40 anos da tragédia do Sarriá

                     do histórico scudetto da Roma de Falcão

        e do nascimento do futebol-indústria na Itália

                                                 

     5 de julho de 1982 – 14 de maio de 1983   

   1982-85 · 2022-2025

                        Falcão 
                          Zico Sócrates
                               Cerezo Júnior Dirceu
                                           Edinho  Batista  Pedrinho
                                                    Juary Elói Luvanor
                                                                                                     

                   James Anhanguera

  A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

                          da tragédia do Sarriá às arenas italianas

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  A triste

  e bela

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  brasilianos

         da tragédia do Sarriá às arenas italianas

 

O oitavo rei de Roma

O Doutor Diretas 

Rebuliço na corte do rei Arthur  

Rei morto... fim da Monarquia


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  A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

         da tragédia do Sarriá às arenas italianas

terceiro capítulo  

                  Rebuliço na corte do rei Arthur

                                                                    (fevereiro-junho 1985)

 

 

    Os iugoslavos perderam porque Zico não se chama Zicovic.

                                                             João Saldanha

                                                          

 

  Antes do Udinese-Como da quinta rodada de returno do calcio os cem presidentes das torcidas organizadas ouvirão uma palestra do presidente Lamberto Mazza sobre o futuro do clube de Udine.

    O empresário deverá mais uma vez desculpar-se por ter contratado Zico, alegando que o craque não rendeu o que se esperava devido a problemas físicos, e de ter embarcado no megalômano sonho de Franco Dal Cin de levar o clube-bastião da pequena cidade perdida nas montanhas do Friuli - de que ninguém fala a não ser por causa da crise da Zanussi ou do próprio time - à conquista do scudetto. A hipótese de venda do brasiliano por ele aventada no ano passado causou uma rebelião em Udine mas agora sua partida parece inevitável.

    Zico não marca um gol há seis meses e já não esconde o seu descontentamento:

    - Não me divirto mais em Udine. Meu pensamento está todo voltado para o Brasil. Mas sou um profissional e se a Udinese precisar de recuperar o dinheiro que investiu em mim vou para onde me mandar - disse ele após a segunda derrota consecutiva do time com o Torino, agora em Turim.

  Seria um absurdo deixar ir embora uma jóia como ele num momento em que as fronteiras estão fechadas, declarou um cartola. Se quiser ficar aqui não terá dificuldade de encontrar um time, garantiu um outro. Se quiser continuar ganhando muito dinheiro Zico não deverá ir embora do nosso país, augurou um terceiro dirigente.

    Entre especulações em catadupa a hipótese mais cogitada é a de que ele vá para o clube de Júnior mas o diretor esportivo do Torino, Luciano Moggi, sacode a água do capote: Zico não vem para cá, vai para a Roma. Que já tem dois estrangeiros mas segundo rumores insistentes, após dois anos de vai-não-vai, será agora que Falcão irá de vez para uma equipe de Milão. Talvez Zico, que em 1981 teve um intenso e infrutífero namoro com o Milan, tome o lugar do rei de Roma como candidato à Inter, onde trabalha Franco Dal Cin, mas fonte da administração nerazzurra é taxativa: Já temos dois estrangeiros. Se a abertura das fronteiras ao terceiro estrangeiro for antecipada é claro que apostaremos nele, porque é o homem ideal para um time que quer brigar pelo campeonato.

   - Em Udine não dá mais para eu ficar. O que eu quero mesmo é voltar para o Flamengo e se não der mudar para um grande clube italiano - repete Zico dias antes de completar 32 anos. Face à mensagem do Flamengo de que ainda não tem dinheiro para comprar seu passe ele deu um prazo ao seu clube de origem para fazer uma proposta concreta à Udinese e passou a considerar válida a hipótese de permanecer na Itália.

 

 

   

  Zico não marcou no jogo Udinese 4x1 Como mas todos os gols - dois do defensor Gerolin e outros dois de adversários, contra - partiram de seus pés. O craque orquestrou o ataque metralhadora do time, conforme o Corriere della Sera, que sentenciou:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 - Quando o senhor Coimbra, o notório Zico, não joga ao nível que sua classe imporia mas toca quatro vezes na bola e faz marcar quatro gols, só se fosse maluco poderia pensar em pendurar as chuteiras. O senhor Arthur Antunes Coimbra completa 32 anos no próximo domingo. É uma idade em que poderia decidir voltar para o Brasil, procurar novas glórias internacionais e encerrar a carreira ou ficar na Itália para fazer feliz Dal Cin na segunda operação do século em menos de dois anos (e não seria mal feito), mas nunca se aposentar. Zico está no coração da equipe do coração dos friulanos. Por sua causa, para a Udinese o segundo tempo do jogo com o Como foi como bater em crianca.

   Sócrates, único herói de Florença

 

  A Fiorentina não perdia por 3 a 0 em seu estádio há 25 anos. Na rodada em que a Udinese goleou o Como a equipe de Sócrates foi nocauteada perante o seu público pela Sampdoria, que de ano para ano mostra um poderio crescente. Com duas vitórias e dois empates nas últimas rodadas parecia que os fiorentinos tinham finalmente engrenado, razão pela qual a goleada causou ainda mais indignação naquela praça futebolística, despeitada pela mortificante derrota, sublinha a Gazzetta dello Sport. A humilhação fez crescer a suspeita de que a família Pontello, proprietária de 40% das ações do clube, estaria disposta a desfazer-se da empresa, hipótese rapidamente confirmada pelo próprio presidente:

   - Estamos dispostos a vender a nossa cota caso haja interessados. Mas quem está disposto a ocupar o nosso lugar? - afirmou e desafiou Ranieri Pontello que, acompanhado pelo pai, deixou a tribuna de honra do Estádio Comunale dez minutos antes do final do sinistro. Os Pontello estão dispostos a vender o clube somente a quem tiver capacidade de mantê-lo nos atuais níveis de competitividade.

