
e concentram-se sobretudo nos cinturões de favelas das grandes cidades.
40 por cento dos brasileiros podem apresentar sinais associados às
características clínicas que sugerem subnutrição de primeiro grau: baixa
estatura, avitaminose, etc.
Uma fração cada vez maior destes está fora do sistema de produção. Vivem
de expedientes e das sobras do sistema.
grandes metrópoles concentravam em 1991 29 por cento da população
brasileira
Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio - PND: 1990
pobres: 42 milhões
indigentes 16,6 milhões
pobres eram 29 por cento da população residente nas áreas
metropolitanas.
a estabilidade da pobreza do ponto de vista da renda ao longo da década
de 1980 só foi possível devido à contribuição positiva da evolução
demográfica, marcada por forte queda da fecundidade e mudanças
compensatórias no mercado de trabalho, nomeadamente pela informalidade,
que degradaram ainda mais as condições de vida das pessoas.
O ufanismo tolo que apregoava sermos a sétima economia do mundo.
O ridículo Brasil Grande dá lugar ao igualmente ridículo Brasil
Desespero.
os problemas de combate à pobreza reduzem-se a um problema de caridade
pública
atenderam prontamente aos apelos de Betinho e da Igreja, o que lhes
garante indulgência plena e, talvez, acesso tranquilo ao paraíso.
MISÉRIA CRIA DIETA DE SOBREVIVÊNCIA O GLOBO
22 DE DEZEMBRO DE 1992
Baixada Fluminense, Rio de Janeiro
acuada pela fome, uma parcela da população está criando alternativas de
alimentação
pratos de pelanca, pescoço, pé e vísceras de galinha
usam valas negras e brejos e rios poluídos para a pesca de rãs e muçum
no mato caçam lagartos que chegam a ter três quilos
rã:
Corta-se a cabeça, mãos e pés.
Tira-se o couro e espeta-se com um palito de fósforo. Se ele tremer é
sinal de que está boa, não foi picada por cobra nem está doente. Depois
é só temperar como galinha e fritar.
em janeiro há mais fartura na mesa porque é a época do preá, um mamífero
roedor a que os meninos chamam "um rato sem rabo".
Diz que a carne lembra a de porco.
muçum, peixe com o dorso marrom ou preto
lagarto de papo amarelo e listras pretas, o preá é criado em gaiolas até
atingir três quilos e medir meio metro:
Depois de tirar o couro, é só temperar e fazer o bicho ensopado ou
frito. A carne é que a de galinha. Com uma farofa então, fica ótimo.
Menino de um ano e meio. A barriga inchada e as pernas finas chamam
atenção.
O Estado de São Paulo s/d POBREZA RURAL ATINGE 1
BILHÃO DE PESSOAS
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida):
Bolívia é o país com mais alta porcentagem de pobreza no campo:
97 por cento da sua população rural vive abaixo da linha de pobreza.
Malawi: 90 por cento.
Bangla Desh: 86 por cento.
Zâmbia: 80 por cento.
Peru: 75 por cento.
Brasil em sexto lugar: 73 por cento.
O Estado de São Paulo 3 de agosto1993
"Somália Brasileira" terá plano em um mês
Sorocaba, no sudoeste do Estado de São Paulo: 76 por cento da
população rural vive na miséria e os índices de mortalidade infantil são
os maiores do país.
18 municípios
a maioria da população é constituída de bóias-frias, já que 90 por cento
da produção agrícola está nas mãos de grandes proprietários de terra.
O GLOBO 16 DE AGOSTO DE 1993
DOENÇA DA FOME ATACA SERTANEJOS
Bezerros, a 130 km de Recife (PE) -
a pelagra, uma doença de rara frequência, que atinge apenas pessoas com
alto grau de desnutrição.
a maior arte não lembra o último dia que comeu farinha e feijão.
de 18 filhos de um, 10 morreram de fome durante as secas dos últimos
anos
- A
gente só passa com fubá. Assim mesmo quando Deus quer.
PREFEITURA RECOMENDA COMER CAPIM
Diante da completa falta de alimentos (...) os 150 lavradores com
pelagra de Bezerros têm sido orientados pela Prefeitura para comerem
capim angola, uma gramínea normalmente usada como ração de gado. O Suco
do capim, misturado com açúcar, já chegou até a rede oficial, onde as
crianças dos cinco sítios atingidos pela doença estão tomando o líquido.
- Eu
até que queria tomar, pois soube que o gosto do suco parece com o de
caldo de cana, mas não tenho liquidificador para bater o capim.
- Eu
me lembro que na seca de 1943 muita gente teve essa doença no sítio
Jurema, onde eu morava. Meu irmão se curava com banha de teju. Minha mãe
matava o teju, uma espécie de lagarto, arrancava-lhe o couro, fervia a
gordura e a guardava numa lata.
Pelagra causa diarréia, dermatite e demência
- Na
realidade o que está acontecendo no interior é uma epidemia de fome.
[endemia]
fome
caderno especial Folha de São Paulo 19 de dezembro de
1993
Brasil desperdiça US$ 5,4 bilhões em alimentos
valor corresponde a 1,3 por cento do PIB e é suficiente para alimentar
os 9,2 milhões de famílias indigentes com uma cesta básica mensal de 36
quilos
por dois anos.
Estudo da Coordenadoria de Abastecimento da Secretaria da Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo considera apenas perdas agrícolas
decorrentes de deficiências nos processos de colheita, transporte e
armazenamento de grãos, hortaliças e frutas.
- Se
fosse possível calcular as perdas na agroindústria, supermercados,
restaurantes comerciais e industriais e o desperdício doméstico o valor
seria bem maior.
Baseada no estudo do Ipea estima-se então em 30 milhões o número de
indigentes no país.
Alimentam-se de arroz com mandioca no norte de Minas, cacto e farinha de
milho no sertão nordestino, garimpam lixões nas periferias das grandes
cidades e recorrem até ao turu, molusco extraído de troncos molhados à
beira do Tocantins no Pará.
Em Ouricuri há os "loucos de fome", pessoas com desequilíbrio mental que
os médicos associam à subnutrição.
- Ele
fala besteira, conversa sozinho e fica revoltado de repente.
A 20 km do centro de São Paulo 2 000 indigentes frequentam diariamente o
"sopão" do Ceagesp.
MOLUSCO AJUDA RIBEIRINHOS A ENGANAR A FOME NO PARÁ
turu, molusco que vive nos troncos de árvores molhadas pela maré do rio
Tocantins.
Molusco gelatinoso ajuda a matar a fome de 5 000 habitantes das ilhas de
Abaetetuba.
Sete em cada dez crianças da região são subnutridas.
Os peixes do rio são cada vez mais pequenos.
Aumento dos cortadores de turu é consequência da escassez de peixes nas
praias do rio.
A devastação dos açaizais por empresas produtoras de palmito também
ajudou. O açaí é um alimento importante para a população de baixa renda
do Pará.
Um restaurante da cidade serve caldeirada de turu.
Nas ilhas, o molusco é comido vivo.
- É
proteína pura. O turu só faz mal porque muita gente come cru, com areia
e sem lavar.
