40 anos da tragédia do Sarriá

                     do histórico scudetto da Roma de Falcão

        e do nascimento do futebol-indústria na Itália

                                                  

     5 de julho de 1982 – 14 de maio de 1983   

   1982-85 · 2022-2025

                        Falcão 
                          Zico Sócrates
                               Cerezo Júnior Dirceu
                                          Edinho  Batista  Pedrinho
                                                   Juary Elói Luvanor
                                                                                                

                   James Anhanguera

  A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

                          da tragédia do Sarriá às arenas italianas

                           Leia o livro e assista o jogo 40 anos depois 

       AO VIVO DIRETO DO BERÇO DO FUTEBOL-INDÚSTRIA

  A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

        da tragédia do Sarriá às arenas italianas 

O oitavo rei de Roma

O Doutor Diretas 

Rebuliço na corte do rei Arthur  

Rei morto... fim da Monarquia

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  A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

        da tragédia do Sarriá às arenas italianas

     segundo capítulo - segunda parte 

  

                    Junior Toro  de uma foto de Guido Zucchi Guerin Sportivo

 

Júnior também esteve em destaque. Após a sensacional goleada sobre o Napoli de Maradona o Torino foi a Udine tentar uma vitória improvável porque os granata não vencem no Friuli há cinco anos. O Toro vence com um gol do centroavante Aldo Serena mas é a Júnior que são dirigidos os maiores elogios do jogo, de que Zico não participa. O que mais surpreende a crítica não são tanto as suas diabólicas penetrações na defesa adversária mas sua argúcia na armação de jogadas. Entre os stranieri que passaram pela ou ainda estão na Itália é o que mais depressa se impõe junto à crítica e aos tifosi.  

     Antes do início do campeonato os esperti garantiam que o Torino, por só ter mudado de técnico e comprado Júnior, não iria passar do que tem sido, um time de posições secundárias.

    - Mas quem disse que o Torino não é um grande time? - retruca o homem que sozinho não iria fazer a diferença. - Estamos aí para ver o que acontece - desafia.   

    A que se deve a súbita adaptação à Itália e ao Torino?

    - Os caras aqui, diretoria, técnico e jogadores, são muito legais, além de que aprendi rapidinho a língua, o que é ótimo para criar ambiente. Dá pra entrar logo de brincadeira com os colegas, estar mais perto dos outros.

    Sobre suas exibições acima da média é mais sintético:

    - Eu sempre fui muito regular.

    E também não se excede em comentários sobre o surpreendente segundo lugar do time:

    - O Torino não tem ambições do tipo vencer o scudetto. Estamos lutando por um lugar que permita entrar numa dessas competições européias aí e o Torino tem time para isso. O técnico Radice é muito exigente e sério. Sai logo dizendo o que pensa na cara da gente e isso é muito bom para criar um clima de respeito e confiança.

 

   

     - Sem Zico a Udinese não é um timinho? - perguntaram ao técnico Luís Vinício, que se limitou a dizer:

       - Um jogador da sua categoria não é de jogar fora.

       A giornata será recordada como a da primeira vitória do Napoli e do primeiro gol de Maradona no campeonato italiano, numa goleada em cima do Como (3 a 0) que salvou o emprego do técnico Rino Marchesi.      

       A Roma soma o quarto empate na primeira atuação de Graham Souness na capital após a tragédia do Olímpico. E o escocês deixa o seu selo com um gol de pênalti no 1 a 1 que a Samp impõe aos anfitriões. Sem Falcão, nervo e cérebro do time, só Toninho Cerezo se salva num conjunto enfraquecido pelo afastamento de vários titulares por contusão.

 

       Quinta rodada em dia quente e cheio de sol mas negro para os brasileiros da Serie A. Fiorentina, Udinese, Roma e Ascoli perdem e Torino e Lazio empatam.

        Só se joga assim no paraíso, dizia sorridente o técnico Osvaldo Bagnoli após a vitória do Verona sobre a Juventus por 2 a 0.

       Como se joga no paraíso? Com um grupo compacto, muito veloz, jogando sempre para a frente e com muita sorte. Vale até gol de Elkjaer sem chuteira...

       Não fosse Galli a Fiorentina teria deixado o Estádio Giuseppe Marassi com uma derrota bem mais pesada que os 2 a 0 sofridos da Sampdoria. Ele defendeu um pênalti apontado por Souness e por milagre evitou que um chute à queima-roupa do escocês fosse parar no gol.

         Regressado de uma contusão Zico não está bem e foi essa a explicação da imprensa para a derrota da Udinese em Como (2 a 0). A única proeza do Galo foi um chute no travessão em cobrança de falta.

          Crise aguda na Roma e euforia no Milan após a vitória dos rubro-negros por 2 a 1 em San Siro. Liedholm deu uma lição de tática a Eriksson, em dificuldades para fazer a Roma jogar à inglesa. Inventando o gol de honra romano Cerezo mostra outra vez ser o único giallorosso com potencial para atuar no novo esquema.

         O Ascoli de Dirceu perdeu em Avellino por 2 a 0 e é o último classificado com apenas um ponto após uma rodada com 350 mil espectadores nos estádios, fato tanto mais saliente quanto é certo que em metade deles mal cabem 40 mil pessoas e num destes o primeiro classificado, Verona, recebia a ultra-campeã Juventus.

