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Não se sabe o que se passa nos bastidores na luta pelo poder mas por sucessivas ordens e contra-ordens vindas a público depreende-se estar-se longe de uma definição político-institucional. Thomaz e Caetano são mandados para o degredo temporário na Madeira a caminho do exílio no Brasil. A sensação é de euforia pela nova ordem política do país, que não se sabe exactamente qual é mas que ninguém duvida fundar-se em princípios democráticos de plena liberdade de expressão enquanto se vê o rumo a seguir e se o segue, fazendo-o. O primeiro sinal de que passado o primeiro impacto de relativo caos provocado pela abrupta mudança as coisas voltam a uma certa normalidade me é dado num início de manhã em que, como antes, o cantor, compositor e atleta Ruy Mingas, equipado de branco, sai a correr do prédio onde mora, na Ave dos EUA, do outro lado do Vavá, a caminho do CDUL. O que faz diferença na cena em relação ao passado já remoto é uma pichação na parede embaixo das janelas de rés-do-chão por onde ele passa, com um desenho do mais típico exemplar do artesanato popular ao lado da legenda
Para quem esperou tanto por representantes do povo menos caricaturais que o almirante gagá e o primeiro-ministro caquético, a pichação ssinada é um acinte.
Passa-se um mês sobre a gloriosa data e no dia seguinte, sábado à tarde, cerca de dez mil pessoas reúnem-se no Rossio para a primeira manifestação da chamada extrema-esquerda em protesto contra a indefinição do governo sobre a guerra colonial. NEM MAIS UM SOLDADO PARA AS COLÓNIAS – lê-se num dos cartazes empunhados na vestuta Baixa pombalina. O carro de reportagem está com RPdaC, a cobrir uma RGE na Cidade Universitária. UHER a tiracolo Ed segue Rua do Carmo abaixo para cobrir a sua. A manife dá uma volta à praça e ao atingir a do Comércio toca-lhe, ainda no início da Rua do Ouro, subir as escadinhas até à Rua Ivens mais os dois lanços do número 5 da Rua Capelo a entregar as primeiras fitas e ir apanhá-la pela frente já na 24 de Julho, enquanto as gravações dão a entender que mais uma vez a RR em autogestão está na frente, em directo, em mais uma movimentação de massa da nova democracia. Apanha o carro e nele segue a transmitir flashes regulares até São Bento, onde a manife anticolonial é encerrada e a Liga Comunista Internacionalista, através dos seus jovens dirigentes, curiosamente cada um a parecer a fiel reprodução do outro, caras de filhos de boas famílias, cabelo curto, camisas brancas ou claras e calças impecavelmente cortadas, lavadas e engomadas, convocam os participantes para subir a Calçada da Estrela até ao Hospital Militar para exigir a imediata libertação de um capitão do exército cubano preso há um ano na Guiné-Bissau quando se dirigia ao maquis para oferecer os seus préstimos ao PAIGC. Entro mais uma vez em directo no Página 1 e, baralhando os nomes, digo tratar-se do capitão Angel Peralta. Não sou o único a trocar o nome do Guevara de 73 pelo do toureiro. Dois dias depois o Diário Popular publica legenda a ilustrar foto de primeira página em que incorre no mesmo erro. |
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