   Forte indício de que a família, que fez fortuna açambarcando quase todas as obras de construção da antiga cidade dos Medici, quer mesmo vender a società, segundo a imprensa, é o seu notório imobilismo no mercado de jogadores e treinadores, a esta altura em plena ebulição. Além de reforçar o time, sobretudo no ataque, a direção terá de substituir o técnico Valcareggi, que ocupa o cargo provisoriamente.

  - Podemos até vender alguns jogadores de valor para reaver o dinheiro investido, o que levaria a Fiorentina a reduzir-se às dimensões que tinha quando a compramos - tripudiou o conde Flavio, apelando ao despotismo tão caro aos membros de pior fama da outra famosa família de condottieri da cidade.

  Uma das grandes barreiras para a mudança de propriedade é o avultado capital que representa o pacote de ações dos Pontello, de mais de seis milhões de dólares.

  Um indício do péssimo ambiente que se vive também na diretoria do clube é o comentário do vice-presidente, Vicenzo Morichi, ao abandono dos capi antes do apito final do Fiorentina-Sampdoria:

  - Os outros podem ir embora quando querem. Eu deixo o estádio antes de terminar o jogo apenas quando o time está vencendo.

  Sintomático de como o tempo abre novas feridas enquanto fecha outras é que num momento em que Florença em peso está indignada com os Pontello e sua gestão Sócrates - antes alvo de todo o tipo de injúrias - agora é o único bem amado da corte. Segundo a imprensa, ele foi o único jogador competente do time na partida - segurando o meio-campo e fazendo excelentes lançamentos que infelizmente ninguém pegava lá na frente - e o único a receber aplausos da torcida viola em toda a tarde.

 

 

 

  Com o Verona reinando praticamente indisturbado pelos seus mais diretos perseguidores, tendo perdido apenas uma vez, enquanto Inter e Torino primam pela irregularidade, pelo terceiro ano consecutivo Platini é artilheiro do campeonato, com 13 gols, mais dois que Maradona que, coadjuvado pelo compatriota Daniel Bertoni, segue o exemplo de Zico no ano passado, abstraindo-se da fraca esquadra em que joga para dar shows a solo.

  Ambos quando chegaram estavam em busca de reabilitação. Platini do escândalo de pagamentos por baixo da mesa na equipe em que se formou, o Saint Etienne, e da desilusão na semifinal da Copa da Espanha, em que depois de estar ganhando por 3 a 1 a França foi alcançada no placar e eliminada pela Alemanha nos pênaltis. O capitão da seleção do galo jogou machucado mas mesmo assim fez o primeiro gol tricolor.

  Agnelli, que foi buscá-lo pessoalmente a Nantes, provocou a ira do bambino d’oro Paolo Rossi, enciumado com os privilégios concedidos ao straniero que no primeiro ano foi campeão da Copa Itália, no segundo ganhou o scudetto e venceu a Recopa e em ambas as temporadas foi capocannoniere do campeonato. Agora, aclamado empereur da Europa e com a Juve inopinadamente fora da corrida ao bicampeonato, é forte candidato ao tris como rei da artilharia do futebol italiano.

 

                                                                                                                       Foto Guido Zucchi  Guerin Sportivo

  Raramente se machuca, e talvez sua boa estrela tenha cimentado a personalidade sarcástica que o leva a encarar todos os desafios com sorrisos menosprezantes. Não tem mais o brasiliano a atazaná-lo mas em poucos meses o pibe de oro, chegado a Nápoles após dois anos de fossa em Barcelona e logo sagrado rei da antiga cidade dos Bourbon, pênalti após pênalti (marcou cinco), 3-gols-3 apenas no jogo com a Lazio de Batista (num total de 4 a 0), a passos largos vai chegando aos seus calcanhares.

  - Se não encher a cabeça só de idolatria e administrar bem seu futebol Maradona poderá ser o maior jogador da sua geração - opina Zico, rei da anterior.

  Hoje, pela diferença de câmbio - o dólar está em alta e seu contrato foi feito na moeda norte-americana -, o Napoli está pagando mais um milhão de dólares pela sua transferência. Mas nem isso chega a ser problema. Mesmo sem o time forte que lhe prometeram à chegada o pibe rende seu peso em ouro: a cada duas semanas o Estádio San Paolo está de casa cheia para ver jogadas e gols magníficos do seu maior ídolo.

 

 

 

       Lamentando não estar na disputa com os atuais reis da Itália, Zico é informado pela Udinese de que não existem condições de voltar para o Brasil após a Petrobras ter desistido de apoiar sua recontratação pelo Flamengo com base no esquema norte-americano de formação de pool de empresas trazido para a Itália pelo mago Dal Cin. A Udinese fez sondagens no Rio de Janeiro e em São Paulo para saber se existem condições de outro clube o contratar e Mazza afirma que nenhuma proposta é aceitável. O Galinho teria de resignar-se e encarar a hipótese de permanecer na Itália.

       Segundo informações correntes Zico e Mazza estão pensando em mudar a cláusula do contrato que prevê que ele seja dono do seu passe a partir de junho do próximo ano. Quem quiser contratá-lo não deverá desembolsar menos de 1,5 milhão de dólares e para fazer tamanho investimento teria de explorar seu nome e sua imagem por mais um ano, o que implicaria na assinatura de um contrato de no mínimo dois anos.