OURICURI: HOSPITAL REGIONAL ATENDE SEIS CASOS POR SEMANA DE "LOUCOS DE
FOME"
Palma, planta usada pelos fazendeiros como ração de gado.
Ela serve o cacto cozido, cortado em pequenos cubos e misturado com
arroz ou farinha de milho.
MÁ ALIMENTAÇÃO CAUSA ATRASO NO CRESCIMENTO
61,7 por cento da população carente de Manaus está na faixa de pobreza
absoluta.
A má alimentação gera atraso no crescimento de 16,7 por cento das
crianças amazonenses e 34 por cento delas sofrem de desnutrição.
60 toneladas de peixe são perdidas diariamente devido às péssimas
condições de armazenamento no porto de Manaus.
no período de safra em Manaus a oferta diária de peixe é de 300
toneladas, o que representa o dobro da demanda. A inexistência de um
sistema de armazenamento adequado faz com que 60 toneladas de peixe
apodreçam diariamente.
"DESNUTRIÇÃO DIMINUI COM EDUCAÇÃO", DIZ ANA PELIANO, ECONOMISTA DO IPEA
Metodologia aplicada no estudo da desnutrição é baseada na da Cepal
(Comissão Econômica para a América Latina) que caracteriza a indigência
como a situação em que o cidadão gasta todo seu dinheiro e consegue, na
melhor das hipóteses, pagar só a alimentação.
MAPA DA FOME: SUBSÍDIO À FORMULAÇÃO DE UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA
ALIMENTAR, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
INDIGENTES GARIMPAM LIXÕES
em João Pessoa, Paraíba, chama-se Lixão do Róger.
Em meio a urubus, garças, fumaça e forte mau cheiro, centenas de
crianças, jovens e velhos disputam pedaços de lixo reciclável para
vender no aterro metropolitano do Grande Rio, no Jardim Gramacho, Duque
de Caxias, numa área de 1,2 milhão de metros quadrados onde são
despejadas 100 toneladas [?] de lixo por mês.
PESCA
O consumo de pescado no Brasil é de 6,5 quilos per capita/ano, metade do
mínimo recomendado pela FAO.
O bacalhau importado é o peixe mais consumido pelos brasileiros [mas nem
todo e nem de longe é bacalhau mas o tal de "bacalhau saith" e por aí].
A falta de hábito faz com que a maioria dos brasileiros só coma peixe na
Semana Santa.
DESNUTRIÇÃO AUMENTOU
Jornal do Brasil 27 de outubro 1992
programas governamentais de alimentação e nutrição de crianças e
adolescentes carentes praticamente desapareceram no governo Collor.
1992: redução de 64 por cento nos recursos destinados a esses programas
em relação a 1990.
1989: US$ 1 bilhão gasto em programas nutricionais, enquanto em 1991
foram empregados apenas US$ 364 milhões, ou 42 por cento dos recursos
previstos no orçamento para esse fim.
A redução drástica dos recursos para esses programas demonstra o descaso
cada vez maior com a assistência à população carente. O Programa
Nacional de Alimentação Escolar visa a distribuição de uma refeição
durante 200 dias do ano para 29 milhões de crianças de 7 a 14 anos
matriculadas nas escolas públicas e filantrópicas. Para garantir esse
atendimento seriam necessárias 460 mil toneladas de alimento. Mas de
acordo com o Ipea em 1990 e 1991 com os recursos destinados à Fundação
de Assistência ao Estudante (FAE) foi possível adquirir somente 135 mil
toneladas ao ano.
Programa de Apoio Nutricional e Distribuição de Leite, voltado para o
atendimento de gestantes, crianças de 6 a 36 meses e crianças
desnutridas: em 1990 foi atendido 1 milhão de beneficiários, o que
correspondia a uma redução de 45 por cento em relação a 1988.
Desnutrição de cinco milhões de crianças, das quais 50 por cento no
Nordeste.
CARNE DE RATO É ALIMENTO EM TIMBAÍBA, PERNAMBUCO O GLOBO
17 de outubro-1994
campanha RATO NO SACO, FILÉ NO PRATO,
lançada para combater a infestação da cidade por ratos, acabou por
revelar meio alternativo e repugnante de se matar a fome: churrasco de
rato. Centenas de moradores empreenderam verdadeiras caçadas para trocar
verdadeiras caçadas para trocar um quilo de ratos - vivos ou mortos -
por igual quantidade de carne de vaca de primeira. Na periferia da
cidade, a 117 km de Recife, o jornal constatou que por absoluta falta de
informação os animais eram capturados no lixo e nos esgotos e devorados
inteiros por famílias famintas.
Para essa gente, que nem tomou conhecimento da campanha porque não tem
rádio ou TV rato é alimento comum, muitas vezes o único. E sem sal,
porque não há dinheiro para comprá-lo. Um casal que vive da venda de
papel e plástico recolhidos no lixão há dez anos não come carne de vaca.
-
Depois de queimar os pelos a gente raspa tudo com a faca e bota no
braseiro de novo. Quando ele começa a ficar durinho a gente tira do
fogo, abre a barriga e retira o fato (as tripas). Depois bota na brasa
de novo e deixa tostar para comer assim mesmo, insosso. Se tivesse sal
ficava mais gostoso. Que gosto tem? De rato mesmo! Ninguém aqui conhece
outro bicho que tenha gosto. Acho que rato é melhor que carne de boi
porque faz uma porrada de tempo que não como outra carne. Não me lembro
nem do gosto.
Iam passar sábado a água e rato com quatro filhos, dos oito meses aos
seis anos.
Timbaúba fica na região canavieira de Pernambuco. Na entressafra da cana
a Prefeitura distribui cestas básicas de alimentos para os trabalhadores
rurais não morrerem de fome. Apenas 25 por cento da área urbana tem
saneamento básico, donde até achar rato em esgoto fica mais difícil.
Folha de São Paulo 4 de outubro de 1994
PROGRAMA DE GOVERNO DE FHC PROMETE ABONO DE R$40
pelo programa de renda mínima, sete milhões de famílias carentes
passarão a receber R$ 40 por mês
Programa Comunidade Solidária, principal ferramenta social do futuro
governo, deverá ter orçamento de R$ 4 bilhões/ano.
O GLOBO S/D 1994
MISÉRIA DESAFIA FUTURO PRESIDENTE
em Teotônio Vilela, a 110 quilômetros de Maceió, uma das mais altas
taxas de mortalidade infantil do mundo: 375 em 1 000 bebês antes de
completar um ano. Níger, com a mais alta taxa da África, registra 191
óbitos por 1 000 partos.
VALE DO JEQUITINHONHA: CRIANÇAS AJUDAM CARVOEIROS EM MINAS
Crianças maiores de 12 anos à beira da estrada BR 365, que liga o
Triângulo Mineiro ao sul da Bahia, e com adultos carregam caminhões de
carvão vegetal produzido ao longo da estrada. Os "chapas", como SÃO
CHAMADOS OS CARREGADORES, PASSAM O DIA EM JEJUM. ALGUNS LEVAM UM PIRÃO
PARA A ESTRADA, quando sobra do jantar.
