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MÚSICA DO BRASIL DE CABO A RABO    

           

        O LIVRO DA SELVA

1.  O BRASIL COLONIZADO

raízes & influências, Colônia e Império

    1.B Pai Grande

      Trechos

      ciberzine   & narrativas de james anhanguera   

 

        Capoeira d’Angola e do Brasil

         

   

        Meu pai grande

        Inda me lembro

        E que saudade de você

        Dizendo eu já criei seu pai

        Hoje vou criar você

        Inda tenho muita vida pra viver

 

        Meu pai grande

        Quisera eu ter sua raça pra contar

        A história dos guerreiros

        Trazidos lá do longe

        Trazidos lá do longe

        Sem sua paz

 

            De minha saudade

        Vem você contar: 

 

       Há 40 anos o Quarteto Novo acompanhava o cantor e compositor Geraldo Vandré num festival de TV em São Paulo com um instrumento de percussão para lá de improvável: queixada de burro.       

       Invenção do percussionista Airto Moreira, muito provavelmente influenciado pelo "bruxo" Hermeto Pascoal,  também integrante do grupo, e que em outro festival de canções anos depois tentou - mais foi impedido de - fazer subir ao palco um porco para "solar" grunhidos na música Serearei. Sem ter sido avisada e na época com problemas de audição a própria intérprete da música, Alaíde Costa, levou um susto.  

        Era uma época heróica da música popular brasileira, quando tudo parecia ser permitido e deveria ser "proibido proibir".

          Mas não era.

        Naqueles mesmos anos ouviu-se pela primeira vez em festivais de canções populares e em disco um outro instrumento de percussão insuspeitado por quem nunca tinha visto uma roda de capoeira: o berimbau - o hungu ou umburumbuba angolano.

        A fusão de ritmos regionais exóticos, como os da capoeira, com música eletroacústica foi um dos apanágios da Tropicália, mas Berimbau fora já também tema de um dos afro-sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes,

            Capoeira me mandou

              dizer que já chegou

              chegou para lutar

 

            Berimbau me confirmou

              vai ter briga de amor

              tristeza, camará

      

   Num período de convulsão a capoeira voltava a ser expressão de rebeldia e de luta de negros, brancos e mestiços.

   Forjada pelos negros com toda a sua ginga e malícia, apesar de ser bastante praticada por integrantes da dita elite sócio-econômica, a luta feita dança ou dança feita luta era ainda tida como coisa de marginal.

          Após chegar aos discos e palcos brasileiros, o berimbau - a primeira viola e um dos mais antigos instrumentos de percussão, com algo em torno a quinze mil anos de  existência - ganhou o mundo pelas mãos de Naná Vasconcelos, que deu a conhecer a nórdicos e japoneses e a muitos brasileiros menos ligados o instrumento que é considerado a alma da capoeira.

   Por sua causa hoje um capoeira viking –o que há de mais alto contraste em estatura e tom de cútis com a figura do percussionista – usa o “nome de guerra” Jaguatirica e numa academia de ginástica algures em Estocolmo tenta "jogar" gingando tão bem ou melhor que um pernambucano.

           Ou um angolano.

          Golpes de lutas e danças acrobáticas de rituais quimbundos, umbundos e de outros povos bantos estão seguramente na origem da capoeira brasileira.

           - Para um angolano é mais fácil "jogar" capoeira que para qualquer outro estrangeiro, porque o seu movimento básico, a ginga, ele aprende no berço - testemunha o instrutor carioca Cascão após uma temporada de atuação em Luanda como mestre de dezenas de angolanos quando a luta brasileira com jeito de dança faz o caminho de volta às suas origens ancestrais.

  Hoje dezenas de associações brasileiras de capoeira têm sucursais espalhadas pelo mundo. Diz-se que a capoeira é praticada em 150 países. Enquanto isso o berimbau tornou-se apenas um "condimento" a mais na "cozinha" de todo percussionista brasileiro que se preze.

            Em 1972 Naná Vasconcelos acompanhou Milton Nascimento numa toada eletroacústica afro-mineira em que o cantor cria um diálogo entre um "pai grande" traficado como escravo da África (deAngola?) e seu filho de criação (o próprio Milton?).

                De onde eu vim

                É bom lembrar

                Todo homem de verdade

                Era forte e sem maldade

                Podia amar, podia ver

                Todo filho seu

                Seguindo os passos

                E um cantinho pra morrer

 

                Pra onde eu vim

                Não vou chorar

                Já não quero ir mais embora

                Minha gente é essa agora

                Se estou aqui

                Trouxe de lá

                Um amor tão longe de mentiras

                Quero a quem quiser me amar  

 

        Até ela tornar-se a nova coqueluche das artes marciais ao redor do mundo o berimbau africano e a capoeira brasileira perfizeram um trajeto de mais de quatro séculos desde sua aparição no Brasil, após a travessia atlântica das costas do Congo e das terras dos "angolas" e outros quimbundos e umbundos.

                                                                                                                                                          

          Mas - posto ser difícil entender como possam ter vivido tanto tempo separados - segundo alguns historiadores o berimbau e a capoeira só estão ligados de fato há pouco mais de um século.