 

 

         Em seu terceiro jogo após a chegada de Lorenzo o conjunto laziale mostra-se menos ruim, mas ainda que com Laudrup em grande forma, chutando, correndo e distribuindo jogo, o ataque romano está longe de corresponder, com o centroavante Bruno Giordano sempre ausente quando é solicitado. Contra o ferrolho do Napoli o único chute laziale foi um tiraço de Batista - imperiale desde o início do campeonato - que o goleiro Castellini defendeu a custo. Final: 1 a 1.

         No Lazio-Napoli a primeira oportunidade de João Batista da Silva e Maradona fazerem as pazes desde um dos incidentes mais lamentáveis da Copa do Mundo de 82, quando o Brasil venceu a Argentina por 3 a 1. Desesperado com a iminente derrota dos portenhos quando estes já perdiam por 3 a 0 Dieguito deu um pontapé em Batista e foi expulso.

         - Cumprimentei-o no corredor de acesso ao campo. Gosto muito da maneira de ser e de jogar de Batista e quis dizer-lhe que aquele pontapé não era para ele mas para Falcão - diz o pibe de oro.

         - E quando você encontrar Falcão, como é que vai ser?

         - Ah - alarga o sorriso -, isso já foi há muito tempo, já passou! Não guardo ressentimentos.

         Quase todos os repórteres em serviço nos vestiários do Estádio Olímpico agrupam-se em frente à porta da squadra ospite. Eles só estão ali para ouvir um jogador. Sai Bertoni e aproveitam para perguntar:

          - Daniel, como é que você se sente no Napoli? Melhor que na Fiorentina?

         - Bem melhor. Aqui existe um ambiente coletivo que não encontrei em Florença e em campo tenho muito mais liberdade de manobra.

        No que Bertoni acaba de responder abre-se a porta e aparece Maradona. Resignado, o outro argentino vai embora enquanto os jornalistas mal deixam Dieguito sair do vestiário, interrogando-o sobre o seu segundo gol na Itália em lance de bola corrida.

       - Mérito do Daniel, que me botou na frente aquela bola excepcional e foi só chutar para o outro lado - explica antes de dizer que jogou com o calcanhar dolorido.

        - E o aplauso ao seu marcador Fonte quando ele foi substituído?

        - Foi uma forma de agradecer por ter sido implacável sem ser violento e também porque foi substituído depois do meu gol e isso não me agradou porque o ragazzino não teve culpa nenhuma. Ele fez muito bem o seu trabalho. Conhecendo bastante Lorenzo do Boca sei que ele passou a semana inteira dizendo ao ragazzino que o seu adversário era Maradona e não o Napoli.

        - O Napoli esteve muito recuado em campo – por quê?

       - Porque sabíamos que a Lazio estava esperando que a gente partisse à toa para o ataque. Mas estamos metendo bem na cabeça que não devemos jogar só lá na frente mas fazer um jogo inteligente, com boa cobertura atrás. Daí a sensação de que eu fico isolado lá na frente, algo de que estou me ressentindo um pouco. Mas isso faz parte da tática do técnico de se precaver contra todos aqueles gols que a gente tomou nas primeiras partidas, uma média de três por jogo que era impossível continuar enfrentando. É claro, com todo mundo lá na frente arriscamos a tomar gols de contra-ataque...

       Jornalistas satisfeitos, acompanhado pelo inseparável manager Jorge Cyszterpiller Dieguito vai à sala de imprensa para cumprimentar o técnico adversário. Ambos não têm boas recordações do tempo em que trabalharam juntos no Argentino Juniors. A imprensa italiana passou toda a semana recordando as declarações do técnico nessa época: Futebol é coisa de homens e você é um rapazinho irresponsável. Sorridentes, cumprimentam-se e num sussurro Lorenzo acaba por dizer:

         - Vamos esquecer aquilo, tá? De qualquer modo, você já é um homenzinho...

 

 

                     Guerin Sportivo

 

 

 

Falcão estréia na sexta rodada e finalmente a Roma pode contar com o técnico em campo, que se impõe como um regista num Roma x Verona que quem viu não se arrependeu de ter ajudado a lotar o Estádio Olímpico para assistir a um 0 a 0 histórico pelo espetáculo proporcionado pelo time da casa. Com um pouquinho mais de sorte a Roma poderia ter vencido por 5 a 0. Durante toda a partida o líder do campeonato manteve-se acuado em seu meio campo tentando suportar as investidas de uma Roma metamorfoseada, com um pressing massacrante, Cerezo onipresente, generoso e brilhante e Falcão como um maestro, organizando todo o jogo postado na linha de meio campo, num regresso triunfal. Temerário, foi também à luta pela posse da bola e quando cai com uma máscara de dor após um despique com Pietro Fanna a fiel Curva Sud faz o estádio inteiro gritar: Falcao!

    Em mais uma tarde abençoada o goleiro Claudio Garella defendeu até de bunda quando rechaçou mal uma bola à saída da pequena área e corria ainda agachado para proteger o gol da recarga iminente. Sembra un treno (parece um trem, como se diz na Itália quando um conjunto opera muito bem), ouviu-se dizer repetidas vezes da Roma naquela tarde abençoada para os visitantes.  

