um cibercordel

 

     revoluciomnibus.com  OU A POÉTICA DA LUZ DO SERTÃO

 

  ciberzine   & narrativas de james anhanguera

                                

    

     A REVOLTA DE JUAZEIRO

                   ou A REVOLUÇÃO DOS BEATOS

      No Pátio dos Milagres do Padim Ciço

   

          BRASIL - CANUDOS NO TENDÃO DOS MILAGRES X O AMULETO DE OGUM 

              O GRANDE CIRCO MÍSTICO

                      

A RELIGIOSIDADE N'OS SERTÕES ATÉ 1901

        E A RELIGIOSIDADE N'OS SERTÕES DESDE ENTÃO A HOJE

grandes sertões: cidades, periferias    grandes sertões: favelas  

 

uma viagem pel'Os Sertões de Euclides da Cunha desperta a reflexão sobre a religiosidade sertaneja dos "sertões do norte" e a religiosidade brasileira. O Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade no grande circo ou teratendão

                                                  

               uma série revoluciomnibus.com que inclui

                                                                                   

 

                 Os Sertões               Euclides da Cunha & Os Sertões

                   O triste e belo fim de Joana Imaginária & Antônio Conselheiro

 Canudos Hoje: Tendão dos Milagres X O Amuleto de Ogum   

  TRISTERESINA  

      BANGUE-BANGUE

      NA  TERRA DO SOL

 

           

           duna 

   do pôr do sol

Coriscos & Dadás Lampiões &  Marias Bonitas

  Até calango pede sombra  

 

GLAUBER ROCHA OU A POÉTICA DA LUZ DO SERTÃO NO CINEMA NOVO BRASILEIRO  

 

A INDÚSTRIA 

DA SECA

 

No Pátio dos Milagres do Padim Ciço

O triste e belo fim de Joana Imaginária & Antônio Conselheiro

INDISSECA

   índice remissivo

 

                            

                     cibercordel

          DO  MAIOR VIVEIRO CULTURAL  

                            DO BRASIL E UMA DAS REGIÕES   

                             MAIS    POBRES    DO       MUNDO 

                             HISTÓRIA       GEOGRAFIA        E

                             CULTURA    MÁGICA     MÍSTICA

                             MÍTICA              &           TRÁGICA

 

          

 

 

    A REVOLTA DE JUAZEIRO ou

A REVOLUÇÃO DOS BEATOS

      No Pátio dos Milagres do Padim Ciço   

 

     Conselheiro e Cícero fenômenos contemporâneos

    Enquanto o Conselheiro morre em Belo Monte, seco e exangue como um preá em estiagem prolongada, a mais de mil quilômetros dali, em Juazeiro do Norte, no grotão dos sertões do Cariri, uma outra lenda milagreira nasce, de forma diferente.

 

  A vida aqui só é ruim quando num chove no chão

  Mas se chuvê dá di tudo fartura tem de porção

  Tomara que chova logo, tomara meu Deus tomara

  Só deixo o meu Cariri no último pau-de-arara

 

    O Padre Cícero Romão Batista é de uma outra extirpe de santo – não um beato alucinado que vive de cajado na mão percorrendo o sertão em procissão com um monte de gente cantando em descante cantorias de benditos e ladainhas sob bandeiras do Divino.

    Suas procissões se circunscrevem à paróquia e ao seu Pátio dos Milagres, a que afluem romeiros do Cariri e outras áreas flageladas do Nordeste, concedendo-lhes a graça de assomar à varanda, dar a benção e rezar um terço.

    O poder conquistado junto às massas com a fama de santo milagreiro numa época de secas prolongadas – como a de 1915 a que se reporta o romance O Quinze de Rachel de Queiroz – traduz-se num enorme capital político que lhe permite exercer poder de coronel à velha maneira sobre toda a província, a ponto de pelas armas destituir o próprio governador.  

   Notícia do Padre Cícero por Euclides da Cunha em Os Sertões (1901) 

o astuto e temerário Euclides da Cunha não titubeia:

Em Joazeiro, no Ceará, um heresiarca sinistro, o padre Cícero, conglobava multidões de novos cismáticos em prol do Conselheiro. (...) Em Minas, um quadrilheiro desempenado, João Brandão, destroçava escoltas e embrenhava-se no alto sertão do S. Francisco, tangendo cargueiros ajoujados de espingardas.

     A aura da loucura soprava também pelas bandas do sul: o Monge do Paraná, por sua vez, aparecia nessa concorrência extravagante para a história e para os hospícios. 

Em seu ímpeto repressor, na verdade, a autoridade eclesiástica aliava-se à aflição dos coroneis do sertão, que se viam ameaçados duplamente no poder econômico e no poder político. Estudiosos contemporâneos, como o brasilianista americano Ralph Della Cava, demonstraram como o Conselheiro, e também o padre Cícero, no Ceará, na mesma época, drenavam a mão-de-obra das fazendas, ao mesmo tempo [em] que retiravam da influência dos chefetes os votos de cabresto que lhe garantiam o controle dos instrumentos do Estado.

   Notícia da religiosidade sertaneja por Euclides da Cunha em Os Sertões (1901) 

[103] Transpõem o S. Francisco; mergulham nos gerais enormes do ocidente, vastos planaltos indefinidos em que se confundem as bacias daquele e do Tocantins em alagados de onde partem os rios (...) Com os escassos recursos das próprias observações 

dA SECA

e das dos 

[104] seus maiores, em que os ensinamentos práticos se misturam a extravagantes crendices, tem procurado estudar o mal, para o conhecer, suportar e suplantar.

[105]                   INSULAMENTO NO DESERTO     

RELIGIÃO

O seu primeiro amparo é a fé religiosa. Sobraçando os santos milagreiros, os próprios velhos combalidos e enfermos claudicantes, carregando aos ombros e à cabeça as pedras dos caminhos, mudando os santos de uns para outros lugares. Ecoam largos dias, monótonas, pelos ermos, por onde passam as lentas procissões propiciatórias, as ladainhas tristes. Rebrilham longas noites nas chapadas, pervagantes, as velas dos penitentes... 

                            MAIS LENDAS   

[Antönio Conselheiro] Fundou o arraial de Bom Jesus (...) 

(...) chegou a Monte-Santo e determinou que se fizesse uma procissão pela montanha acima, até a última capela, no alto. 

o narrador diz ter tido descrição de "pessoas que se não haviam deixado fanatizar" que no fim do préstito

[137] Duas lágrimas sangrentas rolam, vagarosamente, no rosto imaculado da Virgem Santíssima...

 

14 – Nordeste, de Gilberto Freyre: O ambiente viciado pelo sado-masoquismo da civilização escravocrata era favorável à eclosão de santos em que rebentassem reações vicárias à sensualidade bruta do meio e protestos ao abuso do fraco pelo poderoso, da mulher pelo homem, do menino pelo adulto.

A mesma ilação da mesma perspectiva por outras palavras: José Lins do Rego mostrou em seus romances como já no século 20 o chefe e senhor continua a mandar de baraço e cutelo, na família, nos aderentes, nos eleitores. Por isso precisou muitas vezes de uma força acima da lei para impor-se e dominar sem limites.

 

O monoteísmo incompreendido e a sensualidade em bruto produz transes em que não se distingue fronteiras e recendem a paganismo 

      A PEDRA DO REINO, PEDRA BONITA OU PEDRA ENCANTADA

de Os Sertões de Euclides da Cunha

  

    CARÁTER VARIÁVEL DA RELIGIOSIDADE SERTANEJA     

     Estes estigmas atávicos tiveram, entre nós, favoráveis, as reações do meio, determinando psicologia especial.

