40 anos da tragédia do Sarriá

                                     do histórico scudetto da Roma de Falcão

                    e do nascimento do futebol-indústria na Itália

                                                 

     5 de julho de 1982 – 14 de maio de 1983   

   1982-85 · 2022- 2025

                        Falcão 
                          Zico Sócrates
                               Cerezo Júnior Dirceu
                                          Edinho  Batista  Pedrinho
                                                   Juary Elói Luvanor
                                                                                        

  

                   James Anhanguera

  A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

        da tragédia do Sarriá às arenas italianas

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  A triste

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  saga dos

  brasilianos

        da tragédia do Sarriá às arenas italianas

 

O oitavo rei de Roma

O Doutor Diretas 

Rebuliço na corte do rei Arthur  

Rei morto... fim da Monarquia

 

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 A triste

  e bela

  saga dos

  brasilianos

        da tragédia do Sarriá às arenas italianas

 

O oitavo rei de Roma

     primeiro capítulo - terceira parte 

Breve história dos brasiliani

           

 

       Falcão é o primeiro grande craque brasileiro na Itália desde os tempos áureos de Jair da Costa, Amarildo e José Altafini, o Mazzola, que junto com Chinesinho, Julinho Botelho e outros cobras do anos 50 e 60 compõem o quadro de honra de brasilianos campeões da Itália até a data.

      A história começa com Amphiloquio Marques, o Filó, que se sagrou campeão do mundo com a azzurra em plena terra adotiva, em 1934, e Ministrinho, campeão italiano com a Juventus na mesma década. A Itália é o país com que o Brasil mantém relações mais longevas, depois da Argentina, a mais bem organizada praça futebolística sul-americana, para onde os craques brasileiros começaram a emigrar antes mesmo do primeiro grande êxodo para a Europa. O destino principal foi a Itália, onde muitos filhos de oriundi radicaram-se para sempre. Outro brasiliano de grande vulto antes da Segunda Guerra Mundial foi Niginho, que jogava na Lazio quando foi convocado para integrar a seleção brasileira na Copa de 38, mas não pôde atuar porque à época a FIFA não permitia a atletas com contrato no exterior jogar com as seleções dos países de origem.

      A profissionalização do futebol brasileiro, já no início da década de 30, decorre de uma tentativa dos cartolas de estancar a sangria de craques provocada pelo primeiro êxodo de jogadores para a Argentina e a Itália. Mazzola disputou a Copa da Suécia com o Brasil e a do Chile, quatro anos depois, com a azzurra de Cesare Maldini e Giovanni Trapattoni. Sorte sua que Brasil e Itália não se defrontaram, mas nem assim o fato deixou de causar engulhos aos seus conterrâneos.

       Até a década de 70 o calcio importou 90 craques argentinos e 50 brasileiros.

       Mazzola foi contratado pelo Milan logo após a Copa de 58, quando Vavá, o peito de aço, seu colega na seleção campeã, foi para a Espanha, o que deu aso a que os foliões pulassem o carnaval seguinte parodiando a sangria de craques do seu país e, de passagem, o permanente estado de sonolência em que aparentava viver o gordo técnico campeão mundial, Vicente Feola:  

Lá se foi Vavá

Lá se foi Mazzola

Mas o Feola não deu bola

Caiu no samba de camisola 

       Agnelli só não levou Garrincha para a Juventus porque seu time de sempre, o Botafogo, decidiu bater o pé ao homem mais poderoso da Itália, e a estória fica melhor como a contou João Saldanha em 1989:

       - Quando o commendatore Agnelli ofereceu um milhão de dólares por Garrincha a resposta foi: O senhor não tem dinheiro para comprar Garrincha. Um milhão de dólares seriam hoje 14 ou 15 milhões. O homem mais rico da Europa ficou furioso, roxo de raiva, e disse: Eu se quiser compro até o Rio de Janeiro. A resposta foi ainda mais simples: Pode ser. Mas o Garrincha o senhor não compra. 

       Altafini não teve oportunidade de se defrontar com outro craque são-paulino que se tornou um dos maiores heróis da história da Fiorentina. Julinho Botelho voltou à terra natal no auge da sua popularidade entre os toscanos, após uma gloriosa temporada de três anos em que, logo de entrada, deu-lhes a alegria da conquista do seu primeiro scudetto.

      Dizem os mais velhos que Julinho aliava habilidade à velocidade, sendo capaz de dar bailes até em Nilton Santos, do Botafogo, atuando pela Portuguesa paulista, em pleno Maracanã, que costumava recebê-lo sob vaias e saudá-lo com uma chuva de aplausos ao cabo de suas exibições.

        Embora, além dos florentinos, poucos o recordem, Julinho é verbete da conceituada Sports Encyclopedia: Veloz, hábil no drible, ótimo chutador. Possuidor de ilimitados recursos e capacidades criativas, era capaz de desconcertantes transformações no curso de uma única competição. Mesmo quando parecia estranho, alheado do clima de uma partida, conseguia colocar a sua marca inexorável. Indiscutivelmente um dos melhores sul-americanos que a Itália já conheceu - registra a publicação inglesa. Há quem diga que a Portuguesa construiu seu estádio no Canindé, em São Paulo, apenas com o dinheiro da sua venda para a Fiorentina.