       Zico foi ao Rio para pressionar o Flamengo a encontrar um jeito de promover o seu regresso mas na Itália ninguém aposta em que ele volte ao futebol brasileiro.

 

  Regresso de Falcão reacende polêmica      

 

        Após três meses de ausência o rei de Roma regressa à corte e é recepcionado como o seu título exige: os holofotes da TV foram acesos mal o avião proveniente de Nova York estacionou na pista do aeroporto de Fiumicino e o jogador voltou a ser destaque nos telejornais e na chamada imprensa escrita. Como é seu hábito, nenhuma declaração bombástica além da que constitui a enésima desilusão dos torcedores da Roma este ano:

        - O professor James Andrews, que me operou e com quem tive uma consulta na Universidade de Columbia, vem a Roma para um congresso no dia 8 de abril. Até lá, por ordem sua, não poderei sequer tocar na bola, e acho que não poderei jogar mais neste campeonato.

        Enquanto seus companheiros enfrentavam vento, chuva e até neve em pleno mês de março numa cidade em que não nevava há 30 invernos ele assistiu ao Roma-Juventus da tribuna de honra e não esteve no vestiário depois do jogo.

         O regresso do rei poderia ser motivo de festa para seus súditos mas ao contrário serviu apenas para reacender uma já velha polêmica, nascida quando voltou a sentir o joelho no jogo Roma-Lazio para a Copa Italia, em setembro. A imprensa italiana relembra as bitates de Viola e do técnico Sven Goran Eriksson sobre o modo como se processou o tratamento do milionário joelho machucado. Ambos queriam que ele se submetesse à terapia em Roma, mas o rei preferiu entregar-se aos cuidados de Nivaldo Baldo na clínica do fisioterapeuta brasileiro em Campinas. Os jornais afirmam que tanto Eriksson como Viola não estão dispostos a esperar mais pelo regresso do jogador e voltam a falar na hipótese de a Roma já ter assegurado a transferência do possante meia sueco Glenn Stromberg, que esteve no Benfica com o técnico e agora dá shows de corrida, combatividade e distribuição de jogo no modesto Atalanta.

       Como sempre bastante reservado, Paulo Roberto Falcão não se pronuncia sobre o seu futuro, que se diz estar na Internazionale de Milão.

 

 

         A esta altura do campeonato o Verona já ganhou o scudetto, diz Sócrates. Agora só o Verona pode perder o scudetto, adiciona o técnico Luigi Radice, do Torino, e o seu colega Bagnoli põe a cerejinha: Agora só nos podemos perder o campeonato.

          A oito rodadas do fim mais uma vez os heróis do time vêneto, que se mantém na liderança desde a primeira rodada do campeonato, foram o eficaz alemão Hans Pieter Briegel e o acrobático goleiro Claudio Garella que, como em muitas ocasiões antes, contou também com a sorte para garantir a vitória do seu time sobre a Fiorentina, no Comunal de Florença, por 3 a 1. É consenso geral que a Fiorentina jogou bem mais que o Verona, que mais uma vez mostrou um futebol feio mas prático e objetivo.

         A atuação de Sócrates foi apenas discreta como as dos demais companheiros mas o conde Flavio Pontello, pai do presidente da Fiorentina, reatou a polêmica em torno do Doutor, acusando-o de só jogar um tempo por partida.

           Júnior voltou ao Torino após um mês de ausência e foi o melhor jogador granata no empate de 1 a 1 da sua equipe em casa com a Sampdoria, em que fez o gol do seu time.  Mas para o Corriere della Sera na grama de Turim (só houve) uma flor: Vialli, Gianluca Vialli, 20 anos, ponteiro esquerdo doriano oriundo da Cremonese.

           Para os brasileiros - àparte Júnior - um ano ruim: Sócrates contestado, Falcão jogando na tribuna de honra do Estádio Olímpico (é uma Roma estupenda) no Roma-Juventus, com Cerezo sofrível contra um Michel Platini brilhante, Batista da Lazio machucado, o mesmo acontecendo com Juary, da Cremonese, Dirceu medíocre numa tarde de vitória apertada do Ascoli sobre o Como (1-0), mas Zico se vingando: melhor jogador da Udinese no jogo em que os friulanos venceram por 2 a 0 um Avellino desfalcado de Diaz e Barbadillo, reconquistou a torcida da capital de uma das três Venezas. Lançados de um avião, chovem sobre o estádio panfletos contestatários: Mazza está ridicularizando o Friuli, acusavam. Mas agora é tarde demais...

 

Zico diz que não fez exportação ilegal de divisas

 

   

      Zico disse ao juiz de instrução Giancarlo Buonocore que não exportou divisas da Itália ilegalmente. A acusação foi feita pela Guarda de Finanças italiana após um ano e meio de investigações. O jogador da Udinese, chamado a tribunal para prestar depoimento, alegou que o contrato de publicidade entre seu clube, ele mesmo, através de sua empresa Zico Produções, e a firma Groupings Limited foi assinado no Brasil e que por isso não pode estar subordinado à legislação fiscal italiana. Espera-se para as próximas horas uma decisão do juiz sobre o assunto: arquivá-lo ou abrir um processo sobre o caso. O jogador pode sofrer pena de um a seis anos de prisão e multa igual ou até quatro vezes superior às divisas que a polícia alega terem sido exportadas ilegalmente da Itália (860 mil dólares).

      Zico apresentou-se ao tribunal de Udine acompanhado do advogado Giuseppe Campeis, que trabalha no caso com o procurador do jogador João Batista. O Galinho entrou no tribunal por um acesso lateral para evitar qualquer contato com a multidão de torcedores da Udinese e jornalistas que o esperavam junto à porta principal.

