O pessoal da secção brasileira da BBC já está habituado aos nomes estapafúrdios existentes no seu país, pela diversidade de origem da população, mas alguns colegas portugueses fazem esgares de riso quando ouvem o Sawyer do seu nome. Ninguém teria naturalmente um apelido desses, chega a comentar um deles enrtre risos de típico portuguese humour. Conheceu-os quando, enxerido como só ele, decidiu apresentar-se aos da secção brasileira, que não ligaram muito para mais este conterrâneo entre tantos que têm tomado o caminho da velha Albion em busca de um exílio forçado ou voluntário menos penoso na Swinging City. Alguns portugas são mais calorosos. Costumamos visitá-los para almoçar na cantina, onde a comida é razoável e quase de graça, e às vezes vamos até ao pub frequentado pelo pessoal da Bush House, onde tomamos alguns pints de lager e jogamos pingue-pongue. Os portugueses reúnem-se nas tardes de sábado para jogar à bola em Kensington Gardens.

       Na primeira vez em que lá vou sou apresentado a Arlindo, um exilado refractário que joga sem equipamento no relvado em frente ao Royal Albert Hall. Ao passar por um mercado após o jogo diz que precisa comprar alguma coisa para a janta. Espero-o à porta. Noto que sai sem comprar nada. Mais adiante tira do jaquetão pesado, mesmo para o friozinho que faz à noite, uma tablete de chocolate e estende-ma:

        - Toma. Oferta da casa. – É a primeira cena de roubo de que sou cúmplice. Arlindo vive de umas massas que os pais mandam-lhe de Lisboa, que não dão para sobreviver, e faz uns bicos a cobrir folgas ou férias do pessoal da Portuguese Section.