ciberzine   & narrativas de james anhanguera

  trecho do capítulo         

     a

    ESTreLa       SoBE

 

          de MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO 

 

 

 

    nostalgia, meu bem

 

 

 

ao som da orquestra de Waldir Calmon

feita pra dançar 

                                                                       - Luiz Gonzaga Jr.

 

minha gente era triste, amargurada

inventou a batucada pra deixar de padecer

salve o prazer, salve o prazer

 

 

vestiu uma camisa listrada e saiu por aí

em vez de tomar chá com torrada

ele tomou parati

levava um canivete escondido

e um pandeiro na mão

e sorria quando o povo dizia

sossega, leão – sossega, leão  

                           - Assis Valente

 

     meu chapéu de lado                              

     tamanco arrastando

     lenço no pescoço

     navalha no bolso 

     eu passo gingando 

     provoco desafio

     eu tenho orgulho de ser vadio

                               - Wilson Batista

 

 ...

 

 

    que tempo mais vagabundo esse agora 

    que escolheram pra gente viver

                                                                         - Titãs

 

 

 

Talvez o urbanismo já tenha resolvido o problema, mas em 1935 no Rio o lugar ocupado por cada um na hierarquia social media-se com o altímetro: quanto mais baixo mais alto estava o domicílio. Os miseráveis viviam pendurados na desolação, nas favelas, onde uma população de negros vestidos com farrapos bem deslavados inventava com o violão essas melodias vivazes que, em época de carnaval, desciam das alturas e invadiam a cidade com eles.

 

         ...

 

E como esses casebres estão situados no alto dos morros, nos mais inacessíveis recantos, têm a mais bela vista que se pode imaginar, a mesma vista que têm as mais caras vilas de luxo, e é a mesma natureza luxuriante que orna seus lotezinhos com palmeiras, e generosamente lhes dá bananeiras, essa maravilhosa natureza do Rio, etc.

 

 

Algumas coisas

 que talvez amanhã tenham desaparecido

 

     Com essas favelas desaparecerá uma parte interessante, um pedaço incomparável do Rio, e quase não posso imaginar os morros da Gávea (olha a Rocinha nascendo aí, gente!) e outros sem esses pobres casebres, colados na rocha, que com o seu primitivismo lembram quanto de supérfluo temos e exigimos.

Também outra originalidade do Rio em breve será vítima da ambição civilizadora... etc.

 

 

 

 

  Algumas coisas

   que talvez amanhã tenham desaparecido

 

 

 

 

do zinco à alvenaria; 

da malandragem à safadeza  

              ÓPERA DO MALANDRO

& à fuzilaria das cidadelas 

do “crime organizado”.   

 

Rio, 5, 565... mil vezes favela

 

 

 

JOBINIANA

ERA UMA VEZ UMA CIDADE  

  

 

 Tantas e tamanhas foram as novidades entre os anos 1950 e 1970 que não houve nem tempo para nostalgia. Além de que o mundo antes passara pela maior depressão econômica e pelas tais duas maiores guerras da história. O que dá até para se pensar: nostalgia por um tempo desses?!

 No início dos anos 70 nada maravilhava,  surpreendia ou chocava tanto como nos anteriores, até porque cabeças, olhos e ouvidos já se tinham acostumado a tudo. E porque os anos precedentes foram marcados por The Beatles e o free jazz, Godard e Truffaut, Mary Quant, os hippies, Maio de 68, as guerras dos Seis Dias, do Biafra e do Vietnam e a primeira pisada (de elefante) do homem na lua. Além da primeira séria ameaça de hecatombe nuclear.

 Só no início dos anos 1990, com o advento do CD e a digitalização do repertório audiovisual das décadas anteriores, é que se viveria uma onda de revivalismo tão grande quanto – em verdade, muito maior que – a daqueles anos. Quando Edu Lobo planejava compor uma peça musical sobre a Era Vargas a partir da história do rádio.

