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O 25 destapou uma panela de pressão cheia de gente em geral mal informada. Políticos e militantes de partidos, refractários e desertores, mais os activistas que chegaram de todos os cantos e até os retornados trouxeram informações e componentes que ajudaram a gerar um clima de permanente provocação do que se tem por ordem estabelecida (ou a restabelecer), num espectro bastante alargado. Estar aberto ao êxtase ao dobrar a esquina aos 20 anos. Era dourada, perdida, provisória como os governos do PREC e que talvez tenha sido mais fascinante pela provisoriedade de tudo, deixando margem para especulação em torno de múltiplas perspectivas de mudança, melhorias, luta por ideais. Movimento popular, aquele ano e meio foi sem dúvida também um movimento pop, no sentido em que parte da juventude portuguesa integra-se e passa a informar-se no movimento internacional, talvez porque o 25 foi também uma abertura dos portos a outras possibilidades de intercâmbio de pessoas, ideias e produtos artísticos e culturais. Mas o tom geral do ambiente em 76 reflecte uma grande dose de frustração e vazio pelo fim da estação de festa desabrida e perspectivas do tamanho dos sonhos. Tudo entra nos eixos apesar da grande instabilidade político-institucional. Faz-se as contas ao prejuízo e também por conta das mudanças na conjuntura internacional pós-crise do petróleo de 73 pela primeira vez desde que nos conhecemos por gente ouvimos falar em austeridade económica para combater o desequilíbrio das contas do Estado. Há quem finja acreditar que tudo ainda seja possível e através dos poucos jornais esquerdistas de informação geral que restam insista na mesma lenga-lenga, a conclamar a ‘base social de apoio ao PREC, o proletariado urbano e rural aliado com os camponeses pobres e a pequena burguesia’ a persistir na busca de uma ‘estratégia comum anticapitalista’ rumo à ‘edificação do socialismo’ e na luta pela preservação das ‘conquistas’ feitas nomeadamente na ‘zona de intervenção da Reforma Agrária’, a partir das ‘unidades colectivas de produção’, preparando-as para ‘outros tipos de transformações estruturais (agrárias, económicas e sociais)’. Abrir, abriu, mas muito aquém das expectativas. Aqueles a quem só faltava ter a lata do pessoal do MRPP de afirmar em público que o PCP é social-fascista e continuam a ser do contra alinham com a UDP, que lá elegeu um deputado à Assembleia Constituinte e de cuja área sai o jornal Gazeta da Semana, com belo projecto gráfico de João Botelho, ou estão com o PRP-BR, sob cujos auspícios é publicado o Página 1, supostamente patrocinado por parte do produto de assaltos a bancos mais o também presumível apoio do regime de Muammar Kadhafi. Certo é que após cada chegada de um coronel líbio circula dinheiro a rodos nos corredores e salas da redacção que ocupa um andar de um prédio na Rua Castilho. Na Gazeta cedo passa a haver uma clara demarcação provocada pela direcção entre os emeéles da ‘velha’ cepa e o pessoal que faz o suplemento cultural Gazetilha, muito à Paris, muito à Libé, com que o grosso da redacção está mais que familiarizado. Seria impensável num jornal emeéle que a condenação da política de Moscovo nos 20 anos da invasão soviética da Hungria desse problemas a quem a edita. O 1o de Maio já não foi unitário em 75 e muito menos o é este ano. A UDP promove uma grande festa no Terreiro do Paço animada pelo seu núcleo artístico-cultural, o GAC, dirigido por José Mario Branco, de onde saem as coisas menos deploráveis em termos de propaganda, como o LP A Cantiga É Uma Arma, no fundo o terceiro do maestro ex-exilado de Paris. E quem lá revejo, numa maviosa manhã ensolarada junto ao cais de todas as conquistas, após quatro anos e tanta mudança? Aquela militante antifascista com o que será o seu marido e duas crianças de colo. Afinal, em princípio era mesmo do contra naqueles tempos. E o suposto marido era o namorado da célula em que militava? Em quê? Nas BR? Nunca irei saber. |
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