 

            

 

      Oito gols em oito partidas, quatro apenas num jogo (Cremonese 1x3 Juventus). O medo de perder e levar a perder investimentos estelares reinstaura-se. Mas a imprensa considera que a escassez de gols não é sinônimo de falta de espetáculo e o povo de Nápoles superlotou o San Paolo para ver Napoli e Milan e um outro empate a zero.

        Júnior faz o gol de pênalti que dá a vitória ao Torino sobre a Lazio sem Batista e em Florença Pecci volta a fazer o único gol dos donos da casa contra o Avellino numa partida em que os postes do goleiro hóspede Paradisi - que estava onde o nome indica - evitaram uma vitória por placar mais dilatado e em que, embora sempre lento segundo a imprensa, Sócrates impôs-se pela habilidade.

 

 

         Após cinco meses sem trabalho Juary é emprestado pela Inter, dona do seu passe, à Cremonese. De volta à Série A após 50 anos o time de Cremona deixa de ser a única equipe totalmente made in Italy.

       - Só vou se tiver lugar nos esquemas táticos do técnico Enzo Mondonico. Não quero ser apenas tolerado - dissera Jorge Juary dos Santos Filho, de 25 anos, na véspera do anúncio da sua transferência. A Cremonese é o quarto clube italiano do neretto em quatro anos.

Revelado no Santos, Juary chegou à Itália vindo do Nuevo León do México e manteve-se um ano no Avellino, de que se tornou um dos maiores artilheiros num só campeonato, com oito gols. De lá foi transferido para a Inter, onde esperava consagrar-se mas foi desdenhado.

 

 

 

 

 

 

Raro momento de alegria de Juary com a nerazzura

        - O ambiente ali é muito difícil - comenta José Altafini. Juary ressentiu-se até de preconceito racial por parte dos colegas e da torcida.  É emprestado ao Ascoli, clube em que marcou dez gols na última temporada e que foi obrigado a deixar após a contratação do argentino Hernandez. Juary receberá 60 mil dólares do novo clube e o valor do seu passe foi fixado em 400 mil dólares.

 

 

       A Sampdoria não não vai além do empate em casa (2-2) com o Torino num jogo em que Júnior mais uma vez arrasa e, apesar de a Fiorentina ter perdido por 2 a 1 em Verona, Sócrates não desagrada.

        A sétima rodada foi de resto mais um dia azarado para os brasilianos, com a Udinese sofrendo uma goleada de 4 a 1 em Avellino numa tarde em que Zico, de regresso, sofre outra distensão muscular.

         Cinco dos sete times de brasilianos estão nos últimos lugares da tabela. O Torino está em segundo lugar com menos dois pontos que o Verona, que tem 12, e a Fiorentina em terceiro, com nove. O Napoli de Maradona está em antepenúltimo lugar com seis pontos ao lado de Roma e Udinese.

         Mark Hateley, do Milan, é o artilheiro do campeonato com cinco gols, mas ficará por aí, porque o que já vinham sendo chamado de Átila irá sofrer forte pancada num joelho que o obrigará a submeter-se a uma artroscopia e no regresso  não irá reencontrar a grande forma.

         

 

         Zico submeteu-se a uma série de exames com o professor Francesco Conconi, titular da cátedra de bioquímica da Universidade de Ferrara e responsável pelo regime de treinos de Francesco Moser, recordista do mundo da hora em bicicleta, vencedor da última Volta à Itália e de seis medalhas de ouro nas Olimpíadas de Los Angeles.

           Após mais uma lesão o jogador falou pela primeira vez em deixar a Udinese e voltar para o Brasil, apontando o clima e o mau estado dos campos italianos como possíveis causas dos seus problemas musculares crônicos.

          Conconi afirma que o jogador não deverá submeter-se a tratamento médico mas apenas seguir um regime de treino adequado ao seu potencial aeróbico e anaeróbico.

           A carreira do Galinho na Itália tem sido pontuada de infortúnios. O primeiro deu-se logo após a chegada em agosto de 1983 e o segundo em março num amistoso em Brescia. Faltou a oito jogos do campeonato e após nova distensão muscular começa-se a especular sobre uma eventual “senilidade precoce” do jogador.

 

 

            Os jornalistas italianos descarregam a bílis no juiz do jogo de turno da segunda fase da Copa Uefa, que dizem ter sido tendencioso além da conta. Mas eles mesmos admitem que apesar de dois gols dos anfitriões terem partido de conversões de pênalti o placar de Anderlecht 6x2 Fiorentina não pode ter sido apenas fruto de uma má arbitragem.

 A Fiorentina vai mal a ponto de dois dias antes da partida técnicos, jogadores e a família Pontello se terem reunido em plenário para medir o grau de tensão criado pelos resultados desiguais dos viola no campeonato. Dez cretinos e um inteligente, foi a definição do grupo dada pelo presidente do clube à saída da reunião. Quem é o inteligente? Sócrates ou Peccione, de quem se diz a meia voz nos bastidores ser o colega que cria mais problemas ao Doutor, num ambiente em que os atletas estão divididos em grupos?

              Guerin Sportivo

          Eraldo Pecci em amistoso com a seleção brasileira

            Pontello mostra-se disposto a esperar até dezembro para decidir o que fazer e recém-recuperado do aneurisma Giancarlo De Sisti vê-se já com a corda no pescoço.