                                                                                                                                                           

          Possíveis pistas da origem da capoeira foram apagadas com a queima dos arquivos da escravidão brasileira promovida por Rui Barbosa. Com esse gesto o ministro da Justiça do primeiro governo republicano pretendeu apagar da história todo e qualquer traço de quatro séculos de negror, mas causou apenas mais um grave dano, criando dificuldades quase intransponíveis para quem tenta reconstituir a história da afrobrasilidade. Hoje os historiadores dispõem apenas de documentos emitidos pelas "forças que a combatiam", como disse um historiador, nos arquivos da Torre do Tombo em Lisboa.

                                                                                                                                                         

         Por esse motivo o estudo da origem da capoeira, como de todos os outros aspectos da vida e dos costumes dos povos geges, nagôs, malês e bantos traficados para o Brasil, tem sido em grande parte um exercício de sempre incompleta aproximação a sinais muito remotos, como o que leva algumas fontes a assegurar que ela foi transladada pelos ngolas, ou angolas. Talvez a hipótese mais próxima da realidade.

                                                                                                                                                       

        Outras fontes arriscam apenas afirmar que ela provém de lutas dos povos bantos oriundos de Angola e do Congo, a que provavelmente se misturaram golpes e contragolpes de lutas de outros povos africanos, como os sudaneses.

      Para Roger Bastide "a América oferece-nos o quadro extraordinário de ruptura entre etnia e cultura", porque por mais de três séculos de escravidão um dos truques dos colonos para preservar o patrimônio era o de misturar "peças" de diferentes línguas para na medida do possível impedir que se entendessem. Mas elas por sua vez "replasmaram os seus padrões culturais de acordo com as necessidades que surgiam" e "com isso se autopreservavam, em grande parte, da repressão escravista".

                                                                                                                                                       

          Como o samba – cujo nome terá origem no semba angolano – a capoeira será apenas mais um fruto do longo processo de miscigenação que fez do Brasil o propalado caldeirão multiétnico e racial e dela uma luta de defesa pessoal - e dança - autenticamente brasileira.

                                                                                                                                                       

      Há quem defenda de pés juntos que Zumbi, o "rei" do quilombo de Palmares, foi o primeiro "mestre capoeira" da história. Remontam, estes, a um período sem dúvida tão heróico quanto obscuro da história dos negros traficados para território americano.

                                                                                                                                                       

        Que a República de Palmares existiu, e que ao longo de três séculos "o Brasil se converteu praticamente num conjunto de quilombos, uns maiores, outros menores", não restam dúvidas, pelos estudos abalizados sobre eles feitos. Como não há dúvida de que os quilombos das Américas têm origem nos acampamentos homônimos dos povos das regiões limítrofes do reino do Banza-Congo à época do início do tráfico negreiro de Oriente a Ocidente do Atlântico, particularmente de entre o Soyo e a foz do Kuanza, e de São Tomé. Formados por negros e outros “marginais” fugidos ao regime colonial de plantation, os quilombos brasileiros tiveram para eles a mesma importância e os mesmos dispositivos de estratégia em ações de ataque e defesa que os quilombos originais para os povos do sub-Zaire ou Congo.  

                                                                                                                                                       

      Tudo muda de figura quando se fala de Zumbi, que segundo a lenda rebelou-se contra o tio, Ganga Zumba, após este ter negociado uma trégua com as autoridades portuguesas da Capitania de Pernambuco, onde o conjunto de aldeamentos que compunham o quilombo de Palmares fora instalado no início do século 17, durante a ocupação holandesa. Morto Ganga Zumba, ao que se conta pelo próprio sobrinho, Zumbi "reinaria" em Palmares por mais de duas décadas, até a total destruição do quilombo e a morte do seu chefe em 1695. 

                                                                                                                                                       

      A mais que provável origem do seu nome no termo Nzambi (deus ou ente acima de todos) - uma "pista" explorada por Edu Lobo e Vinícius de Moraes na canção Zambi, da  trilha sonora da peça Arena Conta Zumbi - aponta para a quase certa proveniência do maior herói da luta dos negros brasileiros pela liberdade de um dos povos da área de influência kimbundu. Quiçá os próprios angolas. Chegou-se a ter por certo até um tempo recente que Zumbi nasceu no atual território angolano e de lá viajou ainda criança como escravo para o porto de Recife.

                                                                                                                                                       

      Mas não se tem certeza absoluta sobre a própria existência do grande guerreiro, o que o torna também um símbolo mítico. Entre uma meia dúzia de documentos que comprovariam a sua existência conta-se uma carta de um padre que o teria criado em Porto Calvo, no atual Estado de Alagoas, onde anos mais tarde a cabeça degolada do guerreiro teria sido exibida em praça pública. Peritos no assunto afirmam que entre os mais de dezena e meia de aldeamentos que integravam o quilombo de Palmares, onde poderão ter vivido cerca de 20 mil pessoas, encontravam-se os do seu irmão Andalaquituche e de sua mãe, Alquatune.

                                                                                                                                                       

      Roy Glasgow, em seu relato sobre a rainha Nzinga, considera que Palmares foi uma experiência sócio-cultural banto – expressão mais pura da resistência angolana no Brasil.