Grão Mogol já foi o berço mais fértil do bócio, uma hipertrofia da
glândula tireóide, provocada pela falta de iodo no organismo, que incha
a garganta formando enormes papos. Hoje os cidadãos do lugar não têm
mais bócio, mas vivem ameaçados pela doença de chagas e pela
leishmaniose, transmitidos pelo barbeiro e o calazar, que segundo alguns
matam mais que a fome.
O marido trabalha na roça, plantando milho e feijão, e a cada 15 dias
traz um saco de comida.
- Nos
últimos dias alguns comem e outros não. Quem come ontem não come hoje.
No finalzinho mesmo, aí ninguém come nada.
COBRA VENENOSA VIRA REFEIÇÃO EM BRASÍLIA
A falta de comida levou trabalhadores sem terra acampados no DF a
transformarem duas cobras venenosas em pratos principais de suas
refeições nos arredores de Brasilândia, cidade satélite de Brasília.
Duas jararacus de papo amarelo com mais de 1,80 metro de comprimento
cada uma foram fritadas em postas. O veneno não os assusta:
- É
só cortar dois palmos abaixo da cabeça e dois palmos acima do rabo que
não tem problema.
As cobras tinham gosto de peixe e uma textura entre o peixe e o frango.
-
Corri para a minha barraca e lavei a boca com pinga.
SEM CHORO NEM ESCÂNDALO VEJA 3 DE AGOSTO, 1994
a mortalidade infantil está subindo.
Pastoral da Criança da CNBB:
primeiro trimestre 1993: 53 por mil
1994: 74 por mil
A região atravessou uma das piores secas do século. As chuvas do início
do ano pegaram as crianças desnutridas, com pouca resistência no
organismo.
Teotônio Vilela, em Alagoas, não tem rede de esgoto, e só há um ano foi
instalada rede de abastecimento de água. Maioria da população ganha a
vida como bóia-fria nos canaviais. Mas hoje metade das 6 000 residências
da cidade não têm fornecimento por falta de pagamento.
desnutrição e água contaminada: infecções respiratórias e do aparelho
digestivo.
MUITAS VEZES ATÉ EXISTE DINHEIRO PARA A SAÚDE. MAS O GOVERNO
PREFERE ATRASAR O REPASSE APLICANDO O DINHEIRO NA CIRANDA FINANCEIRA.
CONSIDERANDO A ALTURA DAS TAXAS DE JURO ATÉ QUE PODERIA SER UM BOM
NEGÓCIO. NÃO É. NOS PRIMEIROS CINCO MESES DO ANO O LUCRO
COM APLICAÇÕES FINANCEIRAS DO DINHEIRO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE FOI DE 200
MILHÕES DE DÓLARES MENSAIS, SEGUNDO LEVANTAMENTO DO BANCO CENTRAL. SÓ
QUE EXISTE UMA MEDIDA PROVISÓRIA ASSINADA POR ITAMAR FRANCO A PEDIDO DE
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO QUE DETERMINA QUE A RECEITA FINANCEIRA DO
GOVERNO NÃO PODE SER DESTINADA ÀS CRIANÇAS NEM AOS HOSPITAIS NEM À
COMPRA DE REMÉDIOS. SUA ÚNICA FINALIDADE É HONRAR OS COMPROMISSOS
COM A DÍVIDA INTERNA, AQUELE DINHEIRO VOLUMOSO QUE O GOVERNO ROLA DE
TEMPOS A TEMPOS E CUJO LUCRO VAI PARAR NA CONTA DOS CIDADÃOS E EMPRESAS
COM RECURSOS PARA UMA APLICAÇÃO FINANCEIRA, DESDE GORDOS CDBs A UMA
SIMPLES CADERNETA DE POUPANÇA. DE ACORDO COM A ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE EM 1989 GASTAVAM-SE NO PAÍS 82 MILHÕES DE DÓLARES POR
HABITANTE E NO ANO PASSADO GASTARAM-SE 34 DÓLARES.
Em alguns lugares, enquanto as crianças batizadas têm direito a
sepultamento cristão, as que não passaram pelo rito da Igreja são
enterradas em cemitérios clandestinos.
cemitério de anjinhos.
o exagero da fome VEJA 13 DE JULHO DE 1994
um estudo mostra que são falsas as estatísticas que apontam 32 milhões
de brasileiros famintos.
Betinho: Este é o país onde as estatísticas sociais são terrivelmente
precárias, ao contrário das econômicas e financeiras.
Escorando-se exclusivamente no critério "da renda monetária como base
para o estabelecimento da linha de pobreza", os cálculos ignoram, por
exemplo, que em ambiente rural até 50 por cento do sustento da família
não depende de dinheiro.
Betinho: Há três anos fui um dos primeiros a contar os meninos de rua no
Rio de Janeiro e mostrar que não eram milhares e sim, na ocasião, 629.
O MAPA DA VERGONHA ERIC NEPOMUCENO Jornal
do Brasil 19 de setembro 1993
Vivem hoje na América Latina cerca de 185 milhões de miseráveis.
Parcela de latino-americanos na pobreza absoluta: 42 por cento.
Mas 75 por cento dos brasileiros ganham menos de US$ 130 por mês.
julho de 1993, Jornal do Brasil: comida que país joga no lixo
daria para impedir que 200 mil crianças morressem de subnutrição até o
fim do ano: US$ 4 bilhões/ano. Comida em quantidade suficiente
para alimentar seus indigentes.
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp):
joga-se fora uma tonelada de comida/dia.
Dono de uma churrascaria do Rio de Janeiro diz que a cada dia cem quilos
de carne de primeira vão parar no lixo.
Mil crianças morrem por dia sob o céu brasileiro de doenças derivadas da
fome e da subnutrição.
CARVOEIROS TRABALHAM POR ARROZ E FARINHA folha de são
paulo 31 de julho 1994
norte e noroeste de Minas Gerais: homens de crianças de 10 anos para
cima trabalham nas carvoarias para pagar arroz e farinha consumidas em
armazéns.
Um dia de trabalho não dura menos de 18 horas
Um regime muito parecido com o da escravidão.
Carvoarias utilizam o mecanismo de endividamento para prender os
trabalhadores
as áreas de reflorestamento ocupam uma área de 2 milhões de hectares ou
2 milhões de campos de futebol.
Cerca de 70 por cento do carvão vegetal do país é produzido na região.
Logo na entrada do armazém uma irregularidade: a balança que pesa
arroz e farinha, vazia, marca 250 gramas.
MIGRANTE VIAJA DE GRAÇA DO SONHO À DECEPÇÃO jornal do
brasil 12 DE FEVEREIRO DE 1995
prefeituras do Nordeste chegam a destinar quase R$ 1 mil de seus
desnutridos orçamentos para mandar pessoas a São Paulo
governo de São Paulo reserva R$ 130 mil para devolver migrantes
nordestinos
NÚMERO DE MISERÁVEIS CRESCE 42 POR CENTO EM SP FOLHA DE
SÃO PAULO 20 DE ABRIL 1995
Anos 1990-1994: número dos que vivem em miséria absoluta cresceu cinco
vezes mais que a população.