            O diretor de cinema Franco Zeffirelli, igualmente famoso pelo seu amor ao time, diz que a solução é mudar de técnico e talvez pela origem aristocrática demonstra irritação com as teorias “socialistas” de Sócrates. Revela enfim ter sempre pensado que aplicar tanto dinheiro nele foi uma besteira.

           O inteligente é Sócrates, precisa o presidente Pontello, e acrescenta: Sei muito bem qual é o seu problema, que é de caráter técnico, e eu não quero me envolver com isso. Numa reviravolta interpretativa, a imprensa começa a dizer que Sócrates está sendo escalado na posição errada. Só o Doutor é que não está para meias palavras: A Fiorentina não tem padrão de jogo, insiste.

 

 

 

            O afinal irregular Karlheinz Rummenigge desencanta e faz dois gols na goleada de 4 a 0 da Inter sobre a Juventus, resultado de que não há memória e que marca a oitava rodada do campeonato, em que Juary estréia na Cremonese perdendo por 2 a 0 na sua nova casa contra o Verona e o Torino vence o Milan por igual resultado em mais um triunfo de Júnior, que fez o segundo gol, de falta.

            A Fiorentina empata com o Ascoli, um dos lanternas do campeonato, em 1 a 1 e Sócrates é de novo substituído, agora logo no início do segundo tempo e pela primeira vez pelo técnico De Sisti.

           Pouco depois um telegrama da Ansa informava que o Doutor foi duramente contestado pela torcida viola à saída do Comunale e ficou por alguns segundos olhando sem pestanejar para quem gritava: Buffone! Buffone!

            - Os assobios são justos porque as pessoas pagam ingresso, enchem o estádio e têm o direito de exigir que a esquadra jogue bem e faça resultados. Mas eles não devem posicionar-se apenas contra um ou outro jogador. A questão envolve toda a Fiorentina - disse a propósito o porteiro Galli.

 

 

            Mau futebol no clássico romano. Duas equipes medrosas fazem tudo para não jogar. No final, 0 a 0, sétimo empate da Roma em oito jogos e uma vitória para a Lazio, que já só luta contra o rebaixamento. Faixa estendida em toda a Curva Nord, reduto azul-e-branco, declara com ternura: Lazio ner cuore. Na curva oposta informa-se: Ragazzaria carica (rapaziada cheia de gás).

            - Não foi uma partida, foi uma renúncia - comenta-se com Falcão.

            - Mas um clássico é sempre assim, porque não está em jogo apenas uma partida mas uma série de fatores - ripostou ele.

            O onorevole Viola passa com ar carrancudo e os jogadores do clube saem insatisfeitos. Entre eles, Falcão.

            - Foi um jogo feio porque não se pode jogar contra um time assim, toda na frente da área - disse o 5 da Roma.

            Do outro lado o número 5 da Lazio, Batista, contesta sorridente:

           - A Roma é que tinha a obrigação de atacar, até porque em teoria é a equipe mais forte. A Lazio não deu espaço ao adversário no meio campo e fez o papel de time que joga para o empate.

             Foi o quarto clássico de Roma entre Batista e Falcão, outrora companheiros e rivais do Internacional de Porto Alegre.

            - A única diferença é que lá jogávamos do mesmo lado e aqui somos adversários. De resto, é tudo igual, porque os ciúmes que eu supostamente teria pela sua maior popularidade é tudo estória inventada pela imprensa para vender jornal - diz Batista.

            Com uma distensão muscular ele não parecia em condições de jogar. Tática psicológica?

            - Realmente só ontem à noite é que eu soube que ia jogar. Desde o início da concentração, na terça-feira, eu estava sentindo uma demanda crescente da parte do técnico e dos colegas para que jogasse. Ontem Lorenzo pediu a minha opinião. Disse que não podia mudar de velocidade, correr e pular muito mas ainda assim fui escalado e o jogo acabou por não me fazer mal.

            Regressado de uma contusão no pé também Falcão não estava bem.

            - Tive de dosar o esforço, não pude correr muito - informou. Talvez todo o time se tenha ressentido da sua “dosagem”, mas ele não concorda:

            - A Lazio é que não deixou a gente jogar, e além do mais o juiz picou o jogo todo com interrupções a despropósito. Faltou também um pouco de fôlego à Roma, cansada do jogo de quarta-feira para a Recopa.

            Batista dizia-se também cansado mas apenas da concentração de quase uma semana:

            - Ainda bem que esta já acabou. Espero não fazer muitas mais, porque aumenta a tensão. É isso que cansa mesmo.

 

 


           Em gesto típico de líder carismático, segundo a imprensa italiana, Giancarlo Antognoni sobe a colina de Grassina para conversar com o Doutor sobre o difícil momento que ele e o clube estão vivendo.

           Após a conversa Sócrates declara ter entendido que é a ele que cabe fazer o esforço de adaptação ao novo time e não o contrário.

           - Os torcedores erraram ao me acolher como um ídolo e talvez errem também ao pensar que não posso ajudar a Fiorentina - sublinhou.

          Assegurou que não se sente arrependido de ter ido para a Fiorentina, que não pretende voltar para o Brasil e que não pediu explicações ao técnico sobre a sua substituição mas voltou a lembrar que sua única substituição anterior deveu-se a uma contusão.

          Os dirigentes da equipe violeta decidiram esperar pelo desfecho do jogo com a Roma na capital italiana para ver se põem ou não em prática um plano de restruturação elaborado após reuniões com colaboradores e jornalistas locais, que aconselharam a família Pontello a contratar o técnico César Luís Menotti.