É uma variável dependente no jogar dos elementos. Da consciência da fraqueza para os debelar Em paragens mais benéficas a necessidade de uma tutela sobrenatural não seria tão imperiosa.

É que, mesmo em períodos normais, a sua religião é indefinida e vária. Da mesma forma que os negros Haussás, adaptando à liturgia todo o ritual iorubano, realizam o fato anômalo, mas vulgar mesmo na capital da Bahia, de seguirem para as solenidades da Igreja por ordem dos feitiços, os sertanejos, herdeiros infelizes de vícios seculares, saem das missas consagradas para ágapes selvagens de candomblés africanos ou poracês do tupi. 

[donde talvez o pasto para evangelizadores puritano-protestantes?] [a sanha e o argumento]

[111]                          A "PEDRA BONITA"      

     As agitações sertanejas, do Maranhão à Bahia, não tiveram ainda um historiador.

Pageú, em Pernambuco, (...) na serra Talhada, dominando majestosa, toda a região em torno e convergindo em largo anfiteatro acessível apenas por estreita garganta, entre muralhas a pique. No âmbito daquele, como púlpito gigantesco, ergue-se um bloco solitário - a Pedra Bonita.

em 1837, teatro de cenas que recordam as sinistras solenidades religiosas dos Achantis. Um mamaluco ou cafuz, um iluminado, ali congregou toda a população dos sítios convizinhos e, engrimpando-se à pedra, anunciava, convicto, o próximo advento do reino encantando do rei D. Sebastião. Quebrada a pedra, a que subira, não a pancadas de marreta, mas pela ação miraculosa do sangue das crianças, esparzido sobre ela 

[112] em holocausto, o grande rei irromperia envolto de sua guarda fulgurante, castigando, inexorável, a Humanidade ingrata, mas cumulando de riquezas os que houvessem contribuído para o desencanto.  

A alma de um matuto é inerte ante as influências que a agitam. De acordo com estas pode ir da extrema brutalidade ao máximo devotamento.

impressionante capacidade de resistência   Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1972) – único romance , de Ariano Suassuna, Filho de João Pessoa (Suassuna), que tem entre os pilares de sua obra a saga de Euclides da Cunha.

Fronteiras

Estruturas sociais e messianismo mantêm acesa a chama da luta de Antônio Conselheiro

Pedra do Reino, no município de Vila Bela, Pernambuco 

Ariano Suassuna lidera cavalgada à Pedra do Reino em junho de 1995

No sertão de Pernambuco, cenário de um sangrento episódio de fanatismo

Cavalgada rememora massacre do século XIX

400 cavaleiros vindos de várias regiões de Pernambuco, Ceará e Paraíba para rememorar um dos mais obscuros e espantosos episódios de fanatismo religioso no Brasil em que morreram pelo menos 83 pessoas

Ao pé de uma das mais belas formações rochosas do Nordeste , como a descreve o cronista d'Os Sertões

Segundo documentos oficiais e a tradição oral sertaneja entre 1836 e 1838 uma seita de fanáticos proclamou um REINO ENCANTADO e viveu três dias de transe místico em que houve SACRIFÍCIO DE 53 CRIANÇAS, VELHOS E MULHERES VIRGENS ordenados pelos líderes da seita para que ‘sangue de inocentes’ banhasse a Pedra e fizesse ressuscitar d. Sebastião, que morreu na batalha de Alcacer Quibir em 1578 e voltaria para transformar o sertão nordestino num paraíso.

O REINO FOI DIZIMADO pela Força Pública da então província de Pernambuco que acabou com o massacre promovendo outro.

Tropas apoiadas por grupos armados de fazendeiros mataram 29 fanáticos e sobreviventes foram enviados para Fernando de Noronha.

A cavalgada foi promovida pela Sociedade Cultural Pedra do Reino com sede em São José do Belmonte, a 480 km de Recife, Município vizinho de Serra Talhada 

 

Por um outro prisma da mesma ótica ainda, como documentado em A INDÚSTRIA DA SECA, outro painel de     a partir do estudo "Da condição de pobre à de não-pobre - modelos rurais e urbanos de combate à pobreza", de Roberto Cavalcanti de Albuquerque, do Instituto Nacional de Altos Estudos (in MISÉRIA, COMO E QUEM VAI PAGAR A DÍVIDA SOCIAL? folha de são paulo 26 DE JUNHO DE 1994):

A PERSISTÊNCIA DA POBREZA RURAL DO NORDESTE NÃO SE EXPLICA APENAS PELAS DIFICULDADES IMPOSTAS PELA NATUREZA (A SECA) NEM POR RAZÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS. ENCONTRA-SE MAIS NAS CONCEPÇÕES DO MUNDO DO HOMEM: FORMAS DE PERCEPÇÃO E COMPREENSÃO MÍTICAS, TRADICIONAIS E MODERNAS, EM CONFUSO AMÁLGAMA, GERANDO EM MUITOS CASOS IMOBILISMO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E PASSIVIDADE ANTE OS DESAFIOS DA NATUREZA.  

    Por isso,

     em poucos lugares

         se pregou tanto o fim do mundo

 

Qualquer Meteorito de Bendengó (do lugar chamado Bendengó, no município de Canudos) vira facilmente ícone mítico.

 

Sem a crença em projetos estruturadores que revertam sua realidade funesta os sertanejos aferram-se às promessas de além-mundo e vêem como bálsamo as mensagens milenaristas contidas em pregações com princípios fundamentais de justiça, paz e amor, lê-se nos quase antiobituários da melhor imprensa à época da morte de Frei Damião, meio século após os estudos primordiais do monge do Solar de Apicucos e do romancista do ciclo da cana-de-açúcar.

Sobre a facilidade com que o imaginário transforma qualquer fenômeno mais incandescente em mito fala toda uma história de tradição messiânica trazida pelos portugueses e que faz com que o do regresso do mítico D. Sebastião numa manhã de nevoeiro seja até hoje quase tão forte quanto no país de origem, perpetuando-se na busca de justiça nestes quintos dos infernos em vida. 

Com tantas e tamanhas manifestações do que se poderia definir como um estado de messianismo terminal ditado pela miséria e inguinorãça não é de espantar que Glauber Rocha, como confessou, tenha sentido prazer em filmar Antônio das Mortes massacrando beatos.

Até o Século 17 a maior parte da população européia acreditava na onipresença de Deus e do Diabo no seu cotidiano. Católicos medievais viam na penitência corporal instrumento de purificação da alma.

Tais crenças e práticas incrustaram-se no subconsciente coletivo da massa flagelada do Nordeste. No limiar do século 20 o Conselheiro fazia os fiéis penitentes de Canudos carregar pedras na cabeça. Quantas não são as penitências flagelozas que os cristãos mais neoprimitivos se impõem até hoje. Por isso o ateu de formação presbiteriana Glauber/crente se insurgia com o seu misto de ironia e raiva contra os conceitos judaico-cristãos que na sua ótica estariam na origem da maior parte dos males do seu país e de vastas regiões do mundo.

Algo ainda mais difícil de engolir quando se observa a coisa do mesmo território em que quem o habitava originalmente chegou a 1500 sem se dar conta disso e sem ter noção do diabo – e do mal absoluto.