1990: 450 mil famílias; hoje são 640 mil ou 2,3 milhões de indivíduos
que não ganham o suficiente para comprar uma cesta básica de R$ 49,87.
COMIDA CHEGA SOB ESCOLTA PARA MATAR FOME NO VALE DO JEQUITINHONHA
12 de fevereiro de 1995
32 quilos de comida doados pelo Programa de Distribuição de
Alimentos (Prodea), o PAM brasileiro
518 mil pessoas vivem em situação de miséria no vale
secas atingem 1 milhão
-
Pode acontecer no Vale problema semelhante ao de Teotônio Vilela
(Alagoas). Em outubro, só com a distribuição de alimentos reduzimos a
mortalidade infantil de 46 em 70 nascidos por mês para um caso. Depois
que acabaram os alimentos o número de casos já subiu para 17 em dezembro
- informou o diretor da Companhia Nacional de Abastecimento.
(O ÚLTIMO PAU-DE-ARARA) VEJA 10 DE FEVEREIRO, 1993
35 RETIRANTES DESCOBERTOS debaixo da lona de um caminhão ao
entrar no Rio de Janeiro, exaustos e famintos, depois de dois dias de
viagem de Sobradinho, na Bahia, para São Paulo num percurso total de 2
500 quilômetros em que só se alimentaram de farofa e água, dormindo
sentados por falta de espaço e sem poder levantar o encerado sobre suas
cabeças. Chico Pinga, que nunca vira o mar, levantou quando o caminhão
passava sobre a Ponte Rio-Niterói e foi flagrado por um policial
militar.
MISÉRIA, COMO E QUEM VAI PAGAR A DÍVIDA SOCIAL? folha de
são paulo 26 DE JUNHO DE 1994
única proposta de programa para debelar a crise social dos
presidenciáveis, a de Lula, amparada em expectativas irreais de
investimentos e recursos.
economia cresceu 4,9 por cento em 1993
indústria: 11 por cento
emprego: 0 por cento
para absorver os 10 milhões de desempregados (...) o país precisaria
crescer como um tigre asiático por quatro anos enquanto distribui renda
com a generosidade de um paraíso nórdico.
[por outro lado teria de reciclar e capacitar mão-de-obra em função do
baixo nível de formação da grande maioria da população]
"Da condição de pobre à de não-pobre - modelos rurais e urbanos de
combate à pobreza" - Roberto Cavalcanti de Albuquerque, do Instituto
Nacional de Altos Estudos:
década de 1970: PIB cresceu 81 por cento
o número de pobres caiu de 45 milhões ou 47 por cento da população para
30 milhões ou 25 por cento da população
década de 1980: PIB per capita caiu 4 por cento e o número de pobres
subiu para
39 milhões ou 27 por cento da população
Nordeste: nos últimos 20 anos foram investidos US$ 4 bilhões em
programas ANTIPOBREZA
as emigrações não cessaram e nos anos 1980 o número de pobres cresceu de
11 milhões ou 66 por cento da população para 12,6 milhões ou 69 por
cento da população.
- A
PERSISTÊNCIA DA POBREZA RURAL DO NORDESTE NÃO SE EXPLICA APENAS PELAS
DIFICULDADES IMPOSTAS PELA NATUREZA (A SECA) NEM POR RAZÕES ECONÔMICAS E
POLÍTICAS. ENCONTRA-SE MAIS NAS CONCEPÇÕES DO MUNDO DO HOMEM:
FORMAS DE PERCEPÇÃO E COMPREENSÃO MÍTICAS, TRADICIONAIS E MODERNAS, EM
CONFUSO AMÁLGAMA, GERANDO EM MUITOS CASOS IMOBILISMO NAS RELAÇÕES
INTERPESSOAIS E PASSIVIDADE ANTE OS DESAFIOS DA NATUREZA.
...
METADE DE MANAUS VIVE EM FAVELAS E CORTIÇOS FLUVIAIS
Processo de favelização atingiu metade da população nos últimos vinte
anos: 600 mil pessoas, a maioria vindas do interior do estado, se
concentraram junto a igarapés (córregos) e ao rio Negro e outras 200 mil
em favelas na periferia.
o surto migratório iniciou-se em 1975 com a instalação da Zona Franca de
Manaus.
as águas dos igarapés estão altamente poluídas pelos esgotos domésticos
VIOLÊNCIA MATA MAIS ENTRE OS JOVENS
pesquisa do Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (CBIA),
ligado ao Ministério do Bem-Estar Social
constata aumento de mortes violentas entre crianças e jovens:
em 1992: 3 213
seis primeiros meses de 1993: 2 538
Violência gerada por grupos de extermínio, polícia, família e guerra de
gangues, nas quais jovens são manipulados pelo chamado crime
organizado.O Ministério da Educação afirma que apenas um quarto das
crianças se formam no primeiro grau.
Bangla Desh, Peru e Paraguai ultrapassam o país também nesse índice.
VIOLÊNCIA E CAOS MARCAM METRÓPOLES
Seus migrantes não vieram principalmente por uma oferta positiva de
vagas no mercado de trabalho mas por uma pressão negativa, expulsos pela
pobreza de suas regiões.
Da média de 7 300 a 7 500 homicídios registrados anualmente pela Polícia
Civil no Estado de São Paulo dois terços ocorrem na capital.
um processo inédito de fortificação.
Residências foram transformadas em bunkers, ruas gosam fechadas ao
trânsito e verdadeiras milícias foram contratadas para dar segurança aos
mais abastados.
No Brasil os militares rejeitam o uso das Forças Armadas no combate ao
narcotráfico, tese defendida pelo governo norte-americano.
FLORIANÓPOLIS TEM MAIS MISÉRIA QUE RIO E SÃO PAULO
capital de um dos Estados com melhor distribuição de renda do país:
cerca de 30 mil pessoas (11,9 por cento da população) vivem em situação
de miséria, de acordo com o Ipea, que registra índices de pobreza de 6,3
por cento em São Paulo e 10,2 por cento no Rio de Janeiro.
46 favelas espalhadas pela cidade
CIDADE TEM QUASE 100% DE INDIGÊNCIA
REMÍGIO, 132 KM A NORDESTE DE JOÃO PESSOA (PARAÍBA): 91,4 por cento da
população são indigentes
Centro de Referência de Saúde do Trabalhador da UFPB aponta condições
desumanas de trabalho nos canaviais do Estado, com jornada de trabalho
de até 14 horas e morando em galpões que parecem "alojamentos de
escravos", com 60 metros de comprimento e que abrigam entre cem a 120
pessoas.
GUERRA DE NÚMEROS
21% DOS BRASILEIROS SÃO INDIGENTES, DIZ IBGE O Estado de
São Paulo 7 de junho 1994
NORDESTE TEM METADE DOS INDIGENTES Jornal do Brasil 7 de junho
1994
21 por cento dos brasileiros ou 9 milhões de famílias
48,67 por cento dos nordestinos
Bahia: 25 por cento dos indigentes nordestinos
Sudeste: 2,6 milhões de famílias ou 29 por cento do total
ganham no máximo apenas o suficiente para comprar no máximo uma cesta
básica
Números do Sul surpreendem: abriga 14 por cento dos indigentes do país,
a maioria deles vivendo no Paraná e no Rio Grande do Sul.
