revoluciomnibus.com  James Anhanguera:Era Uma Vez A Revolução VII Era Uma Vez as revoluções  SAUDADES

 

Well do they know what it’s like          E saberão eles o que é   

      To have a graveyard for a friend       Ter um cemitério por amigo

           ‘Cause you know                           Porque como bem sabes, pá

That´s where they are, boy         É lá que eles estão

               all of them                        todos eles

 

             Talking Old Soldiers                    Velhos Soldados ao Cavaco

   Elton John-Bernie Taupin

 

- Lembras-te daquele bilhete que António Castro mandou-me por Ivan quatro anos antes de morrer?

       Tenho saudades das nossas deambulações e ‘filosofias’ tão inocentes quanto perigosas.

       Tempos alegres e amargos e um tanto absurdos quando cada palavra valia um tiro; cada frase certeira desmoronava mais um tijolo de um custoso muro.

       E havia a noite. E uma poética. E uma mansa boémia. E a ‘liberdade a passar’ por ali, quase quase.

       Um abraço muito amigo do amigo de inesquecíveis tempos e lugares.

      ... Até os mortos têm saudades. E a ocarina lá ressoa por mais um morto morrido ou suicidado. Os meus não acreditavam em Deus, Marx, Pátria ou Autoridade e portanto no Estado, mas também já não eram ingénuos a ponto de acreditar numa sociedade alternativa como se acredita em histórias da carochinha. Viva a revolução sexual, perderam a virgindade muito cedo. Também, pudera; começavam a ver – o jogo mais às claras de toda a transitoriedade após um ano e meio de “período revolucionário em curso” – as consequências da volúpia do poder e o que ela implica em pequenas grandes cumplicidades, concussão e corrupção à la gardère. Niilistas da forma mais absoluta, que pareciam acreditar apenas em Arte. Num sentido amplo: de representar, filmar, desenhar, escrever, construir um objecto artesanal ou industrial, como uma canção, ou tudo aquilo que se entende como tal, mas também de cozinhar, plantar e colher bons frutos e fabricar vinho ou aguardente da boa, de óptima, excelente qualidade. Tinham princípios? Talvez tivessem apenas e só vocação para vagabundos. Ou será que não? Que depois de lhes terem buzinado tanto nos ouvidos a ideia de revolução tenham sido guindados ao anarquismo, ou seja, a acreditar apenas na capacidade humana de criar e reproduzir? E o resto que se dane, pois que o resto, grana, moral, poder, produz apenas isso que se vê por aí. 

     Nem todos acabaram mal, pelo contrário, só a pequena média normal em qualquer grupo. Os que entre umas e outras nunca se adaptaram porque não quiseram ou não tiveram capacidade para superar as próprias crises ou superar as da era das crises, conjuntura crítica em que, após a Golden Age, o mundo submergia. Quase nenhum não envileceu o suficiente para saber que o que então era loucura hoje o é ainda mais, com ou sem grades e muros ou hospícios. Há outras formas de controle. E muito maior aquiescência, complacência, resignação de asno.

      Enquanto crescíamos havia muita gente que acreditava que ainda haveria de viver num mundo totalmente diferente. Hoje em dia parece que tudo aquilo sequer existiu.

      Quem jamais ousará de novo acreditar na regeneração da humanidade? 

  25 antes durante depois

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