Miséria, penitência e misticismo trágico, pesado, obsessivo são ingredientes básicos e indissociáveis entre si da sociedade brasileira e mais particularmente do Nordeste. Como escreveu Bastide, Roger: No sertão a religião é tão trágica, tão machucada de espinhos, tão torturada quanto a paisagem; religião da cólera divina, num solo em que a seca encena imagens do Juízo Final.

 

 

...

 

 

 

     Aí está a mão de Deus. Recurso de pobre é esperar pela mão de Deus.

    Religiosidade extrema intacta, miséria, desesperança. Aspecto trágico, metáfora do país.

 

         Olha lá vai passando a procissão...

 

     Quantas procissões sob a Bandeira do Divino, quantos romeiros, quantos beatos zanzando pelo sertão. Ontem católicos, hoje em mil e uma igrejas protestantes. Quantos beatos na história e tantos de que se perdeu memória.

 5 – Padre-Mestre Ibiapina, homem-santo que ainda hoje tem lugar de destaque no imaginário do sertanejo – antes de Conselheiro fora alvo de perseguição da parte da hierarquia eclesiástica intolerante com manifestações de religiosidade popular.  

37 – Padre José Antônio de Maria Ibiapina, morto em 1883 aos 87 anos na Paraíba, de quem há um processo de canonização em curso no Vaticano. Ordenado aos 47 anos após ter sido advogado, juiz, deputado. Peregrinou 30 anos pelo interior nordestino construindo casas de caridade, hospitais para indigentes, açudes e abrindo poços. Nunca se aliou aos poderosos nem a políticos – Disse dele Gilberto Freyre: o maior da igreja católica brasileira do ponto de vista do catolicismo social. Para um bispo da que se chamou linha progressista ele todas as virtudes de Padre Cícero e nenhum dos defeitos

 16 – Frei Damião, um dos maiores ícones do catolicismo popular nordestino - Valei, Frei Damião, valei! Milagres, idolatria. Nordeste é Nordeste mas o grau de idolatria que despertava é estarrecedor.

     Apoiou Fernando Collor em sua candidatura à presidência em 1989 - Apoio decisivo, segundo o presidente exonerado, para neutralizar o dos católicos progressistas a Lula. Dois anos depois rezou uma missa em Maceió a pedido de Collor apesar da recomendação da Ordem dos Capuchinhos para que não o fizesse. Divulgou carta de solidariedade a Collor durante processo de impeachment em 1992.

     Pio Gianotti nasceu em 1898 na região tirolesa da Itália -  homem das montanhas geladas das contra-escarpas dos Alpes. Foi soldado e lutou na I Guerra antes de se tornar religioso. Entrou na Ordem dos Capuchinhos, tida como uma das mais conservadoras da igreja católica, no convento de Lucca e doutorou-se em Direito Canônico, Teologia Dogmática e Filosofia pela Universidade de Estudos Gregorianos de Roma.

     Em 1931 muda-se para o Brasil. Percorreu o Nordeste em romarias em que participavam milhares de pessoas. Sempre vestindo uma bata surrada passou por cerca de 800 cidades em 42 anos.

    

 

                Olha lá vai passando a procissão...

    

     Em São Joaquim do Monte (133 km de Recife) gravou marcas dos pés no cimento – menina incapaz de andar pôs os pés sobre as marcas e passou a andar, segundo mulher de 71 anos: Só faz milagre quem é santo. Ele provou isso fazendo a aleijada andar.

    O que o diferenciava, segundo a crônica jornalística dos anos 90, quando padecia na extrema velhice, era o contorno ameaçador e apocalíptico de sua mensagem – qualquer pecado era merecedor do fogo dos infernos.

     No inferno o calor é bilhões de vezes pior que no Nordeste. As labaredas sobem e queimam sem parar o corpo dos adúlteros, das prostitutas, dos afeminados e dos criminosos.

     Era inimigo da dança, do beijo de língua – o casal vai para o inferno de cabeça para baixo – da pílula anticoncepcional, de calças compridas e de minissaia.

     O Instituto de Teologia de Recife catalogou 80 relatos de milagres de frei Damião.

     Valei, Frei Damião, valei!

Ele tem uma força dada por Deus

 

     Para boa parte do clero Fra Damiano era um embaraço, o que havia de mais atrasado na face da Terra. A hierarquia religiosa teme mais que o demo a religiosidade descontrolada. Provocou a Ira em alguns padres nordestinos que o acusaram de espalhar o fanatismo. Em 1975 foi proibido de fazer sermões nas 36 paróquias da Diocese do Crato, no Ceará.

     A igreja católica não dispõe de nenhum documento com relato preciso de milagres atribuídos a Frei Damião, que podem ser classificados em três categorias: salvação, domínio da natureza (fez chover)

                    FRA DAMIANO HA FATTO PIOVERE NEL SERTAO

 e os de castigo.

     Juazeiro do Norte, Ceará, pai e filha vivem como casal. O homem recusou separar-se. Faço vocês berrarem como bode e cabra, ameaçou o frade. O homem insiste na recusa e o casal passa a berrar como bode e cabra.

     Fra Damiano. Mais um mito em literatura de cordel. Mais uma Exibição majestosa de fé à brasileira, ou melhor à nordestina.

  

        em poucos lugares

          se pregou tanto o fim do mundo

    milagreiros do sertão

 

 41 - Canindé, no sertão central do Ceará, uma das mecas do Nordeste, vive em função do turismo religioso. Nasceu e tomou corpo graças aos devotos do padroeiro, São Francisco de Chagas. Entre setembro e novembro caminhões pau-de-arara despejam um milhão de fiéis na cidade de 65 mil habitantes, cuja verdadeira razão de existência é a colossal Basílica de São Francisco.   

 

        Olha lá vai passando a procissão

        se arrastando que nem cobra pelo chão

   

Depois de séculos observando as condições do clima os sertanejos concluíram que se a chuva cair até 19 de março (Dia de São José) haverá água suficiente para suas plantações.

Gilberto Gil - Procissão

Meu divino São José

Aqui estou em vossos pés

Dai-nos chuva com abundância

Meu Jesus de Nazaré...

 

Olha lá vai passando a procissão

Se arrastando que nem cobra pelo chão

As pessoas que nela vão passando

Acreditam nas coisas lá do céu

As mulheres cantando tiram versos

Os homens escutando tiram o chapéu

Eles vivem penando aqui na Terra

Esperando o que Jesus prometeu

 

E Jesus prometeu vida melhor

Pra quem vive nesse mundo sem amor

Só depois de entregar o corpo ao chão

Só depois de morrer neste sertão

Eu também tô do lado de Jesus

Só que acho que ele se esqueceu

De dizer que na Terra a gente tem

De arranjar um jeitinho pra viver

 

Muita gente se arvora a ser Deus

E promete tanta coisa pro sertão

Que vai dar um vestido pra Maria

E promete um roçado pro João

Entra ano, sai ano, e nada vem

Meu sertão continua ao deus-dará

Mas se existe Jesus no firmamento

Cá na Terra isto tem que se acabar

 52 – Vale of Tears – messianismo no Brasil; milagre em Juazeiro, Ceará, a 530 km de Fortaleza.

Milagre em Juazeiro, ensaio do cearense Wolney Oliveira, segue a vida do padre desde 1889, quando aconteceu o famoso milagre em que uma hóstia se transforma em sangue na boca de uma beata a quem ele deu a comunhão em missa em louvor do Sagrado Coração de Jesus.