-
Divisão da terra e modernização dos processos de produção agrícola têm
contribuído para expulsar a população do campo.
Rio de Janeiro: 661 favelas; 394 na capital - 16 por cento da população
vive lá
São Paulo: 1 257 favelas; 594 na capital - 6,8 por cento da população
vive lá
Recife: 48,8 por cento da população vive em favelas
Salvador, entre as capitais, tem o menor índice de favelados (!!!): 4
por cento (!!!)
BURACO NO CHÃO VIRA UMA CASA NO INTERIOR ALAGOANO O
GLOBO 17 DE MAIO DE 1992
Lagoa Comprida, perto de Arapiraca, a 145 km de Maceió, um rapaz de 16
anos - o menino-tatu - decidiu morar num buraco com sala, quarto,
cozinha e um corredor com quatro entradas
O Estado de São Paulo 16 de janeiro 1994
Num carro de luxo uma senhora circulava com um adesivo dizendo "não
gosto de balas, não sou sua tia nem tenho trocado".
Jornal do Brasil s/d PROFESSOR VÊ RISCO DE FOME
ABSOLUTA DENTRO DE 20 ANOS
um país de subnutridos, apesar de ser o terceiro maior exportador de
alimentos do mundo,
a não ser que sejam tomadas medidas urgentes de aproveitamento dos
recursos naturais
a população está crescendo mais do que a oferta de alimentos e no início
do próximo milênio o país enfrentará problemas mais graves, não de
carência, mas em muitos casos de absoluta falta de alimentos.
Andreoli, Cléverson, da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal
do Paraná
Terceiro Mundo, onde estão 95 por cento dos subnutridos do planeta
não porque faltem alimento mas porque os pobres não têm acesso a eles
1 bilhão consomem alimentos em excesso, num nível que atinge o
desperdício
1 bilhão consegue alimentar-se de modo a satisfazer as necessidades
básicas do organismo
3 bilhões não conseguem a alimentação mínima para viver
O GLOBO 15 de março 1991
atender aos "descamisados e pés descalços", mote permanente dos
discursos de campanha do Presidente
Jornal do Brasil 25 DE JUNHO DE 1995
COMBATE À MISÉRIA COMEÇA A SAIR DO PAPEL
Acabou a "masturbação sociológica" (avaliação do ministro das
Comunicações Sérgio Motta do Programa Comunidade Solidária dirigido pela
primeira-dama Ruth Cardoso)
Araripe, no Ceará, capital nacional da miséria, onde 73,5 por cento das
famílias são indigentes
São Paulo, capital: 204 mil famílias passando fome
Região Nordeste: a Somália brasileira
Comunidade Solidária vai investir R$ 562 milhões em 156 municípios
brasileiros onde os níveis de miséria se assemelham aos dos padrões
africanos. com ações de combate à desnutrição infantil, alimentação
escolar, geração de empregos, execução de serviços urbanos e
assentamento rural. Educação: R$ 200 milhões em merenda escolar para 5,5
milhões de estudantes do 1º grau.
NÚMERO DE MISERÁVEIS CRESCEU 42,2% EM SP O Estado de São
Paulo 20 DE ABRIL DE 1995
Miseráveis: habitantes que apresentam carência simultânea de habitação,
educação, emprego e renda.
Cresceu 42,2 por cento nos últimos quatro anos enquanto a população da
região metropolitana aumentou 8 por cento.
1990: 450 000 famílias miseráveis
1994: 640 000 ou 2,3 milhões de pessoas
Grande São Paulo: 4,4 milhões de famílias ou 16,2 milhões de pessoas
Folha de São Paulo 5 de MAIO 1991
LIBÉRATION: capitalismo brasileiro enfrenta crise
O fantasma da convulsão social, anunciado periodicamente por inumeráveis
profetas
uma recessão sem precedentes com queda de 4,6 por cento do PIB em 1990
margem de lucro média das empresas brasileiras é das mais elevadas: 52
por cento em relação aos custos de produção
Alemanha: 27 por cento
Brasil - Massa salarial: 17 por cento do PIB
Índia - Massa salarial: 50 por cento
XEPEIROS: A VIDA DE QUEM TIRA O ALMOÇO DAS LATAS DE LIXO O
GLOBO 23 de junho 1991
dois mil xepeiros todos os dias vasculham o lixo do Rio de Janeiro
em busca de comida que quase sempre está estragada
vindos do interior do estado ou do Nordeste
arriscando contrair uma série de doenças, como micoses, infecções
intestinais, botulismo e leptospirose
prefere recolher legumes, verduras e pão, com os quais faz uma sopa.
-
Tiro a parte de fora dos restos, que fica mais seja. Depois lavo tudo no
canal do Jardim de Alá e ponho para ferver. A batata uso com casca e
tudo.
Jornal do Brasil 24 de junho 1990
O CONTINENTE PERDIDO
RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO IDH ONU
Brasil: 80º lugar
Em 1985, 30 por cento do PIB brasileiro foram destinados a melhorar a
qualidade de vida da população. A Suécia, segundo melhor índice de
bem-estar do mundo, gasta 40 por cento. A diferença é que um gasta mal e
outro bem.
Estratégia de desperdício é aplicada a todos os setores.
Saúde: investe 78 por cento em medicina curativa
Educação, segundo o economista Carlos Lessa, só 52 por cento dos
recursos chegam à sala de aula.
Economista paquistanês Mabul Ul Haq, diretor do Programa de
Desenvolvimento da ONU:
O Brasil dá subsídios à Universidade 18 vezes superiores aos que
destina à educação primária e no ensino superior o número de pessoas
economicamente pobres é de apenas 1 por cento.
EM MEADOS DA DÉCADA DE 1970 EU ERA UM DOS PRINCIPAIS ASSESSORES DE
ROBERT McNAMARA, PRESIDENTE DO BANCO MUNDIAL. RECEBÍAMOS MINISTROS DAS
FINANÇAS DE DIVERSOS PAÍSES E OS ENCORAJÁVAMOS A TOMAR EMPRESTADO.
COMO HAVIA PETRODÓLARES SOBRANDO, O CRESCIMENTO ECONÔMICO PODERIA SER
INFINITAMENTE FINANCIADO.
A dívida externa do Brasil, por exemplo, foi toda construída em cima
de acordos de curto prazo, ao invés de buscar negociações menos
gulosas, mais seguras e permanentes.
e a crise de liquidez emergiu.
TRATA-SE AFINAL AQUI TAMBÉM E NO
ESSENCIAL DE DESIGUALDADE
GAZETA MERCANTIL 14 DE ABRIL DE 1993
FRACASSO NA CORREÇÃO DAS DESIGUALDADES
nas últimas três décadas apenas através de uma agência federal, a
Sudene, foram transferidos cerca de US$ 18 bilhões ao Nordeste - dados
do relatório preliminar de uma comissão mista do Congresso Nacional
coordenado pelo senador Beni Veras (PSDB-CE).