 O plano, pelo próprio enunciado sem maiores detalhes, partindo de quem partia (Edu, filho do pernambucano Fernando Lobo, autor de Chuvas de Verão) e relacionando-se ao personagem em questão,  fazia pressupor uma retrospectiva crítica de uma outra ditadura que redundaria em crítica à ditadura militar, então no auge da dureza, e redundou em Seu Getúlio, parceria com Chico Buarque. Que poucos anos depois lançou Ópera do Malandro, um exercício que partia das mesmas premissas: o malandro ontem e hoje na história do Rio. Da malandragem, com uma certa aura até mesmo romântica, à safadeza institucionalizada.

 

 Agora, já não é o normal o que dá de malandro regular, profissional

 malandro com aparato de malandro federal, que nunca se dá mal.

 Mas o malandro pra valer não espalha, aposentou a navalha, tem mulher e filho e casa e tal.

 Dizem as más línguas que ele até trabalha, mora lá longe, chacoalha no trem da Central.

 

 Do barraco de madeira e telhado de zinco ao de eternit e alvenaria, de cinco a 565 favelas, tudo muda de figura.

 Em Cidade Partida Zuenir Ventura conta tim-tim por tim-tim todo o processo que da ditadura Vargas à ditadura militar leva também a polícia a mudar assustadoramente de cara, da caixinha com que brasileiro sempre conseguiu dar um jeito à corrupção e concussão mais deslavada e aos esquadrões da morte.

 Uma estória que talvez tenha começado com o empastelamento de Cara de Cavalo, quiçá a primeira notícia em que a opinião pública carioca teve a impressão de execução de um marginal por parte dos homens da lei – sanguinolência escarrapachada nas primeiras páginas dos jornais que parecia pior que em filme de Sam Peckimpah – e que fez pensar em quem era o quê na situação.

    Nos morros implantaram-se as praças fortes do crime organizado que de organizado não tem nada, até porque não precisa pelo estado de prontidão (no velho mau sentido do tempo de Noel) das malditas forças de insegurança, essas sim talvez a tal da facção criminosa.

   Essa "evolução" é narrada de várias perspectivas pela música popular. A da polícia bandida vastamente documentada na obra do rei do sambandido (© Tárik de Souza) Bezerra da Silva e do próprio Chico Buarque, através da dupla fictícia Julinho da Adelaide-Leonel Paiva, em Acorda Amor ou Chame o Ladrão (porque os home estão chegando).

    Outro exemplo: Negra Melodia Luís Melodia, do morro do Estácio, tem um amiguinho em cana. O Charles Anjo 45 de Jorge Ben(jor). Do tipo dos últimos marginais românticos, posteriores ao de navalha no bolso, já com o trêsoitão, que se for o caso matam por instinto de sobrevivência, deformação de caráter, má educação ou psicopatia mesmo. Como Mineirinho. Ou Cara de Cavalo, que se aventura a pisar nos calos da Scuderia Le Cocq entrando no ramo da proteção a bancas do bicho e de teimoso é executado. De Mineirinho a Chico Buarque a coisa muda tanto de figura que Lúcio Flávio é obrigado a dizer a um agente: Polícia é polícia, bandido é bandido. Como em Chama o Ladrão, já não se sabe quem é o quê.

    Bandidos como esses vão parar na Ilha Grande, onde aprendem rudimentos de organização de base clandestina com os presos políticos que ali encontram. Nasce o Comando Vermelho. A coisa fica preta. As favelas começam a parecer casas fortes medievais com sentido oposto. Os mouros não são eles. São os moradores do asfalto.

     Os tiroteios que Moreira da Silva, o Kid Morengueira, reportava no seriado de cine-sambas-de-breque na década de 1950 remetiam a filmes de bangue-bangue de caubóis e índios. Não tinham nada a ver com noticiário local sobre tiroteio e vítimas de bala perdida que encontra um corpo sólido e vivo saindo de casa.

     Surgem as boates e lá se vai o tempo de cassinos e gafieiras. Um tempo que vem dos chopes dançantes e do Kananga do Japão para desembocar na Elite e na Estudantina, ainda subsistentes, o seu samba de gafieira e os rígidos códigos de conduta, ou estatutos, dos frequentadores.

      Um tempo em que estatuto e boa conduta ainda eram sinal de pedigree. Em qualquer circunstância. Na gafieira como na malandragem que ainda era possível cultivar.

