Mergulho de cabeça na concepção, escrita, produção e sonorização de programinhas de quinze minutos, porque as emissões são muito curtas. Meu lugar não é aqui. Lisboa é a alternativa mais viável e mais próxima a Londres, onde não poderia sobreviver só a lavar pratas. A ver com calma se há meios de voltar com o mínimo.

 A nova e vibrante actividade alivia um pouco a angústia e os engulhos que me assaltam desde a chegada. Quem sabe Lisboa não há de ser melhor do que se pensa, dizia Jimi. Não é, escrevo-lhe, e parece-me ainda mais incaracterística e feia vista das avenidas novas. Soa melhor do Miradouro da Senhora do Monte, a que me levaram um dia após a chegada para ter uma ideia de como é do alto, e de facto aqui ao menos os horizontes são bem amplos, não atarracados e simplórios como os de lá de baixo, onde a cidade parece mais velha que antiga, muito suja e pobre. Não conheço ninguém da minha idade fora da RU. Tudo parece... foleiro, piroso, retrógrado, atrasado. Como a quase inexistência de grandes anúncios luminosos, que aos meus olhos quase infantis tornam a noite lisboeta ainda mais soturna.

Não que o país esteja totalmente isolado do resto do mundo - ainda não chegámos à Albânia. Ao contrário, na falta de noticiário interno, porque as notícias das guerras nas colónias, de que nem me apercebo, são censuradas e além dela só é dado ler sobre um famoso processo judicial que se arrasta há anos com um belo nome de policial, o Caso Sommer, e de que não percebo patavina porque as notícias parecem em linguagem cifrada, ou os corta-fitas do presidente gagá almirante Américo Thomaz, os jornais publicam tudo o que podem de noticiário do estrangeiro e exclusivos de jornais e revistas ingleses e franceses.