      Terá sido a capoeira um instrumento suplementar - além de flechas, lanças e armas de fogo tomadas das expedições punitivas comandadas por capitães-do-mato ou compradas a negociantes - na luta dos quilombolas "brasileiros" pela sobrevivência dos seus territórios autônomos? Há quem garanta que sim e vá além, apontando como o seu local de nascimento a antiga Capitania de Pernambuco.

                                                                                                                                                       

      Quase todas as fontes asseguram que o termo tem origem no idioma tupi e deriva da expressão mato ralo - onde os escravos capoeiristas prefeririam lutar. Outros, no entanto, dizem tratar-se de uma variação do étimo "capão", designação dada aos guerreiros que se escondiam nas matas para armar ciladas aos capitães-do-mato que os perseguiam.

                                                                                                                                                       

      Tal como no caso de outras expressões da cultura e fé dos negros transplantados para o Brasil - como o candomblé, que para sobreviver fez de conta que se mesclara ao catolicismo -, desde cedo nas senzalas os capoeiras foram obrigados a disfarçar-se de dançarinos para que seus senhores não desconfiassem que treinavam golpes de uma luta corporal e a confundissem com uma espécie de ritual inofensivo. A inclusão de cantos e instrumentos para acompanhá-la derivaria dessa tentativa de travestimento, dando à capoeiragem aspectos mistos de arte marcial, manifestação musical, dança e acrobacia.

                                                                                                                                                       

      Conta-se que ainda no decorrer da guerra de resistência dos quilombos - que em verdade só acabaria com a abolição da escravatura, em 1888 - o capoeira já era um tipo característico - querendo-se dizer folclórico - brasileiro. Vestia-se de maneira peculiar, com chapéu de banda e argola de ouro na orelha, e muitas vezes era contratado para perpetrar emboscadas e assassinatos. Capoeira era já então e de igual modo sinônimo de malandro, criminoso e ladrão.

                                                                                                                                                       

      Em meados do século passado a prática da capoeira - que segundo alguns peritos encontraria no mestiço, menor que o negro e mais delgado que o português, o seu melhor executante - já se estendera às classes média e alta (ou seja, aos brancos) dos principais centros habitacionais brasileiros. Negros, brancos e mestiços juntam-se então - talvez pela primeira vez - nas chamadas maltas de capoeira. Por essa altura escravos capoeristas são "convidados" a alistar-se para combater nas fileiras avançadas do exército brasileiro na Guerra do Paraguai. Alistando-se como "voluntários da pátria" era-lhes prometida a alforria, mas os que se recusaram a fazê-lo foram "caçados" do mesmo jeito, não lhes tendo sido oferecido nada em troca.

                                                                                                                                                       

      A antiga luta de defesa dos escravos começa assim a servir os desígnios da classe dominante.

                                                                                                                                                       

      Finda a guerra muitos dos reservistas passam a integrar a que um biógrafo do abolicionista José do Patrocínio classificou de famigerada Guarda Negra, usada pelos monárquicos como pelotão de choque para reprimir com violência comícios e sessões de propaganda republicanos na então Província do Rio de Janeiro, sede do governo.

                                                                                                                                                       

      Mais que o fato de ser associada à crescente onda de criminalidade nos grandes centros, como afirmam alguns autores, terá sido este o motivo pelo qual uma das primeiras medidas dos republicanos ao assumir o poder, em 1889, foi a de incluir no Código Penal a previsão de pena de dois a seis meses de prisão para os praticantes dos  "exercícios de agilidade e destreza pessoal, conhecidos pela dominação de capoeiragem". 

                                                                                                                                                       

      Há quem diga que a repressão que se seguiu, se não pôs fim, contribuiu decisivamente para uma irremediável descaracterização da capoeira.

 

 

            Minha mãe

            que é de Luanda

            me tinha dado na teta

            pó de dente de leão

            com a ginga do meu corpo

            botei maldade no chão

            e num jeito de criança

            baçulei a liberdade

            resgatei meu coração  

 

            Estou voltando pra Luanda

            de onde saí num porão  

            Não sou daqui nem de lá

            não sou de lugar nenhum

            tem vez que eu somos todos

            tem vez que todos só um

            Estou no meio do terreiro

            meu berimbau navegando

            nas ondas do oceano

            que dividiu para unir

            minha partida e chegada  

 

            Capoeira de regresso

                  Manuel Rui  

 

      O maior estudioso do legado negro à música popular brasileira, José Ramos Tinhorão, revelou que após a proibição da capoeira em 1890, "por comodidade de ação policial, qualquer grupo reunido para cantar e fazer figurações de dança ao ar livre ao som de palmas, atabaques e pandeiros era por princípio enquadrado como incurso nas disposições contra a malandragem e a capoeiragem".  

                                                                                                                                                       

      Tinhorão é um dos maiores defensores da teoria segundo a qual, "com os seus estribilhos marcados por palmas, brincadores de capoeira e batedores de atabaques do povo miúdo acabariam produzindo o samba", no limiar dos séculos 19 e 20.  O ensaísta afirma que a sedimentação do que é tido - ao menos no exterior - como o ritmo popular brasileiro por excelência data da época em que negros capadócios (malandros) de um dos berços do samba carioca, a Cidade Nova (que eram conhecidos como nagoas), e da praia  (os guaiamuns) "faziam os seus batuques e se disputavam com a técnica da capoeira trazida pelos bantos". Segundo ele, a ginga da capoeira e do também ancestral semba angolano reencontram-se enfim, séculos depois, nos passos do samba, possivelmente criados a partir da umbigada do semba e outros ritmos bantos, mas também das rasteiras e pernadas da capoeira.