     Tempo da dita boemia da Lapa, derrubada com a construção do túnel de metrô. E do Largo do Estácio, nas imediações da antiga Praça Onze. Que como berço do samba era muito frequentado mesmo por gente que não era do morro de São Carlos ou da pura e simples vadiagem.

                           

                   Meu velho, pobre velho

                   vem subindo a ladeira

                   com uma bengala na mão

                 É o Estácio, velho Estácio

                   Vem visitar a Mangueira

                   e trazer recordação

                 Professor chegaste a tempo

                   pra dizer neste momento

                   como devemos vencer

                                                                                                                    -       Cartola

 

A fotografia de uma etapa da transição de uma(S) coisa(S) para outra(S) talvez esteja nesse flash de jornal:

     Eu sou apenas poeta e compositor: meu negócio é samba, dinheiro, bebida e mulher.

     A declaração é de Luís Mário Alves, 32 anos, o Luisão, que está sendo apontado pela polícia como um dos matadores da Baixada Fluminense e o homem que, junto dom Fernando Antunes, o Arroz, controla a maior parte das bocas-de-fumo da região.

     Depois que meu retrato saiu no jornal não consigo mais dormir nem trabalhar direito; nem sequer estou com inspiração para compor meus sambas de embalo; tenho vários já feitos e cantados pelo pessoal daqui de baixo; um deles, sempre muito cantado por aqui, é O Couro Comeu que fala em muito bandido e muita malandragem.

     Moço, já falei, minha malandragem é no samba; tenho cinco mulheres e vivo bem com todas elas, me garanto mesmo.

     O Globo, Rio de Janeiro, 18 de agosto de 1977

 

     A história necessariamente incompleta de Renô Partideiro, um quase Charles Anjo 45 ou ele mesmo - o amigo de Luís Melodia, cria do Estácio -, foi revelada com sentimento e balanço preciso três anos antes no número 3 do jornal Versus, de São Paulo, através de uma reportagem de Moacir Oliveira Filho em duas das mais belas páginas do jornalismo ilustradas por Jaime Leão. Extratos do relato:

     Quem matou este Orfeu?

     A morte de Renô, no carnaval de 74, vai repetir a história inventada por Vinícius de Moraes.

Era um grande sambista. Era um ex-presidiário. Sua história ficou no folclores das vidas de Estácio de Sá.

Vou ouvindo alguém dizer que ele nasceu no morro de São Carlos. Cedo aprendeu a arte do partido alto. Uma arte construída com inspiração e rapidez. Bambas se desafiando em versos. Uma coisa meio fatalista: desafio é pra homem e macho não foge. Aprendeu as coisas com o pai Oto Branco, um dos maiores partideiros do Rio. Não fuja nunca, lhe disse o pai. Alguém me diz: levou a lição do partido alto sério demais, por isso teve tantos dramas pela vida.

Renô é um James Dean do morro, rimas na cabeça, faquinha na cintura. Brigas com a polícia. Lutas de gangs. Muitas coisas aprendeu Renô com seu pai. Ele enfrentava dez malandros no tapa ou na pernada. Mas não gostava de revólver. Os James Dean dos Morros andam armados.

Do Estácio muito se fala, pouco se conhece. Peço a um amigo: me fala um pouco do Estácio.

Apesar de ser um lugar meio mal visto o Estácio é o centro da boemia do Rio depois que a Lapa acabou. Ali a vida não para. De segunda a segunda a gente tem onde ir. As coisas acontecem com tanta intensidade que se você quiser acompanhar tudo não tem tempo nem para dormir. Lá estão os melhores partideiros da cidade. O Estácio ficou conhecido como Academia do Samba. E até 59 a Mangueira famosa, reconhecendo isto, fazia um desfile especial no Estácio para homenagear este lugar tão querido... No lugar, sabe, as pessoas esquecem até do trabalho...

Vejam só. Dez anos de Renô longe do Estácio. Longe do samba ele não fica. Os presídios tem destas coisas. O sujeito fica longe da vida, que só espia da escuridão da cela, mas pode fazer samba.