        Desde há dois dias, quando a Guarda de Finanças anunciou o envio da acusação a tribunal, Zico não atende o telefone e fez apenas uma breve declaração à imprensa: Estou com a consciência tranquila e vou me apresentar com a certeza de que tudo será esclarecido.

        O interesse das autoridades italianas pela transação financeira decorrente da transferência de Zico para a Itália começou no próprio dia da assinatura do contrato, 8 de junho de 1983. Sete semanas depois, quando a Federação Italiana de Futebol autorizou-o a jogar e Zico passou a ser residente na Itália e a estar sob a alçada da legislação fiscal do país, o Ministério do Comércio Exterior e o departamento italiano de controle de câmbios pediram à Guarda de Finanças que procedesse a investigações.

       O foco das investigações centrou-se de início na Udinese Calcio, no Flamengo, na Zico Produções e na Groupings Limited, empresa de representação a que o clube italiano e o jogador venderam o direito de exploração da sua imagem.

       A polícia não encontrou nada de suspeito nos balanços dos dois clubes mas detectou várias omissões no da Groupings, entre elas a do suposto pagamento a Zico de 860 mil dólares correspondentes a sua quota de 30% sobre as receitas publicitárias.

      Interrogado pelos investigadores, Zico disse desconhecer a legislação tributária italiana e garantiu que não recebeu um centavo da Groupings. A Guarda de Finanças suspeita no entanto que ele tenha recebido dinheiro e o transferido para o exterior (Suíça ou Brasil) sem que sobre ele fosse tributado o imposto de exportação. Zico foi autuado por constituição indevida de capitais no exterior.

       O presidente da Udinese declarou à imprensa que o clube está com suas contas em dia e não tem responsabilidade no caso. Mazza disse ainda existirem 80% de possibilidades de Zico voltar ao Flamengo e que ainda não sabe o que dizer em relação aos restantes 20%.

      O presidente tem sido muito contestado nos últimos dias pelas torcidas organizadas da Udinese e declarou a propósito que se os torcedores quiserem ele vai embora.

      - Já tive propostas para ser presidente da Lazio e de outros clubes - desdenhou.

      Zico errou na escolha da cidade para o seu soggiorno na Itália, onde sofreu com o frio glacial e com o baixo nível técnico do time, além do isolamento. Udine está mais perto da Iugoslávia e da Áustria que dos grandes centros populacionais italianos.

      Este ano jogou apenas nove das 22 partidas disputadas pela Udinese e só marcou um gol, contra 19 no campeonato passado, em que não atuou em seis partidas. Prometeram-lhe um time campeão e no regresso de sua segunda contusão, entre muita polêmica, vê-se na obrigação de salvar o time do rebaixamento.

        Segundo o instrutor do processo judicial de que é alvo o argumento principal da defesa do jogador cai por terra à primeira evidência: o contrato foi assinado no Brasil mas em função de uma atividade profissional a ser desenvolvida na Itália.

       Sophia Loren, a última vítima famosa da campanha moralizadora da Guarda de Finanças italiana, passou 26 dias na prisão romana de Regina Coelli após ter sido condenada por sonegação de impostos. A imprensa afirma que o jogador está sendo usado como bode expiatório  da polícia, que pretenderia apenas alardear sua afinal duvidosa eficiência no combate à fuga ao pagamento de impostos, enchendo os olhos da opinião pública com outra punição exemplar de uma celebridade.

 

     Falcão queixa-se da Roma e volta a Campinas      

 

       Pela segunda vez desde que chegou à Itália Falcão convocou a imprensa para uma coletiva em sua casa no bairro de Balduina, em Roma.

      - Chega de conversa fiada! - insurgiu-se, em sua primeira reação indignada desde que chegou à Itália. - Alguém não quer que eu cure o joelho - disse em “violês”, como a imprensa italiana apelidou o estilo pouco claro em que o presidente da Roma se expressa quando chamado a pronunciar-se sobre questões delicadas. Viola é o principal visado pela declaração jogador, que anunciou o seu regresso ao Brasil.

      - Quero jogar futebol por mais quatro ou cinco anos e disputar a Copa do Mundo do ano que vem. Voltei para Roma há 15 dias com a promessa do clube de que teria à disposição os aparelhos necessários para continuar o tratamento do joelho. Acabei por ficar duas semanas parado e a articulação está atrofiando. Por isso volto à clínica do professor Nivaldo Baldo. 

      Após uma consulta ao professor James Andrews, da Universidade de Columbia, por recomendação do médico norte-americano Falcão viajou para Roma para continuar o tratamento por mais um mês. Para isso precisaria de quatro aparelhos de terapia muscular, entre os quais um Orthotron II, que a Clínica Villa Bianca, de Lamberto Perugia - que serve o departamento médico do seu time -, possui mas ao qual não lhe foi dado acesso.

       - Eu estava fazendo um tratamento diário de quatro horas em Campinas. Pedi para usar o equipamento da clínica por duas horas mas me disseram que tem muita gente na frente. Vou embora, estou cheio dessas fofocas de província. O primeiro a querer ficar bom sou eu, por mim mesmo e pela Roma. Estou por aqui com a instrumentalização que se tem feito do meu caso. Em cinco anos nunca respondi a polêmicas mas agora tenha a impressão que essas polêmicas têm origem em estranhas invejas e que alguém quer atrasar a minha recuperação - repetiu irado.

       Comentando o gesto de Falcão, que só convocou a imprensa uma vez antes, há dois anos, quando estava em dúvida a sua recontratação pela Roma, o presidente Viola disse achar muito estranho que seu joelho esteja levando tanto tempo para ficar bom.