                                                                                                                                                       

      Na mesma época celebrava-se o reencontro histórico de dois parentes afastados com possível origem comum: a capoeira e o berimbau, que segundo alguns peritos só há um século juntou-se a atabaques, pandeiros, agogôs, chocalhos e ganzás para completar - e comandar - as orquestras de percussão que imprimem diferentes andamentos à luta que também é dança.

                                                                                                                                                       

      Berimbau: instrumento feito de pau de biriba vergado por um fio metálico retesado e tensionado por uma moeda que é percutido com uma vareta para produzir sons repercutidos por uma cabaça. Também chamado no Brasil de berimbau-de-barriga, bucumbuba, gobo, gunga, macungo, orucungo, uricungo ou urucungo.

                                                                                                                                                       

      Berimbau que nasceu há milhares de anos do arco de um caçador africano. Chamado hungu ou umburumbuba em Angola, onde só não se usa acrescentar aos sons metálicos repercutidos pela cabaça os emitidos pelo caxixi ameríndio: um cestinho de seixos que, seguro pelos dedos mindinho e anelar da mesma mão com que se ostenta a vareta, prolonga, com cambiantes, os ritmos - ou toques - da luta de capoeira. 

                                                                                                                                                       

      Orquestras de berimbau acompanharam quase em surdina e em locais escusos os movimentos dos capoeiras durante o longo período de clandestinidade da hoje também denominada ginástica brasileira. Clandestinidade que só terminaria na década de 30, quando um mestre baiano apelidado de Bimba fez uma apresentação para o então presidente Getúlio Vargas.

                                                                                                                                                       

      Mestre Bimba não foi apenas um famoso capoeirista, mas o homem que ao imprimir mais velocidade à capoeira rompeu com o  próprio mestre, Pastinha, e os antigos modelos da Bahia - onde ela se estratificou nas suas formas mais tradicionais, como as capoeira angola e capoeira congo - e fundou a chamada capoeira regional. Foi além e, tendo para ela formulado um conjunto de regras de competição mais ou menos fixas, propôs ao ditador o reconhecimento oficial da sua arte como modalidade esportiva oficial brasileira, o que só viria a acontecer quatro décadas mais tarde.

                                                                                                                                                       

      O progressivismo de Mestre Bimba abre uma enorme - e ao que tudo indica insanável - polêmica entre os mestres cultores da capoeira. Além de acelerá-la, aumentando a espetacularidade dos seus movimentos mais acrobáticos, Bimba fez com que ela passasse a ser encarada como uma arte aberta, em evolução permanente.

                                                                                                                                                       

      Para os defensores intransigentes da chamada capoeira tradicional como a única verdadeiramente autêntica - encastelados em Salvador da Bahia, tida por muitos como um dos seus berços, quando não mesmo o seu berço -, o número dos movimentos defensivos e ofensivos (golpes e contragolpes) da luta não é superior a 30. Ultrapassar esse padrão é descaracterizar uma arte secular, dizem.

                                                                                                                                                       

      Já para Mestre Camisa, um dos mais famosos discípulos de Mestre Bimba e presidente da Associação Abadá-Capoeira, com sede no Rio de Janeiro, existem hoje pelo menos cem golpes na capoeiragem. Segundo ele a capoeira baseia-se em grande parte na arte do improviso.  A qualidade do jogo e a própria evolução técnica da modalidade dependem muito da criatividade dos seus atletas-dançarinos.

                                                                                                                                                       

      Tradicionalistas ou evolucionistas, todos estão de acordo ao menos num ponto: sem ginga - ponto de partida para qualquer golpe ou contragolpe -, ninguém poderá jamais dizer que sabe jogar capoeira.

                                                                                                                                                       

      Orquestras de berimbaus grandes (violas), médios ou pequenos (gungas), com atabaques e outros instrumentos de percussão, marcam os ritmos das lutas das rodas de capoeira com muitos toques diferentes, entre os quais os de angola, são bento grande, cavalaria, luna, iúna, benguela, ave-maria, santa maria e amazonas.

                                                                                                                                                       

      O toque de são bento grande imprime ao jogo um ritmo bastante rápido, exigindo dos capoeiras o máximo de adestramento e perícia acrobática nos seus golpes e contragolpes. Aús (muito parecidos com o movimento para plantar bananeira na ginástica greco-romana) e rolês (que lembram saltos mortais) são executados numa velocidade estonteante.

                                                                                                                                                       

      Outros toques, como o de santa maria e o de angola, ou angolinha, sugerem um tipo de jogo bem mais lento e rasteiro, em que o que se exige do jogador é sobretudo muita malícia.