           Sócrates não quis comentar a possível troca mas disse que o afastamento de De Sisti não irá servir de nada.

           - Tudo o que a squadra precisa é de calma para encontrar um padrão de jogo, que ainda não tem.

 

 

           Domingo é também dia do clássico Juve-Torino, que na última década tem sido um jogo de cartas marcadas. Mas desta vez o Toro está dois pontos à frente da arquirrival, que tem o mesmo nome do time de futebol de praia em que Júnior se formou, em Copacabana. Os três gols de cabeça por ela tomados na goleada da Inter evidenciaram a falta do seu central Sergio Brio, que operou o joelho, e do killer Gentile. Além disso as atuações do seu pilar, Platini, têm sido muito irregulares.

          Aos 30 anos, Iunior, como é chamado na Itália, deixou as praias e o sol do Rio de janeiro e chegou, viu e venceu na fria e cinzenta Turim. Ele não vê nada de mais na sua meteórica adaptação a um outro estilo de vida e a um futebol muito diferente do brasileiro, arrasando a cada domingo com a camiseta grená do Torino. De poucas palavras, mas claras e incisivas, nada o faz mudar o tom de voz, fale-se no “caso” que passou a ser como o astro brasileiro que mais depressa se adaptou à Itália ou do clássico com a lendária Juventus.

         E todavia seu desempenho contra a Sampdoria mereceu a nota mais alta dada a um jogador pela avara Gazzetta dello Sport em todo o certame, nove numa escala de um a dez, em função de proezas como a de ter marcado o seu segundo gol de falta no campeonato, algo que ainda não é normal e que, pela regularidade com que os cometem, fez aumentar a fama de Zico e Platini.

        Mais que o Verona talvez seja o Torino a grande surpresa do calcio este ano. O segredo? Uma defesa muito bem posicionada em campo e, como diz Leovegildo Lins Gama, excelente uso das capacidades individuais dos seus jogadores - do poder de arranque e de corrida do atacante austríaco Walter Schachner, da eficácia de Aldo Serena, um dos melhores jogadores italianos de grande área, ou do altíssimo sentido tático de Júnior.

                     

                Junior Toro  de uma foto de Guido Zucchi Guerin Sportivo           Foto Bob Thomas   Guerin Sportivo 14-20 julho 1982

         O que mais surpreende os cronistas é a força do conjunto, a que os dois estrangeiros se adequam sem polarizar as atenções. Bom malandro, Júnior - considerado pela imprensa o melhor jogador do campeonato - contém-se na medida e nos momentos certos. Neste Torino não há astros solitários a que se atribui as glórias ou bodes expiatórios dos problemas.

           O último scudetto da esquadra data de 1974, quando era treinada pelo mesmo técnico. O sucesso do Torino versão 84-85 traz à lembrança a lendária equipe que há 40 anos tinha dez dos onze titulares da squadra azzurra, foi pentacampeã entre 43 e 49 (o scudetto não foi disputado em 43-44) e desapareceu de uma só vez, quando o avião que a transportava no regresso de um jogo de campeonato bateu na montanha de Superga, próximo a Turim, em 1949.

         Ao chegar à capital piemontesa Júnior foi recebido por 500 tifosi e extravasou em simpatia, mas não é de esbanjar palavras. O que faz antes de tudo é jogar o futebol que sabe e que - esse sim - esbanja.

         - Qual é o seu segredo?

        - Não tem segredo. É uma coisa que não pode ser explicada, é muito pessoal, depende muito do temperamento da pessoa. Eu sou assim, muito inclinado a uma amizade, a aprender uma língua, a querer me entrosar.

        - Mas você está mostrando também uma grande capacidade de trabalho.

        - Isso é normal.

        - Mas existe uma grande diferença entre o futebol brasileiro e o europeu.

       - Sim, aqui é mais veloz, mais duro, mais disputado. Isso pode servir de desculpa para eventuais faltas de adaptação, mas não para mim, porque estou jogando numa zona do campo onde há menos choques entre os jogadores.

        - No Brasil você era lateral e aqui está se dando muito bem jogando no meio campo. Foi difícil se adaptar?

       - Nenhuma dificuldade, até porque no juvenil eu jogava no meio campo e no Flamengo ou na seleção, embora lateral, eu atuava muito no meio campo também.

        - Há muito tempo o Torino não era tão forte e regular e não estava tão bem colocado na classificação. Qual é o segredo do time?

        - Não é um segredo, todo mundo está vendo. O time encontrou o esquema certo, muito simples e coletivo, com jogo de marcação sob pressão, utilizando bem as características dos jogadores sempre que pode e explorando da melhor forma possível os contra-ataques.

          - Quando você chegou ninguém acreditava no Torino...

          - Ainda bem, né? Assim a gente joga também com o efeito-surpresa.

          - Parece que você não está se ressentindo muito do regime de treinamento.

          - Tudo o que eu faço aqui já fazia no Brasil, não é diferente, mais duro do que tinha lá não.

          - E o clássico de amanhã?

          - É um clássico, né...

          - Mas há muito tempo o Torino não partia para o clássico em vantagem e com a Juventus tão vulnerável.

         - Mas é preciso ver que ela tem três jogadores da defesa machucados... O passado não interessa, o passado é museu. Cada jogo tem uma história. Certo; com três caras da defesa machucados tudo muda de figura e eles psicologicamente estão a zero...

