revoluciomnibus.com  James Anhanguera : ERa Uma Vez A RevolUÇÃão. ...I I     TERRA DA DAMA ELECTROACÚSTICA   radio DAYS III

Sempre que posso sintonizo o meu velho Crown que agora tem um elástico a segurar a tampa na Radio Luxembourg quando ela é captável em Lisboa, às vezes já a partir das quatro da tarde, quando a sintonia é muito melhor mas quase intolerável, porque toda a emissão até o Kid Jensen Show, à meia-noite, é perfeitamente dispensável. Mas sempre fico a par do lixo pop e de alguma coisa melhorzita que se produz. Alterno Luxemburgo com a Radio Nord See International, a Rádio Renascença, o RCP-FM e muita onda curta. Em longas noites sombrias sintonizo as secções portuguesa e brasileira da BBC e de quando em vez as Rádios Albânia e Portugal Livre, sempre a magicar em clima de 1984 se a Pide terá de facto hipotéticas unidades móveis de que captaria os comprimentos de onda sintonizados por aparelhos domésticos, como se chega a especular.

Rádio, um meio muito quente. Quem alguma vez ouviu-viu um bom programa, mesmo só com músicas coladas umas às outras, sabe de todo o potencial, toda a carga de adrenalina que pode produzir. A única verdadeira companhia de um cão solitário, além de um bom livro. E que, como um livro quando se o lê, transmite imagens que se imagina enquanto se ouve. Com a vantagem sobre o livro de ter som, podendo ser um filme sem imagens. Cujas imagens são produzidas em conjunto por quem a faz e o ouvinte. American Graffiti dixit. Wolfman Jack chega a operar milagres.

Deu até para refazer em filme a montagem radiofónica de Orson Welles de A Guerra dos Mundos na CBS, em 1938, tão bem engendrada e realizada que causou a estrondosa repercussão do que seria um dos maiores scoops de reportagem da história dos então nascentes mass media. Um projecto inconcebível em qualquer outro meio. Ninguém pode ser convocado para o fim do mundo, uma invasão de marcianos. American Graffiti mostra a influência que sons emitidos por um lobo solitário de uma saleta, rodeado de botões, sob uma luz ténue e face a um microfone pode exercer sobre toda uma comunidade. Como disse Robert Bresson,

Ao ouvir-se um ruído, recria-se uma cena. Ao ouvir um silvo de locomotiva, vê-se logo uma gare. Mas quando se vê uma locomotiva não se ouve o respectivo silvo. Creio que o ouvido é muito mais criador do que a vista. No entanto a vista também é inventiva, mas não no âmbito dos sons, ao passo que os sons podem ter um poder inventivo no âmbito da imagem. E por mim não hesito um segundo sequer. Se posso substituir um décor por um som, prefiro o som... E daí a vantagem de dar livre curso à imaginação do público e de chegar a esse resultado tão difícil que é não mostrar as coisas mas sugeri-las. É preciso estar ciente de que as imagens que se vê no écran não são da mesma natureza que a Natureza ao passo que os sons são da mesma natureza. Aquilo que o écran nos dá como sons é da natureza do som ao passo que a imagem não é da natureza da Natureza.

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