O GJP prepara uma convocação de greve geral contra a falta de uma política clara do governo para a informação – no fundo a exigir um decreto do substituto de Raul Rego, que já deu o pira, de ‘nacionalização’ das empresas jornalísticas.

       Decide agendá-la para o fim de semana em que o secretário geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim, irá visitar o país. Ninguém irá ouvir falar de Waldheim e de um suposto aval da ‘comunidade internacional’ ao novo regime, se é que há algum. Dito e feito. E o clima nas redacções é tal que apesar da falta de quadros e meios da associação a greve tem fortíssima adesão, com apenas um problema: o Diário Popular vai sair.

       Mal passaram duas semanas sobre o despedimento colectivo. Desde a nossa suspensão não mais vi António Castro, que entretanto começou a trabalhar nos Serviços de Noticiários do RCP. Noites antes da greve geral ouço as notícias e o amigo entrevista um tipógrafo da comissão de greve de um jornal sobre as razões da proposta de paralisação e ainda a meio da primeira resposta é interrompido e sou surpreendido com interpelações indignadas do entrevistador do tipo mas, camarada, os senhores não vêem que a agir dessa forma estão a prejudicar a luta contra a retomada do poder pelas forças que sempre nos dominaram?! etc. e tal, insistindo sempre e cada vez mais no seu ponto de vista contrário à greve, numa clara atitude de mandar às favas a isenção, o que é quase regra geral a esta altura dos acontecimentos e ele lá terá os mais fundados motivos para o fazer, mas fico indignado. JCP informa-me que António acaba de aderir ao PC por influência de uma jovem jornalista com quem passou a andar, ferrenha militante do partido de Cunhal. Sobrevém enfim o António pragmático, para quem convém antes do mais respeitar as regras do aparelho, e porventura dentro dele laborar contra certos dogmas, mas sempre em respeito ao centralismo democrático. Jiisus Craiste!