revoluciomnibus.com  James Anhanguera ERa Uma Vez A RevolUÇÃo. IV     ERA UMA VEZ A REVOLUÇÃO   SEM COMPROMISSO

       O grande salto em frente do Grupo de Jornalistas Progressistas após o êxito da greve geral de Julho seria a criação de um sindicato único de trabalhadores da informação, todas as categorias incluídas. A ambiciosa associação informal vê-se agora a braços com a organização de um plenário no Salão Nobre da Sociedade Nacional de Belas Artes.

       Toca a Ed ir com um colega buscar uma aparelhagem de som à Parede, contributo do Partido Revolucionário do Proletariado, braço legal das Brigadas Revolucionárias, que ao que se sabe é a única organização antifascista que ainda mantém um pé na clandestinidade, porque nunca se sabe...

       A reunião é um fiasco, com menos de meia centena de gatos pingados a fazer com que o recinto pareça ainda maior.

       Dias depois JCP comunica-lhe que são convocados para comparecer a um encontro com Isabel do Carmo e o companheiro Carlos Antunes numa casa à Ave de Roma.

       - De que se trata? – inquire, apreensivo.

       - Sei tanto como tu.

       Na noite marcada lá estão eles na sala de visitas do pequeno apartamento sobranceiro à linha de comboios junto a outros camaradas, que são chamados à vez, como no dentista.

       - Quem for primeiro diz ao outro do que se trata – combinam.

       Acabam por ser os últimos atendidos e JCP vai antes. Quando se cruzam cochicha em resposta à interpelação do outro com os olhos, meio a rir e a cofiar a barba:

        - Eu disse não...

       Ed é convidado a sentar-se à mesa da cozinha. Isabel e Carlos mantêm-se de pé. Carlos caminha de um lado a outro com ar compenetrado e a cofiar a barba. É a corajosa militante, recém-saída da prisão com o marido, quem toma a palavra:

       - Camarada, temos acompanhado a tua actividade e admiramos o teu empenho. Pensamos que poderás ser muito útil à causa, pelo que decidimos convidar-te para ingressar nos nossos quadros.

       Ed limpa a garganta, não sabe o que dizer, balbucia:

       - Bom. Sou um entusiasta da luta pela igualdade social e plenos direitos cívicos mas não sou do tipo que se filia a partidos. Não sei, mas não me sinto atraído por esse tipo de coisa, disciplina partidária, obediência ao colectivo... talvez porque na minha infância passei anos em colégio interno tenho aversão a disciplina de grupo. Respeito-os muito pelo que têm feito mas a minha resposta é não.

       Tudo isso facilitado por saber que não está sozinho. Mas nem que a resposta de JCP fosse positiva ele tomaria outra decisão.

       Pensa que o suplício - porque sente-se mal ali - chegou ao fim. Mas inesperadamente a Passionária lusa, num discurso acalorado, que a leva a não parar de um lado ao outro da chaminé, como se esperasse com ansiedade que a água do chá fervesse, enquanto o companheiro, parado atrás de Ed, segue-a com os olhos, insiste na importância do contributo para a causa.

       - Não me vejo a assumir tamanha responsabilidade – corta Ed embaraçadíssimo e, sem outra saída, a julgar que com essa é que se safa:

       - Além do mais, eu até sou brasileiro...

       Por essa ela não esperava. Breve hiato.

       - Mas camarada, não se esqueça que existe o internacionalismo proletário, em que assenta a luta de operários e camponeses em todo o mundo!

       Por essa ele não esperava. Sem um bom argumento desiste de todos, diz sentir-se muito honrado mas de qualquer modo não se vê em condições de aceitar o convite.

       E por aí ficam para o seu grande alívio e melhor proveito das imperiais e canecas que se avia a tomar com JCP, com quem ri muito do embaraço sentido e do peso que tiraram dos ombros quase como se tivessem se safado da tropa na inspecção.

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