revoluciomnibus.com  James Anhanguera:Era Uma Vez A Revolução  V Era Uma Vez a VAGABUNDAGEM  TIGRE M-L

       O respeito à diferença, além dos preceitos político-institucionais, é pouco ou nenhum. As minorias continuam impiedosamente marginalizadas, sem canais para fazer-se ouvir. Sem voz. O universo nocturno ampliou um pouco as suas ofertas, com a abertura de dois espaços para jovens, um no antigo Cinema Universal, que ao fechar as portas leva consigo boa parte da memória dos ‘pulgas’, os cinemas de sessões contínuas, e deixa saudades também porque nos últimos dois anos serviu como uma das melhores salas de cinema de arte e ensaio, e o Zodíaco, na Lapa. Promovem sessões de música ao vivo dando espaço ao rock e passam a ser viveiro do rock português e de géneros híbridos (o Zodíaco). Quase nada, mas sempre é alguma coisa.

       Pinheiro de Azevedo substituíra Vasco Gonçalves ainda antes do re-reviralho e o clima é outro mas a catadupa de drogas ilícitas que entram no país dá origem a uma das primeiras campanhas de massas congeminada e que deveria ter sido despoletada pela 5a Divisão, que em mais uma irritante prova de continuismo nem se preocupou em tirar todos os cartazes que o governo Marcelo Caetano fizera espalhar pela cidade em 1972, com uma caveira com o símbolo da paz na testa e a legenda

                   DROGA

               LOUCURA

                   MORTE

       Um deles lá permaneceu na Óscar Monteiro Torres durante toda a conturbação do PREC. Enquanto isso um anúncio na TV prega o denuncismo que também se julgava morto e enterrado, a planta da cannabis sativa L como num retrato falado para ser facilmente reconhecida por todos sobre a legenda:

                            SE VIR ESTA PLANTA – DESTRUA-A

       A ‘noite’ antiga não mudou grande coisa, só que agora também com uma fauna mais jovem, gente que não tem mais o que fazer e passa a tomar de assalto antigos redutos da chungaria, como o Jamaica, no Cais do Sodré, onde se escuta noite após noite, entre um original I Shot the Sheriff, o inefável it’s the night fever, night fe-ver... O Cantinho dos Artistas não é mais nem de longe o que era: em autogestão, um bar com luzes acesas talvez por vergonha de o ser. Dantes, à meia luz da cumplicidade de cabaré, quem ali se mostrava desatento e falasse com o parceiro, a parceira ou o copo levava uma grossa reprimenda do baterista e chefe do trio, que já não toca mais lá. Só a porrada continua a mesma, da fina, todas as noites. Como são os mesmos os pretextos para basar do local sem pagar: bruta discussão seguida de declaração de princípios, curta e definitiva, e zás que já se faz tarde. Mas agora a piada leva sabor a política, e ao Ah, tigreee! atirado por amigos que a sorrir vêem o mangas sair de fininho, sempre há uma voz que cola rápido o epíteto: M-L!

       Com a queda do Cantinho, que já não tem a Lauren Bacall mas onde ainda se encontra a mulher felliniana do tempo da outra senhora, resta em Lisboa apenas uma das antigas orquestras de cabaré lisboetas, o eterno pianista cego do Bolero, que faz-se acompanhar por bateristas de ocasião. Mas mesmo lá a caixa de música já se faz ouvir e, entre duas performances live com La Cumparsita, entremeada dos repiques de estilo, ouve-se e dança-se ao som... de tu querida presencia, comandante Che Guevara.

  25 antes durante depois ..............

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