                                                                                                                                                       

      Todos os golpes partem de um movimento básico, a ginga, em que, numa atitude idêntica à do boxe e outras lutas, o jogador prepara o ataque tentando dissimular a ação engendrada até perpetrá-la. Fundamento básico da capoeira, sem ginga - que muda consoante o estilo praticado - nenhum iniciando receberá a sua primeira corda, a chamada corda crua. Passo a passo, após o batizado - cerimônia de iniciação -, o instruendo e mais tarde instrutor irá receber a corda crua e amarela, amarela, amarela e laranja, laranja e vermelha até chegar à corda roxa, a graduação de mestres e grãos-mestres da capoeira.

                                                                                                                                                       

      Feita também de música e dança a capoeira é entretanto a única arte marcial que exige algo além do mero adestramento físico e mental. Nenhum capoeirista será graduado caso não saiba cantar as ladainhas ou tocar todos os instrumentos de percussão que imprimem os diferentes ritmos à luta. O mais importante deles é o berimbau, a sua alma. Mas todos podem ser utilizados em desafios suplementares entre os competidores caso uma luta termine empatada.

        Eu estava lá em casa

        sem pensá, sem maginá

        e viero me buscar

        para ajudar a vencê

        a guerra do Paraguá

                Alguns cânticos falam dos tempos da escravidão, outros da guerra do Paraguai, como o acima citado, gravado por Mestre Camafeu de Oxóssi de Salvador nos anos 70. Muitos falam de pequenos-nadas do cotidiano, como um dos mais comumente entoados nas rodas de capoeira:

         Ê galo cantou

        (Êêê galo cantou, camará)

        Ê cococorocô

        (Êêê cocorocô, camará

            Os cultores mais puristas da arte mista de ginga, malícia e acrobacia têm por base a crença em que, ao massificar-se no Brasil e ultimamente também ao redor do mundo, sendo cada vez mais prestigiada nas academias de ginástica, a capoeira - para eles acima de tudo uma forma de expressão cultural afro-brasileira - sofre um lamentável processo de desvirtuamento e de apropriação ilícita por parte da burguesia branca e/ou mestiça, a que um dia - esperam eles, os puristas - ela deverá  pregar uma rasteira...

            Outros asseguram que é precisamente no mestiço, delgado mas com boa musculatura, mais baixo que o negro brasileiro e mais ágil que o português, que a capoeira - fruto ela mesma de um país miscigenado - encontra o seu executante ideal.

            A polêmica em torno da popularização da capoeira vem de tempos imemoriais. Critica-se por exemplo a folclorização da arte dos antigos angoleiros na Bahia, que hoje, mortos os grandes mestres de antigamente, não passaria de um caça-níqueis de turista ávido de contatos primários com o exotismo e o esoterismo das gentes da tão decantada terra da magia e da fé.

            Há quem critique as associações que cultivam os vários estilos de capoeira regional - os mais praticados hoje em dia - por pretenderem monopolizar o seu ensino, transformando-se em grupos fechados que, em vez de disseminá-la, acabam por dificultar a difusão da sua prática. Toda tradição popular, ao massificar-se, corre o risco de ser adulterada, e a capoeira não seria exceção.

            Ao expandir-se ao redor do mundo associações brasileiras tentam ao mesmo tempo preservar as características básicas da luta e divulgar as suas raízes históricas e culturais, mas também incutir nos seus filiados o respeito a princípios éticos, morais e de cidadania. Para isso instrutores e alunos são obrigados a seguir, dentro ou longe das rodas de capoeira, rígidos códigos de comportamento estabelecidos pelos conselhos de mestres e mestrandos.

            A capoeira é também encarada como uma disciplina de grande valor pedagógico e terapêutico, pelo que tem vindo a ser cada vez mais aplicada em projetos de reinserção social de crianças e adolescentes em risco.

            Sua prática por indivíduos de todos os extratos sociais, que atingira o auge antes da proibição há mais de cem anos, assumiu proporções gigantescas no Brasil sobretudo a partir de 1990, quando academias de ginástica e escolas públicas e privadas de todos os níveis de ensino começaram a oferecer aos seus alunos a possibilidade de aprender a arte da ginga feita luta de defesa pessoal, em aulas que se tornaram também muito comuns em praças e parques do país. Enquanto isso - qual nova Carmen Miranda - a capoeira chegava a Hollywood, figurando entre as grandes atrações de filmes de porrada de Jean Claude Van Damme...

            Ao projetar-se no mundo a capoeira finalmente encontrou o caminho de volta à África-mãe a partir de Angola, o seu berço por tanto tempo procurado, como demonstra a famosa ladainha em que se canta que Pastinha já foi a África pra mostrar a capoeira do Brasil.

            Pesquisadores e capoeiras brasileiros têm feito estudos de campo e no Arquivo Nacional de Luanda na tentativa de encontrar os elos perdidos entre os antigos rituais dos povos angolanos que ajudaram a povoar o Brasil e essa nova coqueluche das artes marciais, que seguramente ajudaram a criar. "A capoeira engravidou em Angola e foi nascer no Brasil", garante o compositor angolano Dionísio Rocha, que acompanhou de muito perto essas investigações.

            Apesar de tais descobertas ainda não terem sido objeto de estudos científicos foi já detectada uma grande semelhança – e em alguns casos total identidade - entre alguns golpes da capoeira e movimentos da baçula dos pescadores da ilha de Luanda, da kapangula de Benguela e de rituais de iniciação de povos do Lobango e do Cunene, como o ngolo.