     O sangue terá saído da boca ou do nariz? Teria a beata sido acometida de uma vulgar hemoptise? – fazia muito calor, pouco antes Ciço chegara do Crato, a poucos quilômetros dali. Gente simples idolatra o padre e a beata Maria de Araújo. Correu célere na boca de cantadores e peregrinos a história de que se tratava do sangue de Cristo.

     Gente de todo o Nordeste, leprosos, cegos, aleijados, loucos, tuberculosos, fugidos da seca, marginalizados e sem-terra acorrem a Juazeiro em busca de algum milagre, consolo, conforto ou esmola. Juazeiro torna-se sede secular de um dos grandes mitos do Nordeste, Cícero Romão Batista. Um santo popular: também no seu caso o clero vê-se obrigado a tomar distância do milagreiro, que foi proibido de celebrar missa.

    Os estudos mais aprofundados sobre o fenômeno baseiam-se nos autos do inquérito da igreja ao milagre da hemoptise realizado na última década do século 19. O poder de Padre Cícero se consolidou na região do Cariri, Ceará, entre períodos de secas prolongadas e fanatismo religioso e a hierarquia religiosa teme mais que o demo a religiosidade descontrolada.

 

 

 

    PERÍODOS DE ESTIAGEM COINCIDEM COM FATOS HISTÓRICOS

 de  trecho  de   A INDÚSTRIA DA SECA   in  Folha  de  São  Paulo  11 de janeiro de 1991


Secas mais rigorosas coincidem com importantes fatos históricos em períodos intercalados de cerca de 25 anos, que corresponde ao dobro dos ciclos de 13 anos de fases mais rigorosas das secas nordestinas de que fala um estudo de 1978 do Instituto de Atividades Espaciais (IAE).
Grande Seca de 1877: intensificam-se as migrações do Nordeste para o atual Estado do Acre.
Primeiros anos do século 20, outra época de secas prolongadas: consolidação do poder do padre Cícero Romão Batista na região do Cariri, Ceará.
De acordo com a lenda Padre Cícero recebeu em sonho a ordem de Jesus Cristo de cuidar dos sertanejos carentes.
1928-1929: o cangaço atinge o auge.
(ver fenômeno do Cangaço em Deus e o Diabo na Terra da Seca em Coriscos & Dadás Lampiões e Marias Bonitas)
Até 1927 o bando de Virgulino Ferreira (1898-1938) só havia atuado no interior de Pernambuco e Paraíba. Passa então a agir em todo o território nordestino.
1955-1958: em 1959 JK funda a Sudene.
Foram os calangos nordestinos que construíram Brasília.

 

 

 

  A ASCENSÃO E ASCENÇÃO DO PADIM CIÇO

 

        Para o povo beato o padim nunca morreu - encantou-se.

 

   A hierarquia religiosa teme mais que o demo a religiosidade descontrolada.

      

   Um ano quente no Brasil e não só no Nordeste - 1889, em que a hierarquia militar decide pôr cobro a mais uma das pendengas que se arrastavam por décadas como de hábito no Segundo Império e como numa faxina de espanador mudar o regime de governo para mudar alguma coisa e tudo permanecer como era. O Cariri é de novo assolado pelo flagelo da seca, que o capelão de Juazeiro do Norte sustenta do púlpito ser castigo divino a um mundo mergulhado em pecado. O famoso milagre em que uma hóstia se transforma em sangue na boca da beata Maria de Araújo, uma lavadeira do vilarejo de 500 habitantes a quem ele deu a comunhão em missa em louvor à Imaculada Conceição, dá-se menos de um mês após a proclamação da República no Campo de Santana da distante capital brasileira.E então Aqui é o fim do mundo. Aqui é o fim do mundo como irá cantar setenta anos depois Gilberto Gil de versos do piauiense Torquato Neto.

 Essa estória vem provar

 E o testamento também

 Como sempre sai lucrando

 Quem na vida faz o bem... - cantara Gil pouco antes com versos dele e Augusto Boal no Testamento do Padre Cícero em que claramente buscaram transmitir a visão da obra do padrinho pelos olhos dos desterrados do sertão quase meio século após o seu encantamento, como se vê inclusive pelo sotaque:

 Num tenho capacidade

 Mas sei que num digo à toa

 Padre Cícero é uma pessoa

 Da Santíssima Trindade 

 (Aqui é o fim do mundo. Aqui é o fim do mundo)  

       De fato, como o meteorito de Bendengó, o cometa Rabão ou Kohoutec ou a própria Pedra Encantada de Pernambuco, o padre Cícero da lenda parece coisa encantada. Ou a folquilórica permanência de um pesadelo.

     Padre Cícero: sociologia de um padre, antropologia de um santo, estudo de Antônio Mendes da Costa Braga (2008), busca captar um ponto de compreensão do fenômeno dos dois ângulos percorrendo sua trajetória entre 1844 e 1934 do alto da majestática estátua do beato (santo popular, que não da igreja católica) que se ergue naquela meca sertaneja em 2004 e 9 e tempo afora.

       O estudo mostra entre o Crato natal de Cícero Romão, filho de um comerciante remediado, e a mesma mansidão de um imenso caldeirão de almas penadas em vida de vidas secas com falta de mão-de-obra clerical um enorme pasto incendiado por revelações de beatos feito o Conselheiro como da boca do próprio Deus, a modos que desirmanadas de uma igreja artificiosa e tudo somado ausente. Cícero é moldado nesse barro e, segundo o estudo, "teve sua primeira formação religiosa forjada no ambiente religioso piedoso, devocional, mais próximo da religiosidade popular do que da oficial".

       Entre uma água e outra sua ordenação acaba por ser a modos que forçada pela intervenção de um coronel amigo da família num momento em que o clero cearense orquestrava a criação da diocese daqueles equadores. Cícero em Juazeiro do Norte deveria ser um soldado na guerra de renovação da índole do rebanho para um cariz assim a modos de dizer menos histriônico.

      Mas como em todas as histórias exemplares essa acabou por tomar o rumo oposto e o padim só não foi excomungado porque aí a Igreja perdia a "guerra" de uma vez por todas. Foi banido do exercício oficial da profissão de fé, sendo-lhe proibido celebrar missa e entrar na capela.

          transubstanciação

              transe essencial

      Quem deu um close no processo da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, a Santa Inquisição, contra Galileu Galileu sustenta que sua condenação ao exílio na própria terra natal não se deveu apenas à sua contestação da teoria de que a Terra era o centro do universo.

      Entre as suas heresias avultar-se-ia a recusa do sustentáculo do mistério da celebração litúrgica, em que assenta a essência da doutrina católica, a transubstanciação de hóstia e vinho em corpo e sangue de Cristo.

     Ela é o ápice da ritualística católica e também por criticá-la Martinho Lutero foi excomungado enquanto que meio sem querer provocava o cisma. Nela reside toda a magia e o mistério em torno do ritual consagrado, toda a retórica do poder sobrenatural em que por sua vez assenta o poder terreno da Santa Madre Igreja.

     Poder erguido sobre a Grande Metáfora do sacrifício de Cristo pela salvação de seus irmãos e que se sustenta em metáforas que nunca devem transubstanciar-se em milagres ao varejo, sob pena de a coisa se revelar, como de fato parece, um hospício ou um circo.

     A organização da diocese cearense é justamente a tentativa de impor a ordem do subentendido num pasto cujo rebanho só assimila a fé como a possibilidade de sua transformação em matéria, em algo concreto, redenção ou cura já agora também aqui e agora. A hora e vez do milagre de Juazeiro é a de tentativa de consolidação do poder da Igreja nos cafundós do mundo de Deus e do Diabo em um tempo em que o que ainda e sempre se afirma é o catolicismo popular para a segunda vinda aqui, e quanto antes (fim do século, fim do milênio, fim do mundo enfim), ou seja A Cura, através de beatos, rezadeiras e curandeiras em território sem lei e sem ordem a não ser as de "Deus" e dos coronéis, e já agora também SEM MÉDICOS.

