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Mal recuperado, compareço à primeira de uma série de conturbadas reuniões no Sindicato dos Jornalistas para debate da questão do despedimento dos Seis a partir de um protesto do Grupo de Jornalistas Progressistas, uma associação a todos os títulos informal de escribas de várias tendências políticas de qualquer modo à esquerda, ou acima, ou abaixo, não importa, do PCP, formada há dois meses e que se reúne aqui e ali, em casa de um e outro membro. As reuniões do GJP são marcadas por acalorados debates sobre a política de comunicação social do I Governo Provisório e o papel do grupo nas redacções. Nunca há mais de uma dúzia de jornalistas mas, pelas bases absolutamente primárias sobre que se desenrola a sua actividade, com reuniões convocadas pelo sistema de boca-a-boca, como num aparelho clandestino, a repercussão da ‘entidade’ é espantosa. A abrir os debates, gente vaga ou claramente identificada com a corrente dita marxista-leninista toma a palavra e discute longa e detalhadamente aspectos às vezes sem importância até que, já para lá da meia-noite, quando tudo parece esclarecido, o cansaço já a dar cãibras na língua e com aquela ânsia de tomar umas imperiais ou derrubar umas garrafitas bem geladas de Gatão – um must da estação que se afigura muito quente -, primeiro um, depois outro, enfim um terceiro dos largamente minoritários militantes do MRPum-Pum tomam a palavra e, entre desabafos do tipo lá vêm estes gajos, era o que faltava, lá conseguem fazer alterações decisivas nas moções que, aprovadas em votações sumárias, já quase todos de pé a ajeitar as calças e a arrumar os papéis, entrega-se a um ou outro membro encarregado de cuidar da impressão gratuita numa gráfica de um jornal e da distribuição, e ala que já se faz tarde.
Uma das primeiras reuniões dá-se na casa de uma jovem que trabalha como operadora de som de um documentarista que acaba de chegar do centro da Europa Ocidental e não falha um acontecimento mais a sua câmara ao ombro, ao lado dos cabelos e barba à Bakunin. Quem abre-me a porta da mansarda da Rua da Conceição é um jovem com cara de anjo que veste o que parece uma camisola de rugby do Chelsea apresentando-se como irmão de Muriel e a propósito de reuniões de ‘jornalistas progressistas’ e as suas vicissitudes desata a falar não se sabe muito bem porquê em filósofos pré-socráticos. Entre o abrir e fechar da porta da sala de reunião, em que um grupo de oito jornalistas vê-se obrigado a sentar-se em círculo no chão, o debate em curso, começa-se a sentir o cheirinho agridoce de erva prensada de Marrocos e quando a anfitriã entra com uma bandeja na mão para servir o chàzito é com quase pavor nos olhos que uma jornalista presente retira a sua malga e põe açúcar, não antes de tentar certificar-se do verdadeiro conteúdo do líquido e do pó. |
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