            Um dia - talvez muito próximo - Angola poderá talvez dizer sem qualquer risco de erro que a capoeira do Brasil também é sua.     

  ...

 

                         

     Marcas que a ignorância

        ou vergonha da África

           não apagou

 

                                                                               Este samba que é misto de maracatu

                                               é samba de preto velho, samba de preto tu

                                                   Mas que nada, Jorge Ben, 1963   

   

                   Os pretos tus ou bantus que formam a maior parte do contingente africano embarcado para o Brasil foram açoitados duas vezes: apanharam dos senhores dos escravos e dos historiadores. Estigmatizados como ‘brutais, submissos’(Silvio Romero in História da literatura brasileira, JoséOlympio, 1953), ‘muito estúpidos’ (Afrânio PeixotoBreviário da Bahia, Conselho Federal de Cultura, 1980) e ‘raça mestiça’ (Oliveira Viana, Raça e assimilação, José Olympio, 1959), eles instauraram a resistência ao eito através dos quilombos, semearam o samba com seus instrumentos (cuíca, ganzá, reco-reco), escolas de samba (inspiradas nos séquitos) e afluentes (caxambu, jongo, maracatu, coco, lundu). Infiltraram-se na cultura do colonizador branco a ponto de influir até hoje na maneira de falar de algumas  regiões, como no caso do emprego da aférese em no lugar de  está; dos sons átonos, amaro por amaram, ino em vez de indo;  e as reduções de ditongos como ocorre em cheru, substituindo cheiro. 

                  Tárik de Souza - O resgate dos bantos - Pesquisador reavalia o papel cultural do maior contingente de escravos trazidos para o Brasil, sobre o livro Bantos, malês e identidade negra, de Nei Lopes, in Jornal do Brasil, 27/05/1989

 

         Primeiro e principal grupo etnolinguístico a pisar no Brasil, como escravo, ainda no século XVI, os bantos, procedentes da África Central, Oriental e Austral, acabaram adquirindo, por distorção histórica, o estigma de pouco inteligentes e submissos, força de trabalho robusta mas culturalmente bruta e inferior. A contrapartida seriam os sudaneses (nagôs, iorubás), que, chegados no fim do século XVIII, concentraram-se principalmente em Salvador e Recife, e conquistaram uma imagem romântica de altivez e inteligência. Para desmontar o que classifica como ‘falácia histórica’, o compositor, escritor e pesquisador Nei Lopes está lançando o Dicionário Banto do Brasil, primeira obra do gênero no país. (...)

‘Mesmo na Bahia, onde só se fala em nagô, o banto foi dominante, principalmente no Recôncavo’. Nei Lopes não duvida de que ‘o sangue negro que corre nas veias brasileiras é fundamentalmente banto’. É nesse manancial que está a origem de algumas das mais expressivas manifestações da nossa cultura, arte e comportamento, a começar pelo samba.

 

                  Lena Frias - Recuperação da memória banto - Dicionário resgata importância da presença do grupo africano no linguajar brasileiro, in Jornal do Brasil, 7/12/1996

 

          Para onde quer que se olhe em algumas regiões brasileiras sempre se encontrará um pouquinho de Angola. Na música, nas danças, na língua, na religião, na comida... e até talvez no modo de estar na vida.

A semelhança é tanta que é praticamente impossível que o termo samba não venha da palavra semba, um dos ritmos tradicionais mais populares em Angola.  O que não parece tão natural é que venha de sambudo – barrigudo em nordestinês – como há quem defenda. Já o samba e o semba poderão até ser primos, mas bastante afastados.

Os desfiles de carnaval dos blocos de maracatu, em Pernambuco, evocam as antigas cerimônias de coroação dos reis do Congo e até hoje em congadas - cortejos etnográficos das festas dos reis magos de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro – faz-se referência a Nzinga, a rainha do Banza-Congo cujo nome poderá estar na origem do termo jinga.

Primos muito afastados mas nem tanto quanto o samba e o semba serão também o funge angolano e os angus e pirões de milho e mandioca da culinária brasileira.

No final do século 20 o governo brasileiro deu o título de propriedade das terras do antigo quilombo dos kalungas (rio, mar, morte ou renascimento em quicongo e quimbundo) no estado de Goiás a descendentes de negros alforriados ou fugidos da escravidão.

Em Cafundó, interior de São Paulo, descendentes de negros oriundos de Angola falam até hoje um dialeto próprio em que misturam termos do quimbundo e do umbundo.

Quilombos eram conjuntos de aldeamentos - alguns com dezenas de milhares de pessoas - em que se reuniam negros, índios e outros indivíduos perseguidos pela lei colonial.

O termo que os designa tem origem direta no nome dos acampamentos dos guerreiros jagas de Angola durante as suas guerras com os congoleses, no século 16. 

Até os anos 1970 costumava-se chamar um indivíduo com dotes extraordinários de bamba,  nome de um dos povos de Angola e do Congo que engrossaram a mão-de-obra de trabalho escravo no país.  As mercearias eram chamadas de quitandas e as boas cozinheiras de quituteiras, como um ratinho é até hoje chamado de camundongo, termos com origem no quimbundo.

