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Vive-se de tertúlias de café. A cada um o seu estilo. Granfino, em Entrecampos, onde estudantes encontram-se para estudar ou palrar ou subir juntos à Universidade. Estuda-se também no Itau, um self-service de comida naturalista instalado numa cave ali ao lado, e num outro Itau na Alameda D. Afonso Henriques, que serve para o mesmo fim e também como entreposto de drogas trazidas de África por militares em fim de comissão de serviço. No eixo Ave dos EUA-Ave de Roma, um núcleo duro, formado pela Sul América, mais arredada e ponto de encontro das meninas do liceu logo atrás e dos mangas que lhes estão ao engate, o Nova Lisboa, o Supremo e o Vavá, que é decididamente o melhor point do sector, com artistas de quase todos os ramos, entre os quais modelos e hospedeiras de bordo da TAP, e lá adiante um outro eixo, de cariz diverso, formado pelo Roma, o Londres, que deu muito nas vistas no final dos anos 60 com uma grande pista de autorama na sua cave, e a Mexicana. Cada um com a sua tribo, os índios do quarteirão. Ainda nas Avenidas Novas, quem quer ir ao engate de meninas do Académico pára na Versalhes. A caminho da Baixa, o Monte Carlo e a Mourisca. No Rossio, o Café Gelo, o Nicola e a Pastelaria Suíça. No Chiado, Ferrari, Benard e A Brasileira. Nos cafés e pastelarias algumas da grandes maravilhas da cidade, porque de uma coisa a gente cá pode-se gabar: além das iguarias dos conventos, uma das suas maiores criações, são os portugueses os melhores imitadores da pâtisserie e, entre babás, duchaises, éclairs, palmiers e outras delícias quase ímpares no mundo, cada qual se notabiliza por uma especialidade. O café mais próximo é a sucursal de casa, para a bica, a galhofa em torno deste ou daquela enquanto se passa os olhos pelos jornais e engraxa-se os sapatos, nalguns chega-se até a cortar o cabelo e fazer a barba, unhas das mãos e dos pés e em muitos esquece-se da marcha lenta do tempo em pachorrentos torneios de sinuca ou bilhar, a dar umas caramboladas no ramerrame - garoto ou carioca de limão, copo d’agua e uma tarde ou serão inteiros de bazófia, cada café é um refúgio na cidade sitiada e, tudo somado, muda. A pequena noite lusitana é solidão só amainada por discos, jornais, revistas, livros, filmes e uma ou outra boa peça de teatro. Fátima, touradas com Mestre Baptista e a pantera negra do Campo Pequeno, Ricardo Chibanga, Joaquim Agostinho, Eusébio e Benfica, conversas em família, corta-fitas. Vá lá, no meio da pasmaceira, embora cá a roer-nos também o juízo porque sempre são mais uns americanismos a invadir-nos a contragosto, drugstores como o Apolo 70, com a boa livraria logo à entrada, o snack no subsolo e um cinema-estúdio de última geração, e cada vez mais snack-bares como o do Apolo, o do Londres e o Galeto, eis o Portugal português cada vez menos portuguêsmente, apesar de TUDO... Dá brado a chegada do primeiro supermercado, por sinal de brasileiros (entre aspas), o Pão de Açúcar, com que se teme pelo fim das mercearias. |
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