          - Como é que você,  um carioca adotivo que no Rio de Janeiro vivia a vida de uma pessoa comum, como costuma dizer, se adaptou a uma cidade como Turim?

          - Não tem problema não. Isso faz parte de mim mesmo, chegar e procurar logo fazer amigos e me sentir bem. A partir do momento em que eu decidi vir para a Itália tive que me predispor a tudo. Aqui não tem praia, não tem sol, é uma cidade cinzenta que vive a vida de uma grande cidade feita para o trabalho, mas fora isso faço mais ou menos as mesmas coisas que fazia no Brasil. Só que mudei de vida em alguns aspectos, faço outras coisas e de modo diferente. Para se dar bem todo mundo tem que fazer isso.

           - Alguma coisa chamou sua atenção nesses primeiros meses na Itália, na Europa?

           - Nada não, porque eu sou um cara muito viajado e há muito tempo conhecia a Europa.

 

 

          Confirmando os prognósticos o Torino venceu o 180º clássico com a Juventus por 2 a 1 e beneficiando do empate do Verona com a Sampdoria ficou a apenas um ponto do líder.

         Sem Paolo Rossi na frente do ataque o técnico Giovanni Trapattoni jogou com o efeito-surpresa e escalou no último momento o central Sergio Brio, operado ao menisco há um mês, mas a torre da defesa juventina não esteve bem. Tanto assim que o gol da vitória do Torino, no último minuto, foi feito de cabeça: Júnior cobrou um córner lançando a bola para muito perto do gol e o centroavante Aldo Serena, novo artilheiro do campeonato, completou.

 

 

           Com seus dois brasileiros ausentes por contusão a Roma surpreendeu os 48 mil assistentes do jogo com a Fiorentina no Estádio Olímpico, impedindo os adversários de sair para o ataque. Os 2 a 0 ao intervalo não expressavam o andamento do jogo: a Roma poderia estar vencendo por mais, não tanto por mérito próprio mas pela absoluta ineficácia dos adversários, que voltaram com um pouco mais de disposição para o segundo tempo e conseguiram diminuir a diferença com um pênalti cobrado por Sócrates.

           A vitória interrompeu uma série de sete empates e uma derrota dos donos da casa e piorou a situação da Fiorentina mas logo após o jogo o presidente Ranieri Pontello reafirmou a sua confiança em De Sisti. Para alguns jornalistas foi evidente a renúncia ao jogo de alguns atletas de camisa violeta, aparentemente desejosos de que o técnico seja demitido, mas, sorumbático, ele recusa-se a corroborar a tese:

          - A Roma jogou muito melhor do que nós, não esperava uma equipe assim tão forte - avaliou antes de reclamar da imprensa por especular tanto sobre a indisposição dos jogadores em relação ao seu trabalho:

          - Os resultados falam por si, e que a equipe não está bem nós próprios já o reconhecemos 250 vezes. Mas com a imprensa sempre em cima de mim um dia desses o clube acaba por satisfazê-la e me demite.

         - Mas nós temos uma grande simpatia por você, inclusive do ponto de vista humano - redarguiu um jornalista, situando a questão no plano pessoal.

          - Eu não deixo de assumir a minha fatia na divisão de responsabilidades. O que posso fazer, cair fora?

          - Mas como explicar que a Fiorentina jogue bem um e mal o outro tempo de cada partida? O senhor não acha que há uma certa má vontade da parte de alguns jogadores? – contra-ataca outro jornalista.

           - Uma coisa que não se pode fazer é incutir caráter a jogadores de primeiro plano, como alguns dos nossos.

            - Sócrates joga muito bem certas bolas, mas poucas - diz um repórter da RAI. - Será que está jogando na posição errada?

           Resposta lacônica do técnico:

           - Quando ele está bem colocado é sempre servido pelos colegas.

         O visado é o único jogador que, triste e cabisbaixo, continua sentado num banco dos vestiários quando os jornalistas deixam De Sisti e caem em cima dele como urubu sobre carniça.

           

 

        - Sócrates, o que é que você tem? Tá faltando alguma coisa?

        - Nada.

        - Você está com o moral muito embaixo...

        - Não.

        - Alguma coisa relacionada com a partida?

        - Não, coisas fora da partida que me desagradaram.

        - O que achou da partida?

        - Não quero comentar a partida.

        - Então, do que você quer falar?

        - Não quero falar de nada. Não me sinto bem, são muitos os problemas.

        - Como assim, não se sente bem?

        - Não me sinto bem como ser humano.

        - Está arrependido de ter vindo para a Fiorentina?

        (Dá um tempo, criando suspense.)

        - Não.

        Ataca-se mesmo a contragosto:

        - Magrão, diz-se por aí que existe má vontade da parte de alguns colegas seus, que não lhe passam a bola, e que os jogadores da Fiorentina estão divididos em clãs. É verdade?

        - Ah, deixa pra lá... - descarta e se despede.

 

          Após uma série de reuniões no regresso a Florença entre o técnico e a família Pontello, o diretor esportivo Tito Corsi, o técnico e os jogadores e entre o técnico e Sócrates, De Sisti mostra-se menos pessimista: Agora existe uma grande vontade de ir para a frente.