      A disseminação do milagre, a transformação do pasto desse rebanho de almas penadas em vida de vidas secas, muito fértil para a doutrina de Deus embora extremamente árido para a de homens, torna-se ameaça talvez maior que a das Bruxas dos primórdios da Santa Inquisição por todos os séculos. A atitude formal é a de grande cautela em relação a esse tipo de evento. A atitude de fundo é a da repulsa, a da negação pura e simples da possibilidade de sucessão de ocorrências de Fênomenos "visíveis" ou mais palpáveis.

     O Vaticano evita como o diabo a cruz abordar em termos teológicos a questão que envolve os mais de cem casos de imagens de Virgens que choram sangue propagados no último meio século dos recantos mais ou menos recônditos. O de Cícero Romão Batista é um daqueles muitos fenômenos do catolicismo popular, de fé que precisa ser coisa viva, milagre da existência em causas próprias, a que a Igreja não diz nem sim nem não para não ver ruir a taipa do dogma e o rebanho se dispersar pelos dogmas das concorrências, com incidência muito maior do que a chuva, porque a quem só é dado ver desolação e miséria deve ser permitido entrever ao menos uma vez na vida o Encantamento. Mas ao menos uma vez ou outra não pode deixar de ser taxativa. Do "milagre" da virgem de Medjugorjie, em Civitavecchia, Itália, 1995, por exemplo, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, então dirigida pelo Papa Bento XVI, dirá que o sangue que escorreu é humano e que não há "nenhuma explicação científica para o fato". O padim é proibido de oficiar, é banido, mas permanecerá autoridade da fé entre os seus rezando o terço e distribuindo bênçãos. É a religião que ao fim e ao cabo conta para aquelas pobres almas "de Deus". O santo milagreiro vive modestamente como parte essencial de destaque do mesmo rebanho em que foi gerado.

      A Igreja não o admite e Cícero não renega sua essência primordial popular. Dá-se um microcisma, quase imperceptível, mais ou menos a fim da Pedra-mãe. Mais ou menos. Pouco importa. Mais uma vertente do catolicismo. Mais um fenômeno do catolicismo popular.

      "Sociologia de um padre, antropologia de um santo":

      "Quanto mais a hierarquia eclesiástica reprimia Cícero, mais ele ganhava força junto aos seus fiéis."

        "O problema é que ele havia se tornado maior que o próprio milagre, começando a ser considerado santo por muitos dos romeiros que passaram a se dirigir para Juazeiro. Em pouco tempo ele percebeu que precisaria entrar no campo político para influir no campo religioso."

                      O estudo ingressa então numa área nebulosa. Ou vice-versa, ele percebeu que precisaria permanecer na dimensão do milagre para influir como peão dos coronéis do Crato - ou um de seus associados - no campo político.

     

    

    Além de Wolney Oliveira também o brazilianist Ralph Della Cava estudou a ação do padre, os vínculos da religião com a política, a articulação entre a pobreza e o poder na região. O fenômeno foi tema do filme Padre Cícero, Patriarca do Sertão, de Helder Martins, de vários curtas de Geraldo Sarno e vídeos de Eduardo Coutinho, o autor de Cabra Marcado Para Morrer. Mas que o Brasil saiba tão pouco sobre a saga do patriarca do sertão é apenas uma amostra do seu desconhecimento de si mesmo.

Um taumaturgo miúdo, pele clara, olhos azuis, dominava multidões. Sobrevive e agiganta-se no fanatismo religioso que subsiste no Nordeste, atravessado por sentimentos messiânicos. Foi prefeito de Juazeiro por 12 anos e chegou a ser eleito deputado federal e vice-governador mas não quis assumir compromissos fora da sua base de controle político-religioso, que se espalhara por todo o Nordeste. Como é natural alinhava ao lado da política local mais conservadora.

 

 

          Sedição de Juazeiro

                  ou

         A Revolução dos Beatos 

 quando é Pedro cortava cabeças com lambedeira e gritava

    Meu Padim Ciço é quem ganha!  

 

 

Existem poucas imagens documentais do padre, feitas por Benjamin Abraão. Os estudos mais aprofundados sobre o fenômeno, baseados nos autos do inquérito da igreja ao milagre da hemoptise realizado na última década do século 19, detêm-se no relacionamento de Ciço com Floro Bartolomeu, médico sem clientela oriundo da Bahia que enxergara possibilidades políticas naquele lugar santo e tornou-se conselheiro do padre.

Floro na administração cuidava da hegemonia interna em Juazeiro, reprimindo qualquer tentativa de aparecimento de seitas rivais.

      O triste fim do Beato Lourenço  

         e seu boi santo

 Em 1919 manda matar um grupo de romeiros formado em torno do Beato Lourenço e seu boi santo.

Segundo Ralph Della Cava durante pelo menos 20 anos Ciço foi a figura mais influente do Nordeste, com um poder crescente consolidado com a chegada cada vez maior de romeiros, muitos dos quais acabavam se estabelecendo por ali, o que fez com que o antigo vilarejo de Juazeiro fosse elevado a município já em 1911.

Floro e Ciço apóiam a família Acioli, que há muito tempo desmanda no Ceará, quando seu inimigo político, coronel Franco Rebelo, assume a presidência da província. O padre põe fiéis em armas e convoca uma ‘guerra santa’. Em 1914 Jagunços Devotos invadem Fortaleza e derrubam o governo. Os revoltosos eram comandados por um certo Zé Pedro, cangaceiro e beato, que matava e cortava cabeças com uma lambedeira gritando

              Meu Padim Ciço é quem ganha!

 

33 – Como a grande maioria dos sertanejos Lampião era devoto do Padre Cícero, cuja fama de santo milagreiro tornara-o um ícone regional e em cuja corte, em Juazeiro do Norte, figuravam notórios cangaceiros penitentes. Jagunços fiéis a ele, como um certo Zé Pedro cortador de cabeças, destacaram-se na ‘guerra santa’ do Padre Cícero contra o governador da Província em 1914.

Quando doze anos depois o governo tentava deter a Coluna Prestes pediu ajuda a Padre Cícero e este não teve dúvidas em recorrer a Lampião, que recebeu do milagreiro a patente de capitão do exército, a benção, armas e munições.

Lampião entrou em Juazeiro do Norte a 6 de março de 1926 com um bando de 50 cangaceiros. Hospedou-se no Palacete do Poeta, onde Benjamin Abraão, secretário do Padre Cícero, organizou solenidade de entrega de patente de capitão do exército para combater a coluna que em dois anos marchara desde o Rio Grande do Sul tentando convencer as populações a sublevar-se contra a oligarquia representada no poder central pelo presidente Washington Luís.

Após a cerimônia o capitão Virgulino brindou o povo penitente com moedas de prata jogadas da varanda do prédio. Lampião foi então recebido pelo Padre Cícero na sua residência ao som do violeiro Lêra, do flautista Cego Cícero e do repentista Cícero Vila Nova. No dia seguinte o milagreiro distribuiu bênçãos e rosários para serem usados pelos cangaceiros quando deixassem a vida de crimes.

Em menos de dois meses o gabinete de Cícero Romão Batista receberia ordens de dispensar Lampião do serviço.