      - Um médico tão reputado como o professor Andrews prometeu-nos que em oito semanas ele estaria curado. Minha preocupação é normal, visto que três meses após a operação ele ainda não está bom. Eriksson está me cobrando a lista de jogadores para o próximo ano e Falcão é importantíssimo. Preciso ter a certeza de que estará disponível e até mesmo de que ele poderá voltar a jogar.

        O regulamento da Federação Italiana de Futebol prevê que caso um jogador se mantenha inativo por mais de seis meses seu clube possa anular unilateralmente o contrato que os liga. Falcão não atua há apenas três meses mas a imprensa italiana tem afirmado que o objetivo de Viola seria o de prolongar ao máximo a sua recuperação para poder desfazer-se do jogador.

         A Roma está em terceiro lugar no campeonato mas suas atuações irregulares não têm agradado aos torcedores. Um dos seus principais problemas ao longo do certame foi o de raramente Eriksson ter podido escalar todo o time titular por contusão dos jogadores, o que já levou Toninho Cerezo a chamar a atenção para a necessidade do clube contratar um preparador físico.

         Os jornais dão grande destaque aos protestos da torcida da Roma contra a atitude assumida pelo presidente Viola na polêmica com Falcão. Tido como cúmplice no caso, o técnico Eriksson foi alvo de uma chuva de moedas no final do clássico Roma-Lazio.

Zico “salva sua imagem”

 

     O Tribunal de Udine ordenou o sequestro de dois terços do salário de Zico. A ordem foi dada pelo presidente do tribunal dois dias depois do depoimento do jogador ao juiz de instrução Giancarlo Buonocore, que apreendeu o passaporte do jogador.

    Em outro depoimento ao juiz o diretor-geral da Inter de Milão, Franco Dal Cin, defendeu o mesmo ponto de vista do jogador, que disse a Buonocore estar convencido de que só teria contas a prestar à justiça brasileira.

    Dal Cin afirmou ainda que até março de 1984, quando se demitiu da Udinese, Zico não recebera dinheiro da Groupings, apesar de já ter feito alguns anúncios publicitários.

    Na sequência da instrução do processo o juiz deverá ouvir também o representante da Groupings Ltd. em Lugano (Suíça), Mario Rezzonico, e o presidente da Udinese, Lamberto Mazza.

     Zico diz estar com a consciência limpa e confiante de que tudo se resolverá a contento. Se alguém quis me prejudicar vai ter de pagar por isso mais tarde ou mais cedo”, declarou antes de mais um treino da Udinese.

     Esquecendo por umas horas a arenga judicial e voltando ao futebol a imprensa italiana em peso aplaude o regresso de Zico à grande forma na vitória da Udinese sobre a Inter por 2 a 1, com um gol de falta do Galinho, o segundo que marcou em todo o campeonato. Zico salva sua imagem e ofusca a da Inter, é o título da Gazzetta dello Sport, que além do gol e do passe a Miano para o tento que deu a vitória aos alvinegros contabilizou 39 assistências do brasiliano, das quais apenas quatro erradas, três bolas roubadas e só uma perdida em todo o jogo.

     Não é por acaso que ele é o melhor jogador do mundo, comentou o técnico Luís Vinício. O público de Udine delirou no reencontro com o rei. Os brasileiros dançaram de novo, diz o diário Reporter de Roma sobre as exibições de Zico e Juary da Cremonese, que marcou o seu primeiro gol no certame na vitória do seu time sobre o Como por 2 a 0. A crítica considerou Dirceu o melhor jogador no Estádio San Paolo no empate de 1 a 1 entre Napoli e Ascoli, apesar de Maradona ter cometido a proeza de inventar o gol de empate napolitano a seis minutos do fim do jogo.

      Os torcedores da Fiorentina fizeram greve de estandartes e de incentivo à sua equipe, que acabou por vencer a Roma, desfalcada de seis titulares, por 1 a 0, gol de Passarella.

       Sócrates criticou a greve de silêncio. A torcida acabou por incitar a Roma, disse após a vitória, que afastou sua equipe da zona de rebaixamento e o deixou mais tranquilo. O jogador deverá aproveitar as curtas férias da Páscoa para fazer uma pequena digressão pela Itália com a família.

 

        Soube-se entretanto que o presidente Lamberto Mazza está procurando vender ou emprestar Zico ao Napoli, notícia que levou o técnico Helenio Herrera e os antigos jogadores Omar Sivori e José Altafini a evocar os tempos em que Puskas e Di Stefano jogavam juntos no Real Madri. Para Altafini, que fez dupla com Sivori na mesma equipe, com Zico e Maradona o Napoli seria um time estelar. Sivori afirma que a hipótese só levanta um problema: Nenhum dos dois renunciaria à camisa 10 - a minha camisa.

         Além de Altafini e Sivori, outra dupla brasileira e argentina que brilhou no Napoli no passado foi formada por Luís Vinício e Bruno Pesaola, que hoje também trabalha como treinador na Itália. A imprensa comenta que com os dois jogadores o Napoli poderia até não conquistar o scudetto mas seguramente venceria o campeonato de arrecadações.

          O juiz Giancarlo Buonocore decidiu entretanto devolver o passaporte ao jogador brasileiro.

 

 

   O presidente da Roma, Dino Viola, foi surpreendido por jornalistas quando entrava na residência do presidente da Udinese Lamberto Mazza em Pordenone (norte da Itália).

