revoluciomnibus.com  James Anhanguera Era Uma Vez A RevolUÇÃo  ...V DROGA LOUCURA E VAGABUNDAGEM EM MANQUE

       Em ritmo lento e estilo ondulante chegamos a Coimbra, onde passamos duas noites em casas de amigos de Paulinho e após um desvio por Tomar acabamos por entrar em Lisboa em pleno recolher obrigatório. Estou de mudança para a casa de Paula, uma hospedeira da TAP que conheci no Vavá e que nos primeiros meses de Lisboa abastecia-me com peças de roupa da feira hippie de Ipanema e exemplares da melhor ‘imprensa alternativa’ brasileira. Com medo de ser pego pela tropa Paulinho deixa-me na Ave de Roma, a uns 200 metros do apartamento junto à via férrea onde pernoitaria pela primeira vez. Shlap-shlotoc, shlap-shlotoc, fazem as minhas novas socas de madeira compradas em Viseu que ainda não mandei revestir com sola de borracha e ao caminhar, ainda que com o maior cuidado para não fazer demasiado barulho e marar, não podendo também andar pé ante pé para abreviar o risco de ser apanhado pelo inimigo, parece que estou a montar centenas de takes de sons de claquete em ritmo compassado e síncopes regulares. Chego ao intercomunicador sem condições de falar alto e mal tenho fôlego para dar a senha. Quando entro a amiga está no quarto sobre um supercolchão a falar com alguém ao telefone. Falar não é o termo. A voz é quase inaudível e o corpo é sacudido por convulsões, está inquieta, muda o tempo todo de posição, às vezes soluça e funga, funga e soluça, ainda interrompe a conversa e aos tropeços e com a língua entramelada indica-me o meu quarto, mas puxa-me pela mão e diz-me para sentar-me ali mesmo, na cama, volta a pegar o telefone e desata num pranto descontrolado, custa-me a entender, logo me ocorre que a chavala deve estar mas é em manque, cold turkey, abstinência de herôa ou coisa que o valha e a sentir-me literalmente contra a parede, se fico uma noite será mais difícil dizer depois que não fico a dividir a casa, conheço-me o suficiente para saber que quando chegar a hora de basar já estarei envolvido no drama e não terei como desembaraçar-me, portanto por um lado não posso cubar aqui, por outro não posso sair rua fora antes das seis da matina e são só três, deixo-me estar por ali mesmo com a cabeça apoiada ao colchão a fingir que durmo até que durmo e quando acordo a outra está adormecida ou morta, não sei bem, com a mão perto do bocal do telefone, que continua fora do gancho, saio sem pô-lo no lugar e sem sequer ajeitar os caracóis para nunca mais.

  25 antes durante depois ..............

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