 

O secretário do Padim Ciço, o libanês Benjamin Abraão, era na verdade um mascate que terá visto no seu Pátio dos Milagres uma ótima base de expansão de seus negócios. Não perdeu tempo para expandi-los um pouco além através de uma das figuras mais populares do seu tempo e visitar o bando de Lampião num dos seus refúgios campestres. E o que encontra, segundo os realizadores d’O Baile Perfumado, é um cangaceiro completamente aburguesado, vivendo de extorsão, agiotagem e venda de proteção: os cangaceiros instalavam-se numa fazenda e cobravam imposto para não atacá-la.

O mascate acaba por dar um toque delux ao cangaço fashion e filma os guerreiros do sol num momento de relax.

 

   OS GUERREIROS DO SOL

                           CANGAÇO FASHION

No Pátio dos Milagres do Padim Ciço

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

      da esquerda para a direita dona Maria Bonita e Lampeão, este tendo em mãos um exemplar do magazine Noite Ilustrada: guerreiros do sol relaxam e posam em fazenda de "amigo"

...

 

 

       No estudo sociológico e antropológico sobre o padre e o santo Antônio Mendes da Costa Braga cita trechos de reportagens de Manoel Lourenço Filho, enviado pelo jornal "O Estado de São Paulo" a Juazeiro em 1925 para documentar a frevura no Pátio dos Milagres do Padim Ciço.

      Tudo se apinha de gente e há choro e estampido de bombas e foguetes. O comércio de produtos pirotécnicos é ativo e pode ser comparado ao de medalhas, santos e orações. Em frente à casa do padre, de grande simplicidade, se reúne uma multidão. O padre mal distingue, naquele tumulto, o que todos esforçam por dizer-lhe, e contenta-se em receber mimos singelos ou valiosos, rosários e bentinhos. Algumas vezes, distribui esmolas. Contudo, mais recebe do que dá. Quando se sente fatigado, olha para os céus, levanta a destra, em silêncio, sustenta a mão para o céu e se retira. Depois do que, aferrolhada por prudência a janela, lava as mãos, tranquilo e satisfeito e vai merendar.   

 

  Cícero Romão morreu em 1934 aos 90 anos com fortuna considerável: 31 sítios, vários terrenos, 3 sobrados, 4 quarteirões de casas, 12 prédios, uma mina de cobre e 5 fazendas de gado.  

 

Caldeirão, um fenômeno parecido com o de Canudos: Ceará nos anos 30 do século XX

 

  O beato José Lourenço foi o mais famoso dos herdeiros imobiliários e espirituais do Padre Cícero mas não de sua abnegação face aos desígnios dos líderes da Igreja e da política do seu tempo. Também os caudilhos da Era Vargas, como os da aurora da Velha República em relação ao de Monte Santo de Antônio Conselheiro, não souberam lidar com o fenômeno da sua Comunidade do Caldeirão, fundada pelo beato em propriedade legada pelo Padim e que cedo seria destruída por ser considerada um foco comunista. Reagrupada na Serra do Araripe a comunidade de cerca de mil seguidores de Zé Lourenço acabaria por ser exterminada.  

  Ambiente e clima de arraial entre rezas e ladainhas de milhares de benzedeiras, rezadeiras e curandeiras persistem entre arrasta-pés e sincretismos que tais nas várias romarias anuais à sempre longínqua Juazeiro do Norte apesar do "progresso" que de resto só chegou a esses recantos com suas pontas-de-lança - a TV e seus cavalos do tróia, o axé e pós, brecalipso, transformando sua tradicional cultura popular art kitsch em artesanal brega art popbrega ou pós-chumbrega mesmo. O milagre agora é via satélite, nas capitais ou nos cafundós do judas. Padre Cícero encantado para sempre.

 

 

  ...

   

   cordéis fantásticos

 

     Entre beatos e beatas, romarias, terços e ladainhas, bois santos e cangaceiros à moda de Rodolfo Valentino em 1926 ou degoladores em 1914 o Pátio dos Milagres do Padim Ciço teve – como não poderia deixar de ser no Nordeste, onde se assinala a presença de nove décimos do rebanho caprino brasileiro – também um bode santo, o

                          Bode Ioiô

que chegou à cidade na seca de 1915, uma das piores da história do Ceará, com uma família de retirantes. Passou a perambular pela cidade e a ser tratado, mais que como gente, como santo. Quando morreu foi empalhado e até hoje está no Museu do Ceará.  

cordéis fantásticos

 

Everybode Everywelles é o título-chiste de um bitcordel que fez correr tinta na década de 1990 por conta de um multiprojeto cinematográfico em torno da filmagem de cordéis e de que resultou a encomenda ao cordelista Abraão Batista da peça A História do Bode Ioiô e o Seu Encontro e Amizade com Orson Welles, que gira em torno da estada em várias cidades brasileiras, nos idos de 1942, do cineasta e ator norte-americano para a atribulada rodagem do inacabado It’s All True.

         

                    O povo foi se afastando

                    Com aquela decepção

                    Só Welles e o bode

                    Ficaram nus, no salão

                    Bebendo uísque e vódica

                    Levando aquela paixão

 

Os cantadores e os folhetos de cordel têm revelado impressionante capacidade de resistência em um mundo que num piscar d’olhos mudou radicalmente a fachada e as interfaces mas nem tanto o conteúdo. Tratando-se de uma arte popular nordestina com raízes não muito distantes em Portugal mas que em aspectos essenciais remonta à arte dos buscadores de trovas da Provença medieval é o caso de ao mesmo tempo perguntar se a permanência do cordel do mimeógrafo à microimpressora, do tempo da plantation ao do Skylab não é também reflexo do imobilismo que se detecta em outras esferas socioeconômicas & culturais, por assim dizer, do Nordeste – tratando-se aqui do paradigmático exemplo dos males que vêm para o bem.

Ariano Suassuna, talvez o maior perito na matéria, dizia em 1995 que só sobreviviam dois editores de literatura de cordel. Terá mudado ou mudará apenas a interface, talvez?

    Cordéis como repentes emboladas xotes e cocos persistem no entanto também através do apport que lhes está sendo dado pelas novas gerações nordestinas – essas sim já a megagigabytes do coronelismo que não seja – e não o é certamente – o de o empresário de Elvis Presley ter se chamado Colonel Parker. Mangue beat ou bit, jacksoul, já que soul ou já que sou do pandeiro, Mestre Ambrósio, Chico Science, áridos movies e espetáculos como Madeira Que Cupim Não Rói, de Antônio Nóbrega baseado na obra-prima de Capiba, são expressões contemporâneas de uma arte vital como a sede ou a vontade de comer, como prova a sua permanência ao longo de quase tanto tempo quanto o Nordeste brasileiro tem de seca. Há quem diga até, referindo-se ao repente, que é uma espécie de rap com sotaque ibérico e sertanejo. Podicrê.

    Mas enquanto Dona Selma do Coco, tiradora de coco de Pernambuco, excursionava por Holanda e Alemanha (Oropa, França e... Hungria), o fantasma da “modernidade” e da globalização (sobretudo da TV Globo e do sacolão do faustão) assolava mais que nunca e as festas juninas eram tomadas por duplas de sertanejo-bregas, os sacrossantos “cantores românticos” e bandas de axé e forró eletrônico de trios e pseudo carimbó-embolada-e-calipso.

 

      E os mamulengos estão por um fio.