   - Vocês sabem que tenho uma casa aqui perto, em Bassano. Estou aproveitando uma vinda à cidade para fazer compras para cumprimentar o meu colega e amigo de longa data - disse Viola, mas sua versão de visita de cortesia caiu por terra quando pouco depois Zico chegou à casa de Mazza.

    Rumores de que Zico poderia tomar o lugar de Falcão ou Cerezo na Roma circulam há já algum tempo.

    Na véspera do encontro com Mazza e Viola, Zico reuniu-se por mais de duas horas com o advogado italiano Giuseppe Campeis, o brasileiro Jairo Sampaio e o consultor fiscal Antônio Simões. Segundo a Gazzetta dello Sport, que garante que Zico já é de novo do Flamengo, o assunto não foi outro: Sampaio trouxe a documentação do processo para sua recontratação pelo clube carioca.

    Outras fontes garantem no entanto que não existe nada de concreto atrás da proposta da agência de publicidade Estrutural, do Rio de Janeiro, de formar um pool de empresas que bancaria o seu resgate. O conselho que lhe dou é o de ficar aqui. Ele ainda poderá dar muitas alegrias aos italianos - declarou entretanto Lamberto Mazza.

     O advogado Mario Rezzonico, representante da Groupings na Suíça, prestou depoimento ao juiz de instrução de Udine no qual afirmou que a empresa desfez o contrato com o jogador em 15 de janeiro porque se sentiu lesada pelo bloqueio na Itália dos fundos a ela destinados. Segundo ele os comerciais feitos por Zico na Europa não foram pagos, pelo que tanto a empresa como o jogador não movimentaram divisas da Itália para o exterior.

      Um grupo de juizes encabeçado pelo presidente da seção penal de Udine, Ennio Diez, prepara-se para julgar em audiência pública o recurso ao sequestro de dois terços do salário de Zico. A audiência está sendo considerada como uma prévia do julgamento do processo por sonegação de impostos e exportação ilegal de divisas de que o jogador é alvo. O próprio advogado de Zico desistiu de defender a tese de que, tendo sido assinado no Brasil, o contrato estaria sujeito apenas à lei brasileira para levantar a de que o jogador não agiu de má fé e desconhecia a legislação tributária italiana.

 

   “Um Brasil novo mesmo sem Tancredo”

 

             A notícia do agravamento do estado de saúde do presidente eleito Tancredo Neves é destaque nas primeiras páginas dos jornais italianos e o prestigioso diário Corriere della Sera publica nas suas páginas internas de noticiário do exterior uma entrevista com Sócrates feita em Milão na véspera do jogo Inter-Fiorentina.

        - É difícil estar no exterior hoje. Tem-se um sentimento ainda maior de impotência e de medo porque com o desaparecimento de Tancredo não se sabe que rumo o Brasil irá tomar. O vice-presidente José Sarney não dá as mesmas garantias que Tancredo por suas ligações com o regime militar - diz o jogador, apresentado pelo jornal também como médico, homem de cultura e sindicalista.

- As lágrimas dos brasileiros pelo drama humano do presidente refletem o momento de grande incerteza política e a falta de perspectivas concretas - declara o Doutor, negando que em suas palavras haja sinais de pessimismo:

- O momento é grave mesmo porque por enquanto não há uma personalidade política capaz de agrupar à sua volta o consenso e a confiança que os brasileiros tinham depositado em Tancredo, mas o caminho do Brasil rumo à democracia é irreversível - assegura ele.

       Dizendo pertencer a um grupo que há cinco anos tenta construir um novo partido político - algo brasileiro, que não se limite a copiar experiências americanas ou européias - Sócrates não esconde temer um possível regresso do país à ditadura, o que para ele levaria a população a uma reação enérgica.

       O programa político encarnado por Tancredo é o único caminho que o país pode percorrer para sair da pobreza, da fome e do desemprego, considera.

     - Desejo que meu regresso ao Brasil em 1986 coincida com uma mudança radical da minha vida. Se for possível abandonarei o futebol. Tentarei ser um médico ao serviço da sociedade e assim contribuir para a construção do novo Brasil - ensejou.

 

  Verona contida até na festa do scudetto

 

        - Chegamos ao topo. O importante agora é ter bons travões para a descida.

     Sempre modesto e cauteloso o técnico Osvaldo Bagnoli é a própria expressão da alegria contida dos veroneses com a conquista do seu primeiro scudetto a uma semana do final do campeonato. Desde o Cagliari, em 1970, que uma esquadra dita de província não se sagrava campeã italiana. As cidades de Turim e Milão conquistaram 59 dos 81 campeonatos até aqui disputados.

      Apesar da sua excepcional regularidade no atual certame e de nos últimos quatro anos ter estado sempre entre os primeiros classificados no início do campeonato, ninguém - com a excepção de Liedholm - apostou na vitória do Verona. E o fato de ela ser relacionada sobretudo ao declínio das “grandes” demonstra o pouco apreço da indústria do futebol à sua conquista: o Estádio Marc’Antonio Bentegodi tem capacidade para apenas 40 mil pessoas e Verona 240 mil habitantes, pelo que pouca gente ganha alguma coisa com isso.

      Mas até entre os vênetos a festa é contida, o que se compreende à luz da história da região e da sua capital. No último milênio, dominados por romanos, escalígeros e até à segunda metade do século passado pelos austríacos, os vênetos foram forçados a imbuir-se do ceticismo com que encaram mesmo os melhores presságios.

      A dois passos do Tirol e da Baviera e no cruzamento do oriente com o ocidente Verona foi uma das cidades mais flageladas por bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Situada na embocadura do rio Adige, é um importante eixo militar (um dos pólos estratégicos da OTAN na Europa) e comercial.

