revoluciomnibus.com | James Anhanguera | ERa Uma Vez A RevolUÇÃo ...IV | ERa Uma Vez A RevoluÇÃO | SOB CENSURA |
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Vou ver o que se passa no Largo do Carmo, onde tropas golpistas teriam cercado o quartel da GNR. Chaimites pejados de soldados sobem a Rua do Carmo e dão a curva para vencer a Calçada do Sacramento ovacionados pela população, que estende-lhes cravos vermelhos. O largo apinhado de populares e tropas, misturados uns aos outros numa balbúrdia incompreensível, dadas as circunstâncias. Tanques postados nas duas entradas superiores da praça e atrás do chafariz, mais um canhão ao seu lado, apontam para o quartel, onde o presidente e o primeiro-ministro estariam presos. Ora e vez o comandante do destacamento, capitão Salgueiro Maia, empunhando um megafone, dá ordem de rendição e ameaça arrombar o quartel. Soldados instruem os populares que não fizeram a tropa para que tapem os ouvidos e abram a boca caso sejam disparados tiros de canhão, o que não chega a acontecer. Regressado há pouco da Alemanha, onde trabalhou na secção portuguesa da Deutsche Welle por não ter o que fazer em Portugal, Adelino Gomes age por conta própria com o seu Nagra a tiracolo. Porquê não estás a fazer nada? – pergunta-me, e ao responder-lhe não dou resposta alguma: Porque estamos proibidos de dar notícias disto. Volto à rádio, onde o chefe captou a frequência das tropas golpistas, que chamam-se uns aos outros de Papa Mike número tantos e quantos. Papa Mike 4 para Papa Mike 7. Estamos na Avenida Almirante Reis e não sabemos como fazer para chegar à Graça. - Ora o caraças! Estão perdidos, não conhecem Lisboa! Sobes a Rua da Palma e estás logo lá! – goza, enquanto a rádio emudece até o Papa interpelado dar instruções. Vou à Brasileira e, como se nada de anormal se passasse, morfo uma sande mista em pão de forma com um Compal de alperce e volto ao Carmo. Na Praça do Comércio os legalistas renderam-se e tudo indica que é aqui que se desenrolam os acontecimentos cruciais. Mãos nos bolsos, impotente por não poder transmitir o que vejo, nem me passa pela tola recolher moto próprio, como Adelino, sons e impressões dos momentos históricos que vivo. Vou ao outro lado da praça, de onde subo para a Nova da Trindade. Soldados deitados empunham espingardas e metralhadoras aparentemente cercados por tropas da GNR. De lá vou ao da Misericórdia onde um tanque interrompe o trânsito na Rua do Alecrim. Volto ao Carmo, agora pelo lado sul, onde entre populares passo por outro tanque que impede a entrada e saída de veículos, ao lado de soldados agachados e deitados, armas em punho, frente a frente com tropas da GNR, e pergunto-me o que será desta gente se houver algum problema. No largo a população só pode postar-se até um cordão de isolamento formado por soldados em volta da área central do quartel. |
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