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Gregório o Gregário ou o Bom Gigante protagonizou uma das muitas histórias inverossímeis do tempo da guerra. Na idade própria o pai manda-o a estudar na Bélgica e ele por lá fica. Passam-se os anos até que um Natal o pai obtém a garantia de um amigo supostamente bem informado de que o filho não seria convocado naquela quadra e ele vai de passá-la em Lisboa com a família. Uma bela manhã recebe a carta de intimação. Com um metro e oitenta e seis de altura e phisique du rôle, corpanzil moldado no karaté, vai para o Regimento de Paraquedistas em Tancos, onde conhece Mandarim, assim chamado porque além da cútis meio amarelada tem os olhos um pouco puxados, a denunciar alguma passagem de sangue macaense pelo da família. Fazem a instrução de milicianos para ser mandados em comissão de serviço na certa muito arriscada em Angola, Moçambique ou na Guiné. Mas borram-se todos e não conseguem dar um salto de 15 metros como se fosse em queda livre, embora amarrados a cordas elásticas. Sem cumprir o requisito mínimo são transferidos para a PM o que, mesmo que fossem mandados para África, seguramente já os pouparia de entrar em acções de combate. Ficariam nalguma Luanda ou eleéme ou num posto avançado a policiar soldados. Mas vão parar em... Timor, onde chegam a ser autorizados a fixar residência fora do aquartelamento e fundam uma espécie de comunidade hippie a que aporta gente de praticamente todo o mundo em trânsito da India e Bali para a Austrália e vice-versa.
O Ano Passado em Nambuangongo
Uma noite, vendo a luz acesa, tocamos na do Mandarim e Lila, às Avenidas Novas, onde como quase sempre estão o Bom Gigante e a sua namorada Rosário. Sentamo-nos na pequena sala alcatifada a ouvir o novo dos Supertramp, Crises?... What Crises?!... Nem pensar em ver-se por aqui algo do tipo papel de enrolar cigarros Conquistador sem cola nos dois lados e que se encontra em qualquer tasca. O melhor em circulação é o importado Riz La +, que quase só nas casas do China e do Bom Gigante é aplicado a contento, com finíssimo trato, duas folhas cortadas a três quartos e coladas a uma terceira na ponta de baixo, mais fina, a uni-las, corta-se com uma tesoura um filtro de cartolina da capa de uma revista importada ou do invólucro do próprio livrinho de mortalhas, o que redunda numa cónica mais fina ou mais grossa, dependendo da disponibilidade e da ocasião, verdadeiras obras de design. Mandarim é o único a usar a maquininha de enrolar para confeccionar os finos e vê-se nisso e no tempo que leva a processar a mistura – fundamental no entanto – uma esquisitice de feitio. Arte de enrolar e fumar como a de servir um bom vinho, inovação. O boi colombiano é fortíssimo. Carlini Sampaio, que acabamos de conhecer, contorce-se todo. Estica os braços. Faz esgares de psicopata, em que os olhos reviram, um para um lado de uma vez e o outro quase ao mesmo tempo, num movimento mais lento, para o lado oposto. Não tem nada de freak mas parece um fantoche, da barriga para cima, movimentos desconexos, ar de doido. O THC do boi colombiano é tão forte que de um momento para o outro vejo-me sozinho em viagem natural de total abstracção a contemplar a paisagem de fundos de prédios que se divisa de uma cozinha da Óscar Monteiro Torres. |
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