revoluciomnibus.com  James   Anhanguera ERa   Uma   Vez  A   RevolUÇÃo. ...I I I     MEDO ATRASO E ROCK NAS BERÇAS  17 de marÇo

Spínola lança Portugal e o Futuro e, sem que se saiba, reuniões de suboficiais descontentes com as longas missões de soberania no Ultramar, o baixo soldo, o prolongamento da guerra em três frentes e a derrota numa delas começam a gerar a sublevação do regime.

A publicação do polémico livro do ex-governador e comandante geral das tropas na Guiné cria um clima de expectativa de mudança. Sussurra-se em casas e cafés sobre quanto tempo (meses – anos?!) passará até ela acontecer. O livro - que mais do que avançar a derradeira proposta de mudança anuncia que o regime poderá estar a dar o badagaio ou a bater as botas - é um best seller instantâneo.

 

        A 17 de Março estou de serviço e como todos os domingos preparo-me para dar uma olhadela com mais vagar no Nouvel Obs mas ao chegar dou de trombas com o chefe, que deveria estar de folga, com ar meditabundo e a apertar o queixo com o polegar e o indicador.

 - O que se passa?

 - Não sabemos. Uma tentativa de golpe talvez. Tanques saíram do quartel das Caldas aparentemente rumo a Lisboa mas estranhamente deram meia-volta e recolheram à base. Diz-se que houve uma rebelião ou algo assim no regimento de comandos de Lamego mas não se sabe. Aparentemente o golpe foi sufocado. Vou telefonar para lá, só para ver.

 Põe a rodar o Ampex quase a cair aos pedaços, recém-instalado sobre uma imensa estrutura de madeira e que só é usado pelo editor e locutor das notícias de corta-fitas do presidente Américo Thomaz ou congéneres, disca o telefone e pede para falar com o oficial de dia, que lhe diz que por lá não há nada de anormal. Se assim é não se pensa mais nisso. Mas os jornais do dia seguinte confirmam em notícias de primeira página com poucos detalhes que houve mesmo uma tentativa de golpe, aparentemente abortada mas sem rusgas entre tropas, como se não tivesse tido a adesão esperada pelos insurrectos ou coisa que o valha. Sente-se no meio um clima quase geral de frustração pelo falhanço da primeira suposta rebelião de que se tem notícia desde a quartelada de Beja em 1962.

        Logo tudo volta ao ramerrame de sempre, enquanto na RR os jornalistas, quase todos de sorriso amarelo, tomam os primeiros contactos com os três homens que trabalharão ombro a ombro para reduzir a zero o impacto do seu trabalho. A cabine onde deverão trabalhar foi instalada e permanece vazia como uma bolha de vidro até 24 de abril.

         O maior êxito comercial da rádio portuguesa é E depois do adeus, uma cançoneta dos Josés Calvário e Niza saída do acontecimento de maior relevância destes anos de pasmaceira, o Festival da Canção da RTP, na voz de Paulo de Carvalho. Uma lamechice pegada que não me pega nem por acabar por dar notícias de mim mesmo.

25 antes durante depois

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