          O plenário do collettivo - termo de gíria que deverá ser muito do agrado do socialista Sócrates - durou três horas e meia e segundo o treinador nele foram também debatidos assuntos não técnicos. Finda a reunião De Sisti e Sócrates ficaram sozinhos para que o jogador pudesse desabafar, mas para o técnico só disse coisas que eu já sabia.

          Sócrates queixou-se com os colegas e com De Sisti de ser marginalizado pelos demais e de eles deixarem cair sobre si todas as culpas. Os colegas justificaram sua atitude e à saída dos colóquios o Doutor limitou-se a dizer: No futuro se verá. Um futuro que se torna ainda mais incerto após o anúncio de que Antognoni só poderá voltar aos treinos em fevereiro.

 

 

            O Torino vacila, leva azar, com duas bolas batendo no poste - uma delas após cobrança de falta de Júnior -  e perde em casa para o Verona (2 a 1) na décima rodada, em que a Juventus aplica uma goleada de 3 a 0 na Udinese - sem Zico - no Estádio do Friuli e Platini, que fez dois tentos, assume a liderança isolada da artilharia com seis gols.

 

           Zico, em aparente grande forma, bateu faltas, driblou, tentou tabelinhas com toques de calcanhar, deu golpes de cabeça na área e marcou o primeiro gol da vitória dos alvinegros por 2 a 0 em amistoso com a seleção da Austrália, após uma das mais longas ausências dos campos desde que chegou à Itália. Excelente teste à sua capacidade física e regresso triunfal, com direito a gol de placa.

          O Galinho é levado a julgamento pela justiça esportiva por criticar o juiz do jogo com a Juventus e acusar a arbitragem italiana de só errar contra os pequenos. Edinho reage à citação em tribunal dizendo que Zico não pode estar zitto (calado), afirmação que para a imprensa é ainda mais grave que a do colega.

           Apesar da excelente exibição do meia da semana o número 10 de Udine falta pela segunda vez ao Roma-Udinese. Entre os mais importantes integrantes brasileiros da legião estrangeira - que a imprensa está chamando de contusão estrangeira - Falcão só jogou duas, Zico cinco, Cerezo seis e Edinho sete vezes nas dez rodadas até aqui disputadas.

            Com oito empates, uma vitória e uma derrota, a Roma mostrou nos dois últimos jogos que poderá não ser tão dependente dos brasilianos como se pensava - ao menos como a Udinese depende de Zico, que com a sua genialidade aumenta espetacularmente a produção do ataque da equipe.

           A crise da Udinese não é de jogo mas de resultado, diz Luís Vinício na semana em que seu time já se preocupa em não descer para a Segunda Divisão. Esfregando nervosamente as mãos o técnico brasileiro aparenta sentir o peso do cargo de maior responsabilidade e prestígio da sua carreira, dadas as pretensões do time em que Zico deveria estar brilhando sempre e só brilha de vez em quando.

            - Meses atrás, após o anúncio da sua ida para Udine, você disse que contava muito com Edinho e Zico como mentores do jogo e garantes do seu entrosamento no time. Suas expectativas foram satisfeitas?

           - Nada disso. Tivemos muito pouca sorte com os dois e infelizmente eles até agora não puderam dar a ajuda de que eu precisava mesmo ao nível de jogo. Veja só. Durante a preparação para a temporada Edinho teve problemas físicos e logo nas primeiras partidas oficiais, para a Copa Itália, não pude contar com ele. Nos últimos dias já estava bem melhor, mas no amistoso contra a Austrália chutou a grama e está com um problema no tornozelo que, como constatei há pouco no treino, seguramente o impedirá de jogar amanhã com a Roma.

            - Nesse jogo Edinho não esteve bem. Antes da torção o seu problema era o mesmo?

         - Nem poderia estar bem depois de três semanas sem treinar. Antes ele teve um problema no joelho e no início do campeonato foi atacado por uma maldita inflamação na virilha de que só se recuperou na semana passada.

            - E Zico, que após um mês de ausência deu show contra a Austrália?

            - Zico nem veio com a gente a Roma. Ficou em casa porque depois do jogo nem podia mexer a perna por causa de dores musculares. Por isso a gente decidiu dar um tempo para ele se recuperar completamente.

            - A paciência com que a direção da Udinese está administrando esta prolongada ausência de Zico é notável, rara no futebol. A que se deve? À sua influência ou a uma atitude de rara complacência da parte do presidente Lamberto Mazza?

            - Tratando-se de um jogador como Zico acho que a paciência de parte a parte é fundamental. É claro que nem ele mesmo está contente com o má fase por que está passando mas devo dizer que apesar de tudo o ambiente no clube é muito bom. O presidente é uma pessoa muito compreensiva e, mais que isso, eu e o conjunto de jogadores temos toda a confiança da direção. E isso é de fato tanto mais notável quanto é certo que tem muita coisa acontecendo que não ajuda a nossa caminhada.

          - Notável mesmo é a paciência da Udinese em relação a você, visto que em qualquer outro clube que se encontrasse nessa situação já há tempos teria havido a chamada chicotada psicológica, com o afastamento do técnico.

          - Sem dúvida. Felizmente que apesar de tudo o clima é tranquilo, com todos os jogadores muito conscientes da situação.

        - Antes da sua ida para Udine falava-se em construir um grande time à volta de Zico, o que não aconteceu. Por quê? Limitações financeiras?