        Suplente do ataque formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, de peças insubstituíveis, Marcelo Sormani teve a sorte de atuar pelo Santos durante uma digressão à Itália em 1962. Imediatamente contratado pelo Mantova, hoje militando nas divisões secundárias, passou depois pela Roma e pela Sampdoria e atingiu o topo da carreira no Milan, com que conquistaria o título máximo do futebol italiano seis anos depois. 

Amarildo, o possesso que protagonizou o Mundial de 62, no Chile, no lugar de Pelé, defendeu o poderoso Milan por seis anos e ainda conquistou um scudetto com a Fiorentina em 1969. É de tão boas lembranças que, após uma tentativa de regressar ao futebol brasileiro, decidiu ficar por aqui mesmo, e hoje é técnico do Sorso, da Interregional (quinta divisão).

Amarildo versão 1968 em Florença

       Houve também na legião brasileira do vintênio 50-70 quem, para a história, não ganhou nada, mas conquistou a todos. Como Luís Vinício de Menezes, a quem se atribui a entronização mais rápida da saga das emigrações. Conta-se que na primeira vez em que tocou na bola numa partida oficial em Nápoles partiu feito um estabanado driblando quantos adversários encontrou pela frente e fez um gol em 15 segundos de jogo. Vinício é até hoje lembrado em Nápoles como O’ Lione... 

       O círculo vai se fechando: Dino Sani, protagonista das famosas pugnas Santos-Milan nas finais da Copa Intercontinental de 1963, com Amarildo e Altafini, lançou Falcão na carreira profissional e, com Liedholm - também ex-jogador milanista -, Rubens Minelli e Ênio Andrade, técnicos do três vezes campeão Internacional, é um dos mestres do rei de Roma. Passaram-se quase dez anos sobre a última leva de emigrantes do futebol na Europa até Jairzinho e Paulo César Caju serem contratados pelo Olympique de Marselha e Luís Pereira e Leivinha pelo Atlético de Madri, após a Copa de 1974, quando um Brasil opaco foi eliminado pela laranja mecânica de Cruyff, Neeskens, Kroll e kejandos. Jairzinho e Caju quase não jogaram pela marselhesa e ainda por cima, afastados do time por contusão, foram fotografados sambando ao ritmo de craques da MPB no Midem (Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical), em Cannes. Ainda assim, quando estourou o escândalo, presidente e técnico do clube não deixaram de reconhecer:

        - Deve-se ressaltar que tanto Paulo César como Jairzinho são no entanto jogadores excepcionais. Não bebem, não fumam e não levam vida mais agitada que os outros jogadores. Paulo César não joga nem mais nem menos do que jogava no Brasil. Ele nunca foi de correr muito e o tempo todo, preferindo sempre aproveitar os seus estalos para decidir a partida.

       Luís Pereira e Leivinha, pelo contrário, fizeram tremendo sucesso nas arenas espanholas. Leiva foi até manchete exclamativa do jornal As quando fez um golaço de calcanhar pelo Atlético de Madri: 

Leivinha de tacón!    

       Eram outros tempos. Excetuando Portugal - onde a legião brasileira já tinha mais de cem integrantes no início da década de 80 - os clubes europeus quase não contratavam estrangeiros. Todas as atenções voltaram-se então para os EUA, onde uma tentativa de implantação da indústria futebolística a partir da participação dos principais astros da modalidade num campeonato americano-canadense fracassou em poucos anos.

           

       A Itália fechou-se ao mundo na década de 70, proibindo a contratação de jogadores estrangeiros, e foi muito boicotada em função da permanente agitação laboral e estudantil e do terrorismo negro (da extrema-direita), anarquista e vermelho que caracterizaram sua vida naqueles anos. Os turistas debandam e, assustados com as notícias de atentados, escaramuças e sequestros, os artistas internacionais riscaram o país do mapa das digressões européias. Para trás ficou o tempo das grandes glórias internacionais.

       As fronteiras futebolísticas reabriram em 1980. Falcão, três vezes campeão brasileiro com o Internacional, trocou Porto Alegre por Roma com a mãe, dona Azize, e o irmão de criação (fratello di latte) Pato e instalou-se confortavelmente num amplo apartamento duplex no quartiere Balduina, sobre o elegante bairro dos Prati, com mordomo egípcio e tudo. Foi o primeiro brasileiro a se dar muito bem na Itália em mais de uma década. E como nenhum outro antes.