 

 

 

ERA UMA VEZ

OS MAMULENGOS DE MULUNGU

 

 O teatro de mamulengos é uma das formas de expressão artística mais nobres da tradição popular nordestina e durante séculos foi a principal diversão dos trabalhadores das fazendas de cana-de-açúcar mas também sucumbiu ao poder da televisão.

    Com o advento da tecnologia perdeu sua razão de ser. Com a morte de artífices como os legendários Só-Riso, Luiz da Serra e Ginu caiu em desuso e no final do século 20 existia apenas um mamulengueiro em Recife, o Mestre Dengoso, e dez em todo o interior pernambucano.

    O objetivo do Espaço Tiridá - Museu do Mamulengo, inaugurado em 1994 em Olinda, é preservar a memória de uma cultura em extinção.

  Professor Tiridá é o mestre de cerimônias do teatro de fantoches do sertão nordestino.

  É um anti-herói que traz consigo o anseio de liberdade e a malicia, a atitude de luta contra a opressão e a preguiça, representando a força, a fraqueza e a coragem de um povo. No meio da noite, no interior das pequenas tendas, os mestres se transfiguram. É impressionante vê-los assumirem uma outra vida enquanto animam os seus bonecos, aos quais conferem um sentido místico e um tratamento quase totêmico - escreveu Fernando Augusto Santos em Mamulengo Só-Riso, um longo ensaio sobre a arte dos mestres mamulengueiros, ou brincantes.

    Os fantoches são feitos de mulungu (madeira muito leve), vara, corda e luva.

 Os brincantes representam 'manifestados', com a imaginação desenfreada, como se estivessem possessos, no limiar do transe mediúnico, segundo o ensaísta Fernando Augusto, membro-fundador do Grupo Só-Riso.

   Para ele o teatro do mamulengo expressa a alma coletiva do povo brasileiro, revelando as durezas de sua vida, a irreverência, a magia e a sabedoria com que consegue sobreviver.

    De história só se sabe ao certo que os mamulengos remontam ao início da colonização do Brasil e são descendentes dos robertos (fantoches) portugueses. Mas sua origem remota é meio confusa. Pesquisadores ainda tentam descobrir se eles tiveram origem nos santos de roca espanhóis do período da ocupação filipina ou nos presépios portugueses levados para o Brasil no século 16 pelos padres franciscanos.

     Em 20 anos de pesquisas o Grupo Só-Riso reuniu farta documentação e 1200 exemplares de mamulengos e adereços das peças de tradição oral, hoje quase totalmente perdidas. É uma das mais importantes coleções de bonecos populares do mundo, abrangendo peças do século 19 aos nossos dias. Um décimo do acervo coletado está em exposição no Museu Tiridá.

 

 

 

    Quando no início dos anos 1970 Alceu Valença falava de uma à primeira vista impossível – e então se estava mesmo numa primeira tomada de vista – mistura de rock de Elvis Presley com embolada dava até para assustar. Hoje não se concebe embolada sem Elvis ou Led Zeppelin. O ponto de vista hoje está a 2000 anos-luz da casa paterna de Alceu em São Bento do Una. Talvez seja a contracorrente necessária na guerra contra o extermínio do que resta da pureza e do belo pelo breganejo nacional.

              

Meu sofrer e tua pena

                 Clamam da divina lei

                 Tu presa para cantar

                 Eu preso porque cantei

                         Patativa do Assaré

 

Cibercordel hoje – quem dera – e as estórias que ultrapassaram a barreira cibernáutica dos milênios por conta dos trovadores: Padim Ciço, freis Vidal e Apolônio de Todi, fundador de Monte Santo, no final do século XVIII, Padre Ibiapina, Santo Antônio Conselheiro, Lampião e Maria Bonita, Beato Lourenço e seu boi santo, Bode Ioiô, a seca de 1875.

 

  em poucos lugares

         se pregou tanto o fim do mundo

         santos milagreiros do sertão

 

 

Recapitulando,

 

Ariano Suassuna romanceiro popular do Nordeste, literatura de cordel, Auto da Compadecida, um auto de Natal em que transpõe os folhetos O Enterro do Cachorro e História do Cavalo que Defecava Dinheiro, entre outros. Sua obra gerou estudos como O Sertão Medieval – Origens Européias do Teatro de Ariano Suassuna.

Arte armorial, termo por ele introduzido no final dos anos 1960 (Armorial é a rigor um substantivo que designa a coleção de insígnias e brasões de um povo) é a relação entre o espírito mágico dos folhetos do romanceiro popular do Nordeste (literatura de cordel) com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha suas canções e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como o espírito e a forma das artes e espetáculos populares estão em correlação com este romanceiro, uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares da nossa cultura.

Bumba-meu-boi, auto de Natal resultante da aglutinação de diversos reisados, e o mamulengo estão também presentes na sua obra, que repercutiu no Quinteto Armorial, em que se revelaram Antônio Nóbrega e Antônio José Madureira.

 

O sertanejo de Suassuna luta contra a adversidade, que pode concretizar-se no patrão explorador, no cangaceiro assaltante e assassino, na polícia prepotente, na miséria e na fome. Seguindo a ideologia dos folhetos de cordel seus textos focalizam a sociedade do ponto de vista dos desprotegidos. Somente pela burla e pela astúcia o sertanejo Pedro Malasarte logra atingir seus objetivos.

 

    A literatura de cordel tem origem em Portugal na Idade Média. Mas é no século 19 que surge com suas características atuais no Nordeste brasileiro com a escola de cantadores do Teixeira, grupo influenciado pelo mestre cantador Francisco Romano Caluete, o famoso Romano Mãe D’Água ou Romano do Teixeira.

    A estrofe comum dos romances e cantorias é a sextilha, cultuada por poetas e cantadores, os trovadores do sertão.

    Cada qual fala dos seus personagens como os sente e sabe, de Lampião e Padre Cícero ao cometa Rabão (Kohoutec) e Getúlio Vargas.

                Regra geral são os próprios poetas que trabalham em xilogravura primitiva as capas dos seus livros, que exibem em barracas de feiras nordestinas penduradas em barbantes ou cordéis, como em Portugal até a década de 1970.

     A coleção do dentista Liedo Maranhão, de Recife, um estudioso da matéria, era composta no final dos anos 70 por 2100 folhetos, 250 dos quais catalogados e ordenados como uma História Política do Brasil da Revolução de 30 à posse do general Ernesto Geisel.

    Foi no folheto ABC de uma Prostituta que Jorge Amado se inspirou para escrever Teresa Batista Cansada de Guerra.

    Entre os temas abordados pelos trovadores figuram A Moça que Sonhou Com o Padre Cícero e Jogou no Cavalo, A Moça Que Dançou Com Uma Caveira, O Gozo da Mocidade, O Homem Que Trocou a Mulher Por Uma Televisão ou O Encontro de Lampião com o Diabo no Inferno.

    Para Mário de Andrade no seu tempo o Nordeste era a maior mina conservadora das nossas tradições populares. Isso está patente tanto na música dita erudita (que Leonard Bernstein preferia chamar de exata, porque toda cifrada) ou na dita popular ou de produssumo (produção de vanguarda para o mercado, © Décio Pignatari). Não há quem não arrisque uma vez que seja na carreira um baião de dois por quatro.

Samba de roda, bambelô, cirandas e bandas de pífanos. Música de violeiros e rabequeiros, cegos ou não.

