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- Portugal sugere um comício permanente. Só se fala de política. Não ouvi uma palavra sobre o Benfica ou as raparigas! Nem em Itália vê-se tanta foice e martelo nos muros. Mas o que predomina é uma completa caretice. Cadê a tão esperada revolução cultural? Nas campanhas de dinamização quem se está a dinamizar são os próprios soldados que a fazem, segundo uma fonte minha da própria 5a Divisão, que as lançou – diz-me um amigo jornalista brasileiro, entre a multidão de estrangeiros que vêm para ver, tentar entender e reportar a ‘revolução portuguesa’, enquanto morfamos um bife à Nicola. Cada pedaço de parede por todo o país está coberto de dizeres e murais vermelhos, amarelos e pretos. Os mais impressionantes são os do MRPP, do ‘pai tirano’ Arnaldo de Matos e seus mancebos, que nem pensam em retocar os olhos puxados dos operários uniformizados à la revolução cultural dos modelos de gigantescos murais tirados de revistas de propaganda de Pequim e que dão nas vistas não só pelo tamanho mas sobretudo pela paciência chinesa dos mânfios, para quem o principal inimigo da classe operária é o PCP, que classificam de partido social-fascista. Golpe após golpe o governo – mais ‘à esquerda’ – enfraquece e, sem controle, grupos políticos perseguem impiedosamente os adversários. Além do PDC o Conselho Superior da Revolução acaba de decretar a suspensão do MRPP e do seu pasquim, Luta Popular, tudo a escarrar no bando de fedelhos, ‘maoistas’ à portuguesa, quer-se dizer, com um camarada-pai-patrão, na fisionomia um misto de Trotsky e Even Hoxa, sem a fatiota chinesa, curiosamente todos com aquela camisas de flanela enxadrezadas e calças de terilene tão nacional-populares, que de tão infanto-juvenis, com atitudes marcianas mais que qualquer outra coisa, parecem um grupelho de extrema-direita e que de tão chatos acabam por causar repulsa e escárnio de e em toda a gente. Dependendo do ponto de vista o seu maior predicado talvez seja justamente a pachorra de pintar os monumentais murais multicoloridos que se destacam entre todas as pichações pelos muros das cidades, entre os quais os que acabam por dar um ar mais festivo (?) ao Técnico, que ficou igualzinho à Universidade de Pequim, com a diferença da língua mas não do idioma: TODO O PODER AO PROLETARIADO! VIVA A ALIANÇA OPERÁRIO-CAMPONESA! - homens e mulheres chineses, mão direita nos paus de bandeiras e esquerda erguida com o punho fechado, em plongé e a perder-se de vista, em bichas não menos descomunais. Mas no fundo nada de muito divertido, até porque quase não se vê nem mesmo pichações anarcas. |
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