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- Em Marte, talvez... - Foi o ponto a que chegou Paul Kantner ao criar o Jefferson Starship, depois de ter apoiado toda a sorte de revolucionários, mesmo da chamada Nova Esquerda neo-marxistó-marcusiana: brincar com a ideia de que uma sociedade alternativa só poderia ser criada noutro planeta ou galáxia. Vira e mexe e voltamos ao mesmo, impensável para mim até há tão pouco tempo: Proudhon e o conceito de ‘revolução integral’, segundo o qual, face a um mundo em dissolução, é necessário partir para uma remodelação total das ideias e dos corações. Como operá-la? Como acabar com a cultura da neurose, contra natura, e impor o princípio do prazer sobre o da realidade, drop out, fazer do corpo o mais possível instrumento de prazer, sair para outro mundo desta história de martírios, regredir ou evoluir para a desintegração de instituições como a família monogâmica patriarcal para escapar ao desastre, como prognosticou Marcuse sem no entanto dar-nos a receita. Aqui, ó – vou ao quarto e pego um dos meus livros de consulta. - Do famoso manifesto Woodstock Nation, de Abbie Hoffman: ‘A revolução política leva a que as pessoas desejem outras revoluções em vez de fazer a sua. A revolução cultural leva as pessoas a mudarem o seu modo de vida e a agir de maneira revolucionária em vez de criticar a maneira como os outros se comportam. A perspectiva cultural gera ‘foras-da-lei’, a política produz organizadores. - Tudo muito bonito, mas que da mesma forma não leva a nada... - Um sonho. Lá dizia o pacifista Lanza Del Vasto logo após o 68, que se arribou a um ponto de tal modo decepcionante que alguns chegam a desejar a revolução, a desordem perpétua, em que ao menos se viveria a salvo de uma ordem cinzenta, monótona. Ideias estapafúrdias, talvez, de que em Portugal não houve e não há a mínima ressonância, a não ser de um certo modo antigo nas pichações anarcas, também porque se calhar a esta altura já não fazem nenhum sentido, além do plano literário. Fazer primeiro a revolução do indivíduo e da cultura para dinamitar a estrutura política, a ver se poderíamos de algum modo escapar da democracia de fachada, da mera descentralização político-económica, e como aceitar democracia sem uma participação directa de todos nas decisões, sem ficar à mercê de poderosos lobbies de manipulação da opinião pública mais as suas maiorias silenciosas? A nossa geração perdeu o comboio do tempo do bota-abaixo e parece não haver como retomar qualquer coisa do género, tipo fazer de uma manife um verdadeiro espectáculo de cor e alegria, brincar como Ginsberg de tentar fazer o Pentágono levitar. Ou como dizia outro que tal, Ron Laing, no belo A Política da Experiência e a Ave do Paraíso: se somos incapazes de saber o que se passa fora do campo da nossa experiência, como posso embarcar em políticas voluntariosas para mudar um mundo que não sei como é? Que revolução é esta que não muda nada, em termos de mentalidade e de relacionamento das pessoas, baseando-se na mesma atitude hipócrita de manutenção de valores caducos que ninguém está interessado em rediscutir? O princípio básico enunciado por tudo quanto é força política por aqui, com a excepção da direita e de grupelhos de extrema-esquerda, é o da consolidação da democracia e da justiça social, mas há muito mais a fazer também, embora se diga não ser prioridade, muito pelo contrário, porque o uso diluviano de drogas, por exemplo, combate-se com métodos pidescos e acabou-se. A Gloriosa degenera até acabar em Napoleão, na política como na cátedra, em relação à qual também nem se cogita uma remodelação, em termos de estrutura da Academia e de currículos. Os estudantes expulsaram os bufos e os bufões, que serão provavelmente substituídos por bufos & bufões de outras causas, mas sempre bufos & bufões e possivelmente mais burros. Ninguém põe em causa o ensino das sebentas sebentosas de caretice, estreitristeza de visão. Direito da Família?! Oitenta páginas para empinar e acabou-se. Quem vai pôr em causa o Direito de Família e o Código Penal? - Pôr em causa é o tanas, vais é ser governado por comités de fábricas e ponto – encerra o outro na galhofa. – Esse filme do Zé Celso é uma merda!... Toma aí, fuma que só te faz bem. |
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