revoluciomnibus.com  James   Anhanguera : ERa   Uma    Vez   A    RevolUÇÃão. ...I I     TERRA DA DAMA ELECTROACÚSTICA   RECALCAMENTO

Bela vista da régie técnica do estúdio da Editora Valentim de Carvalho, em Paço d’Arcos, para uma pequena planície verde, mas os próprios técnicos ficam de costas para o grande vidro-aquário e de onde os músicos gravam não se vê um corno. Na Rua D. Estefânia, em Benfica, numa cidadezinha da Pensilvânia, em Memphis ou em Tóquio, dá no mesmo: palavras, sons e do outro lado ouvintes – nem isso, nada além de uma hipótese de multidão a ouvir. A solidão de The Wolfman em American Graffiti, na grande noite americana. Coisa interessante é como uma estaçãozinha tão limitada que nem emissores próprios tem pode projectar-se muito além da bufa, em padrões não-comerciais, estilo experimental, rádio comunitária, quase pirata apesar de tudo.

A minha ideia é fazer um programinha em que se explica como se grava um disco, da composição à mistura final de sons. Não tenho sorte com a música, Ode aos Beatles, de José Cid e Tó Zé Quina, que a gravam com o Quarteto 1111. Recolho sons com o UHER, a montagem da coisa dá um trabalhão maior que a mixagem da canção. A experiência é válida sobretudo para reflectir sobre a diferença de meios e de atitude de princípio entre rockers ingleses, por exemplo, e portugueses – mesmo da estatura do grupo de maior sucesso em Portugal: o seu baterista ainda trabalha como comissário de bordo da TAP.

 

O recalcamento está incrustado na população há várias gerações, há entre os mais velhos quem ainda viveu sob democracia na primeira juventude. O branco véu da saudade cobre o teu rosto linda princesa, olhaaaiii senhores, esta Lisboa doutras eras... Há tempos também de que é melhor nem ter saudade. Vale a pena viver na trincheira, nos subterrâneos de um sonho de liberdade e sem poder sequer imaginar como seria, se fosse possível? Uma realidade penosa e um imaginário de sonhos. E de pesadelos. Gente que vê a vida a pastar na pasmaceira, sem meios de expressão. Quase sem forma de expressão porque a ditadura repele tudo o que parta de uma outra ideia. Vejo a clara demarcação, que inclui também ideias da chamada contracultura de contestação já não só deste poder discricionário específico mas de todo o tipo, corporativo, burocrático e tecnocrático, feitas substância as ideias que absorvo de jornais como o Rolling Stone e de livros que trouxe de Londres, como The Greening of America e The Making of a Counter-Culture, de dois académicos americanos, mais John Peel. Ideias do underground anglo-americano são também refutadas por princípio e sem contestação como uma nova forma de sub(no sentido de baixa)cultura de massas, embora também falem de um mundo ideal impossível, pela vacuidade mesma da(s) proposta(s). Sagração da Primavera, Kerouac, beat e Zoo Humano.

25 antes durante depois

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