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Abre-se mais um front no ambiente de pasmaceira de novo reinante com a festa do Avante! na FIL, à imagem e semelhança das de L’Humanité em França e de l’Unità em Itália, que a esta altura no entanto já está a dar umas bananas para Moscovo. Em cartaz, entre outros, rea, a coqueluche do rock experimental – ou que raio aquilo seja - de Milão, com o próprio no nome a dar conta das suas fortes tendências políticas, o compositor comunista Luigi Nono e Archie Shepp, um dos criadores do free jazz e ex-quase Black Panther. Afonso trouxe do centro da Europa maravilhosos pingos, de que toma um já lá dentro comigo enquanto o apresento a Ivan, criando um trio tipo Kerouac-Ginsberg-Moriarty quase sem literatura escrita mas vivida mais ou menos nos mesmos limites da loucura. Ivan, ou Vânia como também já se o chama regularmente, vai à vida. Ficamos os dois para curtir a festa e de passagem pelo maior recinto temos de desviar de uma grande poça d’água onde reflectem-se corpos e rostos das pessoas que passam, um enorme grupo de excurcionistas de UCPs alentejanas, farnéis nas mãos, roupas escuras, camisas enxadrezadas, chapéus e lenços na cabeça, expressões e mãos rudes e vincadas em rostos calcinados pelo sol, que ao erguer os olhos da sua reprodução na água em que me detenho por algum tempo fazem-me tremer de susto. No palco Archie Shepp, acompanhado por Mal Waldron ao piano, Cameron Brown na bateria e o contrabaixista francês Dominique Lapage, em alto contraste cromático com a negritude dos companheiros de ocasião, com quem nunca tocou antes, produz um som inenarrável em linguagem escrita: grito, raiva, fúria ensandecida, desencontro, desacato, susto. Os alentejanos estão ali tipo já que cá estamos vê-se isto, braços cruzados, rostos impassíveis face às torrentes de quase absoluto caos tão diferente do seu cantochão. Nas expressões duras como rocha não transmitem nada, aquele som de cárcere de loucos não parece produzir a mais ínfima acentuação de sulcos rugosos quanto mais um frisar de testa. Estão aqui porque é a festa do seu partido e se o partido diz que é válido é porque é e não se fala mais nisso, a ver se a camioneta não demora. Eu e Caradanjo decidimos jazzar dali. Entramos num pequeno auditório a abarrotar e Cara desce a informar-se de quem irá apresentar-se e, mal inteirado, já sobe a abrir os braços e a acenar com um dedo a gritar: - Luigi?! No! No! |
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