Lá no presídio do Rio, de onde se vê um pedaço de morro, Renô vai levar alguns amiguinhos para seus companheirinhos verem: é o Macalé, é a Gal, é o Gilberto Gil. Macalé era amigo e parceirinho. Quase conseguiu mostrar ao povo que existia um tal Renô Partideiro, músico da pesada. Renô azarado.

Sobre vidros e cascalhos

sobre espinhos e vergalhos

ou levando a vida assim

tem montanhas e obstáculos

tem pedreiras

eu não derrapo

mas tenho mesmo que seguir.

Não piso com força o piso

piso sempre devagar

por mais que eu me esquivo

no precipício posso acabar

será preciso cuidado

para eu continuar.

Os jornais da época narram assim sua morte: "Ao mesmo tempo em que Rúbia (19 anos) e Rose (25 anos) inocentam o Pm, acusam alguns integrantes da Bateria da Escola de Samba Unidos de São carlos de terem assassinado o compositor Renaut cardozo, irmão de ambas, cujo corpo foi encontrado ainda com vida na Rua méxico, nas proximidades do consulado dos Estados Unidos. A vítima teria tido um desentendimento com membros da Escola e por isso trocou socos e pontapés com alguns integrantes da bateria encontrando em consequência a morte." (O Dia - 2 de março 74)

Na verdade não se sabe como e nem porque Renô foi assassinado. Até hoje poucos sabem da vida e morte de Renô Partideiro que naquele dia vestia um terno branco e caminhava pelas ruas distribuindo rosas amarelas. 

 

      O que nos remete a uma outra perspectiva a partir da Leniza de Marques Rebello.

      Carmen Miranda/Leniza, de balconista, através de Josué de Barros, irá transformar-se na maior estrela brasileira da história. Portuguesa pequenina mas com ego e carisma mais altos que os sapatos plataforma que se tornaram parte da imagem de marca da falsa baiana. Aconselha-se com Getúlio e diz-se que é o Velho que a induz a garantir por contrato que o Bando da Lua a acompanhe nos States. Cria uma task force para a campanha me disseram que eu voltei americanizada, que produz sete músicas. Espampanante, um tanto destrambelhada às vezes e folgazã sim. Vivaz e espirituosa, na vida privada como nos palcos e no set. Mas bastante ponderada e consciente dos seus papéis quando se trata de tomar decisões sobre o que fazer sobre eles.

 Toma Brasil Pandeiro como uma indelicadeza para com os americanos e se recusa a gravar o samba, o que lhe custa a amizade com Assis Valente, que lhe cedera alguns dos seus maiores sucessos. Sente-se toda e só brasileira e sente absoluta necessidade de afirmar a sua brasilidade a toda hora. Mesmo que no fundo isso pouco importe, porque a capital do Brasil era Buenos Aires.

    Carmen Miranda/Leniza é um dos símbolos – senão o maior – da dita época de ouro, a da fixação dos estilos urbanos e de vocalização, orquestração e temática das canções. Funda-se ali também, através de uma indústria “cultural” e de entretenimento que se consolida a partir do rádio, a vida de artista, que para o senso comum ainda se caracteriza sobretudo pela permissividade sexual e vadiagem, ou malandragem.

 

  Estatuto/status de artista. Status e reputação eram, pelo que se depreende, motivo de preocupação de Noel Rosa, o ex-estudante de medicina branco de classe média que foi um dos primeiros a pretender fazer carreira como sambista. Quando Wilson Batista – de quem Mário Lago dizia nos últimos anos de vida não falar sobre marginais – sai-se com Lenço no Pescoço Noel fica pior que uma arara e em tom seco, bastante irônico mas que não esconde a acidez despoleta a primeira grande polêmica da história da música popular brasileira. Nela Noel atua com tal destreza que em Frankstenstein da Vila, um dos sambas-resposta, a contraparte chega a perder a compostura.

  A polêmica produziu no mínimo duas obras-primas de Noel: Rapaz Folgado e Feitiço da Vila.