 

 

        

 

     Falcão foi um dos três primeiros jogadores brasileiros vendidos para a Itália após a reabertura das fronteiras. Com Enéas e Luís Sílvio, contratados pelo Bolonha e pela Pistoiese, deu início ao novo êxodo na aurora da globalização do mercado do futebol e da queda de fronteiras e muros-de-Berlim do planeta. Centenas de jogadores brasileiros atuarão daqui a alguns anos nos quatro cantos do mundo e muitos deles serão desconhecidos no seu próprio país. Por enquanto, as equipes italianas podem jogar com apenas dois atletas estrangeiros. Casos de malogro como os de Enéas e Luís Sílvio - rapidamente recambiados para o país de origem - não foram exceção e mostram até que ponto os clubes italianos foram pegos despreparados no relançamento da multinacional do futebol a partir do seu país. No ano seguinte, Orlando Lelé vem para a Udinese - que do mesmo modo precipitado que o comprou o recambiará para o Brasil - e Juari - que aqui trocou o i pelo y - chega a Avellino. Mal acabara a Copa e já desembarcavam Edinho e Dirceu

  Em quatro anos, desde a reabertura das fronteiras, a legione brasiliana terá 12 jogadores, com um (a partir de então ex-)lateral, Júnior, e o poderoso meio-campo-atacante da seleção de 82: Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico. Com o lateral-direito Leandro, do Flamengo, a nata da chamada geração perdida, de que se diz que não ganhou nada porque não ganhou a Copa do Mundo. Zico foi campeão mundial interclubes e rei do Maracanã, do la Bombonera, de Wembley, do Parque dos Príncipes e de Sevilha. Quase todos foram campeões estaduais e/ou brasileiros, alguns também italianos, mas carregarão para sempre o estigma de Sarriá. Mesmo quem não irá vencer nada ganhará muito dinheiro, respeito e carinho em câmbio da sua competência e integridade, numa era em que já não se joga só por amor à camisa. O negro Juary foi escorraçado da Inter, mas sacudirá a poeira e dará a volta por cima no Porto, de Portugal, após andar com a casa nas costas por meia Itália. Sócrates e Elói falharão clamorosamente, mas não deixarão de mostrar catchigoria na capital do futebol nestes anos de prenúncio da globalização, quando o mundo começa a ser uma aldeia global e os novos condottieri da indústria e das finanças partem à sua conquista. 

         Foto Guido Zucchi  Guerin Sportivo  5 julho 1982

                       Falcao empata em 2-2 e faz a festa com Leandro

    Após a Copa de 82 a Itália torna-se um grande laboratório do pesquisa para a definitiva transformação do futebol-paixão em futebol-indústria, no que passa a contar antes de tudo a gestão dos clubes e a organização de grandes espetáculos e, como pivô do fenômeno, o artista é cada vez mais bem pago, assumindo o mesmo status dos grandes astros de Hollywood. País de emigrantes, a Itália passa a importar a mão-de-obra mais cara do mundo, mas também a exportar mais um bem de consumo extremamente cativante. O futebol torna-se a quarta maior indústria italiana. Com o sucesso de Falcão, o Brasil passa a acompanhar o campeonato italiano ao vivo num momento em que o jogador de futebol atinge o ponto mais alto como fenômeno de mídia (Pelé é um caso a parte). Meia geração perdida - quase todos os seus maiores gênios - deu show na terra dos campeões mundiais, a sua volta por cima da tragédia do Sarriá. A mão-de-obra futebolística passa a ser a última matéria prima de exportação brasileira, junto com as mulatas. A bagunça no futebol brasileiro é tal que nos primeiros anos os clubes nem lucram muito com isso, vendendo-os ao desbarato. O português Manuel Barbosa, um dos mais bem sucedidos empresários de jogadores do mundo, por exemplo, fez fortuna intermediando a compra dos zagueiros Ricardo Pinto, Mozer e Aldair pelo Benfica a preço de banana e sua revenda a peso de ouro para equipes francesas e italianas.

 

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    o quadrinho do

                                                        

 

Parece como com uma mulher. Fica-se sem saber se não se olhou bem as outras ou se só o Guerin Sportivo nos fazia ver o balé do futebol em toda sua beleza plástica.Havia outras revistas talvez mais bonitas que o Guerin. Mas nenhuma tinha fotografias com a qualidade estética do "velho" semanário bolonhês (fundado em 1912) "de crítica e política esportiva" que os jornalistas de todas as publicações ou seções de esporte de publicações de informação geral no estrangeiro consultavam nem que fosse só para ver  como se deve fotografar um esporte como o futebol, que faz com que todos os participantes se movam em total harmonia ou então em grande contraste de movimentos.Reproduzindo ao longo da narrativa de A triste e bela saga dos brasilianos algumas fotos históricas do Guerin queremos também render homenagem a um dos melhores produtos entre os muitos de raríssima qualidade com que a "douta e gorda" Bolonha encanta o mundo.

     

                    

                                                            

                           

 

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créditos autorais: Era Uma Vez a Revolução, fotos de James Anhanguera; bairro La Victoria, Santiago do Chile, 1993 ... A triste e bela saga dos brasilianos, Falcão/Barilla: FotoReporters 81(Guerin Sportivo, Bolonha, 1982); Zico: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e seleção brasileira de 1982: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Edinho: Briguglio, Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Antognoni: FotoReporters 81, Guerin Sportivo, Bolonha, 1981. E-mAIL

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