         - Não. O que acontece é que não tivemos muita escolha no mercado de jogadores e isso refletiu-se por exemplo na falta de aquisição de pontas de grande experiência. Tivemos de limitar-nos a jovens bastante promissores mas inexperientes. Um exemplo da nossa falta de sorte é o de termos comprado o central Collovati (da Inter) e posteriormente ele se ter recusado a ir para Udine. E para piorar nunca conseguimos pôr o time titular em campo. Agora estão faltando quatro titulares e um suplente muito importante.

 

 

           Edinho melhorou bastante segundo Luís Vinício e deu a Selvaggi o gol do empate provisório do jogo.

          Tomei uma coisa, disse o antigo jogador do Fluminense desmentindo o técnico, que afirmara não lhe ter dado nada para diminuir as dores que sentia na véspera por causa da torção no tornozelo.

          Regresso (medíocre) de Falcão e de Edinho (ao contrário do 5 romano, muito útil ao seu time) no Roma 2x1 Udinese.

          Luís Vinício estava de mau humor após mais uma derrota:

          - Não soubemos conservar o empate. Essa partida queima por isso, por uma derrota que nos mortifica em tudo e por tudo. Foi uma partida muito curta, com uma prova muito positiva dos meus rapazes, que fizeram um belíssimo jogo.

                                                                

        Cada qual em seu canto os dois brasileiros são bem o exemplo de como a comunidade na Itália vive isolada. Diz Edinho:

        - O futebol aqui é muito profissional, a gente treina muito, quase sempre de manhã e de tarde, o que nos rouba muito tempo. Só nos falamos por telefone mesmo.

        - Como se sente há mais de dois anos em Udine?

        - Lógico que é uma cidade pequena e, oriundo do Rio de Janeiro, tive de fazer um pouco de esforço para me acostumar. No fundo dá até um relax viver numa cidade pequena. Para mim, como experiência está sendo sensacional. O problema maior foi com o frio. Eu inclusive tive de aprender a me vestir para não sofrer tanto com o frio.

        - Você chegou a ser assobiado, Falcão - diz um jornalista.

        - Faz parte das situações absurdas que a gente vive no mundo do futebol. Se um jogador ou o time, como a Roma hoje durante um pedaço da partida, não estão bem, o público não tem o direito de assobiar, porque só piora tudo. Tem mais é que apoiar a gente.

        Mas até um jornalista lançou impropérios contra o rei de Roma, que para ele já era. O jogador se justifica:

        - Todos os anos a Roma fazia um mês de preparação física antes do início das competições. Este ano não fez e o resultado é o que se vê: muitos jogadores importantes no departamento médico. Só voltei a treinar na semana passada e para atingir a forma plena, um bom potencial muscular, preciso de ao menos um mês de treinamento. Mesmo assim gostei do meu desempenho. Taticamente é que não estou bem. Esperemos que venha a forma ideal, que com ela vem o resto.

                                                

                                                                                                                                   Foto Briguglio     Guerin Sportivo

   

 

     Finalmente uma rodada de glória para mais de um brasileiro. Como quase sempre de Júnior, que com uma cobrança de córner deu o primeiro gol ao meia Giuseppe Dossena e com um lançamento para Aldo Serena esteve na origem de um pênalti, que cobrou e converteu na segunda vitória consecutiva do Torino no Partenio de Avellino (3 a 1).  Dirceu foi um dos protagonistas do Juventus-Ascoli em Turim. Respondeu em alto estilo a Platini, que convertera uma cobrança de falta, marcando também em lance de bola parada o último gol do empate de 2 a 2 imposto pelo seu modesto time à Rainha. Batista, igualmente de falta, fez o gol do 1 a 1 de Sampdoria-Lazio, em Gênova.

     Sócrates marcou de cabeça o gol do empate da Fiorentina em Cremona (1 a 1) mas não comemorou. Sozinho dentro do gol, limitou-se a erguer os braços em gesto de alívio.

 

 

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Parece como com uma mulher. Fica-se sem saber se não se olhou bem as outras ou se só o Guerin Sportivo nos fazia ver o balé do futebol em toda sua beleza plástica.

Havia outras revistas talvez mais bonitas que o Guerin. Mas nenhuma tinha fotografias com a qualidade estética do "velho" semanário bolonhês (fundado em 1912) "de crítica e política esportiva" que os jornalistas de todas as publicações ou seções de esporte de publicações de informação geral no estrangeiro consultavam nem que fosse só para ver  como se deve fotografar um esporte como o futebol, que faz com que todos os participantes se movam em total harmonia ou então em grande contraste de movimentos.

Reproduzindo ao longo da narrativa de A triste e bela saga dos brasilianos algumas fotos históricas do Guerin queremos também render homenagem a um dos melhores produtos entre os muitos de raríssima qualidade com que a "douta e gorda" Bolonha encanta o mundo.

     

                    

                                 

                          

                           

 

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créditos autorais: Era Uma Vez a Revolução, fotos de James Anhanguera; bairro La Victoria, Santiago do Chile, 1993 ... A triste e bela saga dos brasilianos, Falcão/Barilla: FotoReporters 81(Guerin Sportivo, Bolonha, 1982); Zico: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e seleção brasileira de 1982: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Edinho: Briguglio, Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Antognoni: FotoReporters 81, Guerin Sportivo, Bolonha, 1981. E-mAIL

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