       Angola ocuparia lugar central na árvore genealógica de boa parte dos brasileiros caso eles a pudessem reconstituir, mas por ordem do primeiro governo republicano (1889-91), a partir de uma iniciativa de Rui Barbosa, jurista mulato nascido na Bahia, todos os documentos existentes no Brasil sobre o tráfico de escravos foram queimados.

       Quis-se apagar com o fogo um dos capítulos mais tristes da historia brasileira mas o que se fez foi queimar quase todos os traços da origem dos negros e mulatos, quase metade da população do país.

       A queima dos arquivos do esclavagismo terá sido apenas um fator a mais entre os que levaram a uma notória ignorância do Brasil contemporâneo de suas origens africanas. Diz-se Angola e há até quem pergunte – onde fica? E o que dizer do Benin?

O Brasil é o país não-africano com o maior número de habitantes negros mas tem até vergonha da sua africanidade.  É o que dizem os entendidos em relações Brasil-África e o que se sente normalmente por aí.

Estudos sobre a formação da sociedade brasileira a partir do legado africano só começaram no início do século 20, quando etnólogos como Arthur Ramos, Edison Carneiro e Nina Rodrigues atribuíam papel preponderante nesse processo aos povos de origem sudanesa (da antiga Costa dos Escravos).

Sabe-se hoje que a influência dos sudaneses foi muito grande apenas na Bahia e em um ou outro estado do Nordeste e que a partir do século 18 - com o início do ciclo do ouro - a grande maioria dos escravos tinha origem nos atuais territórios de Angola e Moçambique (neste, em muito menor escala que naquele).

Tendo quase sempre formado uma minoria de não mais de um quinto da mão-de-obra negra da primeira capital da colônia os bantos deixaram poucos traços marcantes na cultura baiana, entre os quais talvez a capoeira de Angola.

Mas acabaram por influenciar de sobejo a cultura miscigenada das restantes regiões. Em algumas delas chegaram a constituir a maioria da população no final do século 19.

A maior parte dos escravos traficados para o Brasil nos séculos 18 e 19 saiu da costa africana entre o antigo Reino do Congo e Lobito, no sul de Angola,  território dos povos bantos que falam quimbundo e umbundu. Foram eles que deixaram marcas mais fortes na vida brasileira fora da Bahia e do Maranhão, que também tem forte marca sudanesa.

Ao longo de mais de dois séculos de história colonial Angola esteve mais próxima do Brasil do que da metrópole portuguesa, que até a independência brasileira subordinou o território africano à colônia brasileira. No século 18 todos os bens importados por Angola eram comprados ao Brasil, mesmo os produzidos em Portugal.

Dependendo exclusivamente daquela faixa da costa para romper o bloqueio inglês ao tráfico negreiro os brasileiros chegaram a propor aos colonos africanos a criação de um estado confederado nos dois lados do Atlântico.

África - e Angola em particular - é extremamente visível e palpável em múltiplas facetas da sociedade brasileira contemporânea. Contudo, como de resto outras regiões do mundo fora do eixo Brasil-EUA, não parece fazer parte da humanidade, tendo pouca ou nenhuma visibilidade na mídia brasileira. África só "acontece" nos noticiários quando se dá uma tragédia.

"Acontece" também quando vez por outra uma escola de samba do carnaval carioca decide rememorar as origens comuns, como a Unidos de Vila Isabel, vencedora do desfile de 1988 com o samba-enredo Kizomba - a Festa da Raça, de Martinho da Vila, talvez o único músico brasileiro ligado nas origens angolanas dos ritmos populares do Rio de Janeiro.

Só uma vez ou outra é que África não é sinônimo de tragédia. Sempre por conta de algo bastante apelativo. Ou quase por artes mágicas, como neste causo de 1995:

         Município brasileiro vai mandar galinhas d'angola para Luanda

O município de Quissamã, próximo à cidade de Campos, no estado do Rio de Janeiro, prepara-se para enviar para a cidade xará de Quissama, perto de Luanda, uma remessa de galinhas d'angola destinada ao repovoamento de Angola daquela espécie.

A idéia do envio de galinholas para Angola partiu do presidente angolano José Eduardo dos Santos, que de férias no Brasil em 1994 manifestou interesse no repovoamento da espécie, dizimada pela guerra civil angolana, a partir do Brasil.

O acerto para o envio de matrizes e ovos de galinhas d'angola é mais um passo na progressiva aproximação de Quissamã a Angola a partir dos profundos laços históricos que os liga.

No âmbito do seu programa cultural Memória de Quissamã a prefeitura está promovendo um grande levantamento da historia do município e de suas relações com a cidade de onde partiram muitos dos seus primeiros habitantes.

Quissama, a sul de Luanda, foi um dos principais pontos do litoral de onde partiram angolanos feitos escravos para o Brasil.

As pesquisas englobam os mais diversos aspectos, da genealogia da população à musica e hábitos culinários.

Por enquanto os levantamentos foram feitos apenas no Brasil, com pesquisas que levaram à descoberta de uma família de descendentes de escravos oriundos de Quissama no bairro de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.

       A produção de galinholas em Quissamã é pequena (uma centena de cabeças por produtor) e pouco comercializada.