       

   deixa de arrastar o teu tamanco

   pois tamanco nunca foi sandália

   tira do pescoço o lenço branco

   joga fora a navalha que te atrapalha

                       (...)

   proponho ao povo civilizado

   não te chamar de malandro

   e sim de rapaz folgado

 

 

     A favela romântica da visão de Stefan Zweig é a da imagem que dela se terá por mais duas décadas, passando por Orfeu da Conceição de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e o filme Orfeu Novo e pelo samba Barracão, da dupla Luís Antônio-Oldemar Magalhães – um dos pontos altos da histórica gravação ao vivo de Elizeth Cardoso com Jacob do Bandolim e Época de Ouro: barracão de zinco, tradição do meu país... Ainda motivo de orgulho (por quê?).

     Virou alvenaria que mal dá para embolsar e caiar.

     Visões de longe, como a de Chão de Estrelas de Orestes Barbosa, com a lua a furar o telhado de zinco. Ou até mesmo visões de dentro, como a de Alvorada de Cartola: alvorada lá no morro, que beleza...

 Em Sinfonia do Rio de Janeiro, de dois lídimos representantes da fina flor da Zona Sul, a abordagem da favela já pinta um clima de lamento pela perda de um certo tipo de “tradição” e por no asfalto não se dar o devido valor ao seu melhor produto – O SAMBA, esplendor escondido por trás da pobreza. Em que já se entrevê um não sei quê de acender a vela e o morro não tem vez de Zé Ketti no show Opinião, dez anos depois, tempo em que já se retrata os dramas de 5 X Favela e Sérgio Ricardo canta no fogo de um barracão só se cozinha ilusão, restos que a feira deixou...

                    

      Rio, capital federal, apesar de entre as duas maiores guerras da história da humanidade, tempo de muito formalismo mas também de brejeirice e ingenuidade.

     O Rio amanheceu cantando

     toda cidade amanheceu em flor

     os namorados vão pra rua em bando

     porque a primavera é a estação do amor

 

...

 

 

  Algumas coisas

   que talvez amanhã tenham desaparecido

 

Não foi nada disso que Zweig pensou.

Abre-se a cortina do passado e o cenário queimou.

       A aquarela é desbotada e coalhada de sangue e a alvorada mal despontou.

     Quando Ari Barroso ainda a retocava com berloques & brocados parnasianos o francês já postulava: decaiu antes de se erguer. O mulato inzoneiro esbanguelou-se e  entre os escombros da mata brotou um quase continente favelado.

Que desperdício de mata e de gente.

Que desperdício de canções.

     Descerrando a cortina do passado vê-se a pobreza miserável descambar em miséria endêmica e os sonhos de grandeza atolarem no jabaculê do sacolão do faustão. A matéria-prima hoje é funk, é punk, é lixo, é baixaria.

         Não se sabe se funk ou rap é tema de música popular ou só caso de polícia.

O sofisticado edifício harmônico erigido no bas-fond da Copacabana  modernista entre Ravel e Thelonious Monk redundou na rude arquitetura de palafita sobre a lama do Miami bass.

O que desapareceu, como diz o título do documentário de Walter Salles Jr. sobre Chico Buarque, foi o Rio da delicadeza. Ou como disse o auto-exilado (por força das circunstâncias do regime do jabá ou jabaculê) Dori Caymmi: Fico aqui em Los Angeles sonhando com um Brasil cheiroso que não existe mais.

 

 

Do lenço no pescoço 

e a navalha no bolso

ao capuz e fuzil Uzi

da floresta à favelização

da vagabundagem e do jeitinho 

à safadeza

um passo de gigante para 

a barbárie medieval 

que o Brasil não teve. 

Desde a guerra de Canudos, 

quando os suseranos

fizeram terra queimada 

de uma suposta

rebelião de Robin Hoods da fé, 

o Brasil parece regredir 

ao invés de avançar

para a Renascença.

 

 

 

          

   leia a íntegra dos trechos do capítulo

    a ESTreLa SoBE

    de MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO 

    em revoluciomnibus

 

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   TRISTERESINA de DEUS E O DIABO NA TERRA DA SECA

 

    -  Das Drogas e Prisões

 

   e crônica A "Chacina da Candelária" além do sensacionalismo e das declarações de circunstância, de 25 de julho de 1993

   

                   

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