iá é uma nova expressão no vocabulário do pessoal que vive dos dois lados, ou só deste lado, trazido pelos angolanos e moçambicanos, juntamente com boi, meu, madiê ou modiê ou modié, bué, buereré.

Acorda-se uma manhã – e mais um golpe. A um mês e meio do primeiro aniversário do 25 e das primeiras eleições legislativas em democracia Spínola continua a tentar o re-reviralho e mais uma vez falhou. Teve de pisgar-se para Espanha.

Partidos ‘spinolistas’ são postos na clandestinidade, entre eles o PDC. Manife de esquerda protesta junto à embaixada dos EUA contra as pretensões de Washington de imiscuir-se na vida política nacional, via o ex-director da CIA e actual embaixador Frank Carlucci. Acto seguinte o cortejo segue rumo à sede do PDC, do outro lado da Ave da Liberdade, num prédio moderno da Rosa Araújo. Mal chegada ao local a marcha degenera em invasão dos escritórios da agremiação direitista. Quando eu, Pepe e Dio lá chegamos já o apartamento transformado em escritório está em pantanas. Pepe chama a atenção para uma máquina de escrever portátil novinha em folha que nos olha do chão, encostada à parede. Pega-a, pousa-a sobre uma mesa que por milagre ainda está intacta e abre-a.

- Esta já é minha. Alguém quer comprar? – anuncia, sorriso irónico, olhando um à vez para mim e Dio. Seguimos até ao Século, onde temos encontro com Lourenço Pires Gomes, que ao chegar à rua logo é interpelado:

            - Máquina de escrever saída de fábrica, três mil escudos. Queres comprar?

- Ora deixa cá ver – responde o outro. Pousa-a no tejadilho de um carro e certifica-se do estado. – E não é que está mesmo novinha? Três mil não tenho, mas ainda se arranja 1800, tá bom assim? É para já. Toma.

- Malta, vamos jantar, eu convido – diz Pepe com a tacha ainda mais arreganhada, um dente frontal quase cinza a contrastar com os outros, já bastante amarelados para a idade, porque fuma que nem um camelo.