revoluciomnibus.com | James Anhanguera | ERa Uma Vez A RevolUÇÃo. ...I I I | MEDO ATRASO E ROCK NAS BERÇAS | CIDADE FANTASMA |
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Cabaret, de Bob Fosse, estreia em Lisboa quando ao conhecer o poeta e jornalista no desemprego JCP dou um mergulho na noite de Nuno Bragança, a dos cabarés, hoje em dia a melhor curtição da cidade. O bas-fond de Lisboa, ainda para mais na companhia de João Carlos Pais, é puro Anjo Azul, mas sem Marlene... e com Lauren Bacall. Depois de um recital de Turíbio Santos na Gulbenkian, rumo com JCMC e o poeta à Trindade para o obrigatório meio bife do lombo com batatas fritas. - És filho do poeta? – pergunto-lhe na apresentação, porque J.P.R. fala-me muito dele de uma forma que não dá para entender serem quase da mesma geração. A imediata simpatia entre nós, reforçada por detalhes como o de JCP ter um filho chamado Edgar, é prova acabada do magnetismo animal. Súbito começamos a encontrar-nos nas meias-noites e dali a rumar para o após, em noites que deságuam nas manhãs. Numa delas encontramo-nos à entrada do Cinema Londres em mais uma noite de enchente para ver Un Soir, Un Train, de André Delvaux. Yves Montand, casado com Anouk Aimée, apanha o comboio para dar uma aula noutra cidade. No regresso, um desastre. O filme desenrola-se no plano da outra existência com tamanho poder sugestivo que se vai nas calmas para aquele lado com Montand até a última sequência, quando ele abre os olhos e vê (sabemos) que não morreu. Filme para se ver uma só vez, porque o conhecimento do epílogo estraga todo o efeito. Que é como o de um ácido. Não se chega a saber se a vida fica lá na tela da sala escura, no espanto do sonho extasiante em que Delvaux faz o espectador submergir e de que o tira de uma só vez. - Que pancada! – diz num riso de louco o poeta, arredando longa mecha de cabelos de fios lisos, longos e grossos dos olhos com uma mão e com a outra a segurar o isqueiro e a acenar como para dizer não dá para atinar, enquanto se senta numa espécie de rodapé alto e puxa-me para que faça o mesmo. - Preciso de um pouco de tempo para regressar dessa... dessa COISA! Isso é uma loucuraaa! – descarrega. Próxima parada, ainda alucinados, e sem saber como nem porquê, vemo-nos num bar em Cascais a beber gailecs de brandy. JCP desenvolve um discurso literário no plano da ficção, o que lê e o que vê decantado em vida e esta em poesia, JCMC, crua, beat, de discurso quase instantâneo/espontâneo porque extraída de lances supostamente cruciais como do âmago dos seres e das coisas ditas inanimadas em que se deseja estar sempre – fazendo-se, no ‘nosso’ caso, por isso. De dia só se vai ao British ou ao English Bar, no Cais do Sodré, tomar umas gingerbeers e cervejas brancas, pretas e mistas para aquecer, lá rebatidas com umas sandes de chouriço em pão de forma que se apanha no balcão, onde se apoia o pé na trave de latão, à cauboi. Vez por outra, quando por lá se passa, toma-se uns três ou quatro piratas ou pontapés na c... na Ave da Liberdade e nos Restauradores. Às vezes antes de subir ao Príncipe Negro. |
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