Limite, claro, era a re’nar, e talvez só o círculo restrito de produtores e realizadores do programa pensasse que o título quisesse dizer precisamente aquilo.

     Acabam-se as limitações. Acaba o mais longo regime ditatorial do século.

     Acabam-se as limitações?!

     Como cantou o poeta de Splendor in the grass - Êxtase era estar vivo naquela aurora, mas ser jovem era o próprio paraíso!

     António-Pedro Vasconcelos cita em epígrafe da sua singela homenagem à nouvelle vague, Perdidos Por Cem, uma frase de efeito de Paul Nizan: Eu tinha 20 anos e ninguém pode dizer que é a melhor idade das nossas vidas. Também pode.

     O chefe já lá está e com ele o homem do noticiário nacional, de serviço esta manhã. As informações são poucas. O chefe apurou que as tropas ocuparam o Rádio Clube Português e há grande movimento no RAL 1, lá perto. Tanques de tropas rebeldes e leais ao governo estariam face a face na Rua do Arsenal. Os insurrectos só encontram alguma resistência perto dos ministérios, no Terreiro do Paço. A primeira ordem interna na RR é a de não dar nada enquanto não houver autorização da gerência. O RCP continua a transmitir a gravação do comunicado lido por Joaquim Furtado, entre marchas militares e Grândola, o sinal mais concreto – para lá do comunicado do MFA – de que a perspectiva é de reviralho, porque ninguém iria recorrer a Zeca em vão.

     O repórter nacional decide apanhar o carro de reportagem, até aqui quase sem serventia, e ir até Caxias. Sem nada para fazer acompanho-o. Nenhuma movimentação no forte. Voltamos à redacção. Passa das dez. A programação segue a grelha normal, no ar Enquanto For Bom Dia. Até que de repente o gerente da rádio, Padre Américo, entra esbaforido na área dos estúdios e corre como pode pelo pequeno corredor a gritar: Tirem isso do ar! Tirem isso do ar!

     No ar um anúncio de um filme em cartaz no Cinema Tivoli, The Sting, em que o locutor recomenda:

     Não perca! A GOL-PA-DA! Um filme com Paul Newman e Robert Redford.