No caso do Nordeste os indicadores sociais encontrados pela comissão são
equivalentes aos registrados em países como Haiti, Zaire e Honduras,
cujo PIB per capita é bem inferior ao nordestino.
Na Amazônia de 1970 a 1985 foram financiados 674 projetos agropecuários
e agroindustriais que contribuíram para uma expansão da área rural de
23,2 milhões para 44,9 milhões de hectares principalmente nos estados de
Rondônia e Pará.
desse total apenas 94 foram considerados oficialmente implantados até
1985, dos quais apenas três registraram alguma rentabilidade no período.
Constata-se no Nordeste uma real mudança especialmente no setor
industrial, que absorveu a maior parte dos investimentos agenciados pela
Sudene. No centro da mudança está apenas um estado, a Bahia, e um
segmento produtivo: a petroquímica.
o Nordeste apresenta um quadro de operações econômicas marginais muito
mais grave que no resto do país: entre 40 a 60 por cento da População
Economicamente Ativa de sua área urbana dedica-se a atividades
econômicas informais, "dependendo da definição que se adote de setor
informal da economia".
Folha de São Paulo 14 de abril 1993
A INDÚSTRIA DA FOME
Gilberto Dimenstein
dados coletados pelo deputado Jaques Wagner (PT-BA) junto da Conab e do
Banco do Brasil: 15 mil toneladas de alimentos, o suficiente para
alimentar 400 mil crianças durante um ano, foram enterradas. Mais: três
mil toneladas estão estragadas e outras 30 mil em fase de apodrecimento
nos armazéns.
o Brasil é um dos líderes na América Latina em desnutrição infantil.
Perdemos apenas para o Haiti, um dos países mais miseráveis do mundo e
por muito pouco da Guatemala.Dos alimentos apodrecendo aos poços do
Dnocs, passando pelos subsídios aos usineiros, entre uma infinidade de
descasos diários, prova-se que o Brasil já faria uma grande revolução
(ganharia muito dinheiro) se apenas reduzisse pela metade o desperdício.
BRASILEIRO COMEU MENOS FEIJÃO NO ANO PASSADO DO QUE EM 1985
Jornal do Brasil 14 de janeiro 1991
então já escasso por conta de quebra de safra
INÊS KNAUT, BASEADA EM PESQUISA DE REBECA CARLOTA DE ANGELIS, DO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DA
USP
1985: 2,378 milhões de toneladas
1989: 2,6 milhões
1990: 2,340 milhões
corte do feijão no cardápio brasileiro significa a subtração de:
21,7 gramas de proteína em cada nove colheres
345 calorias, com importante reflexo sobre as necessidades energéticas e
de construção e conservação de todos os tecidos do corpo humano.
(Para repor a perda é necessária a ingestão de quase meio quilo de
arroz.)
corte de cerca de um terço das necessidades diárias de ferro em 100
gramas diárias, e o consequente risco de desenvolvimento de anemia ou
queda dos glóbulos vermelhos.
Fibras do grão prejudicam absorção do ferro, o que pode ser compensado
com uma dieta complementada com alimentos ricos em vitamina C,
importante mediadora do metabolismo.
O feijão tem ainda valor vitamínico, fornecendo vitamina A, B1, B2 e
Niacina.
Experiências realizadas há 15 anos com animais de laboratório na área de
fisiologia mostram que a combinação arroz-feijão em proporção de 77 por
cento de arroz e 23 por cento de feijão torna-os complementares em
termos nutricionais. (Na proporção meio a meio é incompleta e limitante
em aporte de energia.)
A falta de aminoácidos (substâncias em que a proteína se desdobra no
organismo) num dos alimentos é compensada pela presença do outro.
Substituindo o feijão por proteína animal (caseína) os resultados são
decepcionantes. A presença de cálcio e vitamina A no feijão é decisiva
para a absorção da proteína pelo organismo.
O feijão atua ainda como fator de equilíbrio dos níveis de colesterol,
fazendo aumentar a excreção de sais biliares.
Jornal do Brasil 1º de junho 1993
PAÍS DESPERDIÇA US$ 40 BILHÕES ANUAIS
Construção civil: 20 por cento de desperdício na construção civil
frutas: perdas de 30 por cento
hortaliças: entre 30 a 40 por cento
Grãos: milho tem perda de 4,4 milhões de toneladas, equivalentes a US$
470 milhões
arroz: 20 por cento; feijão: 15 por cento; soja: 10 por cento
Rodovias precárias, atraso tecnológico, armazenamento inadequado e mau
sistema de difusão de informações
O Globo 1º de junho 1996 Joelmir Beting
IDH: 70º lugar, 12º na América Latina; PIB:
11º no mundo
EUA: considerada só a população branca: 1º lugar; só a
população negra: 31ª posição.
Jornal do Brasil 14 de março 1993
PADRÃO DE VIDA É O PIOR EM 20 ANOS
FALTA DE INVESTIMENTOS E DE CRESCIMENTO AFETA A QUALIDADE DE VIDA E FAZ
PAÍS VIVER COMO SE TIVESSE ACABADO DE SAIR DE UMA GUERRA
Só na última década deixaram de ser investidos no Brasil US$ 600 bilhões
em função da recessão, inflação alta e da instabilidade política e
econômica.
O número de empregos é 13,8 por cento menor que o de 1985, segundo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Renda per capita em 1991, de US$ 1912, era cerca de um terço menor que a
de argentinos e chilenos.
Jornal do Brasil 30 de maio1993
GOVERNO DESPERDIÇA US$ 33 BILHÕES
Levantamento do Ministério da Fazenda
apenas 40 por cento de recursos liberados pelo governo chegam a seu
destino - o restante é desviado "ou se perde no meio do caminho" [o que
parece querer dizer o mesmo].
O problema é atribuído ao desmantelamento promovido pela reforma
administrativa do governo Collor dos órgãos de controle interno do
governo responsáveis pela fiscalização e avaliação dos gastos.
O MINISTÉRIO DA FAZENDA RECONHECE QUE A MUDANÇA FACILITOU A ATUAÇÃO DO
ESQUEMA DE CORRUPÇÃO MONTADO POR PAULO CÉSAR FARIAS, O PC, QUE
CONTROLOU, SEGUNDO DADOS DO ESTUDO, 30% DO ORÇAMENTO PÚBLICO.
Jornal do Brasil 23 de maio 1993
SALÁRIOS PERDEM 40% DE SEU PODER DE COMPRA
PESQUISA APONTA QUE ENTRE 1986 E 1993 TRABALHADOR NÃO CONSEGUIU
ACOMPANHAR INFLAÇÃO DE 1.076.000.000%
ÍNDICE DE PRECARIEDADE DO MERCADO DE TRABALHO MOSTRA EVOLUÇÃO DO SETOR
INFORMAL: a taxa passou de 37 para 48 por cento da população
economicamente ativa
Folha de São Paulo 16 de maio 1993 editorial
Ajuste Inadiável
o PIB por habitante já caiu cerca de 10 por cento no início dos anos 90
Folha de São Paulo 16 de maio 1993
DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS NO PAÍS CHEGA A 30%
A INFORMAÇÃO CONSTA DO LIVRO "PANELA FURADA", de Renata Farhat Borges
Frete, manuseio, empacotamento e armazenamento inadequados são alguns
dos responsáveis.
