revoluciomnibus.com  James Anhanguera ERa Uma Vez A RevolUÇÃo  ...IV ERa Uma Vez A RevoluÇÃO TROPA de guarda

        Na manhã seguinte, de regresso à Rua Capelo, novo baque com três chaimites e um camião do exército estacionados em frente ao prédio da emissora. Alço os olhos e vejo soldados a olhar de uma janela banhada por um radioso sol de Primavera. A rádio está ocupada. Mas a maior surpresa vem quando, indo ao encontro do jovem tenente que chefia o destacamento, este faz questão de dizer que os soldados não estão ali a ocupar a rádio mas para protegê-la, para que nada de grave vos aconteça, frisa, e tranquiliza: Os senhores podem continuar a trabalhar normalmente, que ninguém os molestará – e de facto a maior parte dos soldados permanece lá embaixo, no camião, e os poucos que subiram mantêm-se no corredor de entrada.

        A presença de tropas na rádio, mesmo que por um dia, provoca uma mais clara demarcação de posições entre os trabalhadores, inclusive os produtores independentes, na verdade micro-empresários que com as convulsões por que o país passa há um mês estão a ver a coisa mal parada. Se nem gente como o chefe, António Castro, RPdaC e Leite, em princípio mais preparados político-ideologicamente, ou eu, em princípio um principiante, sabem muito bem o que é manter uma rádio ‘ocupada’, como dizem as notícias que dão a volta ao mundo, imagine-se os gajos que nunca fizeram questão de ter uma. Autogestão, em Portugal e nas imediações a milhares de quilómetros, é coisa absolutamente inédita. Como ‘autogerir’ uma emissora de rádio que apesar de pequena é tão complexa, sobretudo quando se tem em conta que não é fruto de um projecto conjunto mas foi ‘herdada’ pronta. Falta publicidade com que se paga horas de antena e salários e nem passa pela cabeça de ninguém ir pedir ajuda oficial para mantê-la. Sempre com ar de jeune gen enragé, apesar de bem vestido e dos cabelos mais curtos, sem nunca tomar a palavra para dizer a minha mas sempre de acordo com as posições mais radicais, sinto os olhos de colegas dardejar pragas quando me encontram, mas nada é ainda dito às claras.

       Num dos seus dois programas de frivolidades, a falar e passar discos para passar o tempo e meter publicidade, o produtor e apresentador Armando Marques Ferreira decide ‘abrir o jogo’ e em aparente diálogo com a compère lança o petardo:

       - Agora parece que é moda ser-se comunista. Vejam só como se vive nos países comunistas. Na Polónia é proibido até fumar em restaurantes!

 

 25 antes durante depois ...............

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