revoluciomnibus.com  James Anhanguera:Era Uma Vez A Revolução  V Era Uma Vez a VAGABUNDAGEM  TAVARES POBRE 

Os jornais nacionalizados começam a deixar de sair e o pessoal a ficar sem emprego às vezes aos magotes. Uns vão para as ex-colónias dar aulas em cursos de formação. Alguns desocupados renitentes em aceitar o único novo emprego à vista, a antiga Agência Nacional de Informação (ANI), ocupam um moinho abandonado em Armação de Pera, onde vivem em regime de comuna, pelo qual o que é de um é de todos menos as mulheres e os homens, e inclusive o óleo de haxixe que por dias seguidos é quase o único ‘alimento’ da maralha, que ainda encontra energia para jogar futebol como veio ao mundo na bela praia deserta de se onde se divisa de um lado Albufeira muito ao fundo e do outro a Peninha. Quem lá chega é depenado e imediatamente reduzido à condição do grupo. Vão em bando ‘assaltar’ cozinhas de malta conhecida hospedada na região.

O bando do moinho a marchar sobre Pera como o de Falsche Bewegung (Falso Movimento ou Movimento em Falso) de Wenders, só que sem The Troggs nos ouvidos e muito menos roupa,  para ver Carlos Lopes correr os dez mil metros nos Jogos Olímpicos. Acaba a Era Eusébio e Agostinho. Portugal afinal também dá baile em modalidades desportivas de elite, possível prenúncio de uma nova era de realizações, como soe dizer-se.

         A conjuntura de dois anos de reboliço produz um fenómeno curioso. Com a perda da clientela, quase toda no Brasil ou em Luxemburgo, o Tavares cindiu-se em dois, o Rico, embaixo, e o Pobre, em cima, só aberto à hora do almoço e a que petits comités fazem visitas regulares sem se preocupar sequer com a qualidade da comida, mas como para fumar um charro, no caso com formato de garrafas de um Banzão Tinto de 1955, da mesma idade de Ivan e Afonso, e que se mata a aspirar os eflúveos de maravilhosos aromas florais e frutíferos, cujo efeito é como o de um bom fumo do Atlas, como se constata uma vez quando depois vai-se ver Lolita. É um outro tipo de abordagem de Sintra, agora pelos vinhos de chão de areia da Adega Cooperativa de Colares, que também vai mal das pernas e está a desfazer-se da garrafeira e vende directamente ao público um de 62 a sessenta paus a garrafa. Faço um retiro no Banzão e constato que o próprio vinho corrente de uma tasca sobre a estrada é de grito.

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