      O Verona é apenas mais um exemplo da competência gerencial de uma das regiões líderes da Itália em produção de vinho, criação de cavalos e indústria têxtil cujo espírito criativo e empreenditorial é também a base do sucesso internacional da Benetton. Como a do Avellino e da Sampdoria sua política de gestão da equipe baseia-se em investimentos de pequeno risco em jogadores em fase de formação e em nomes famosos de médio escalão e qualidade garantida. O sucesso do Verona prova a importância do equilíbrio de conjunto: oito dos seus titulares estão juntos há quatro anos, entre eles Pietro Fanna e Giuseppe Galderisi, duas das suas maiores revelações nos últimos campeonatos. Além disso Bagnoli acertou em cheio na dupla estrangeira.

      A penúltima rodada do calcio foi ainda marcada pelo histórico reencontro de Zico e Maradona em Udine, onde Udinese e Napoli empataram em 2 a 2 e houve também igualdade no embate entre os dois astros principais. O brasiliano fez uma excelente exibição ao longo de toda a partida - em que mandou um tiro no poste do gol defendido por Castellini - e o argentino primou pela pontaria, assinando os gols napolitanos.

 

 

 

       Sócrates, contundido, assistiu ao último jogo da sua equipe no Comunale de Florença (Fiorentina 0x0 Torino, sem Júnior, também contundido) na Curva Fiesole, junto aos torcedores. Pelo modo como age e fala o Doutor não parece ressentir-se de um ano de altos e baixos no futebol italiano, de a sua Fiorentina ter estado longe de fazer um bom campeonato e de não se ter recuperado de uma contusão na perna direita que o impediu de disputar também o jogo anterior da Fiorentina e o impedirá de participar na última partida do campeonato, em Nápoles.

        Ele mesmo reconhece que não se adaptou à equipe e ao calcio no primeiro ano na Itália, o que aparentemente não o faz esmorecer:

         - A tendência é melhorar - promete, ao mesmo tempo em que observa que o clima na equipe e entre os tifosi fiorentinos a seu respeito melhorou bastante. Quanto ao futuro, não opina:

        - O que é certo é que vou ficar na Fiorentina - garante, negando informações de que a diretoria do clube propôs-lhe a transferência para outro clube da Itália ou do Brasil. Mas fonte próxima ao jogador informou que durante sua próxima estada no país ele procurará saber se há algum clube interessado em seu passe.

         A família Pontello estaria empenhada em desfazer-se dele, pretendendo trocá-lo pelo atacante dinamarquês Bergreen do Pisa ou por um atacante do Torino. Na véspera do Fiorentina-Torino Sócrates recebeu em sua mansão em Grassina o técnico torinês Luigi Radice, de quem se tornou amigo durante o Mundialito de 1980 e com quem tem afinidades políticas.

          - Como carga informativa foi fantástico - diz, resumindo sua experiência de um ano na Itália. - O Brasil me faz muita falta e eu quero fazer alguma coisa pelo meu país mas a Itália me deu uma grande carga de conhecimento.

 

        

 

          Ano azarado para brasileiros

        Cremonese, Lazio e Ascoli, três dos sete times com brasileiros, descem para a Segunda Divisão.

        Falcão contundiu-se oito dias antes de começar o campeonato e só jogou meia dúzia de partidas. Não tardou muito para que Cerezo lhe fizesse companhia no departamento médico, onde foi parar outras vezes ao longo do certame. Após uma série de atribulações devidas a problemas físicos e judiciais Zico foi suspenso por seis jogos por novas críticas à arbitragem. Batista esteve contundido desde fevereiro. Juary mais uma vez não teve oportunidade de mostrar seu futebol num time de Série B que pegou já na cauda da classificação da Série A e jogando para não perder pontos. A última coisa em que o técnico Mondonico iria pensar era em marcar gols nas sólidas defesas milionárias adversárias.

     Sócrates não deu provas de adaptação ao calcio, o técnico Valcareggi criticou-o por só saber jogar de primeira e meia cidade condenou a direção do clube pela sua contratação. O Doutor convenceu, sim, o público que não é do ramo, ocupando espaço na imprensa com opiniões sobre política, cultura e rumos da sociedade brasileira. Juntando-se aos tifosi da Curva Fiesole para acabar com a greve de tifo da galera no Fiorentina-Torino acabou por somar mais um pontinho na sua tabela de apreciação da opinião pública florentina.

 

             

      Além de Dirceu, que num Ascoli muito débil mostrou competência e regularidade notáveis para um atleta da sua idade, o verdadeiro “salvador da pátria” acabou por ser Júnior, que a crítica considera o segundo melhor jogador do campeonato depois de Maradona. A exemplo de Zico no ano anterior o pibe limitou-se a ser vice na corte do imperador-artilheiro Platini, mas - como o brasiliano do Torino e Zico - foi um dos poucos estrangeiros que convenceu logo à chegada com muita categoria e esperteza.

     O homem que, sozinho ou quase, deveria levar a squadretta do interior “profundo” a um feito inolvidável acabou, segundo os depoimentos aqui elencados, por salvá-la do rebaixamento, de que escapou por pouco: a Udinese ficou em 13º lugar com mais três pontos que o Ascoli, um dos três rebaixados.

       Em dois anos os alvinegros friulanos cairam do pedestal a que assomaram quando se viram em sexto lugar no campeonato 82-83 com menos 11 pontos que a campeã, Roma, e depois de uma descida para o oitavo posto no ano seguinte com menos 12 pontos que a Juventus.

       Vice-campeã em 82, quinta em 83 e terceira em 84, a Fiorentina caiu para o nono lugar – uma classificação vergonhosa para um clube “grande”.

