revoluciomnibus.com | James Anhanguera | ERa Uma Vez A RevolUÇÃo. ...I I I | MEDO ATRASO E ROCK NAS BERÇAS | PIMLICO:IRA |
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Escrevi ainda em Lisboa a April Sun a dar-lhe o contacto de Jimi em Londres, porque escrevera-me a dizer que passaria uma temporada aqui. Encontramo-nos num pub em Pimlico, próximo ao trabalho de Jimi. Ela, de cabeça muito mudada, publica crónicas sobre rock numa revista semanal de Lisboa – acha interessante escrever mas não se vê a encetar a carreira de jornalista, com todas as suas limitações. É um passatempo interessante que leva muito a sério porque faz o que mais gosta e diz o que pensa sobre o que entende mas não se vê a prosseguir. Faz alfabetização na clandestinidade, não me diz em que organização, e cursa Letras para talvez vir a ser professora. - Pois é verdade – diz, quando se olha mais nos olhos e fica-se mais à vontade -, vegeto-ambulante nesta cidade-paraíso de todos os apaixonados da música, como eu e vocês, da vida agradável, o paraíso do ‘safa-te sozinho e não olhes para o lado’. Vivam os direitos individuais acima de tudo o resto, é ou não é? Há até aqui um cantinho num parque onde se pode dizer tudo, desde que não se diga nada que ponha em perigo os ‘valores fundamentais’, e onde todas a espécie de comerciantes de ideias cosidas às pressas exibem, para turista ver, as maravilhas da democracia burguesa. - Falas assim à-vontade, da boca para fora, porque estás aqui, na sede da democracia burguesa. Mas imagina lá, no teu Portugal, ou no nosso Brasil, a falar assim abertamente –intromete-se Jimi à armar à polémica, mas ela fica por isso mesmo porque um velho com ar de marinheiro dá um, dois e três acordes numa guitarra e ataca uma balada sobre James Connaly e os bravos homens que no início do século fizeram de uma parte duma colónia ocupada a República da Irlanda, e sobre os brave young kids que de Free Derry lutam pela libertação do que ainda está anexado. Estamos num irish pub. Ao passar por nós, ficamos a saber que o homem é de verdade um marinheiro irlandês aposentado em Londres. - Tás a ver e, sem saber, estás num coivo do IRA e é aqui que estão a congeminar os ataques – diz Jimi algo à chacota e meio a sério, nunca se sabe, porque aparenta estar envolvidíssimo na questão da Irlanda, que parece reduzida a um problema religioso. - ... be carefull, his bowtie is really a camera... - entoo. - Não, a sério... Pergunto-me e pergunto-lhes: quererão os irlandeses ultra-católicos, ao que parece, arcar com o fardo da questão do Eire, de que se apartaram com a independência, ainda por cima tendo de lidar com uma pequena maioria de etnia protestante no enclave? E by the way, como se identifica uma etnia religiosa?! Fica-se por aí mesmo. Jimi vai ao balcão buscar mais dois pints de ale para nós e uma gingerbeer para a comparsa e de regresso fala de uma antiga colega na pizzaria do pai de Renata, uma mulher grega que cantava canções que de início pareciam apenas melancólicas, como seria toda a música grega, mas que logo assumiam um tom muito amargo que depressa se transformava em ódio e raiva, pelo que ele apreendia das traduções. |
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