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CLANDESTINIDADE: NOTAS DO SUBTERRÂNEO- coligidas a partir da correspondência de Edgar Lessa, em Lisboa, com Jimi Sawyer, em Londres, entre Novembro de 1971 e Outubro de 1972, como as das secções seguintes Logo sou posto a par de que o suplemento dominical do Diário de Lisboa vai fechar porque o jornal passa por uma remodelação para se adaptar à nova forma de impressão, o offset. O DL é o primeiro jornal português a deixar a era do chumbo. Retomo a rotina na RU, onde de quando em vez lá se faz um ou outro programinha de dar ‘um gozo do caraças’ mas que dá também a sensação de fim de um ciclo e de que é hora de dar o salto para a ‘rádio comercial’, embora não haja ponta por onde se lhe pegue.
No regresso não de todo contra a vontade mas ainda a contragosto revejo Easy Rider no São Luís. Born to be Wild, The Pusher, dos Steppenwolf, If 6 Was 9, de Hendrix – ao menos uma ganda banda sonora num remake dos grandes clássicos, uma crónica romanceada dos humores de uma era, um western moderno ao longo das Autoestradas 61. Os protagonistas andam desarmados e a sua ética aponta exactamente no sentido oposto à dos foras-da-lei/outlaws, pistoleiros/gunmen, como a dos protagonistas de Shane e Johnny Guitar. Como os antiheróis de Stevens e Nick Ray onde chegam provocam repulsa à população, motos, roupas, cabelos compridos e drogas são as suas armas. Sabe-se por relatos da imprensa importada que essas cenas são o pão nosso de cada dia nos States profundos, a liberdade instintiva de Wyatt Earp e Billy cutuca com vara curta o fanatismo anti-sexual e a recusa sistemática de toda a manifestação do prazer instintivo dos puritanos da Nova Inglaterra e seus sucedâneos que exterminaram o ser natural e dizimaram a natureza selvagem do Novo Mundo, ao denunciar a sexualidade reprimida que gera fenómenos como Bonnie & Clyde e My Lai, o fumo a manter um aparente equilíbrio e placidez nos antiheróis, ainda não é muito claro sobretudo quando se tem de buscar informação séria sobre o assunto em fontes tão distantes como a revista Ramparts, de Palo Alto, Califórnia, que é o próprio Sistema, através dos seus ramos mais extremados, como a Máfia e inclusive as Forças Armadas, que manipula o comércio das drogas pesadas, de que eles também estão municiados, e que serviriam nomeadamente para neutralizar o potencial de revolta dos oprimidos (No hope in dope, nenhuma esperança nas drogas, dizem os activistas do Black Panther Party, que parecem até tão reaccionários como os que combatem, mas dizem que a CIA foi encarregada de espalhar heroína nos guetos para aplacar a sua raiva), e alço-me com as luzes do luxuoso cine-teatro a acender com vontade de chutar a poltrona da frente e a dizer com Peter Fonda antes de marar: shit man, we blew it... We’re fucked, man! – e entre os visados como inimigos, porque acólitos inconscientes do Sistema, estão os próprios colegas que pensam e agem como os porcos chóvinistas do interior americano, tão retrógrado como aqui. Aqui ou lá dá no mesmo, créditos finais: All he wanted was to be free and that’s the way it turned out to be, go river go where I wanna be – Ballad of Easy Rider pelo the Byrds. |
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