    No seu tempo Mário de Andrade citava um samba do matuto de Pernambuco – espécie de dança dramatizada, transição, diz Ascenso Ferreira, entre o maracatu e o samba – que dizia o seguinte:

   

              Eu ando atrai dum poeta de Alagoa

Pela rima e o traçado que ele fai!

 

    Os violeiros e trovadores repentistas Otacílio Batista e Diniz Vitorino, de Pajeú, são apresentados num LP com o selo Tropicana distribuído pela CBS em 1978 como os gigantes do improviso:

 

           Qualquer dia do ano si eu pudé

          Ir pro céu eu farei numa jornada

           E como a lua já tá disvirginada

          Eu posso tomá-la por mulhé

                                Se acaso São Jorge num quisé

                                E eu tomo o cavalo que ele tem

                             Se a lua quisé me amar também

          Dou-lhe um beijo nas tranças do cabelo       

                                Deixo o santo com dor de cotovelo

                              Sem cavalo, sem lua e sem dinheiro

 

É um extrato de Martelo em Dez Linhas, onde, como em Exaltação ao Brasil em Sextilha, Oito Pés do Quadrão em Desafio, Desafio Construtivo em Martelo e Beira-Mar Descrevendo Peixes em Letras os repentistas dão livre emissão vocal à espontaneidade e se acompanham à viola em meio a acordes (o seu baião) lançados com energia que adeus ace-guitarrists pop!

 

    Antônio Nóbrega tinha 18 anos quando ingressou no Quinteto Armorial, conjunto idealizado pelo escritor que propunha a instrumentistas eruditos a criação de uma música de câmara brasileira com referências populares.

    - Quando conheci Ariano Suassuna e entrei para o Quinteto Armorial fui tomado de uma paixão semelhante, acho, à que Mário de Andrade teve quando descobriu os ritmos nordestinos. Eu só falava de cultura popular. Fui me tornando criador ao lado de Suassuna. Mas como tenho um impulso muito pessoal acabei seguindo um caminho próprio.

     Na década de 1970, enquanto trabalhava no quinteto e depois de deixá-lo, ele pesquisou elementos que fizeram a diferença no seu teatro, convivendo com emboladores, passistas e poetas. Via e imitava o que faziam.

    - Tentava confeccionar apetrechos teatrais deles. Ia no lugar onde catavam o material rústico que transformavam em material cênico. Na época lia o psicanalista Carl Jung. Costumava dizer que o que fazia era uma Iniciação aos Mistérios do Povo Brasileiro.

    Suassuna contou que em 1959 tentou realizar também uma dança erudita nordestina baseada em raízes populares, a dança armorial. Escreveu uma história intitulada Os Medalhões para música de Guerra Peixe. O espetáculo foi encenado no Teatro Santa Isabel.

    - O Auto da Compadecida, como todo o meu teatro, exigiria uma montagem criadora e livre que como o texto se baseasse na invenção dionisíaca e espetacular do BUMBA MEU BOI, do MAMULENGO, da NAU CATARINETA, do PASTORIL... Um espetáculo MÁGICO, festivo, com música, dança, máscaras, bichos e demônios...

    - Aí, em 1978, tive condições de fundar o balé Armorial e o Balé Popular do Recife. No programa de estréia do balé Armorial dizia estar consciente dos riscos que corríamos: por um lado ficar apenas repetindo em segunda mão o balé europeu convencional, por outro cair naquilo que se chama de estilização do folclore.

   - Antônio Nóbrega estava destinado a minorar as minhas frustrações neste campo sofrido da dança brasileira. Logo se juntaria a diversos outros integrantes do Movimento Armorial para criar um grupo de dança, o Boi Castanho Reino do Meio-Dia. Seu espetáculo de estréia foi "A Bandeira do Divino", com a aparição na vida do Palco Brasileiro e no palco da vida brasileira da figura do Tonheta, criado e recriado por Antônio Nóbrega a partir do Mateus do Bumba Meu Boi.

    Em Brincante Nóbrega contou a estória de Tonheta desde o seu nascimento.

    Para o seu espetáculo Na Pancada do Ganzá, conta Luís Antônio Giron, Nóbrega foi buscar inspiração complementar no escritor paulista Mário de Andrade, que coletou em 1927 e 1928 cerca de 600 músicas no Norte e Nordeste. Mário planejava publicar a compilação com o título Na Pancada do Ganzá, inspirado no seu instrutor de coco, Chico Antônio, que lhe explicou ser a "pancada" a marcação principal na arte do coco.

    Nóbrega serviu-se desse material e em Suassuna foi buscar o Romance da Clara Menina na peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna. Em seus espetáculos ele e grupo tentam recobrar a idéia do improviso à brasileira, mais sintético do que o jazz americano, informa ainda Giron.

 

                         

                            um cibercordel  

                                        

                         uma série revoluciomnibus.com 

            acesse outras webpages da série a partir daqui

                                                                                              

                 Os Sertões               Euclides da Cunha & Os Sertões

                   O triste e belo fim de Joana Imaginária & Antônio Conselheiro

 Canudos Hoje: Tendão dos Milagres X O Amuleto de Ogum

 

 HYPERLINKS revoluciomnibus.com

                                                  

revoluciomnibus.com .................

o ..m e l h o r ... g u i a .. t u r í s t i c o .. d a ...r e g i ã o

duna do por do sol

 

duna del tramonto

sunset dune

dune du couche du soleil

 

 

duna de la puesta del sol

  

            revoluciomnibus.com  OU A POÉTICA DA LUZ DO SERTÃO                

                             Cores vivas

eu penso em nós

pobres mortais

quantos verões

verão nossos

olhares fãs

fãs desse

céu tão

azul

 

           Gilberto Gil

 

 

 

r MAPA DO SITE MAPA DA MINA         revoluciomnibus.com        

  ciberzine & narrativas de james anhanguera              QUEM SOMOS            e-mail

 a triste e bela saga dos brasilianos do desastre de Sarriá às arenas italianas

 la triste e bella saga dei brasiliani dalla strage di Sarrià alle arene italiane

   MÚSICA DO BRASIL

      DE  CABO A RABO

Notícias

             do          

   Tiroteio

so listen to the rhythm of the gentle bossa nova  

  narrativas  de  rock  estrada  e  assuntos  ligados

A Fome no Mundo e os Canibais 

meio século de psicodelia e bossa nova

    

  Eternit    alvenaria    móveis das casas bahia sambagode   breganejo   rap funk & derby azul  no  sacolão  do  faustão

Novelas & Trivelas

 

Boleros & Baladas

 

  LusÁfricabrasileira

   lusáfricabraseira

              você está aqui    

revoluciomnibus.com eBookstore

 

acesse a íntegra ou trechos de livros de james anhanguera online a partir DAQUI

revoluciomnibus.com - ciberzine & narrativas ©james anhanguera 2008-2020 créditos autorais: Era Uma Vez a Revolução, fotos de James Anhanguera; bairro La Victoria, Santiago do Chile, 1993 ... A triste e bela saga dos brasilianos, Falcão/Barilla: FotoReporters 81(Guerin Sportivo, Bolonha, 1982); Zico: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e seleção brasileira de 1982: Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Edinho: Briguglio, Guerin Sportivo, Bolonha, 1982; Falcão e Antognoni: FotoReporters 81, Guerin Sportivo, Bolonha, 1981. E-mAIL

educação diversão desenvolvimento humano

facebook.com/ james anhanguera twitter.com/revoluciomnibus instagram.com/revoluciomnibus - youtube.com/revoluciomnibus dothewho

TM .........................

Carolina Pires da Silva e James Anhanguera

 

 

TM