Da produção nacional de 54 milhões de toneladas, avaliada em US$ 9,2
bilhões, o Brasil jogou fora US$ 1,8 bilhão.
O desperdício também se dá nas fazendas, como por exemplo com a não
utilização de alimentos que não alcançariam bom valor no mercado, e nas
residências, com o não aproveitamento completo de alimentos como a
cenoura e sua rama.
NÚMEROS QUE SURPREENDEM O MUNDO JOSÉ
MARTINS FILHO MÉDICO PEDIATRA REITOR DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
CAMPINAS (UNICAMP)
Folha de São Paulo 17 de outubro 1995
Unicef: Fundo das Nações Unidas para a Infância - relatório
101 nações em desenvolvimento e 35 em situação de pobreza crônica
entre 1960 e 1990
expectativa de vida subiu de 46 para 62 anos
escolaridade básica de 48 para 77 por cento entre crianças de 6 a 11
anos
taxa de mortalidade infantil caiu de 216 para 107 em cada mil
nascimentos
taxa de natalidade decresceu de 6 para 3,8
Calcula-se em US$ 34 bilhões/ano os recursos necessários ao atendimento
das necessidade mundiais em saúde e nutrição, educação básica,
saneamento básico e planejamento familiar - nada de exorbitante
considerando-se gastos anuais com o consumo de cerveja - US$ 160 bilhões
-, cigarros - US$ 400 bilhões - ou investimentos militares - US$ 800
bilhões.
O mito malthusiano de que o mundo está tecnicamente impossibilitado de
solucionar os problemas sociais imediatos e os da infância.
Brasil:
mortalidade infantil caiu de 118 para 52 por mil, muito longe dos 7 de
Itália e Nova Zelândia ou ainda bastante longe da própria Argentina (24)
Brasil: nona economia mundial, com produção agrícola suficiente para
alimentar 300 milhões de pessoas.
Isso significa que, com o aumento das desigualdades, a melhoria se deu
em todos os patamares, beneficiando mais os mais ricos.
A quinta parte mais rica da população mundial detém 85 por cento da
riqueza
A mais pobre, 1,4 por cento.
Não é só trabalho e competência que estabelece essas diferenças mas
séculos de colonialismo (espoliação econômica), ajustes econômicos
draconianos e juros escorchantes sobre as dívidas
Jornal do Brasil 20 de dezembro 1992
O crescimento das favelas em Porto Alegre não acontece mais por
causa dos movimentos migratórios mas pela reprodução da miséria. Nos 22
municípios da região metropolitana o número de favelados aumenta 9,8 por
cento ao ano enquanto o crescimento populacional é de 4 por cento. Na
capital a população cresce apenas 1 por cento ao ano mas os favelados
aumentam a uma taxa de 7 por cento.
DESPERDÍCIO - OUTROS NÚMEROS
PAÍS PERDE ATÉ 14% DO QUE
PRODUZ O
Estado de São Paulo S/D (1992)
pesquisa do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP)
um prejuízo de US$ 50 bilhões/ano, quase a metade da dívida externa
US$ 4,7 bilhões de energia elétrica
aproveitamento do couro de boi pela indústria é de apenas 20 por cento
por causa da doença do carrapato e não se investe em pesquisa
desperdício na indústria de construção civil é de 33 por cento e 60 por
cento desse desperdício na própria fase de construção
custos portuários causam perda de US$ 5 bilhões - enquanto na Holanda
são descarregados 27 contêineres por hora no Brasil descarrega-se de
seis a oito
tempo de preparação de uma máquina no setor industrial é de 81 minutos,
16 vezes mais que a média mundial
peças perdidas na produção: 200 por milhão no Japão, 26 mil por milhão
no Brasil
SUPER-RICOS DETÊM 36% DA RENDA NOS EUA O Estado de São
Paulo 13 de setembro 1992
A riqueza dos Estados Unidos se tornou mais concentrada durante os anos
80 do que em qualquer outro período da história
Sylvia Nasar
The New York Times
36,7 milhões de pobres em 1991, mais 2,1 milhões que em 1990
1.825.059.944.842,56%
Time Magazine
diz que esse é o aumento dos preços no Brasil nos últimos 25 anos - 18 de março 1993
DESPERDÍCIO
INFLAÇÃO FAZ DINHEIRO VIRAR LIXO DIARIAMENTE Jornal do Brasil 4
de julho 1993
Nem os bancos hesitam em jogar dinheiro fora. O desprezo pelos restos de
cruzeiros é tamanho que o gerente de uma agência bancária no Centro do
Rio confessou ter jogado vários sacos de plástico recheados de moedas de
10 centavos. Fazer o que com elas? - resumiu o gerente
[De fato, quando era chegado o tempo de cortar três zeros na moeda ou
criar uma nova as calçadas das ruas tremeluziam como se pejadas de lamê
de tanta moeda imprestável jogada fora pelos transeuntes.]
Onde está o liberalismo
Raymundo Faoro IstoÉ 29 de abril 1992
Na ótica liberal, isto é assim mesmo: os "incapazes", os
"ociosos", os "imprudentes", os "fracos"sucumbem porque a vida é uma
luta que não cessa, tolhida pela histeria de gritos de justiça. A
justiça da luta é o êxito ou o perecimento.
DESPERDÍCIO
ENERGIA PERDIDA JOELMIR BETING
O GLOBO 1º de abril 1993
PÓ NO CANO
A ONU informa: no ano 2000 cada terráqueo vai ter um milhão de
metros cúbicos de água por ano. Em 1950 a disponibilidade de água doce
era de 2,9 milhões por pessoa. Na cidade de São Paulo a água já está
sendo puxada de até 150 quilômetros de distância. Com ela a gente lava
carros e calçadas.
1997
NORDESTE TEM A MENOR TAXA DE CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO DO BRASIL
MÍRIAM LEITÃO O GLOBO 10 DE AGOSTO DE 1997
IBGE - censo demográfico
Brasil: 1,35 por cento
Nordeste: 1,06 por cento
A área mais pobre do Brasil, o Nordeste rural, perdeu 1,15 milhão de
habitantes.
A população das cidades cresceu em 12 milhões
Adolescentes de 15 a 17 anos na escola:
1980: 48,8 por cento
1991: 55,3 por cento
1996: 66,8 por cento
1¾ «
Uma mulher aos 36 anos, de Jurema, no agreste de Pernambuco, já teve 12
filhos dos quais 5 morreram e outros 2 tinham poucas chances de
sobrevivência.
Magérrimos por conta da desnutrição.
"Eu achava que era Deus que queria levar."
veja 30 de outubro de
1996
O MUTIRÃO QUE SALVA OS BEBÊS
Ensiná-los a preparar pratos com casca de ovo, sementes de moranga,
folhas de mandioca e de cenoura, refeição com teor vitamínico alto para
reduzir desnutrição de crianças e gestantes.
Educação: metade de mães e gestantes da Paraíba não conseguem
entender o material impresso pelo Ministério da Saúde sobre aleitamento
materno porque é analfabeta.
