revoluciomnibus.com | James Anhanguera | : ERa Uma Vez A RevolUÇÃo. ...I I | TERRA DA DAMA ELECTROACÚSTICA | CENSURA |
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O meu pretoguês causa assombro, não raro peguntam-me mas o que é que estás praí a dizer quando carrego no sotaque de pivete carioca tipo é mêmo e falo com erres de brônquios acatarrados e ésses arrastados em chiados. Logo me apercebo que se a minha é a de ser disc jockey tenho de aprender a roçar a língua na das alfacinhas, quase sem excepção pequeninas como as melhores sardinhas. E como é difícil. Não s’rá m’lhorrr desistir de vez, ou s’rá m’lhor insistire? Chiados de tês e dês ‘dançam’, ficam o tê e o dê ‘à inglesa’ ou ‘à francesa’ numa salganhada em que pululam expressões mal pronunciadas por vício de uma vida a falar o português coloquial errado de todo o brasileiro médio, como quando digo ‘compania’. Não tenho a voz colocada e empostada mas isso aprende-se. O tom de voz é meloso e suave, mas ainda não perdi a mania de emiti-la em falsete, e preciso de pensar duas vezes antes de empostá-la. Mas a pronúncia abrasileirada de português forçado, além do nervosismo, são decisivos e sou reprovado na prova de voz, um duro golpe na minha repentina pretensão de tornar-me disc jockey, ou deejei, e que me força a ter de optar por um curso de montagem musical. Três pratos de giradiscos para treinar, primeiro firmeza na mão e nos dedos para segurar as bolachinhas de 45, as bolachas maiores de 78 e os bolachões de 33 rpm enquanto o prato gira, para não alterar a velocidade, com especial cuidado pelo facto de, em função do uso, os orifícios centrais das bolachas poderem estar arreganhados e não fazê-las tremer, produzindo ruídos quando o potenciómetro está aberto, pronto para o acetato ser disparado com o som a todo o volume. Aprender a fazer fade-ins e fade-outs. Misturar sons a brincar com tonalidades similares ou antagónicas ou os compassos de uma ou outra música. Passo com louvor na prova final e num piscar de olhos sou chefe dos Serviços Musicais e de Montagem, com direito à realização de programas diários e semanais. ‘Twixt the turntables pulling the triggers on the forty-fives and thirty-threes and seventy-eights. O ambiente do dia-a-dia, entre técnicos, locutores e sonorizadores, estudantes e ex-estudantes, é de escola de adolescentes com tutor, o diplomata Álvaro Gonçalves Pereira, Director de Produção que faz os papeis de manter a ordem na casa e de censor. Só se improvisa na apresentação de discos. Tudo o mais é escrito e submetido à censura prévia interna. |
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