       Vice em 81, terceira em 82, campeã em 83 e de novo vice em 84, a Roma não fez muito melhor com o sétimo lugar alcançado este ano.

 

             De Zico a Falcão, a triste e bela saga dos brasilianos

 

       A imprensa italiana manifesta pesar pela notícia da condenação de Zico a pena de oito meses de prisão e cerca de 800 mil dólares de multa por exportação ilegal de divisas e solidariza-se com o jogador, que alega ser bode expiatório da Guarda de Finanças numa campanha moralizadora contra a fuga ao pagamento de impostos no país.

     O substituto procurador da República Giancarlo Buonocore, responsável pela instrução do processo, rechaçou entretanto a alegação de Zico, em declarações à imprensa no Rio de Janeiro, de que está sendo vítima de um complô. Buonocuore, Buonocore diz que, pelo contrário, foi até benevolente com o jogador: Se não lhe tivesse devolvido o passaporte, uma vez condenado Zico não poderia escapar ao cumprimento da pena.

       Para Udine, a sentença - que teve em conta apenas atenuantes genéricas  como a de Zico não ter antecedentes penais - significa o fim da esperança de que o jogador volte à Itália e ao seu clube. O mercado do calcio perde a sua pedra preciosa, um protagonista, epistrofa o la Repubblica de Roma. O acordo entre a Itália e o Brasil em matéria penal não prevê a extradição de cidadãos de ambos os países condenados por fraude fiscal como Zico, cuja sentença deverá passar por dois recursos até ser considerada definitiva. Uma vez preso o jogador não poderá ser libertado sob caução. A legislação italiana sobre a questão prevê apenas a conversão da multa pecuniária em tempo de prisão à razão de 12 dólares ao dia. Nesse caso Zico teria de cumprir 173 anos de cadeia.

           

 

      O técnico Sven Goran Eriksson, da Roma, ficou muito satisfeito com o teste de Falcão em amistoso realizado em Subiaco contra uma equipe da Quarta Divisão italiana. O técnico frisou que o teste era necessário somente para se certificar das condições físicas do brasileiro.

       - Como jogador ele não precisa de se submeter a testes, pois sabe tudo de futebol - sublinhou.

      Subiaco, que dista 70 km da capital italiana, é a cidade natal do ponteiro romanista Francesco Ciccio Graziani. A Roma venceu o time local por 14 a 2. Três mil tifosi fizeram questão de assistir à primeira exibição de Falcão em seis meses. Ele só entrou em campo no segundo tempo, vestindo uma camisa com o número 15, o mesmo da que envergou com a seleção brasileira na Copa do Mundo da Espanha, provando estar curado e em perfeitas condições físicas.

      O regresso de Falcão foi triunfal. Revi Falcão, disse o presidente do clube, senador Dino Viola. Este é um momento importante para a Roma de amanhã, juntou Eriksson, para quem agora só resta esperar pelo início do próximo campeonato italiano. Eriksson considerou espantoso o fato de o jogador estar tão bem após seis meses longe dos campos. A equipe vai ser construída em torno do número 5, acentuou o técnico, afastando as dúvidas que pairavam em torno à sua permanência na cidade eterna.

       - O presidente me deu um beijo e quando Viola me beija quer dizer que vai tudo bem – tranquilizou-se o advogado do jogador, Cristóvão Colombo, que também deu por certa e segura a renovação do contrato por mais um ano. Mas segundo a imprensa italiana Falcão deverá transferir-se para outro time, possivelmente o Napoli de Maradona, cujo novo diretor de futebol, Italo Allodi, manifestou interesse em sua contratação: É um ótimo jogador e com ele o Napoli seria imbatível.

                                                                                          FotoReporters 81   Guerin Sportivo

 

         - Senhores, Falcão é o futebol. Correu muito bem - foram as primeiras palavras de Eriksson ao acercar-se dos jornalistas após o treino, como quase sempre esfregando as mãos.

 

                             Rei morto... fim da Monarquia

  A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

O oitavo rei de Roma

O Doutor Diretas 

Rebuliço na corte do rei Arthur  

Rei morto... fim da Monarquia 

 

    o quadrinho do

                                                        

 

Parece como com uma mulher. Fica-se sem saber se não se olhou bem as outras ou se só o Guerin Sportivo nos fazia ver o balé do futebol em toda sua beleza plástica.

Havia outras revistas talvez mais bonitas que o Guerin. Mas nenhuma tinha fotografias com a qualidade estética do "velho" semanário bolonhês (fundado em 1912) "de crítica e política esportiva" que os jornalistas de todas as publicações ou seções de esporte de publicações de informação geral no estrangeiro consultavam nem que fosse só para ver  como se deve fotografar um esporte como o futebol, que faz com que todos os participantes se movam em total harmonia ou então em grande contraste de movimentos.

Reproduzindo ao longo da narrativa de A triste e bela saga dos brasilianos algumas fotos históricas do Guerin queremos também render homenagem a um dos melhores produtos entre os muitos de raríssima qualidade com que a "douta e gorda" Bolonha encanta o mundo.

     

                    

                                 

                          

                           

 

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créditos autorais: Era Uma Vez a Revolução, fotos de James Anhanguera; bairro La Victoria, Santiago do Chile, 1993 ... A triste e bela saga dos brasilianos, Falcão/Barilla: FotoReporters 81(Guerin Sportivo, Bolonha, 1982); Zico: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e seleção brasileira de 1982: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Edinho: Briguglio, Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Antognoni: FotoReporters 81, Guerin Sportivo, Bolonha, 1981. E-mAIL

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