Média nacional era de 10 por cento de mortes de crianças com até um ano
de idade. No Nordeste, o dobro - índice de países miseráveis como
Etiópia, Somália e Haiti.
2008 ... e 9 (e tempo afora?)
ÁFRICA SURGE DAS TREVAS E SUBMERGE
NAS TREVAS EM UM SÉCULO
O GLOBO 30 DE JUNHO DE 2006
MUGABE ACENA PARA A OPOSIÇÃO
PRESIDENTE DO ZIMBÁBUE
DECLARA VITÓRIA E TOMA POSSE DESAFIANDO PRESSÃO INTERNACIONAL
Se o ditador fosse branco... Nicholas D. Kristof, The New York Times
Caminhos incertos para o país após assumir seu sexto mandato
Cerca de três milhões de emigrantes do país vivem na África do Sul, onde
sofrem com uma feroz onda anti-imigração.
Mugabe tem dito que pretende ficar no poder até que considere impossível
a reversão de terras, tiradas dos fazendeiros brancos e distribuídas a
negros pobres
veja 2 de julho, 2008
O FLAGELO DA ÁFRICA
o caos e a violência no Zimbábue podem ser examinados como uma síntese
dos flagelos que fazem da África o continente com a maior concentração
de países miseráveis.
INDÚSTRIA BRASILEIRA
SETEMBRO 2008
hoje há uma nova integração Sul-Sul. As empresas chinesas, por exemplo,
estão investindo na América Latina e na África
[o que para eles deve ser a mesma coisa]
não só para ter acesso às commodities desses países mas também para
obter uma posição que lhe permita lucrar com as vendas para a classe
média emergente. [quinquilharia, pirataria, etc.]
veja 1º de outubro, 2008
Chantal Blya, a mulher do presidente de Camarões (presidente, é modo de
dizer: Paul Blya está no cargo desde 1982 e numa das "reeleições"
atingiu o inigualável patamar de 99,8 por cento dos votos).
Folha de São Paulo 2 de janeiro de 1995
REFORMA NA ÁFRICA DO SUL
AMEAÇA REINO ZULU
até agora os zulus conseguiram manter um alto grau de independência em
seu reino, a Zululândia - ou KwaZulu, na língua de 22 por cento dos
sul-africanos.
A tendência agora é a de perder a autonomia relativa que teve mesmo sob
o regime de apartheid (1948-1990).
O resultado mais visível das transformações são as brigas entre
militantes do Partido da Liberdade Inkatha (zulu) e do CNA, de Nelson
Mandela, de origem xhosa: mais de 10 mil mortos desde 1990.
veja 1º de outubro, 2008
O CHEFÃO ZULU
O sucessor (de Mandela) foi seu braço-direito, Thabo Mbeki
(que) tem o mérito de ter sido o arquiteto da recuperação econômica da
África do Sul, que cresce 4,5 por cento ao ano desde 2004. Mas duas
atitudes deploráveis marcam sua carreira. A proteção que deu a Robert
Mugabe, (...)
Seu sucessor, Jacob Zuma, é um retorno às trevas do populismo africano.
... responde a dezesseis processos por corrupção.
sua etnia zulu
veja, 29 de abril, 2009
EM ESTILO ZULU
O populismo de Jacob Zuma, próximo presidente da África do Sul, é do gênero que faz a desgraça do continente
A vitória do Congresso Nacional Africano nas eleições parlamentares (...) dá ao CNA o direito de indicar o presidente da África do Sul: Jacob Zuma, líder da rebelião na cúpula partidária que forçou o presidente Thabo Mbeki a renunciar. (...) a sucessão representa uma ruptura cultural e ideológica no país que responde por um terço da economia da África abaixo do Saara. (...) Zuma vem da outra metade da população, que é pobre, vive na zona rural e toca a vida de acordo com os costumes tribais. (...) Aos 67 anos Zuma tem uma carreira marcada por escândalos de corrupção, lavagem de dinheiro, extorsão, fraude e sonegação de impostos (...). Em um julgamento por estupro, em 2006, do qual também saiu absolvido, ele respondeu que pensava que uma ducha poderia evitar a contaminação pelo vírus da aids. (...) A máquina do partido também não quer saber de mudanças. O monopólio sobre a administração pública permitiu a uma pequena elite ligada ao CNA enriquecer rapidamente enquanto os indicadores sociais do país mostram avanços tímidos. O desemprego chega a 40 por cento e uma em cada oito pessoas está infectada com o vírus da aids. Por falta de planejamento no setor energético o país (...) sofre com apagões frequentes. Como prova de que as coisas vão mal, metade dos sul-africanos acredita que sua vida continua igual ou pior que nos tempos do apartheid. Com Zuma a África do Sul fica mais africana.
Com Zuma a África do Sul fica mais africana
19 de julho 2008 AUXÍLIO A AFRICA
Comissão Européia propôs criação de fundo de um bilhão de euros
operacional em 2008 e 2009 para ajudar agricultores da África a
enfrentar a subida global do preço dos alimentos
META ONU ATÉ 2015: REDUZIR FOME E MISÉRIA À METADE
Haiti: as cenas dos telejornais de 13 de setembro de 2008 (como
se não bastasse mais nada) furacão e (nada mais restando) auxílio de
emergência enlatado e disputado como em rinha de galos de briga (como se
não faltasse mais nada). Passou o furacão, passou o Haiti.
2009 / 2019 ÁFRICA HYPE https://www.youtube.com/watch?v=WxYKPiy1vZw&t=94s
https://www.youtube.com/watch?v=WxYKPiy1vZw&t=94s
plateau marco ferreri no Sahel 1987, como visionário, embora a revolução fundamentalista no Irã já rolasse ia para uma década, Marco Ferreri vê o território como se apresenta em 2020, pasto do exército de Alá - Vive l´Iran! Vive Khomeini!
Michel
Piccoli (La Grande Bouffe,
Dillinger è Morto) roma 7 maio 1988 Come sono buoni i bianchi! ............................................
https://www.youtube.com/watch?v=WxYKPiy1vZw&t=94s
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banco de dados revoluciomnibus.com do dossiê A Fome no Mundo e os Canibais: continua em
CRISE 2008 DE CRACK EM CRACK A COMANDITA ENCHE O PAPO
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leitura associada ao dossiê A Fome no Mundo e os Canibais sobre a opressão política DAQUI
o livro do rock & da contraculturae da eterna rebeldiacom relato inédito do antes durante e depois do 25 de Abril de 1974 em Portugal |
MAPA DO SITE MAPA DA MINA revoluciomnibus.com
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revoluciomnibus.com - ciberzine & narrativas ©james anhanguera 2008-2024 créditos autorais: Era Uma Vez a Revolução, fotos de James Anhanguera; bairro La Victoria, Santiago do Chile, 1993 ... A triste e bela saga dos brasilianos, Falcão/Barilla: FotoReporters 81(Guerin Sportivo, Bolonha, 1982); Zico: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e seleção brasileira de 1982: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Edinho: Briguglio, Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Antognoni: FotoReporters 81, Guerin Sportivo, Bolonha, 1981. E-mAIL
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