Envolto numa "nebulosa" de ignorância e num certo ensimesmamento de país-continente - senão mesmo por uma forte dose de racismo e preconceito - o Brasil não parece ter em Angola a sua "fronteira oriental", como pretendem alguns diplomatas, mas estar de costas para uma sua cara-metade, de cuja origem se envergonha.

      Ou ignoraria por inguinorãça mesmo.

      Como conta e comenta Joyce, a musa musicista, em desabafo publicado pelo caderno Idéias/Livros do Jornal do Brasil em janeiro de 1991:

      Eu vi, ninguém me contou: no dia da posse do presidente Collor foi ao ar em Paris uma entrevista em que nosso aguerrido presidente cometeu um lapso freudiano que nos valeu, a nós, brasileiros, incontáveis gozações dos franceses presentes, chamando a América Latina de... "Amérique Latrine". Para logo em seguida negar a influência africana na cultura brasileira, mencionada pelo entrevistador, dizendo que "nossas raízes culturais estão aqui, na Europa".

      (Diante disso eu me permito duvidar dos que tomam como revanchismo o descaso do governo Collor em relação à cultura. O problema dele com a cultura parece ser mais simples: é a falta de.) 

 

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 Música  do Brasil de Cabo a Rabo é um livro com a súmula de 40 anos de estudos de James Anhanguera no Brasil e na América do Sul, Europa e África. Mas é também um projeto multimídia baseado na montagem de um banco de dados com links para múltiplos domínios com o melhor conteúdo sobre o tema e bossas mais novas e afins. Aguarde. E de quebra informe-se sobre o conteúdo e leia trechos do livro Música do Brasil de Cabo a Rabo, compilado a partir do banco de dados de James Anhanguera.

         

          CORAÇÕES FUTURISTAS nunc et semper  AQUI   

 

   Você já deve ter visto, lido ou ouvido falar de muita história da música brasileira da capo  a coda, mas nunca viu, leu ou ouviu falar de uma como esta

  Música  do Brasil de Cabo a Rabo

   Todas as histórias limitam-se à matéria e ao universo musical estrito em que se originam, quando se sabe que música se origina e fala de tudo.

   Por que não falar de tudo o que a influencia e de que ela fala sobretudo quando a música popular brasileira tem sido quase sempre um dos melhores veículos de informação no Brasil? Sem se limitar a dicas sobre formas musicais, biografia dos criadores  e títulos de maior destaque. Revolvendo todo o terreno em que germinou, o seu mundo e o mundo do seu tempo, a cada tempo, como fenômeno que ultrapassa - e como - o fato musical em si. 

   Destacando sua moldura

       dessa janela sozinho olhar a cidade me acalma

        dando-lhe enquadramento

       estrela vulgar a vagar, rio e também posso chorar...

  histórico, social, cultural e pessoal. 

         Esta é também a história de um aprendizado e vivência pessoal.

    De um trabalho que começou há quatro décadas por mera  paixão infanto-juvenil, tornou-se matéria de estudo e reflexão quando no exterior, qual Gonçalves Dias, o assunto era um meio de estar perto e conhecer melhor a própria terra distante e por isso até mais atraente. E que como começou continuou focado em cada detalhe por paixão.                    

Música do Brasil de Cabo a Rabo

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          em negrito capítulos ou seções de capítulos com trechos acessíveis a partir de seus títulos

                        

  O LIVRO DA SELVA 

      Productos Tropicaes   e   Abertura em Tom Menor

        1.    O BRASIL COLONIZADO

                raízes & influências Colônia e Império   

         1. A  Um Índio     1. B  Pai Grande      1. C   Um Fado  

        2.     TUPY E NOT TUPY 

formação de ritmos e estilos urbanos suburbanos e rurais    

    Rio sec. 19-sec. 20 - Das senzalas às escolas de samba

        3.     Os Cantores Do Rádio    

                      a  ESTreLa SoBE

              CARMEN MIRANDA DE CABO A RABO

                                                   fenômeno da cultura de massa do século XX

                        

        4.     BOSSA NOVA do Brasil ao mundo      

                Tom Jobim   INÚTIL PAISAGEM  

                    de Rumo à Estação Oriente 

      5.  BOSSA MAIS NOVA o Brasil no mundo

 

    O LIVRO DE PEDRA

        PARA LENNON & McCARTNEY           

        VIDA DE ARTISTA crise e preconceito = inguinorãça

        CENSURA: não tem discussão. Não            

        POE SIA E MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

        O SOM É MINAS: OS MIL TONS DO PLANETA        

        MARIA TRÊS FILHOS

        (SEMPRE) NOVOS BAIANOS         

        NORDESTONTEM NORDESTHOJE

       RIO &TAMBÉM POSSO CHORAR       

       FILHOS DE HEITOR VILLA-LOBOS

INSTRUMENTISTAS & INSTRUMENTAL

              Sax Terror      

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       BLEQUE RIO UM OUTRO SAMBA DE BREQUE        

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             o bêbado exilado & a liberdade equilibrista

       ANGOLA          

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             ou Quando a rapeize solta a franga

       LIRA PAULISTANA            

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       LAMBADA  BREGANEJO AXÉ  E  SAMBAGODE

       RIO FUNK HIP SAMPA HOP

             E DÁ-LE MANGUE BITE RAPEMBOLADA

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