revoluciomnibus.com  James Anhanguera : ERa Uma Vez A RevolUÇÃão. ...I I     TERRA DA DAMA ELECTROACÚSTICA   CENSURA

Écloga permite-me sentir pela primeira vez na carne os limites do exercício da profissão. Álvaro Gonçalves Pereira, com toda a jactância e sem lápis azul mas com uma bic esfera fina da mesma cor que lhe estendi, a inclinar-se sobre o pequeno maço de folhas de emissão pautadas com o símbolo das quinas da bufa ao alto à esquerda e a descerrar a cortina para abrir a grande e alva dentadura:

- Isto, convenhamos, não tem lógica, não pode ser dito assim.

Tem toda a lógica, associada à subversão, num campo mais vasto e perigoso, porque em princípio apolítico e – pior – também político. O texto – ingénuo, patético? Delírios? Devaneios? Seja como for, cortam porque querem afastar qualquer hipótese de uma ideia do género ganhar força.

Écloga 18-3-71 – a evolução do homem e, agora, o seu incansável procurar; a pesquisa do que há a fazer para que o Homem possa acompanhar as rotações que ele mesmo imprimiu à vida dos que nesta era vivem, a partir de recém-editado The Human Zoo e de The Naked Ape de Desmond Morris – as comunidades pseudo primitivas; o retrocesso do Homem às suas origens; o incessante procurar na certeza do passado a resposta à incógnita que se lhe apresenta ao olhar para o seu futuro.

O que ele corta com riscos em círculo para borrar:

             Pergunta: Qual é a diferença entre um grupo de nativos negros esquartejando um missionário branco e uma turba de brancos linchando um negro desprotegido?

             Com uma grande cruz:

             Os feriados pagos, o trabalho, o seguro no desemprego, nada disso lhe diz respeito. Ele é de outro mundo, vai mais além do que nós, simplesmente para afirmar que a nossa vida não lhe interessa.

              Ao fazê-lo exprime a sua oposição constante a um modo de vida, uma civilização que a todos os níveis lhe inspira náuseas.

              Prossegue logo, mas aí acaba a cruz em X e há um traço até ao fim do trecho antes da música:

              Ele tem a constante preocupação de exprimir o seu profundo desacordo com uma civilização que apenas considera o indivíduo em função do seu poder de compra, e portanto de consumo.

              O beatnik, puro produto duma sociedade super-desenvolvida, não gosta desta civilização ao ponto de querer modificá-la radicalmente e de fazer tremer as bases do novo continente. A sua ambição limita-se a exigir uma sensível modificação das estruturas sociais, com o único objectivo de permitir a expressão dos seus próprios valores no quadro de uma civilização industrial.

               E mais adiante, num risco mais fraco a circundar:

               Organizados segundo uma forma tribal copiada dos Indios em ‘comunas rurais’, os hippies reaprendem a viver em sociedade, mas fora das leis que regem a sociedade oficial americana. Assim nasceram quarenta aldeias do Canadá ao México, ao longo dos Estados Unidos; os membros da tribo cultivam as hortas, trabalham a madeira, entregam-se à serigrafia, fabricam objectos, redigem e compõem  magazines.

                Os diggers fornecem gratuitamente alojamento e alimentação aos adeptos desendinheirados de São Francisco, Los Angeles, Greenwich Village e Boston. Na Costa Oeste, a cooperativa Hip Job, onde estão inscritos 6 000 hippies desempregados, esforça-se por não competir com o Halb (serviços jurídicos de Haight-Ashbury) que se propõe ir em socorro dos drogados.

     Tenho a sensação de que está a tirar-me um pedaço da pele e dá ainda mais raiva porque ri. O primeiro corte. Poderia fazê-lo longe, numa sala da direcção ou noutro lugar qualquer, não ao meu lado, com a minha caneta, a pôr-me a mão no ombro...

25 antes durante depois ..............

             revoluciomnibus.com  II  Terra da Dama Electroacústica  10         James Anhanguera

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