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Tremo ao abrir o microfone para, às 11.08h, ler uma breve introdução ao érreeme. Ao chegar à redacção, o chefe sorri e afaga o queixo com uma mão enquanto ressalta: "Com que então o menino tremia esta manhã ao dar o Programa do MFA...." Queria o quê? Tremia também talvez por falta de sono, mas fui o primeiro a dar o programa! Nem que fosse o terceiro... Só prego olho às 18.15h, enquanto leio no ar quase duas páginas inteiras do Diário de Notícias em corpo oito com reacções internacionais ao golpe, ninguém me encomendou o sermão mas a esta altura tudo parece ter cabimento. Da Islândia à África do Sul, dos EUA à Áustria e à Austrália, menos os países do leste europeu, Albânia, Jugoslávia e China, finalmente todo o mundo fala do país... por um bom motivo. Acordo com José Videira a bater no vidro do aquário – onde é que estava? nem me lembro, retomo da parte inferior da terceira coluna, alguns jornais adiante vejo que já li aquilo, salto algumas reacções e de repente dou por findo o trabalho. Trinta e seis horas após o último, curto sono.
Na redacção, papéis por todo o lado, uma montanha de tiras de telex, nunca as máquinas trabalharam tanto, nunca tanto papel ficou por ser lido, monte de tiras e folhas de comunicados de apoio ao golpe.
Domingo, 28 de abril. A redacção é proibida pela administração da RR de noticiar a chegada do comboio do regresso de Paris da cúpula do Partido Socialista Português e Mário Soares, com recepção apoteótica na Estação de Santa Apolónia na alvorada da Revolução dos Cravos, como é chamada, cem mil pessoas em cortejo a seguir um dos heróis da resistência até à Estrela. Porque volta de comboio? Porque tem medo de avião? Para fazer o grande revival de Lenine na Estação Finlândia?
Através do chefe o Serviço de Noticiários comunica à direcção que, caso até às 13 horas da terça-feira seguinte não seja autorizado a cobrir a chegada do avião dos dirigentes do PCP de Paris, a redacção entrará em greve três horas depois.
A resposta da administração é dada findo o prazo, por insistência dos trabalhadores, e a partir das 16 horas o noticiário é preenchido com um comunicado da redacção a informar sobre os motivos da primeira greve pós-25 de Abril no país. Às 18 horas José Videira comunica à redacção que os técnicos decidiram aderir à greve e uma hora depois, após a leitura de um comunicado a exigir que, em conformidade com o programa do MFA, a administração renuncie a qualquer tipo de censura ao noticiário, a emissora sai do ar.
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