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O primeiro dia é um festival de feedbacks. O doutor Barges, um burguesão de cabelos brancos que parece não ter nada a ver com isto, acomoda os jornalistas em beliches instalados em divisões da casa do caseiro do solar. Na manhã seguinte, muito atencioso e ainda atormentado com as atribulações da organização de um festival com rock ao ar livre numa era de proibição de qualquer ajuntamento de mais de dez pessoas, leva um grupo de escribas até ao rio, um trecho do paraíso onde jovens parecem querer reproduzir as fotos de Woodstock que deram a volta ao mundo, a tomar banho nus em pêlo para o maior deleite do despreconceituoso anfitrião, que ao assomar o pedregulho sobre o cenário de sonho numa radiosa manhã de Verão não se furta a evocar algumas páginas de Rousseau. - Haverá quem diga que eles compõem um quadro de perdição, mas que mal há nisto, meu Deus?! – suspira, como a tentar o reconhecimento por tantas atribulações passadas. Fosse isso ou os problemas com o som, que prejudicaram as apresentações de todas as bandas portuguesas – em função da má qualidade do próprio equipamento caseiro - antes do gran finale da primeira noite com a pseudo-progressiva banda do ex-pop Manfred Mann, cujo currículo baseia-se numa sucessão de hits que produziu em catadupa em 1967 e no facto de se ter feito acompanhar por Klaus Voorman, fotógrafo teutão amigo dos Beatles do tempo de Hamburgo, além do brilhante baterista Alan White, ou seja, em quase meros mundanismos - o médico ainda não viu nada, pois o astro ascendente Elton John, um dos nomes mais respeitados da pop song anglo-saxónica, e que na noite de encerramento do fim de semana de rock do festival nortenho dará um espectáculo de arrasar quarteirão, revela-se também uma bicha caprichosa daquelas de se lhes tirar o chapéu, a fazer exigências de conforto e comodidade sem cabimento num contexto tão primitivo e prosaico, em que o camarim é um barracão de madeira erguido atrás do palco sobre chão de terra. Marco de tantas expectativas frustradas – a não ser o estupendo trio de Elton John, que aqui se revela um showman e não um simples baladeiro, a tirar da cartola uma insuspeitada faceta de Jerry Lee Lewis - Vilar de Mouros serve para abrir as portas da percepção de uma pequena parcela da juventude portuguesa, e minha, para o Portugal profundo e de parte da sociedade para a percepção de quão longe se está em Portugal, a vários níveis, do mundo moderno. |
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