Entre os programinhas que faço na RU em pouco tempo decido dar uma de Eric e lanço um mais à minha imagem e semelhança – Écloga, de início para transmitir o sentimento de bonomia e bucolismo em que baseio a minha atitude de partida para cada dia (o resto se verá), com o apoio bibliográfico de April e música a calhar, ‘clássica’ ou rock tipo acid, folk ou country. Num ‘apontamento’ um Kerouac, noutro, trecho do Cântico dos Cânticos, noutro um protesto manso contra a reacção das pessoas ao meu cabelo ‘revoltado’, noutro até Samuel Usque em Saudações às Atribulações de Israel.

            Daí parto para o sociologismo e, numa tirada inédita em Portugal, desato a tentar difundir ideias da contracultura. O passo é mais longo que as pernas, sobretudo pelas limitações do meio.

Liberdade de reunião - zero, mas nos nichos giza-se a contestação numa ou noutra faculdade e célula clandestina. Não tenho nem perfeita consciência do que se deve ou não dizer, calar ou insinuar nas entrelinhas. E como que inconscientemente começo a ‘chutar’ ideias.

Numa tarde, um técnico lembra-se, vai ao arquivo e mostra uma gravação de uma das raríssimas transmissões em directo durante as breves emissões da RU, em que se me revela em pleno até onde pode chegar o poder da metáfora. Trata-se de um jogo de râguebi CDUL-Direito em plena campanha grevista Direito 69 e Adelino Gomes, que nunca foi de ir à bola, relata-o como se fosse uma extensão do prélio político-estudantil entre a Reitoria da Universidade de Lisboa (o regime) e a associação de estudantes da sua Faculdade de Direito (a oposição).